quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Impasse com PMDB e PT pode levar Dilma a adiar reforma

Por Andrea Jubé, Raymundo Costa e Thiago Resende - Valor Econômico

BRASÍLIA - Sem conseguir conciliar os interesses dos partidos que integram a base de sustentação do governo no Congresso, a presidente Dilma Rousseff pode adiar para a próxima semana a reforma do ministério. Em princípio, o anúncio da extinção e fusão de pastas e dos nomes dos novos ministros está previsto para hoje. Mas a presidente entrou pela noite de ontem negociando a montagem de um complicado quebra-cabeças, a fim de tentar restabelecer a maioria governista no Congresso, impedir o impeachment e aprovar medidas para a recuperação da economia.

Submetida a pressões de toda parte, Dilma pode até recuar do que já parecia certo, como a junção dos ministérios da Aviação Civil com o de Portos. Neste caso, o ministro da SAC, Eliseu Padilha, permaneceria no cargo, enquanto o deputado José Priante (PMDB-PA), indicado pela bancada do partido na Câmara, assumiria Portos no lugar de Edinho Araújo (PMDB-SP), afilhado político do vice-presidente Michel Temer. A cúpula pemedebista está literalmente em pé de guerra.

A presidente Dilma foi aconselhada a adiar o anúncio do nome dos novos ministros durante almoço com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou ontem a Brasília para ajudar a presidente nas articulações para a composição da nova equipe. Dilma viaja no fim da tarde de hoje para Nova York, onde fará o discurso de abertura da assembleia da ONU, tradicionalmente proferido pelo chefe de Estado brasileiro. Nem sequer o anúncio do formato do novo ministério, a partir da extinção e fusão de pastas, estava fechado.

A presidente da República cogitava delegar a comunicação das mudanças ao ministro Nelson Barbosa (Planejamento), mas foi aconselhada a ela própria fazer o anúncio para faturar politicamente o anúncio do corte de gastos e redução da máquina pública.

Até o início da noite, Dilma não havia definido a situação do PMDB nem do PT, assim como voltaram a circular rumores de que ela aproveitaria a reforma para acomodar o ministro da Defesa, Jaques Wagner, na Casa Civil. Na corrente majoritária do PT, Construindo um Novo Brasil, continuava forte a pressão pelo afastamento de Aloizio Mercadante do cargo, apesar da sinalização de Dilma e Lula de que o ministro segue na pasta.

Na visita que fez semana passada a Brasília, Lula acertou com Dilma e Mercadante que o chefe da Casa Civil cuidaria dos assuntos de governo e deixaria a articulação política. Desde então, a presença de Mercadante já foi detectada em duas ocasiões. Ele avisou Arthur Chioro que a Saúde trocaria de mãos para acomodar o PMDB, arrefecer a crise e entre outras coisas citou a alta do dólar. A interlocutores, Chioro ironizou, segundo apurou o Valor: "Eu não sabia que era responsável pela alta do dólar". O prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho, havia aconselhado Chioro a somente sair quando e se a presidente pedisse o cargo.

A segunda aparição de Mercadante deixou o PMDB perplexo: o líder da bancada, Leonardo Picciani (RJ), apresentou o nome do deputado Manoel Junior (PMDB-PB) para a Saúde. Em seguida, Mercadante telefonou para pemedebistas para conferir se a indicação do líder correspondia à decisão da bancada.

Dilma despachou o dia inteiro com ministros no Palácio da Alvorada. Ao presidente do PDT, Carlos Lupi, ofereceu o ministério das Comunicações, pasta que vaga com nomeação de Ricardo Berzoini (PT-SP) para a coordenação política do Planalto. O nome do PDT melhor cotado é o do líder da bancada, André Figueiredo (CE). O PDT não tem votado com o governo na Câmara.

A equação complicada do PMDB era de que Câmara e Senado queriam ficar do mesmo tamanho na Esplanada, cada um com três ministérios. Em uma das contas feitas pelo partido o PMDB poderia acabar com oito vagas no gabinete, inclusive com o Ministério do Desenvolvimento. No fim da tarde, Dilma recebeu o ministro do Turismo, Henrique Alves, que tenta continuar no cargo, mas não havia conversado, ainda, com o ministro da Pesca, Hélder Barbalho, nem com o pai dele, senador Jader Barbalho (PMDB-PA) - seu fiel aliado no Senado - nem com Eliseu Padilha, que Dilma agora cogita manter no governo.

De igual forma, a situação do PT, o segundo maior partido da aliança governista, estava indefinida. O partido deve herdar do PDT o Ministério do Trabalho, que incorporará a pasta da Previdência Social, mas o nome do ministro Carlos Gabas (PT) não era o mais forte para assumir a pasta. Será uma compensação ao partido pela perda da Saúde, o que incomodou os petistas do ABC paulista, berço de Lula, de onde veio o ministro Arthur Chioro. O Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), que em algumas planilhas chegou a ser incorporado à Previdência e Desenvolvimento Social, criando-se um superpoderoso Ministério da Seguridade Social, deve ficar como está, com o mesmo ministro, Patrus Ananias, do PT mineiro

Até agora, a avaliação dos presidentes e líderes partidários é pessimista sobre a possibilidade de a reforma resolver o problemas da governabilidade. Elevado à condição de um dos principais interlocutores da presidente da República, nos últimos dias, o líder do PMDB, disse que a reforma e o aumento do diálogo contribuirão para que o governo reconquiste a base aliada. "A situação vai a cada dia mais melhorar". O PMDB fechou questão para manter o veto presidencial ao reajuste de salários do Judiciário.

Picciani defende a reedição da CPMF, mas reconhece que há divergências entre os deputados do partido. Para o pemedebista, se o tributo não for aprovado, o Congresso terá que acatar uma alternativa. O deputado levou os nomes escolhidos pela bancada à presidente Dilma, com mais de uma opção para cada vaga. "Há uma expectativa muito grande [de anúncio] ainda nessa semana. Evidentemente, cabe à presidente", disse. Segundo Picciani, a bancada irá referendar as escolhas da presidente Dilma.

"Ontem a base deu demonstração de responsabilidade inclusive mantendo vetos que teriam impacto gravíssimo à economia do país", disse Picciani, referindo-se à sessão do Congresso Nacional que manteve a maioria dos vetos presidenciais. Ainda falta analisar, entre outros, o veto ao reajuste do Judiciário.

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