terça-feira, 28 de julho de 2015

Para Cunha, PT deveria discutir afastamento de Dilma antes do dele

Gustavo Uribe, Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em mais uma crítica direta ao PT, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta segunda-feira (27) que o partido deveria discutir o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) antes de sair em defesa de sua saída temporária da presidência da Casa Legislativa.

Em entrevista coletiva após almoço com empresários em São Paulo, o peemedebista rebateu discurso pregado por lideranças petistas em seminário estadual do partido promovido neste final de semana em Minas Gerais, que teve a presença do presidente nacional do PT, Rui Falcão.

Em uma provocação, o presidente da Casa Legislativa sugeriu ao partido que inclusive adote a tese do impeachment da petista.

"Os mesmos princípios que eles têm para mim, eles devem ter para todos os os quadros deles que são por ventura investigados ou suspeitos de qualquer coisa. Se eles pedem qualquer tipo de coisa em relação a mim, deviam começar pedindo o afastamento de ministros e talvez discutindo o da própria presidente. Talvez eles possam aderir à tese do impeachment", recomendou.

Segundo o deputado federal, a defesa de seu afastamento por dirigentes petista o deixa satisfeito, uma vez que considera a legenda sua inimiga.

"O PT é meu adversário, todos já sabem. Se ele tem pedido a minha destituição, só me dá alegria. Se o PT defendesse minha permanência, talvez eu pudesse estar errado", afirmou.

O peemedebista disse que não pretende se afastar do comando da Casa Legislativa e ressaltou não estar preocupado com a hipótese de perder apoio na Câmara dos Deputados em decorrência de depoimento do lobista Júlio Camargo de que teria pedido US$ 5 milhões em propina em um contrato de navios-sonda da Petrobras.

Volume morto
Mais cedo, durante o encontro com empresários, Cunha já havia criticado o governo e a presidente. Segundo ele, o PT, "para a sociedade, já baixou do volume morto" e tem impopularidade maior do que a da mandatária do Planalto.

A análise é uma referência a declarações feitas em privado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reveladas, no início deste mês, pelo jornal "O Globo". Na ocasião, ao falar sobre a crise política que o partido atravessa, Lula disse que ele e Dilma estavam "no volume morto".

"A impopularidade do PT consegue ser maior que a impopularidade de Dilma Rousseff hoje", disse Cunha. "Talvez, o PT tenha até arrastado a impopularidade dela mais para baixo do que poderia ser", concluiu.

O encontro foi organizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais). Antes da chegada de Cunha, dez jovens protestaram contra ele em frente ao hotel onde aconteceria o evento.

O presidente da Câmara, que recentemente declarou ser, pessoalmente,oposição ao governo, voltou a atribuir ao poder Executivo a aparição de seu nome na investigação da Operação Lava Jato.

Temor
Cunha se definiu como vítima de um ataque "com as digitais bem definidas". "Quis ser independente de um poder Executivo que todo mundo sabe que não me engole, todo mundo sabe que não quis que eu fosse presidente, que não se conformou com aquilo que foi feito e que, de certa forma, teme a continuidade do nosso trabalho", afirmou.

Questionado sobre um possível processo de impeachment da presidente, o peemedebista fez questão de afirmar que terá uma posição equilibrada e que o assunto é complexo e com reflexos penosos para o país.

"Vou tratar a todos [os pedidos de impeachment de forma técnica, sob a ótica jurídica", disse.

O presidente da Câmara, no entanto, voltou a criticar o ajuste fiscal proposto pelo governo –nas palavras dele, "pífio"– e apostou que o as metas de economia para pagamento da dívida pública não serão cumpridas.

Para Cunha, haverá um agravamento do cenário e as propostas do governo até agora são insuficientes. Ele vê risco de rebaixamento das notas de crédito do Brasil e afirma que o cenário é de insegurança para o empresariado.

Covardia
Logo no início de sua fala, Cunha tratou sobre as especulações de que poderia se recolher diante das acusações de envolvimento na Lava Jato. "Eu não costumo reagir colocando a cabeça debaixo do buraco", afirmou. "A história não reserva espaço para os covardes. Eles não vão impedir o meu livre exercício da liderança parlamentar", concluiu.

Apesar de ressaltar que seu rompimento com o governo é "pessoal", ele disse acreditar que hoje, no PMDB, os favoráveis à saída do partido da aliança que sustenta a gestão Dilma Rousseff são maioria na cúpula da sigla. O PMDB tem o vice-presidente da República, Michel Temer.

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