sábado, 14 de novembro de 2015

Cunha usa lei de direito de resposta

Cunha vai usar lei de direito de resposta para questionar reportagem do Globo

• Jornal revelou que presidente da Câmara podia operar conta em nome de trust na Suíça

O Globo

BRASÍLIA - No segundo dia de vigência da lei que regula o direito de resposta, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), informou que vai utilizar o instrumento para questionar reportagem do GLOBO que mostrou ontem a existência de uma procuração que o autorizava a operar uma das contas na Suíça. Para Cunha, a matéria trouxe informação “leviana, falsa e injusta”.

O GLOBO revelou que uma procuração da conta Orion SP, uma das trusts ligadas à Cunha, dava ao presidente da Câmara amplos poderes para fazer aplicações financeiras em fundos e no mercado futuro, e ainda fazer investimentos de curto prazo, comprar e vender títulos, moedas e até metais preciosos. A matéria ressalta que ele não tinha autorização para sacar o dinheiro da conta.

A informação contraria a tese de defesa apresentada por ele em entrevistas na semana passada. Cunha sustentara que não tinha acesso à conta porque ela pertencia a uma trust e não a ele. A assessoria do presidente da Câmara foi procurado anteontem às 17h30. A resposta foi de que ele já tinha dado entrevista sobre o tema e não daria explicações adicionais.

Na nota divulgada ontem, Cunha questiona a utilização do termo “amplos poderes”, alegando que o documento informa que ele não poderia realizar saques. “A contradição entre a afirmativa do Jornal “amplos poderes” e a informação de exclusão “do direito de dispor ou retirar quaisquer ativos da conta”, sentencia que a reportagem é tendenciosa e descompromissada com a missão do jornalismo brasileiro”, afirma Cunha.

A nota da presidência da Câmara ainda sustenta que a relação contratual entre Cunha a a trust de nome Orion foi encerrada em abril de 2014, um ano antes de o deputado ter dito à CPI da Petrobras que não tinha contas no exterior. “A ausência proposital de informação relevante, a contradição existente e as ilações incorretas sobre o depoimento prestado à CPI da Petrobras, além de outras tantas informações inverídicas trazidas pela reportagem do Jornal O Globo, sentenciam que o Jornal maculou a verdade e manipulou as informações. Contudo, o Presidente Eduardo Cunha não fará o debate, pelos meios de comunicação, desta leviana, falsa e injusta acusação, e sim exercerá o seu direito constitucional sacramentado pela vigência atual da nova Lei de Direito de Resposta”, registra a nota de Cunha.

O presidente da Câmara não faz qualquer referência ao fato de ter declarado em entrevistas que não operava as contas em nome de trusts, informação que contradiz o disposto na procuração dada a Cunha pelos representantes da Orion.

A assessoria de Cunha informou ao GLOBO que a nota enviada ontem ainda não era o pedido formal do direito de resposta, que será feito nos termos da lei.

Para a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), “o direito à reparação de um indivíduo que se sinta ofendido ou prejudicado por uma produção jornalística não deve se sobrepor ao direito de acesso a informações. A obrigação de publicar uma resposta que não necessariamente esclarecerá fatos, em detrimento de produções jornalísticas sobre temas de interesse público, prejudica a liberdade de expressão e informação”.

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