quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Dilma faz ofensiva com empresariado e políticos

Por Andrea Jubé e Thiago Resende - Valor Econômico

BRASÍLIA - Em um momento em que nomes de expressão do Produto Interno Bruto (PIB) nacional saem em defesa da governabilidade, a presidente Dilma Rousseff recebeu empresários para um jantar no Palácio da Alvorada na terça-feira. Com o afastamento do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), da articulação política, Dilma assumiu uma postura mais ofensiva no corpo-a-corpo com políticos e empresários. Nos últimos dias, designou missões e recebeu, inclusive fora da agenda oficial, deputados e senadores no Palácio do Planalto.

A relação de Dilma com o empresariado ganha contornos até mesmo de um embate surdo com Temer e o PMDB. Enquanto ela faz agendas consecutivas com expoentes do PIB - hoje recebe o presidente mundial da Monsanto no Planalto -, o vice-presidente janta com empresários na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Na segunda-feira, em São Paulo, Temer é o palestrante convidado de uma premiação de empresários promovida por uma revista de economia.

Um auxiliar próximo à presidente minimiza esses movimentos. "Dilma e Temer podem, igualmente, reunir-se com empresários", disse ao Valor. "Não é porque o governo tem um articulador político, que a presidente não pode fazer política", reforçou. Participaram do jantar com Dilma no Alvorada: Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Cledorvino Belini (Fiat), Benjamin Steinbruch (CSN), Joesley Batista (JBS), Rubens Ometo (Cosan), Edson Bueno (Dasa) e Josué Gomes (Coteminas).

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Armando Monteiro Neto, que tem mediado o diálogo da presidente com os empresários, disse que o encontro serviu para "alinhar as percepções" do setor econômico com o governo sobre a crise brasileira e sobre as turbulências na China. Monteiro ressaltou que Dilma "ouviu mais do que falou" e que o impeachment não entrou no cardápio.

Ao lado do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, Armando Monteiro assumiu a dianteira do diálogo com os empresários no enfrentamento da crise política e econômica. Uma incumbência que recebeu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro que tiveram há três semanas em São Paulo.

A avaliação conjunta de Lula e Dilma é que o respaldo do empresariado é determinante, tanto quanto o das forças políticas, para garantir a governabilidade e afastar a sombra do impeachment. Após a reunião com Lula, Monteiro, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, construíram juntos uma agenda intensiva de encontros da presidente com empresários nos Estados.

Nas últimas duas semanas, Dilma se reuniu com empreendedores na Bahia e em Pernambuco. Na próxima sexta-feira, ela tem agenda com empresários em Fortaleza, no Ceará.

"Às vezes, essa interlocução [com empresários] ficava restrita a esse eixo tradicional do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Essa presença dela nos Estados e outras regiões também tem sido bem recebida", disse Monteiro. Ele sublinhou que, após o jantar no Alvorada, os empresários presentes demonstraram "confiança" no Brasil e concordaram que o caminho para superar as dificuldades é o "diálogo" com todos os setores da sociedade.

Em outra frente, Dilma intensifica a agenda política. Após os jantares com lideranças das duas Casas, a presidente passou a receber parlamentares, em agendas individuais ou pequenos grupos, fora da agenda oficial no Planalto. Em meio à crise com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que ameaça intensificar a artilharia contra o Planalto após a denúncia na Operação Lava-Jato, Dilma reuniu-se com os ex-presidentes da Casa Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Marco Maia (PT-RS). Apoiado pelo governo, Chinaglia perdeu para Cunha a disputa pela presidência. Ontem ela receberia o líder do PT, deputado Sibá Machado (AC), que há semanas aguarda uma audiência com ela, mas o encontro foi adiado.

Ontem, Dilma recebeu o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Ao Valor, Gleisi disse que a presidente começou a se aproximar pessoalmente do Congresso a fim de "minar" os efeitos da crise política.

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