quarta-feira, 17 de junho de 2015

Solidariedade a presos políticos: Pouso autorizado

Maria Lima e Cristiane Jungblut – O Globo

• Após pressão, Venezuela permite chegada de voo da FAB com comitiva do Senado brasileiro

A Venezuela autorizou a ida de um avião da FAB ao país com um grupo de senadores que vão prestar solidariedade a opositores presos. O país já beira a hiperinflação. - BRASÍLIA- Ao final de um dia de tensão e diante da ameaça de que um veto fizesse a crise transbordar para o governo brasileiro, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, decidiu ontem à noite autorizar o pouso de uma aeronave militar da FAB levando a Caracas uma comissão de senadores liderada pelo presidente do PSDB, Aécio Neves ( MG). A comitiva oficial do Senado irá pressionar pela definição da data das eleições legislativas e a libertação dos presos políticos. A resposta de Maduro só veio depois de muita pressão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da ação do ministro da Defesa, Jaques Wagner, junto a autoridades diplomáticas do Brasil e da Venezuela.

Diante do agravamento do impasse, e ainda sem nenhuma resposta do governo de Maduro, Wagner foi ao Senado ao final da manhã, mas não chegou a ser recebido por Renan. Aécio, o presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira ( PSDB- SP), e o líder do Democratas, Ronaldo Caiado ( GO), chegaram a articular um plano B, com o aluguel de um avião particular para levar a comissão de senadores a Caracas. Segundo Aécio, Mitzy Ledezma e Lilian Tintori, mulheres dos presos Antonio Ledezma e Leopoldo López, além da deputada cassada María Corina Machado, fizeram apelos dramáticos para que mantivessem a viagem.

No final da noite, Wagner retornou ao Senado e, em reunião com Renan, Aécio e Aloysio, informou que Maduro autorizara o pouso de uma aeronave da FAB levando a comissão oficial do Senado. Além de Aécio, Aloysio e Caiado, integram a comitiva o presidente do Democratas, senador José Agripino Maia ( RN), Sérgio Petecão ( PSD- AC) e Ricardo Ferraço ( PMDB- ES).

Segundo Wagner, o governo venezuelano vai garantir a circulação da comitiva brasileira e o encontro com os familiares dos presos, mas não será permitida a visita aos políticos na cadeia. A aeronave da FAB decolará de Brasília na quinta- feira de madrugada rumo a Caracas.

— A solução é a melhor possível. O governo venezuelano não havia negado, só não tinha respondido ainda. Eu estava trabalhando com as autoridades diplomáticas e fico feliz que o esforço do silêncio tenha plantado uma solução que é boa para todos — disse Wagner.

Renan se disse aliviado com a autorização para que a visita ocorra com a normalidade requerida.

— Eu estou aliviado, sem dúvida. Estava preocupado. Já pensou se os senadores vão em uma aeronave privada e esse avião é abatido? — comemorou Renan.

Tanto Aécio quanto Aloysio elogiaram a ação de Renan e Wagner para garantir a autorização do governo venezuelano.

— Agora de forma oficial. Foi a decisão acertada — disse Aécio.

Bate- boca em sessão de Comissão
Mais cedo Aécio, Caiado e Aloysio cogitaram recorrer a Organização dos Estados Americanos ( OEA) para pedir sanções à Venezuela, caso o governo de Maduro vetasse a ida de uma comissão oficial do Congresso brasileiro ao país, o que caracterizaria ruptura democrática e violação da Declaração de Ushuaia, um protocolo que a Venezuela subscreveu ao ser aceita como membro do Mercosul.

O texto do protocolo diz que, no caso de ruptura da ordem democrática em um Estadomembro, os demais Estados Partes promoverão as consultas pertinentes entre si e com o Estado afetado. Para os senadores da oposição, o governo brasileiro tinha que usar sua força para viabilizar a ida da comitiva oficial a Caracas.

— O que me causa enorme estranheza é o governo brasileiro não estar exercendo o papel que tem do ponto de vista econômico, geográfico, populacional, a força que tem na região para ajudar que a Venezuela atue no respeito às liberdades democráticas — protestou Aécio.

A resistência do governo venezuelano em autorizar o pouso da aeronave militar levou tensão também a sessão da Comissão de Relações Exteriores, durante sabatina dos embaixadores Marcos Leal Raposo Lopes, indicado para a embaixada do Brasil no Peru; e Carlos Antônio Rocha , indicado para a Dinamarca e Lituânia. Para pressionar por um posicionamento do governo brasileiro, Caiado tentou suspender a sabatina. A pedido de Aloysio, retirou o requerimento, o que não impediu o bate- boca com o senador petista Lindbergh Farias ( RJ).

— Tem violência e golpismo dos dois lados. Não vamos tratar essas pessoas ( os oposicionistas presos) como heróis, democratas! Vamos baixar a bola! — disse Lindbergh. — A pior coisa para a América Latina é a Venezuela descambar para uma guerra civil. Se vão lá, é bom ouvir os dois lados, ouvir também as autoridades do governo. Vamos ter calma!

Caiado acusou Lindbergh de defender uma tese simplista, como se o governo não tivesse nada com isso, enquanto os presos políticos estão em prisões “em forma de tumba, sem acesso ao sol”.

— Como pode, em pleno 2015, existir presos políticos porque não podem fazer oposição ao governo? — questionou Caiado.

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