segunda-feira, 13 de julho de 2015

China e EUA preocupam governo Dilma

Assis Moreira - Valor EconÔmico

UFÁ, RÚSSIA - A intensa turbulência nas bolsas de valores da China deixou um "sabor amargo" na delegação do governo brasileiro que participou da cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em Ufá na semana passada. Existe preocupação, também, com a turbulência que pode ser provocada pela esperada elevação da taxa de juros nos Estados Unidos.

O que assustou autoridades dos Brics foi ver a segunda maior economia do mundo usar seu enorme poder de fogo durante dias sem conseguir neutralizar o risco de colapso das bolsas, o que ampliou a desconfiança dos mercados.

Para autoridades brasileiras, o que ocorreu nos mercados por causa da China mostrou como é importante aproveitar o tempo para fortalecer as defesas da economia antes da elevação dos juros nos EUA que pode provocar mais um período de volatilidade.

Como o Valor apurou, para enfrentar esse quadro, o governo quer garantir que as expectativas de inflação estejam, até lá, realmente ancoradas na meta - de 4,5%. Nesse período, o plano é ter o ajuste fiscal implementado para valer.

Além disso, o programa de swap cambial do Banco Central - uma espécie de contrato que dá proteção contra flutuação da moeda - está próximo de US$ 104 bilhões e rolando cerca de 60% dos contratos. Diminuindo a rolagem das operações, o Banco Central permite maior flutuação da taxa de câmbio e estaria abrindo espaço para uma ação mais incisiva à frente, se necessário.

Em meio à acumulação de incertezas no cenário mundial, o compromisso de ancorar as expectativas de inflação antes que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, eleve os juros poderia levar o BC a estender o ciclo de alta dos juros aqui dentro. Nos últimos dias, o BC vinha começando a sinalizar o oposto.

Na delegação brasileira, era dada ênfase à afirmação de que volatilidade não pode ser confundida com vulnerabilidade. Menções de analistas a "cinco emergentes frágeis" a choques externos, que inclui o Brasil, são vistas como posicionamento de mercado para vender moedas e ações. A situação da zona do euro tambem está sendo monitorada pelo governo. A avaliação brasileira é de que há realmente um grande esforço europeu para evitar agravamento da situação da Grécia. Mas é algo complexo e pode ser demorado.

Brasil quer inflação ancorada quando Fed subir juros
A intensa turbulência nas bolsas de valores da China deixou um "sabor amargo", para representantes do governo brasileiro que participaram da cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul), em Ufá na semana passada. E reforçou o sentimento do quanto é importante aproveitar o tempo para fortalecer as defesas da economia antes da potencial volatilidade que virá com o aumento dos juros nos Estados Unidos.

Conforme o Valor apurou, para enfrentar tal quadro as autoridades querem garantir que a expectativa de inflação esteja realmente ancorada na meta até lá, com o ajuste fiscal rigoroso implementado, e ter conforto no uso do programa de swap.

A presidente Dilma Rousseff foi à cúpula dos Brics em Ufá, a capital muçulmana da Rússia, a 1,3 mil quilômetros de Moscou, acompanhada do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, num momento de agitação dos mercados provocada pela combinação de dois eventos: as incertezas sobre a Grécia na zona do euro e o estouro da bolha chinesa, que evaporou US$ 3,5 trilhões das bolsas de Xangai e Shenzen em algumas sessões.

O que assustou autoridades de países parceiros foi ver Pequim usar seu enorme poder de fogo sem conseguir por dias estancar o problema, o que ampliou a desconfiança dos mercados.

A delegação brasileira procurou ver até que ponto a correção nas ações chinesas é relevante do ponto de vista macroeconômico, de consumo e de investimentos. A avaliação é de que parece limitada. Mas os chineses admitiam a parceiros que não tinham uma visão precisa sobre o episódio.

Fontes do governo brasileiro argumentam que as exportações para a China são grandes, representam 17% do total vendido pelo país, mas não chegam a 2% do PIB. Isso porque a economia brasileira é fechada e o comércio exterior tem peso menor.

Porém, admitem que o impacto indireto é importante pela percepção de risco dos agentes de mercado e pelos preços das commodities.

Em meio ao desconforto deixado pelo revés chinês, na delegação brasileira se enfatizava que volatilidade não pode ser confundida com vulnerabilidade.

Com relação à zona do euro e aos problemas da Grécia, o importante para o Brasil, nos contatos com o Banco Central Europeu (BCE) e alguns outros bancos centrais que não fazem parte da moeda única, é sinalizar que estará na linha de frente para limitar um contágio de uma eventual saída da Grécia do bloco.

A avaliação brasileira é que há realmente um grande esforço para evitar agravamento da situação da Grécia. Mas é algo complexo e pode ser demorado.

O evento que mais desperta atenções do Brasil e outros emergentes é, sobretudo, quando os EUA vão normalizar a sua política monetária e como isso vai ocorrer.

A percepção do governo brasileiro é que o processo tem sido bem comunicado pelo Federal Reserve (o BC dos EUA) e será o movimento mais antecipado em política monetária de que se tem notícia na história mundial.

Se houver um movimento de venda de moedas emergentes, isso vai afetar a economia americana. O Fed já incorporou esse risco. Para os BCs de emergentes, como o brasileiro, tal leitura é suficiente para ter a parceria da autoridade monetária americana nesse processo de normalização.

No entanto, o temor é que mesmo a melhor comunicação não evite certos riscos. Faz oito anos que não há subida de juros nos EUA. Existe uma geração de operadores de mercado, com média de 25 a 30 anos, que nunca viu o juro aumentar.

Alguns membros do Fed têm sinalizado que a normalização da política monetária vai ser proporcional à reação do mercado. Se for boa, vão subindo os juros. Se for mais negativa, o Fed pararia um pouco. Alguns chegam a falar em reversão em caso de virada brusca no mercado, algo considerado pouco verossímil na percepção brasileira.

A expectativa é que o começo da alta dos juros americanos possa ocorrer em setembro, dezembro ou no ano que vem. Para o Brasil, isso não é menos relevante. Quanto mais cedo for, maior a possibilidade de aumento gradual. Se for mais tarde e mais abrupto, cresce o risco de abalos nos mercados.

Pelo entendimento do governo brasileiro, a sua primeira linha de defesa é o câmbio flutuante. Isso sinaliza que o BC e a equipe econômica estão atentos aos riscos, têm se preparado e vão aproveitar o tempo para continuar reforçando suas defesas.

No governo, a avaliação é que o BC tem feito progressos para ancorar as expectativas de inflação à meta. A constatação inevitável é que a inflação em 2015 vai ser alta por conta do reajuste de preços relativos e da valorização do dólar. Só a conta da luz teve um reajuste de 50%, exemplifica uma autoridade. O entendimento é que o juro alto está segurando os efeitos de segunda ordem do ajuste de preços relativos para que esses não se propaguem para 2016. E o BC está conseguindo isso, na avaliação no governo.

Além disso, para o BC o importante é ter o ajuste fiscal rigoroso, e que seja para valer.

No quesito proteção cambial, o estoque de contratos de swap está próximo de USS 104 bilhões. Com a rolagem parcial desses instrumentos a cada vencimento, o BC estaria abrindo espaço para uma ação mais incisiva à frente, se necessário.

Uma questão em Ufá foi como o Brasil vai se recuperar mais rapidamente, como promete a presidente Dilma Rousseff, com juros tão elevados. Para um importante membro da delegação brasileira, o crescimento envolve também fatores não econômicos. Ele observa que o juro é negativo na Europa, mas ainda assim o crédito continua caindo. Acha que também no Brasil, independentemente da política monetária, a confiança é fundamental para reativar a atividade.

Para essa fonte, se for examinado o que houve com a inflação e os juros nos primeiros seis meses do ano, possivelmente o juro real instantâneo está "muito baixo" no Brasil.

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