sexta-feira, 15 de maio de 2015

Celso Ming - Fraqueza geral

• Não é apenas o semestre que está comprometido; Todo o ano de 2015 tende a ser de quebra da atividade econômica - e não só do comércio

- O Estado de S. Paulo

Quem tem dúvidas sobre a extensão e a intensidade da retração da economia no primeiro trimestre deste ano, deve olhar para os números divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE sobre o desempenho do comércio varejista (veja o gráfico abaixo).

As estatísticas dividem essa área em dois campos: varejo restrito e varejo ampliado. Este último acrescenta ao primeiro o comércio de veículos e de materiais de construção.
Em março, as vendas do varejo restrito caíram 0,9% em relação a fevereiro. Comparado o primeiro trimestre com igual período de 2014, a queda foi de 0,8%.

O número ainda mais expressivo é o que aponta para a abrangência da retração, que, por analogia com o que acontece com a inflação, pode ser chamado também de índice de difusão. O IBGE examina dez ramos do comércio restrito. Sete apontaram queda no trimestre. Vista a mesma coisa de outro jeito, as vendas no varejo restrito, em março, foram mais fracas em 16 dos 26 Estados (e Distrito Federal) da União. O estrago é ainda maior quando se consideram os dois ramos que completam o extrato do varejo ampliado, queda de 5,3% no trimestre.

Ninguém esperava que o ajuste da economia fizesse efeito tão rapidamente nem que fosse tão intenso. Pelo menos três fatores vêm contribuindo para essa retração. O primeiro deles é a perda de poder aquisitivo provocada pela inflação e pelos tarifaços que comeram uma fatia maior do orçamento. O segundo é o excessivo endividamento. O consumidor foi induzido pelo governo a não ter medo de ser feliz e sair comprando casa própria, veículo e aparelhos domésticos.

O financiamento parecia atraente porque apontava prestações que cabiam com folga no salário. Mas, muito depressa, tudo ficou mais caro, o dinheiro encolheu e ficou complicado honrar os carnês no banco no fim do mês.

O terceiro fator que segurou as vendas do varejo foram as más notícias, digamos assim. Ameaças de desemprego e de salário mais curto, o preço do ajuste, o juro mais alto e tanta coisa mais pediram comportamento mais retrancado do consumidor. Ele já não saca seu cartão de crédito com a facilidade de antes, reduziu suas idas a restaurantes e a esticada à praia nos fins de semana.

Pode-se ponderar que o relatório do IBGE ficou para trás porque termina em março e já estamos em meados de maio. Só que desta vez não dá para insistir em que é preciso olhar pelo vidro do para-brisas e não pelo retrovisor, porque as estatísticas mais recentes são ainda mais negativas, especialmente nas faixas de bens de consumo duráveis (veículos e aparelhos domésticos). Em abril, as vendas de veículos despencaram 6,6% em relação a março e os comerciantes se queixaram de que o movimento do Dia das Mães foi o mais fraco em anos.

Não é apenas o semestre que está comprometido. Todo o ano de 2015 tende a ser de quebra da atividade econômica - e não só do comércio. A título de contraponto ao quadro ruim, resta o consolo de esperar por certa recuperação da economia provavelmente antes do fim do ano, dentro do princípio de sabedoria popular de que no fundo do poço sempre tem alguma mola.

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