quinta-feira, 7 de maio de 2015

Celso Ming - A indústria está doente

• Esse mau desempenho da indústria não pode ser debitado à política de ajuste, que apenas começou; Tem tudo a ver com decisões equivocadas de política econômica a partir da segunda metade do primeiro mandato Lula

- O Estado de S. Paulo

A produção da indústria teve mais uma queda forte em março. Foi de 0,8% em relação a fevereiro, mês mais curto com feriados de carnaval.

No trimestre, o recuo foi de 5,9%, o maior desde 2009. E essa retração aponta para um avanço do PIB neste 1.º trimestre também negativo, provavelmente de magnitude de menos 0,3% a menos 0,5%. No período de 12 meses terminado em março, a indústria produziu menos 4,7% do que nos 12 meses anteriores.

Número mais preocupante é o desempenho ainda pior do setor de bens de capital (máquinas e equipamentos), que acumula queda de produção de 13,8% nos últimos 12 meses. Indica que o investimento vai mal e, portanto, que o aumento de produção futura também está comprometido.

Por enquanto, o desemprego ainda não atingiu em cheio a indústria. Mas todos os dias há notícias de dispensas de pessoal, lay-off (suspensões temporárias de contratos), planos de demissão voluntária e férias coletivas. A perspectiva é de que o mercado, tão esquentado até recentemente, comece a virar.
Esse mau desempenho da indústria não pode ser debitado à política de ajuste, que apenas começou. Tem tudo a ver com decisões equivocadas de política econômica a partir da segunda metade do primeiro mandato Lula.

A política industrial tem sido caótica, baseada em puxadinhos e remendos, que logo em seguida não podem ser mantidos, seja porque o Tesouro está espremido demais, seja porque não dão resultado, como aconteceu com as reduções tributárias na compra de veículos e aparelhos domésticos ou nas desonerações, que depois se mostraram excessivas.

Os critérios para distribuir favores são esdrúxulos. Quase sempre, recebe mais quem grita mais, tem mais lobby ou mais contribui para campanhas eleitorais.
E mais, o governo preferiu alianças comerciais com vizinhos esfarrapados que trancam suas importações para o Brasil (embora as abram para a China) do que com países de melhor poder aquisitivo.

A indústria está doente. Durante muitos anos, os dirigentes das entidades representativas dos empresários culparam o câmbio baixo e os juros altos demais e, até mesmo, o excessivo custo Brasil pelas agruras do setor. Hoje, parece consolidada a percepção de que a baixíssima competitividade da indústria vai além dos suspeitos de sempre. Está envelhecida e mal-acostumada com excesso de proteção e de reservas de mercado. Para tudo quer altas barreiras alfandegárias e reluta em modernizar-se.

Até países que se industrializaram anteontem, como a Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura, conseguem ser mais dinâmicos e colocar no mercado internacional produtos de melhor qualidade do que a indústria brasileira. Alguém bota defeito em carro coreano? E, no entanto, não há setor industrial no Brasil que tenha obtido mais favores do que o de veículos.

O empresário é vítima, mas também tem sido conivente com esse jogo. Tende sempre a abanar o rabo a cada torresmo que o governo lhe atira e se mostra menos disposto a batalhar por decisões estruturais que deem horizonte e sustentabilidade. Não é à toa que temos os números que estão no gráfico acima.

Exportações
Os números divulgados nesta quarta-feira pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) apresentam aparente discordância com os do IBGE. A Abimaq mostra que o faturamento bruto do 1º trimestre cresceu 8,7%. Para o IBGE, a produção caiu 18,0%. Em parte a diferença se explica pelo aumento das exportações, beneficiadas pela desvalorização do real ante o dólar. As vendas no mercado interno recuaram 16,8%.

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