quinta-feira, 14 de maio de 2015

Para FH, corrupção na Petrobras começou no governo Lula e petistas têm que ‘lavar a língua’

• Em Nova York, ex-presidente questiona ainda o ajuste fiscal: ‘Para fazer o quê?’

Isabel de Luca – O Globo

NOVA YORK — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta quarta-feira em Nova York que o escândalo de corrupção na Petrobras “vem do governo Lula”. Questionado sobre a posição do PSDB acerca do impeachment da presidente Dilma Rousseff, FH disse que é preciso sobretudo “lutar pela decência da vida pública”:

— Se isso requerer impeachment, vamos a ele. A gente quer clareza. Um, houve uma ligação efetiva de responsabilidade. Dois, o sentimento do povo é esse. Vamos nos lembrar que a eleição foi há seis meses. Não é uma operação para destituir o governo, precisa ter uma base mais profunda, mais concreta. Esse malfeito vem de outro governo, tem que deixar bem claro, vem do governo Lula. Começou aí — apontou.

Durante seu discurso num seminário organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos – que na véspera havia homenageado o ex-presidente com o título de Pessoa do Ano, ao lado do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton – e pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), FH clamou por algum nível de entendimento entre governo e oposição para que o país consiga superar a crise.

— Precisamos criar um momento novo no Brasil. Isso não se faz com voluntarismo, se faz com amadurecimento das forças sociais, mas se faz também com liderança. Estamos num momento em que as lideranças já existem, vão se entender, e quando nós tivermos condições de entendimento, não conchavo, acho que vai ser um momento de arrancada brasileira — proferiu, diante de uma plateia de 367 empresários e investidores.

Na saída do evento, FH negou que a oposição esteja pactuando com o governo, e frisou que “é preciso ir mais fundo nas investigações”:

— Não estou falando em conciliação. Estou falando em passar a limpo o país. Não estou pensando em pactuar com o governo. É preciso que o país se regenere. Não é um acordo da cúpula. É uma mudança da atitude do Brasil. Não estou dizendo que é necessário apoiar este governo ou o PT. Quanto ao fato de eles tentarem me desconstituir durante 12 anos, agora eles têm que lavar a língua.

Ainda sobre o impeachment, o ex-presidente atribuiu a discussão não só a uma parcela do PSDB, mas também a “uma parcela da população”:

– Impeachment não é uma questão que se deseja, acontece. E quando é que ele acontece? Quando o povo não aguenta mais e quando há uma uma ligação concreta de quem está ocupando o poder. Isso (o impeachment) não é uma questão que você pode querer ou não querer. Se acontecer vai acontecer, se não acontecer não vai acontecer.

Também ao fim do evento, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin – o principal orador do seminário, em que apresentou oportunidades de negócios em seu estado – contestou que ele e FH integrem a ala moderada do PSDB:

– Não é ala moderada. O PSDB é um só: oposição. É tão patriótico ser governo como oposição. Mas nós temos que trabalhar. Nós somos governantes. São Paulo indo bem ajuda o Brasil. Essa é a nossa tarefa. Exercer uma fiscalização importante através da oposição e, onde somos governo, trabalhar.

Quanto ao ajuste fiscal, FH disse que o PSDB não é contra, mas se opõe a “algumas medidas”.

— O Brasil precisa do ajuste. Mais que de ajuste, precisa é de esperança. Não se faz simplesmente uma operação sem anestesia — disse. — O ajuste tem que ser feito, vai ser feito, haverá discussões, o PSDB vai votar uma hora a favor, uma hora contra. Mas é preciso que se entenda que o país quer sentir para que lado nós vamos, esse ajuste é para fazer o quê? Para reforçar outra vez os mesmos donos do poder que nos levaram a esse desastre ou é para criar uma situação que possa permitir uma esperança maior para o Brasil?

Lembrado que durante a primeira votação do ajuste fiscal, na semana passada, 100% dos tucanos votaram contra, o ex-presidente frisou que houve um “desatino do gasto público” e que o governo deveria explicar à população “qual é o futuro que se está criando para o Brasil”:

— O ajuste é para quê? Qual o caminho? Investir no quê? Quais são os principais fatores que vão nos levar a outra vez a acreditar? Há uma crise grande de energia no Brasil. Como vamos resolver essa questão? Como vamos aceitar que existe uma cooperação entre o setor privado e o setor público? O que é regular? Quando vamos voltar a ter agências reguladoras para valer? Como vamos tirar a infiltração política partidária da máquina pública? Isso é que é necessário fazer.

Em seu discurso, o ex-presidente ressaltou que “não tem medo das crises eventuais” e que, apesar do conturbado momento político, continua “muito crente no país”.

– Quem já fez tanto como nós fizemos não precisa ter medo das crises eventuais — proferiu.

Alckmin, por sua vez, declarou na saída do Harvard Club que “90% do ajuste é só sacrifício da população”. O governador defendeu “reformas macro” para garantir o crescimento do Brasil:

— Qual a crítica ao ajuste fiscal? Noventa por cento é só sacrifício da população. Aumento de imposto e cortar benefício da população. A parte do governo é muito tímida, quase não existente. E ajuste fiscal é uma pré-condição, mas não gera emprego e nem desenvolvimento. O que gera desenvolvimento e emprego é confiança, é competitividade, é produtividade, esse é o esforço que deve ser feito. Aí eu quero destacar a nossa disposição de ajudar nas reformas estruturantes de que o Brasil precisa, que não são ideológicas, prova até de maturidade, de trabalhar nesse sentido.

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