quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Desemprego – Crise leva 883 mil à informalidade

A taxa de desemprego no país ficou em 8,6% em julho, a maior desde 2012. Mais 883 brasileiros passaram a trabalhar por conta própria, um aumento de 4%

Abrigo na informalidade

País perde 927mil vagas com carteira assinada e ganha 883 mil trabalhadores por conta própria

Daiane Costa - O Globo

A taxa de desemprego no país ficou em 8,6% em julho, a maior desde 2012. Mais 883 mil brasileiros passaram a trabalhar por conta própria, um aumento de 4%. Em doze meses mais 1,8 milhão de brasileiros entraram na fila do desemprego. O aumento ( 26,6%) só não foi maior porque milhares de demitidos apelaram ao trabalho informal. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ( Pnad) Contínua, do IBGE, entre agosto do ano passado e julho deste ano, o país perdeu 927 mil empregos com carteira assinada, ou 2,5% do total, e 883 mil pessoas passaram a trabalhar por própria, alta de 4%. Com esse movimento, o total de pessoas ocupadas ficou praticamente estável, mas a taxa de desemprego do trimestre encerrado em julho subiu a 8,6%, a maior da série histórica iniciada em 2012, porque mais gente passou a procurar vaga. Em igual período do ano passado, a taxa era bem menor, 6,9%.

— O nível de ocupação não está caindo, mas as características desse grupo estão mudando. Há um crescimento da informalidade entre os ocupados. É como se tivesse ocorrido transferência dos empregos com carteira para os por conta própria. Ou seja, há um crescimento da informalidade entre os ocupados — explica o economista João Saboia, da UFRJ.

Perda vai além do salário
No total, o país tinha cerca de 8,62 milhões de pessoas procurando trabalho no período de maio a julho, coberto pela Pnad Contínua. De acordo com Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, a pressão no mercado é consequência da diminuição da qualidade do emprego.

— Você tem queda no número de trabalhadores com carteira assinada. E quando esse trabalhador perde o emprego, num mercado que quase não contrata, acaba tendo de se reinserir na informalidade. E leva mais pessoas do eixo familiar a buscarem emprego para complementar a renda perdida, contribuindo para manter a taxa de desocupação alta — analisa Azeredo.

A economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ( Ipea) Maria Andréia Parente observa que o impacto negativo é ainda maior do que mostram os números, porque a perda do emprego formal vai muito além do salário:

— O trabalhador deixa de ter acesso a plano de saúde e a outros benefícios como ticket alimentação, cesta básica e deixa de recolher FGTS, o que pode fazer falta lá na frente, quando ele decidir comprar a casa própria. Além disso, a perda de emprego com carteira assinada impacta a Previdência Social, já deficitária, e o consumo, que já tem dados altos de retração.

O rendimento médio real ( corrigido pela inflação) dos trabalhadores, R$ 1.881, ficou estável na comparação com o trimestre anterior e cresceu 2% em relação ao mesmo período de 2014. Mas, segundo Maria Andréia, impressão de que os salários estão aumentando é falsa:

— Muito provavelmente, ocorreu que muitas das pessoas desligadas tinham salário mais baixo do que os que continuam empregados, e esses acabam puxando a média para cima.

Para Marcelo de Ávila, gerente de estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro ( Firjan), os números negativos do mercado de trabalho mostrados pela Pnad são típicos de um quadro de recessão, com queda na produção industrial. E não há sinais de recuperação em curto prazo:

— Esse quadro negativo ainda vai se manter por algum tempo, até que a economia dê sinais de melhora e se estabilize, o que deve ocorrer entre o fim do primeiro semestre e o começo do segundo semestre de 2016. Só depois disso é que esses números negativos vão parar de crescer.

Visão compartilhada pelo economista chefe do Goldman Sachs, Alberto Ramos, que prevê uma deterioração ainda maior do mercado de trabalho. Ele acredita que o endurecimento da política monetária, a fraqueza da confiança do consumidor e do empresariado, e as condições financeiras mais difíceis devem levar a um aumento da taxa de desemprego em 2015 e a uma moderação no crescimento do rendimento real. O lado positivo, segundo Ramos, é que a situação ruim do mercado de trabalho pode ajudar a puxar a curva da inflação de serviços para baixo.

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