terça-feira, 16 de junho de 2015

Raymundo Costa - Pra não deixar de falar no impeachment

- Valor Econômico

• Tempo pode jogar a favor de Dilma mas contra Aécio Neves

Os aliados do senador Aécio Neves anunciam que em breve ele retoma as viagens pelo país. É preciso fazer a manutenção dos votos que teve em 2014 e deixaram o PSDB mais perto que nunca da Presidência da República, desde a eleição de 2002, quando o PT venceu, em sua quarta tentativa.

Nenhum outro tucano esteve tão perto quanto Aécio, depois dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, e ele será novamente o candidato do PSDB, se mantiver o recall de votos e - principalmente - o controle da máquina partidária. Parece óbvio que um candidato tão bem votado em 2014 seja chamado para bater chapa contra um partido que virou pó. Mas não é. Basta observar o lançamento da candidatura do governador Geraldo Alckmin à sucessão da presidente Dilma Rousseff, feito no domingo passado, em convenção regional do PSDB.

Alckmin é candidato a presidente da República, cargo que já disputou com Lula em 2006, e está determinado. A morte de um filho em acidente aéreo foi uma tragédia que o levou a dedicar mais tempo à mulher, ainda muito abalada, mas os aliados do governador continuaram lubrificando as correias de transmissão da pré-candidatura. O resultado pode ser visto na convenção de domingo: Alckmin levou tudo.

O governador ganhou de Fernando Henrique Cardoso, ainda o maior guru tucano, porque FHC defende que é cedo para discutir a sucessão presidencial, mas foi solenemente ignorado pelo presidente eleito do diretório, Pedro Tobias, um médico de Bauru aliado histórico de Alckmin: "O país precisa de um médico", disse Tobias, referindo-se à formação acadêmica de ambos. "O país está doente, corrompido. Precisamos de Alckmin na Presidência", afirmou.

Outro nome atropelado por Alckmin, e que também flerta com a vaga, é o senador José Serra, ex-prefeito de São Paulo, ex-governador, deputado constituinte e duas vezes candidato derrotado à Presidência. Serra é considerado um dos homens públicos mais bem preparados para a função, perdeu duas contra Lula, está com 74 anos mas não desiste do sonho de governar o país. Seus cinco meses de atuação no Senado deixam evidente que Serra tem clareza sobre o que quer.

O PSDB de São Paulo - e não só Alckmin - passou por cima de Aécio ao mandar o recado de que atribui seus 51 milhões de votos, na eleição de 2014 contra Dilma, mais ao sentimento antipetista que polarizou a disputa que à bagagem política do senador mineiro. Além disso, argumenta-se, os próprios Alckmin, como candidato à reeleição, e José Serra, na disputa que tirou do Senado o antes imbatível Eduardo Suplicy, contribuíram decisivamente para sua votação, sobretudo- e não só - no Estado.

Há outros argumentos no PSDB paulista para a troca de candidato. Um deles é que o partido precisa recuperar Minas Gerais, mais factível à medida que o governador do PT, Fernando Pimentel, enfrenta problemas. Outro é que Alckmin tem o que mostrar numa eleição, ou pelo menos bem mais do que mostrou Aécio em 2014, apesar da crise da água. Trilho e água são as prioridades "do Geraldo", como o candidato era chamado em 2006, até a eleição. O governador de São Paulo, por fim, até agora se manteve imune às denúncias - documentadas ou meras especulações - contra nomes de respeito tanto do PT quanto do PSDB. Um feito para quem já foi candidato de prefeito a presidente da República.

Amplamente vitorioso na disputa local, é importante registrar que Alckmin é um nome na "cabeça" de São Paulo. Entre os parlamentares federais do PSDB fora de São Paulo o nome que surge automaticamente nas conversas é o de Aécio Neves, o tucano que mais próximo esteve de derrotar o PT numa eleição presidencial.

Fora do PSDB também. Veja-se o caso do PSB, que deve entrar com Marta Suplicy na disputa pela prefeitura, já no ano que vem, por exemplo, estimulada por Alckmin e seu vice Márcio França, que é do PSB. Uma equação bastante complicada. Com Alckmin candidato a presidente, assume o cargo o vice Márcio França. Governador, França seria naturalmente candidato à reeleição. O problema é que, presidenciável, o melhor candidato ao governo estadual para Alckmin fortalecer seu projeto nacional é José Serra.

O próximo lance da disputa interna paulista é a eleição para a prefeitura da cidade. Pré-candidato, o vereador Andrea Matarazzo seria o nome adequado para satisfazer Fernando Henrique e José Serra. Além disso, é considerado um dos tucanos mais bem preparados para governar a megalópole. Mas é crescente a candidatura de Bruno Covas, neto de Mário Covas, o deputado federal mais votado de São Paulo depois das celebridades Tiririca, Celso Russomano e Marcos Feliciano. Apesar de uma ou outra defecção, a família Covas hoje está com Geraldo Alckmin.

Em avaliações internas, o que dá algum ânimo ao PT é o tempo de mandato que resta à Dilma Rousseff. São mais de três anos e meio, o suficiente para Dilma se recuperar e o PT tentar emplacar um quinto mandato consecutivo. Tempo, de fato, é o que resta a Dilma. Mas ele já não parece tão longo assim quando a movimentação dos partidos em relação a 2018 já é visível a olho nu. Não é outro o motivo que divide o PMDB, por exemplo, em três correntes - os que querem manter a aliança com o PT, os que querem romper e os que querem esperar para ver e os que querem lançar um candidato próprio.

É uma boa hora para Aécio botar o pé na estrada. Se o tempo pode favorecer Dilma, pode também ajudar na formação de um outro candidato da oposição para 2018. A notícia boa para Dilma, em dias de congresso do PT e convenções do PSDB, é que já se fala em sua sucessão. Até algumas semanas atrás certamente o impeachment dominaria as conversas.

A Democracia Socialista (DS), tendência do PT a que pertence o secretário-geral da Presidência, no momento atrapalha mais do que ajuda a permanência do ministro no governo.

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