quarta-feira, 15 de julho de 2015

Lula diz a Dilma que governo deve parar de debater operação Lava-Jato

• Presidente, seu antecessor e ministros se reúnem para avaliar crise

Simone Iglesias e Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva almoçou ontem com a presidente Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, em meio à crise política e econômica e à deflagração de mais uma fase da Operação Lava-Jato, desta vez, com buscas e apreensões nas casas de três senadores, dois da base do governo. Apesar do momento delicado, Lula disse, segundo um dos participantes da reunião, que o governo tem que parar de debater a Lava-Jato e focar na divulgação de seus programas e realizações.

Essa seria uma forma de tentar sair da crise e recuperar a popularidade. A contestação das acusações de corrupção ficaria a cargo do PT.

Após o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, ter afirmado em delação premiada que os R$ 7,5 milhões doados para a campanha à reeleição de Dilma eram provenientes do esquema de propina na Petrobras, a presidente disse duas vezes, em entrevistas, que não respeita delator e contestou a acusação. Há duas semanas, em conversa com a cúpula do PMDB, Lula já havia afirmado que "a agenda do Brasil não pode ser a Lava-Jato".

Dilma e Lula não se encontravam há mais de um mês. Essa foi a primeira conversa após as duras críticas feitas por ele a Dilma - reveladas pelo GLOBO - em encontro com religiosos, em junho, em que o ex-presidente disse que a gestão de sua sucessora está "no volume morto".

A conversa de ontem, de quase quatro horas, teve a participação dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social), Jaques Wagner (Defesa), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) e do presidente nacional do PT, Rui Falcão.

Lula pediu unidade do governo em torno da política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e respaldo às medidas planejadas por ele para retomada do crescimento da economia. Há divergências internas, principalmente sobre a redução da meta fiscal do governo, entre os ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Antes do almoço de ontem, Lula esteve com Levy. Como O GLOBO revelou, o ministro vinha tentando desde o início do ano se encontrar com Lula, sem sucesso.

Ao mesmo tempo em que pediu apoio irrestrito a Levy, Lula sugeriu que Dilma tenha maior atenção com os movimentos da economia, e que, quando houver sinais positivos do mercado, seja mais otimista em suas manifestações públicas. Para ele, é preciso realçar as medidas para o aquecimento do setor produtivo. Lula afirmou que Dilma precisa mostrar as "muitas" ações positivas de seu governo, de acordo com um dos presentes.

Lula e Dilma discutiram um plano de ação para que o governo reaja, com viagens pelo país, inclusive de ministros, que sirvam para uma reaproximação com movimentos sociais.

Ontem, enquanto eles se reuniam no Palácio da Alvorada, sindicalistas, representantes de movimentos sociais, deputados e senadores de partidos governistas participaram do "ato em defesa da democracia e da Petrobras", na Câmara dos Deputados.

- Aqueles setores que estão tramando golpe vão ter resposta dura se insistirem nessa tentativa. Eles não vão fazer aqui o que fizeram no Paraguai - disse o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Wagner Freitas, reforçou esse discurso:

- Se tentarem um golpe, vão encontrar um militante da CUT em cada esquina enfrentando essa direita.

Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), só a mobilização dos movimentos sociais pode barrar "a conspiração aberta para derrubar uma presidenta eleita".

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