terça-feira, 14 de abril de 2015

Bernardo Mello Franco - Filantropia eleitoral

- Folha de S. Paulo

O governador do Acre, Tião Viana (PT), deve contar com a boa vontade dos ministros do Superior Tribunal de Justiça. Esta é a única explicação possível para a defesa que ele apresentou à corte, onde responde a inquérito por suspeita de envolvimento no petrolão.

Em ofício ao STJ, o petista disse não conhecer a empresa Iesa Óleo e Gás, responsável pela maior doação à sua campanha em 2010.

Mais do que isso: sustentou que até hoje não sabe quem são seus sócios e dirigentes, embora alguns deles estejam há cinco meses no noticiário policial da Lava Jato.

O motivo para tamanha distração? A falta de tempo para se informar sobre seus próprios financiadores, segundo a defesa que o governador enviou ao tribunal.

A Iesa é uma das fornecedoras da Petrobras mais citadas na Lava Jato. De acordo com as investigações, a empresa pagava propina ao diretor Paulo Roberto Costa para manter contratos superfaturados com a estatal. O delator envolvia uma parte do dinheiro e encaminhava a outra a políticos envolvidos no esquema.

Costa disse ao juiz Sergio Moro que Tião Viana "solicitou e recebeu" R$ 300 mil na campanha de 2010. A Polícia Federal vasculhou sua agenda e encontrou a anotação "0,3 Tvian". O círculo se fechou com a prestação de contas do petista, onde está registrada uma contribuição da Iesa no mesmo valor.

O governador negou que a doação esteja ligada ao petrolão, mas não soube explicá-la. Sua defesa só conseguiu produzir negativas. Alegou que ele não solicitou o repasse, que a Iesa "é sua desconhecida" e que ele "não sabe, até hoje, quem são seus sócios e dirigentes".

"O manifestante [Viana], em campanha eleitoral, não tinha tempo para identificar as pessoas doadoras", conclui a defesa do petista.

Resta uma hipótese: a Iesa era uma empresa dedicada à filantropia política, guiada pelo ditado "Fazer o bem sem olhar a quem".

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