sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Desemprego aumenta mais nas capitais

Por Camilla Veras Mota, Denise Neumann e Robson Sales – Valor Econômico

SÃO PAULO e RIO - Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua referentes ao trimestre encerrado em agosto sinalizam que a deterioração do mercado de trabalho neste ano continua mais intensa nas regiões metropolitanas do que na média do país.

Entre junho e agosto de 2014 e o mesmo período deste ano, a taxa de desemprego subiu 1,8 ponto percentual na Pnad, da 6,9% para 8,7%. Na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que acompanha as seis principais regiões metropolitanas do país, a alta foi de 2,4 pontos, de 4,9% para 7,3%, também na comparação entre trimestres.

A piora mais acentuada na PME decorre do desempenho da ocupação no período. Contabilizando apenas resultados negativos neste ano, a variável encolheu 1,3% nos três meses até agosto, sempre em comparação com o mesmo período do ano passado - uma perda de 300 mil vagas.

Na Pnad Contínua, o aumento no volume do pessoal ocupado sofreu forte desaceleração, mas continua em terreno positivo - entre o trimestre encerrado em janeiro e os três meses entre junho e agosto a alta passou de 1,2% para 0,2%. Ainda que as pesquisas tenham amostragem e metodologias diferentes, a comparação indica que as regiões metropolitanas estão fechando vagas em velocidade maior do que a média do país.

Entre os setores, a piora mais contundente pode ser explicada, para o economista Bruno Campos, da LCA Consultores, pelo peso significativo que a indústria tem nas regiões metropolitanas - o setor é um dos que registram com maior retração no ano. Há ainda a desaceleração mais forte dos serviços, cujo desempenho no ano passado evitou queda da ocupação mais forte que o 0,1% apurado pela PME. "O Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados] também mostra isso", afirma.

O economista Igor Velecico, do Bradesco, destaca ainda a participação do mercado formal nas duas pesquisas - na Pnad Contínua, o emprego com carteira assinada representa 39% do total de ocupados; na PME, o percentual sobe para 54%, levando em consideração o dado de agosto. "As regiões metropolitanas têm mais trabalho formal do que o resto do Brasil, por isso sofrem mais. "

Para Campos, da LCA, a expansão "tímida" dos ocupados na Pnad Contínua resultou em grande parte do aumento do emprego por conta própria - que representa, via de regra, vagas mais precárias. Enquanto os postos de trabalho com carteira assinada recuaram 3% nos três meses até agosto, essa modalidade avançou 4,4%.

Se a dinâmica da ocupação ainda é melhor, a procura por emprego na Pnad Contínua tem se mostrado mais intensa do que na PME, afirma a equipe da Rosenberg Associados. No trimestre até agosto, a força de trabalho registrou a maior alta da série, que começa em 2013, de 2,2%. No acumulado do ano, a média de aumento é de 1,8%, contra 1% no mesmo intervalo de 2014.

Reflexo desse avanço, a taxa de participação - a proporção daqueles empregados ou à procura entre o total da população em idade para trabalhar - chegou a 61,4%, a maior desde setembro de 2013. "O achatamento da renda disponível força mais pessoas dentro de uma mesma família a buscar uma fonte de renda", pondera a instituição em relatório.

Para o coordenador de emprego e renda do IBGE, Cimar Azeredo, os dados sinalizam que jovens, donas de casa e idosos, que antes estavam fora do mercado de trabalho, entraram na fila por emprego. Parte dessa pressão, diz, surge como decorrência da perda cada vez maior do postos de trabalho com carteira assinada, que mexe com a estabilidade do orçamento de muitas famílias. "As pessoas estão indo para o mercado, e a resposta é nula."

Apesar da desaceleração significativa, o desempenho da renda na Pnad é também melhor do que na PME. No acumulado do ano, o rendimento médio real ainda tem alta de 0,9% sobre janeiro-agosto de 2014, período em que as remunerações avançaram 1,6% em relação a igual intervalo de 2013.

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