sexta-feira, 29 de maio de 2015

Roberto Freire - Os efeitos da tempestade

Enredada pela conjugação entre graves crises na economia e na política, que vêm formando o que analistas chamam de “tempestade perfeita”, a presidente Dilma Rousseff segue imobilizada diante da série de más notícias que se avolumam a cada semana. A mais recente faceta do descalabro que toma conta do país foi apresentada pelo Ministério do Trabalho, por meio de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que apontam o fechamento de quase 100 mil vagas formais de emprego em abril (97.828).

Trata-se do pior resultado para o mês desde o início da série histórica, em 1992, quando houve o corte de 63.175 postos de trabalho. Na comparação com março, houve uma redução de 0,24% no estoque de empregos com carteira assinada. Este já é o terceiro mês consecutivo em que as demissões superaram as contratações em vagas formais.

Um dos setores mais atingidos pela inoperância do governo federal desde os tempos de Lula, a indústria respondeu pela maior perda de vagas no mês, com mais de 53 mil postos de trabalho fechados no período. Ao todo, houve corte de empregos em dez dos 12 segmentos analisados na área. Já no recorte por regiões, é o Nordeste que mais sofre com o desemprego, tendo registrado quase 45 mil vagas a menos em abril. O estado que teve o resultado mais desastroso foi Pernambuco, com o fechamento de 20 mil postos.

A incompetência e a irresponsabilidade de Lula e Dilma na condução da economia brasileira foram tão gritantes, gerando o descalabro nas contas públicas do país, que um ajuste fiscal é mesmo necessário. Mas, evidentemente, não nos termos em que foi apresentado, sacrificando os trabalhadores. O paradoxo da proposta do governo petista é que, em plena recessão, as medidas se limitam ao aumento de juros e ao corte de investimentos. Ao invés de amenizar a crise, o resultado inequívoco é justamente o seu agravamento, com a escalada do desemprego – como atestam os números divulgados pelo Caged – e a queda da renda das famílias.

O tipo de ajuste apresentado por Dilma e Joaquim Levy é uma invencionice criada para atender aos interesses da banca financeira em detrimento da classe trabalhadora, que sofre com a perda de benefícios e direitos históricos. Se alguém imagina que esse pacote será suficiente para fazer o Brasil retomar a trilha do desenvolvimento, os indicadores de desemprego em abril dão a resposta. Este não é, nem de longe, o melhor caminho.

Sem qualquer perspectiva de recuperação de curto prazo no campo econômico, Dilma também enfrenta enormes dificuldades políticas, com a desarticulação da base aliada e a falta de interlocução mínima com as diversas forças que compõem o Parlamento. A crise é tamanha que a perda de apoio político no Congresso pode até levar, em última análise, à ingovernabilidade. Se chegarmos a tanto, a resolução de um eventual impasse institucional pode desaguar em um processo de impedimento da presidente da República, já reivindicado por amplos setores da sociedade.

A recessão da economia, o desemprego, a inflação, os desdobramentos do maior escândalo de corrupção da história republicana, as manifestações de rua e os “panelaços”, além do isolamento político, só aumentam a temperatura e a pressão sobre o governo, levando à chamada “tempestade perfeita” que engolfa Dilma e o PT. É a tempestade da incompetência, do despreparo, da impostura. Que seja breve, pois seus efeitos mais devastadores já se fazem presentes país afora, diariamente, e atingem milhões de famílias brasileiras. Não se sabe quanto tempo ainda vai durar, mas é certo que passará.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

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