sábado, 20 de junho de 2015

Executivo que viajou com Lula às custas de empreiteira é preso

• Diretor da Odebrecht, Alexandrino Alencar foi mencionado por delatores

Cristina Tardáguila, Letícia Fernandes e Silvia Amorim – O Globo

RIO E SÃO PAULO- Um dos presos ontem na 14a fase da Operação Lava-Jato é Alexandrino Alencar, diretor de Relações Internacionais da Odebrecht, que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagens, pagas pela construtora, para Cuba, República Dominicana e Estados Unidos, em janeiro de 2013. Oficialmente, não havia relação com atividades da empresa nesses países.

A viagem foi revelada pelo GLOBO em abril. Dezoito dias depois, a revista "Época" publicou que o Ministério Público Federal (MPF) havia aberto uma investigação preliminar para apurar a suspeita de que Lula possa ter feito tráfico de influência para beneficiar negócios da empreiteira no exterior.

No último dia 12, O Globo mostrou que o Ministério das Relações Exteriores havia deflagrado uma ação para evitar que documentos oficiais que citassem Lula e Odebrecht fossem repassados à imprensa por meio da Lei de Acesso à Informação. Na terça-feira, o ministério tornou público documentos feitos entre 2003 e 2010.

Alencar já havia sido convidado por Lula para acompanhá-lo em comitiva do governo brasileiro à África, em 2011, quando ele já não era mais presidente. Naquele ano, o pedido causou constrangimento ao Itamaraty, porque o diretor não trabalhava no governo nem tinha relação direta com atividades do ex-presidente.

Também em 2011, a Odebrecht pagou para que Lula viajasse à Venezuela, também na companhia de Alencar, segundo a revista "Época". O executivo foi um dos principais interlocutores para viabilizar a construção do estádio Itaquerão, antigo sonho de Lula, segundo o livro de memórias do ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez.

AG também pagou viagens de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já esteve em, pelo menos, oito países desde que deixou a Presidência em viagens bancadas pelas empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez. A primeira foi, de longe, a que mais levou Lula ao exterior.

Lula teve viagens pagas pela Odebrecht a Angola, Venezuela, Panamá, Guiné Equatorial, Cuba, República Dominicana e Gana. Na época em que aconteceram as visitas, a empreiteira tinha interesse em obras nesses locais. Na maioria delas, Lula viajou acompanhado de Alexandrino Alencar, que foi citado por delatores na Operação Lava-Jato como o operador de propina pela Odebrecht.

O doleiro Alberto Youssef disse que marcava encontros com Alencar por telefone. O número do diretor da Odebrecht consta da lista de ligações realizadas ou recebidas por um dos aparelhos de Youssef, conforme relatório sigiloso da empresa Black Berry, enviado aos investigadores da Lava-Jato e localizado pelo GLOBO. Alencar e a Odebrecht negam as acusações.

Os eventos de Lula nas viagens foram, em geral, palestras para empresários e políticos. A Procuradoria Geral da República investiga desde o início deste ano se o ex-presidente praticou o crime de tráfico de influência. Suspeita-se que o pano de fundo de algumas dessas visitas ao exterior tenha sido ajudar as empreiteiras em negócios com governos africanos e latino-americanos. Elas receberam financiamentos do BNDES para esses projetos fora do Brasil. Lula fez, ao menos, uma visita ao continente africano custeada pela Andrade Gutierrez. Em 2012, uma viagem do ex-presidente à Etiópia coincidiu com o anúncio do financiamento de cerca de US$ 1 bilhão para a empreiteira construir quase 500 quilômetros de ferrovias no país.

Mas é no campo das doações eleitorais que a empresa se destaca mais do que a concorrente Odebrecht. Ela ofereceu quantia muito superior à campanha da presidente Dilma Rousseff no ano passado: R$ 21 milhões. A Odebrecht doou R$ 7 milhões. A candidatura do adversário de Dilma Aécio Neves (PSDB) recebeu R$ 13 milhões da Andrade Gutierrez e R$ 5 milhões da Odebrecht.

O Instituto Lula nega que ele atue como lobista das empreiteiras e que seja alvo de investigação formal por tráfico de influência. Sobre as viagens, explica que o ex-presidente é convidado por várias empresas para fazer palestras e é praxe que elas paguem os custos das viagens, que são divulgadas pelo instituto.

Nenhum comentário: