sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Aliados de Cunha impedem leitura de relatório que pede processo contra ele

• Em sessão marcada pela tensão, deputados próximos do presidente da Câmara conseguem adiar reunião do Conselho de Ética na qual Fausto Pinato (PRB-SP) apresentaria texto pela abertura de ação que pode levar à perda do mandato do peemedebista

Daniel Carvalho, Daiene Cardoso e Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Uma série de manobras da tropa de choque do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adiou desta quinta-feira, 19, para a próxima semana a leitura do relatório preliminar pelo prosseguimento do processo de cassação do peemedebista no Conselho de Ética. Cunha é acusado de mentir à CPI da Petrobrás, em março, ao afirmar que não tem contas no exterior.
O relator Fausto Pinato (PRB-SP) já adiantou que pedirá a abertura de processo contra Cunha no Conselho por quebra de decoro parlamentar.

Adversários do peemedebista acusam o presidente da Câmara de ter utilizado o poder de seu cargo para protelar a sessão. Segundo eles, Cunha coordenou a série de manobras verificadas ontem na Casa.

No ato mais extremo do dia, o deputado Felipe Bornier (PSD-RJ) assumiu a presidência no lugar de Cunha e anulou a sessão do Conselho em resposta a uma questão de ordem de André Moura (PSC-SE). Ambos são aliados do peemedebista. Opositores e até correligionários de Bornier disseram que o presidente interino agiu por orientação de Cunha. Durante a presidência de Bornier, Cunha falava com ele sempre escondendo a boca com a mão.

Depois de bate-boca, críticas e protestos, Cunha, diante de um plenário esvaziado, voltou atrás e suspendeu a decisão de Bornier. Os aliados de Cunha chegaram atrasados à sessão do Conselho. Da lista de parlamentares próximos a Cunha, apenas Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) havia marcado presença para dar quórum. Petistas e peemedebistas só apareceram depois de aberta a sessão.

O Planalto fez um pacto de não agressão com Cunha e quer que os três deputados do PT no Conselho de Ética ajudem a adiar o seu processo de cassação. Em conversas reservadas, auxiliares da presidente Dilma Rousseff afirmam não acreditar que Cunha, fragilizado, dê seguimento ao processo de impeachment e, além disso, querem manter a boa relação para que ele não prejudique votações de interesse do governo, como as do ajuste fiscal.

Quórum. O primeiro aliado de Cunha a atuar no Conselho foi André Moura, que tentou encerrar a sessão alegando espera de mais de meia hora para abri-la. A reunião havia sido marcada para as 9h30, mas só houve quórum às 10h23, quando se atingiu o número mínimo de 11 parlamentares. Mesmo sem marcar presença, o suplente do Conselho Manoel Júnior (PMDB-PB) apresentou duas questões de ordem. Primeiro, pediu a leitura da ata da sessão anterior. O presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA) disse que o documento não estava pronto por “falta de material humano”.

Manoel Júnior reagiu. “Antes mesmo de iniciar qualquer sessão, Vossa Excelência tem que ler a ata ou dispensá-la”, disse o aliado de Cunha. “Vossa Excelência está impedida de continuar a sessão”, afirmou. Araújo retrucou. “Vossa Excelência há de convir que o presidente deste Conselho chama-se José Carlos Araújo e não Vossa Excelência.” Fracassada a tentativa, Manoel Júnior tentou nova intervenção, pedindo o impedimento do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um dos principais críticos de Cunha.

O peemedebista disse que Delgado “não se encontra em condições de deliberar, pois não detém a isenção e a imparcialidade necessárias” por ser um dos que pedem o afastamento de Cunha da presidência da Câmara.

O deputado Betinho Gomes (PSDB-PE) disse que, se Delgado fosse afastado, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP), também teria de ser impedido por declarar apoio a Cunha.

Enquanto isso, aliados de Cunha também atuavam no plenário da Câmara. O presidente da Casa abriu a ordem do dia às 10h44, antes do horário de costume. Aliados de Cunha apresentaram questões de ordem pedindo a suspensão de todas as comissões, inclusive a do Conselho de Ética, o que aconteceu 28 minutos depois.

À tarde, depois de deixarem Cunha no plenário, os deputados retomaram simbolicamente a sessão. A leitura do parecer está marcada para terça-feira.

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