sábado, 22 de agosto de 2015

Pessimismo sobre crise política predomina entre empresários

Por Daniel Rittner - Valor Econômico

BRASÍLIA - Dilma Rousseff e Angela Merkel esperavam tirar férias de 24 horas das crises que vivem no Brasil e na União Europeia, respectivamente, mas as crises foram um dos pratos mais saboreados no almoço em homenagem à chanceler alemã. Auxiliares diretos de Merkel repetiam o termo "louco" ao falar sobre o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, que havia anunciado sua renúncia horas antes. "Na economia, o pior já passou. Politicamente, o pior ainda pode estar por vir. Tomara que as urnas o levem para casa para evitar esse desastre", afirmava, com franqueza nada diplomática, uma funcionária do gabinete da chanceler.

À espera do almoço, arriscando-se com mini-acarajés e caipirinhas servidos como aperitivo, empresários brasileiros eram taxativos em dizer que é cedo demais para decretar o fim da crise política no Brasil. Mas a presidente não respirou um pouco de uns dias para cá? "O problema é que não há mais conciliação possível entre governo e oposição", lamentou um peso-pesado do PIB, apontando a dificuldade de uma agenda comum. "O preconceito e a ideologia, de lado a lado, são muitos fortes", acrescentava o empresário, argumentando que ficaram muitas feridas abertas com as eleições do ano passado.

Esse mesmo interlocutor fazia uma leitura dos últimos movimentos da iniciativa privada, que saiu em defesa da governabilidade e contra um impeachment, por "pura sobrevivência": um processo de destituição de Dilma levaria seis meses, novas eleições demorariam mais seis meses, e a recessão só se aprofundaria. Ninguém quer isso, quem sabe o Congresso Nacional cria juízo e desiste das pautas-bombas, mas 2016 será mais um ano perdido na economia e poderá ser considerado positivo se Joaquim Levy finalmente conseguir o ajuste que almejava fazer em 2015, embora ele já não seja o mesmo ministro forte e salvador da pátria dos primeiros 90 dias de segundo mandato. Eram esses os comentários que aguardavam a chegada de Dilma ao Palácio do Itamaraty.

A avaliação consensual era de que a presidente ganhou fôlego, tem bem menos chances de cair, mas não consegue se desvencilhar do ambiente negativo e poderá levar o governo na corda bamba ao longo dos próximos três anos. Qualquer fator novo da Lava-Jato ou do PMDB pode causar mais instabilidade. "Em vez de aproveitar a realidade para mudar de pensamento, tem gente que aproveita o pensamento para mudar a realidade", dizia um empresário, ilustrando a dificuldade de Dilma em admitir seus erros.

Intrigada com as manchetes negativas e com os protestos de domingo passado, a auxiliar de Merkel tinha interesse em juntar mais relatos do Brasil. Ouvindo atentamente um resumo da polarização que se vive no país, respondia balançando a cabeça e com uma frase: "Isso é muito triste". Havia grande curiosidade dos alemães em saber quais as reais possibilidades de retomada do crescimento em 2016 ou mais adiante, se há risco de insolvência, se a China tem ganhado espaço na economia brasileira ou se suas recentes promessas de investimento não passam de um conto. E havia também uma afirmação taxativa: "Apesar da crise, vocês não são vistos na Alemanha como a Argentina ou como a Venezuela. Fiquem tranquilos".

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