sábado, 2 de maio de 2015

Renato Andrade - Ecos de março

- Folha de S. Paulo

O barulho das panelas de março continua ecoando forte nos corredores do Palácio do Planalto e provocando arrepios em seus nobres inquilinos.

Somente isso pode explicar a postura adotada pela presidente Dilma Rousseff neste 1º de Maio.

Enquanto líderes da oposição e "aliados" do governo petista discursavam nos eventos promovidos pelas centrais sindicais, Dilma resolveu "falar" com os trabalhadores no mundo virtual, longe das ruas e de suas incontroláveis reações.

Por mais relevante que seja o uso da internet nos dias de hoje, apelar para a comodidade da rede revela muito mais insegurança do que uma nova estratégia de comunicação, como assessores da petista tentaram vender a ideia ao longo da semana.

O efeito da barulheira registrada no Dia da Mulher, enquanto Dilma pedia paciência aos brasileiros no rádio e na TV, acabou gerando um temor desmedido na presidente. E isso não é bom para ninguém.

O governo precisa mostrar de forma clara que as medidas de ajuste fiscal que estão sendo discutidas no Congresso são necessárias para reequilibrar as contas públicas e recolocar o país na rota do crescimento.

As propostas não são caprichos de economistas malvados.

O mesmo princípio da clareza se aplica ao debate sobre as regras para a terceirização do trabalho no Brasil.

Cabe a Dilma o papel de protagonista nesta discussão. Mas não é isso que está acontecendo.

A presidente poderia perfeitamente ter usado o rádio e a TV nesta sexta-feira para defender sua nova política econômica e explicar para parcela relevante da população o que acha certo e errado no projeto que regulamenta a terceirização.

A opção pelo mundo virtual pode ter evitado o risco de repetição do barulho das varandas de março, mas reforçou a imagem de uma presidente acuada e sem argumentos para defender as políticas que ela mesmo chancelou.

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