quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Usar crise para chegar ao poder é golpe, diz Dilma

Presidente dá recado a empresários que admitem sua saída

Dilma fala em golpismo e diz que oposição fomenta a crise

• Objetivo é mandar recado a empresários que já aceitam hipótese de afastamento

• 'Usar a crise como mecanismo para chegar ao poder é uma versão moderna do golpe', afirma a presidente

Marcelo Toledo e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

PRESIDENTE PRUDENTE (SP) e BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff voltou a falar em golpismo ao se referir à oposição nesta quarta-feira (16), reforçando o discurso adotado pelo PT para combater os que se movimentam para abrir um processo de impeachment e afastá-la do cargo.

Em entrevista a uma rádio de Presidente Prudente (SP), ela acusou os adversários de explorar as dificuldades econômicas que o país enfrenta para desgastar o governo e impedi-la de concluir seu mandato, que vai até 2018.

"Essas pessoas geralmente torcem para o quanto pior, melhor, e em todas as áreas", disse Dilma, ao responder a uma pergunta genérica sobre a crise política. "Todas elas esperando oportunidade para pescar em águas turvas."

Em seguida, acrescentou: "Todos os países que passaram por dificuldade, não vi nenhum propondo ruptura democrática como forma de saída da crise. Esse método de usar a crise como mecanismo para chegar ao poder é uma versão moderna do golpe".

Horas depois, a presidente voltou ao tema ao discursar num evento em que entregou 2.343 casas de um conjunto habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida.

"Qualquer forma de encurtar o caminho da rotatividade democrática é golpe sim, é golpe", afirmou. "Principalmente quando esse caminho é feito só de atalhos. É feito só de atalhos questionáveis."

Dilma foi saudada várias vezes pela plateia do evento, que reuniu militantes petistas, sindicalistas, membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e famílias beneficiadas pelo Minha Casa, Minha Vida.

"Não vai ter golpe", gritaram os simpatizantes da presidente em vários momentos, interrompendo seu discurso.

Segundo assessores de Dilma, seu principal objetivo foi mandar um recado a empresários que, na avaliação do Palácio do Planalto, começaram a admitir a hipótese de seu afastamento do cargo se ela não conseguir deter o agravamento da crise econômica.

Manobra
Líderes da oposição se mobilizaram nesta semana para abrir caminho para um processo de impeachment, cobrando do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uma resposta aos vários pedidos apresentados contra Dilma.

O plano prevê que Cunha rejeitará um dos pedidos e sua decisão será submetida em seguida ao plenário, onde bastará o voto da maioria dos deputados presentes para dar andamento à petição.

A manobra permitiria a criação de uma comissão especial para analisar o pedido de impeachment e encaminhá-lo ao plenário, onde são necessários os votos de 342 dos 513 deputados para abrir o processo e afastar Dilma.

O Palácio do Planalto tem se mobilizado para evitar que se forme a maioria necessária para o êxito dessa manobra. O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, e o assessor especial da presidente Giles Azevedo começaram a fazer um levantamento para saber quem está com Dilma e quem está contra.

A partir desse levantamento, o governo está procurando os deputados da base governista que parecem inclinados a votar pelo impeachment para convencê-los a seguir ao lado da presidente.

Na terça (15), em entrevista após evento no Planalto, Dilma afirmou que o governo "está atento" para tentativas de "produzir instabilidade" e fará "tudo para impedir que processos não democráticos cresçam e se fortaleçam".

Na avaliação do Palácio do Planalto, a reforma ministerial que a presidente promete anunciar na próxima semana será fundamental para afastar os partidos da base governista do movimento pelo impeachment de Dilma.

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