segunda-feira, 20 de julho de 2015

Ricardo Noblat - Três espertalhões

- O Globo

"Se tem um brasileiro indignado sou eu. Indignado com a corrupção." Lula, um dia desses

Há mais coisas a aproximarem Lula, Fernando Collor e Eduardo Cunha do que possa supor a vã imaginação. Primeira: são amorais. Não existe o certo e o errado para eles, existe o que lhes convém. Segunda: amam o poder acima de tudo, da família, dos amigos, dos parceiros. Terceira, e paremos por aqui: no momento, reclamam da Justiça como se fossem perseguidos por ela. Quem não os conheça que os compre!

NA ÚLTIMA SEXTA- FEIRA, Lula entrou com reclamação no Conselho Nacional do Ministério Público pedindo a suspensão de inquérito aberto contra ele pelo Ministério Público Federal. Conseguiu que o inquérito corra em segredo. Lula é suspeito de tráfico de influência para favorecer aqui e lá fora a construtora Odebrecht, o maior cliente do BNDES, banco sustentado com dinheiro público.

A ODEBRECHT É também o maior cliente de Lula desde que ele se tornou lobista e palestrante de quem lhe pague, por vez, R$ 300 mil. Como presidente, Lula não se constrangia em pedir favores às construtoras, hoje, enroladas com a roubalheira na Petrobras. Desde favores pequenos do tipo o empréstimo de um helicóptero, a favores milionários que o beneficiariam diretamente.

FOI ASSIM QUE se tornou devedor de Léo Pinheiro, presidente da OAS, preso em novembro passado. Pinheiro nada cobrou para terminar a construção de um apartamento de Lula no Guarujá e reformar o sítio que ele frequenta em Atibaia ( SP). Amigos de Lula dizem que ele procede como ex- presidentes dos Estados Unidos que ganham a vida na condição de lobistas e palestrantes.

É FATO. Com algumas diferenças. A menor: ex- presidentes americanos não escondem o lobby que fazem. Lula esconde. A maior diferença: ex- presidentes americanos não podem se candidatar a nada. Lula pode — de vereador a presidente. Que tal devolvermos ao poder um ex- lobista de empreiteiras que enriqueceu a serviço delas? Já pensaram? Não seria algo promíscuo? Ou arriscado?

PERGUNTEM A Collor o que ele acharia. Não perguntem. De adversário visceral de Lula, a quem derrotou na eleição de 1989, Collor passou a seu aliado ganhando em troca duas diretorias da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras. Deuse bem. Somente em dois contratos ali, embolsou R$ 23 milhões. Mais do que o valor de toda sua fortuna declarada à Justiça.

DO ALTO DA mais cara frota particular de carros importados de que se tem notícia no Brasil, Collor miou ao discursar no Senado: "Fui humilhado. O Senado foi humilhado". Queixava- se depois que seus endereços em Brasília haviam sido revistados por ordem do Supremo Tribunal Federal ( STF). O falso ex- caçador de marajás acabou caçado como o mais descarado deles.

PARA COMPETIR com Collor e Lula em matéria de desfaçatez, somente Eduardo Cunha. Acusado de receber 5 milhões de dólares de propina, rompeu com o governo que nada teve a ver com isso. E bateu no procurador- geral da República por lhe faltar coragem para bater no STF, que o investiga. Ameaça usar o cargo de presidente da Câmara para azucrinar Dilma. Disfarça o próprio medo blefando.

É OUTRO, como Collor, que rolará ladeira abaixo. Cunha é um político provinciano que só chegou aonde está porque desmoronou a qualidade de nossos parlamentares. Serve os interessados em derrubar o governo ao mesmo tempo em que tenta tirar vantagens do governo. Em breve, ao virar réu em processo no STF, não servirá para mais nada. Corre o risco de acabar como ficha- suja.

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