segunda-feira, 16 de março de 2015

Nas ruas, contra o governo Dilma

Zero Hora ( RS)

SÃO PAULO - Em uma das maiores manifestações da história do Brasil, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas contra o governo Dilma. Em São Paulo, foram mais de 1 milhão na Avenida Paulista, segundo a Polícia Militar. Em Brasília, 45 mil na Esplanada dos Ministérios. Em Porto Alegre (foto), onde a BM estimou 100 mil manifestantes, a mobilização começou no Parcão e se espalhou por avenidas como Osvaldo Aranha e Goethe, chegando à Redenção. Em resposta à mobilização popular, os ministros José Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto prometeram um pacote anticorrupção. Panelaços foram ouvidos em São Paulo, Belo Horizonte, Recife e no Rio durante o pronunciamento do Planalto.

Manifestações críticas a Dilma mobilizaram centenas de milhares de pessoas em pelo menos 150 cidades em todos os Estados brasileiros e no DF

Menos de cinco meses depois de vencer a eleição presidencial mais apertada da história, Dilma Rousseff viu-se ontem na condição de alvo de uma das maiores mobilizações populares que o Brasil já testemunhou. Da manhã à noite, brasileiros saíram às ruas em mais de 150 cidades para manifestar repúdio à presidente e a seu governo, associando-os ao bilionário escândalo na Petrobras. Os atos, registrados em todas as unidades da federação, teriam reunido, segundo estimativas das polícias militares, cerca de 1,8 milhão de pessoas – mobilização comparável às de junho de 2013 e superior às da última sexta-feira, promovidas por grupos de apoio ao governo.

Em meio à crise econômica e às desconfianças éticas que derrubaram os índices de aprovação da presidente, os gritos de "Fora Dilma" ecoaram de Sul a Norte, com respingos até em cidades do Exterior, como Nova York, Miami, Londres e Buenos Aires. Vestidos de verde e amarelo, os manifestantes que cantaram o Hino Nacional, exibiram faixas e cartazes com ataques à presidente e ao PT e pediram o fim da corrupção. A bandeira nacional apareceu em muitas janelas, e buzinaços saudaram a passagem de passeatas. No Twitter, 100 mil mensagens sobre o assunto foram postadas a cada hora.

Uma parcela considerável dos manifestantes reivindicava o impeachment da presidente, trazendo à lembrança o movimento popular de 1992 que ajudou a apear Fernando Collor de Mello do poder.

– Somos milhares de pessoas que pedem o impeachment. O governo está numa situação lamentável – afirmou, em São Paulo, Rubens Nunes, do Movimento Brasil Livre.

Outros grupos, ainda mais radicais, pediram uma intervenção militar para derrubar a presidente.

– Quero os militares. Com impeachment, não haverá limpeza. Os militares têm seriedade e hierarquia – defendeu, em Belém (PA), a gestora em saúde Flávia Moura, 33 anos.

Os protestos começaram ainda pela manhã, mas atingiram seu ápice no meio da tarde, quando a Polícia Militar estimou em cerca de um milhão o total de manifestantes na Avenida Paulista, em São Paulo – o Instituto Datafolha, no entanto, calculou o total de presentes em 210 mil.

Depois de São Paulo, epicentro do antipetismo e baluarte do PSDB, Porto Alegre foi, conforme as estimativas oficiais, a cidade que mais reuniu descontentes. Segundo a Brigada Militar, cerca de 100 mil pessoas protestaram na capital gaúcha.

Na segunda maior metrópole brasileira, o Rio de Janeiro, a polícia calculou em 15 mil os participantes – segundo os organizadores, foram 50 mil. O principal líder da oposição, Aécio Neves (PSDB), candidato derrotado por Dilma no segundo turno da eleição presidencial, não saiu à rua, mas tratou de se mostrar solidário aos protestos. Deixou-se fotografar na janela de seu apartamento, na orla do Rio, com uma camiseta da Seleção – uniforme adotado por muitos manifestantes – e publicou um vídeo de apoio no Facebook. Segundo Aécio, o 15 de março será lembrado como o "dia da democracia":

– Depois de refletir muito, optei por não estar nas ruas neste domingo, para deixar muito claro quem é o grande protagonista dessas manifestações. E ele é o povo brasileiro, o povo cansado de tantos desmandos, de tanta corrupção.

Em reação, Planalto propõe medidas anticorrupção
Em Brasília, os manifestantes – 40 mil, segundo a Polícia Militar (PM), e 100 mil, conforme os organizadores – concentraram-se pela manhã em frente ao Congresso Nacional. Munidos de vassouras e sabão, eles lavaram as calçadas do parlamento. Protestos e marchas também ocorreram em cidades como Belém (50 mil pessoas, segundo a PM), Campinas (35 mil pessoas), Belo Horizonte (24 mil ), Fortaleza (15 mil), Salvador (7 mil) e Recife (5 mil). Em Jundiaí, no interior paulista, a sede local do PT foi incendiada.

Em comparação com os protestos de 2013, os atos de ontem chamaram atenção pela organização e estrutura. Em diversas cidades, houve distribuição de adesivos, vuvuzelas, camisetas e flores. Em São Paulo, nove carros de som foram espalhados ao longo da Avenida Paulista – três deles ligados a grupos que pregam uma intervenção militar. Em Brasília, o funcionário público João Carlos de Souza, envolvido na organização do protesto, disse que houve apoio financeiro de "importantes empresários do Distrito Federal".

Enquanto os protestos ocorriam pelo país e ganhavam repercussão internacional, Dilma permaneceu no Palácio da Alvorada, onde reuniu-se com ministros e assessores. Ela discutiu o lançamento de um pacote anticorrupção para aplacar a voz das ruas. No começo da noite, os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, concederam entrevista coletiva sobre os atos populares.

– O governo, que tem clara postura de combate à corrupção, que ao longo desses últimos tempos tem criado mecanismos que propiciam as investigações com autonomia, irá anunciar algo que já era promessa eleitoral: um conjunto de medidas de combate à corrupção e à impunidade. A postura do governo é de que sua posição não se limite a essas medidas. Estamos abertos ao diálogo – disse Cardozo.

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