sexta-feira, 26 de junho de 2015

PT aprova resolução que eleva tom das críticas à Lava-Jato

• Após cobranças de Lula, partido defende até mesmo empreiteiras

Sérgio Roxo e Fernanda Krakovics – O Globo

Escândalos em série

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Três dias depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticar o PT publicamente, a Executiva do partido reunida ontem em São Paulo aprovou uma resolução que responde às cobranças do seu líder e endurece o confronto aos investigadores da Operação Lava-Jato. Quatro dos 16 itens da resolução são dedicados à investigação. Sem mencionar diretamente o juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato, o presidente do PT, Rui Falcão, classificou de "inexplicável e inaceitável" a manutenção da prisão do ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto.

Durante a reunião, um grupo de amigos de Vaccari, preso desde 15 de abril, apresentou um dossiê para embasar sua defesa. O PT pretende distribuir o material nos estados.

Na resolução aprovada na reunião de ontem, em São Paulo, o PT aponta, na Lava-Jato, violação dos "princípios da presunção da inocência, que prisões preventivas sem fundamento se prolongam e que um estado de exceção está sendo gestado em afronta à Constituição".

O texto chega até a defender as empreiteiras acusadas de participar do esquema de corrupção na Petrobras, argumentando com o risco de desemprego: "Preocupa o PT as consequências para a economia nacional do prejulgamento de empresas acusadas no âmbito da Operação Lava-Jato. É preciso apressar os acordos de leniência, que permitam a recuperação de recursos eventualmente desviados e que não se paralisem obras, a fim de impedir a quebra de empresas e a continuidade das demissões daí resultantes".

Anteontem, na véspera da reunião da Executiva, Rui Falcão teve uma longa reunião com Lula na sede do instituto do ex-presidente, em São Paulo. O documento aprovado pelos dirigentes mostrou que os ponteiros foram acertados. Em outra frente, o partido também elevou o tom das críticas à política econômica do governo federal em relação ao texto aprovado duas semanas atrás no Congresso da legenda. Agora, o partido pede "medidas urgentes de reorientação", entre elas a redução da meta de superávit fiscal.

Na segunda-feira, durante palestra promovida por seu instituto, Lula disse que o partido precisa "fazer uma revolução interna, colocar gente nova, gente que pensa diferente". Entre outras medidas, a Executiva decidiu ontem criar um conselho com a participação até de não filiados. Segundo Falcão, será uma instância para "trocar ideias" sobre a conjuntura política:

- Vai ser um conselho ligado à presidência do PT com entre 15 e 20 participantes. Faremos uma reunião a cada 30 ou 40 dias com participação de gente do PT e gente amiga do PT - afirmou.

Lula recebeu anteontem o ministro Edinho Silva (Comunicação Social) em São Paulo. Para baixar a temperatura, a bancada do PT na Câmara adiou a divulgação de um documento respaldando as críticas de Lula, como havia feito a do Senado, e convidou o ex-presidente para uma reunião na próxima semana, em Brasília. O encontro aconteceria enquanto Dilma Rousseff visita oficialmente os Estados Unidos.

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