sábado, 13 de junho de 2015

Lula cobra explicações sobre convocação de Okamotto à CPI

Fernanda Krakovics, Leticia Fernandes e Sérgio Roxo – O Globo

• Ex-presidente se queixa com PT e Temer e diz que desatenção é inaceitável

BRASÍLIA e SALVADOR- Inconformado com a convocação de Paulo Okamotto, presidente de seu instituto, pela CPI da Petrobras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem explicações do vice-presidente da República, Michel Temer, do relator da comissão parlamentar de inquérito, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), e do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Na busca por culpados, foram apontados erros na articulação política do governo e demora na distribuição de cargos pela Casa Civil como as razões para o revés que atinge uma das figuras mais próximas do ex-presidente.

Ao receber telefonema de Lula ontem, Temer afirmou, segundo pessoas próximas, que foi surpreendido pela convocação de Okamotto. O vice-presidente acumula a função de articulador político do governo. Na sequência, o vice-presidente ligou para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e reclamou.

Reunião a portas fechadas
Okamotto foi convocado para explicar o recebimento pelo Instituto Lula de R$ 3 milhões em doações da empreiteira Camargo Corrêa, uma das investigadas na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. A construtora doou ainda R$ 1,5 milhão a uma empresa de palestras do ex-presidente Lula.

Integrantes do governo veem no episódio resquícios da crise entre PT e PMDB gerada pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que sugeriu a saída de Temer do comando da articulação política do governo.

Ontem, Lula se reuniu a portas fechadas com o presidente do PT, Rui Falcão, e com o relator da CPI da Petrobras, durante o 5° Congresso do partido, que acontece em Salvador. No meio da conversa, o ex-presidente mandou chamar o líder do governo na Câmara. O encontro durou cerca de 15 minutos.

Ao ser cobrado, Luiz Sérgio teria reclamado da suposta falta de atenção do Palácio do Planalto com a CPI. Também teria reclamado da ausência de deputados do PT que integram a CPI, citando Maria do Rosário (RS) e Jorge Solla (BA).

— Me deixar ali sem instrumentos é tarefa difícil. Sem apoio e sem considerar que aquilo é uma coisa importante, vamos ter mais problema ainda — teria reclamado o relator, de acordo com pessoas presentes.

Lula teria concordado:

— Não dar atenção para a CPI é inaceitável — disse Lula, segundo participantes da reunião.

Como exemplo da falta de articulação política do governo, o relator teria reclamado que a ordem do dia — sessão para votações no plenário da Câmara — foi suspensa a pedido de uma deputada do PT, Moema Gramacho (BA), o que permitiu a votação do requerimento de convocação de Okamotto pela CPI. Quando há ordem do dia no plenário, as comissões não podem deliberar.

O relator teria aproveitado para dar uma alfinetada em Lula, que se empenhou para abrir uma vaga na Câmara para Wadih Damous (PT-RJ), ex-presidente da OAB, para que ele fizesse um debate qualificado de defesa do governo e do partido. Luiz Sérgio teria reclamado que Damous só compareceu à CPI uma vez e teria ficado "apenas cinco minutos"!

Na noite de quarta-feira, véspera da reunião da CPI, houve uma tentativa de evitar a convocação de Okamotto. Integrantes do governo afirmam que o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), teria reclamado que o Palácio do Planalto estaria privilegiando o deputado Manoel Junior (PMDB-PB) na distribuição de cargos e também teria cobrado a liberação de recursos de emendas ao Orçamento da União.

Motta nega busca de cargos
Alertado, José Guimarães telefonou para Mercadante (Casa Civil), por volta das 19h de quarta-feira, pedindo que ele recebesse o presidente da CPI. Mercadante respondeu que não tinha tempo e "terceirizou" o problema para o ministro Ricardo Berzoini (Comunicações), que tem ajudado na articulação política.

Hugo Motta negou ter agido em busca de cargos e recursos.

— Não é verdade. Jamais usaria a presidência da CPI para retaliar quem quer que seja — afirmou.

Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também foi acionado:

— Não vi o conteúdo da pauta, apenas fui alertado de que tinha pauta polêmica, sem saber o conteúdo. Soube só tarde da noite da véspera e não me meti, como aliás não me meto lá — disse Cunha.

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