quarta-feira, 24 de junho de 2015

Bernardo Mello Franco - Perdoa-me por me bateres

- Folha de S. Paulo

Depois do silêncio, o aplauso. Foi assim que o PT reagiu às críticas do ex-presidente Lula, que atacou o governo Dilma e acusou o partido de ter envelhecido e só pensar na ocupação de cargos.

No início, ninguém quis contestar o chefe. "Todo mundo tem direito de criticar", desconversou Dilma. "Não me estresso com essas coisas", disse o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães. "Não vejo como críticas, mas como uma provocação, um chacoalhão", enrolou o líder da sigla, Sibá Machado.

Quando ficou claro que não haveria debate a sério, os senadores petistas se encorajaram a emitir uma nota de desagravo ao ex-presidente. "A bancada do PT no Senado manifesta sua total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de campanha pequena e sórdida de desconstrução", afirmaram.

O texto soou estranho porque Lula não foi atacado para inspirar solidariedade dos comandados. Pelo contrário: ele é que fez duros ataques ao partido, ao governo e a Dilma, solenemente ignorada pelos senadores.

O novo discurso do ex-presidente lembra uma famosa estocada de Anthony Garotinho, que em 1999 rebatizou o PT como Partido da Boquinha. A diferença é que o então governador do Rio vivia em guerra com o petismo, e Lula continua a ser o líder máximo do partido.

A apatia não é apenas um sintoma de subserviência ao ex-presidente. Os petistas ainda batem cabeça para entender aonde ele pretende chegar com as críticas à sigla que fundou e à presidente que alojou em seu lugar. Há quem aposte em um esboço de estratégia para se descolar da imagem de Dilma, mas muita gente vê apenas irritação, destempero e temor com os avanços da Lava Jato.

Para sorte do Planalto, a oposição parece pouco interessada em tirar proveito da combustão interna do PT. Nesta terça, Aécio Neves e aliados gastaram a maior parte da sessão do Senado com longos discursos sobre a crise... na Venezuela.

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