terça-feira, 3 de março de 2015

Luiz Carlos Azedo - Duas táticas da oposição

• Não sabe o que fazer diante das manifestações marcadas para 15 de março, em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, que está sendo convocada via redes sociais

Correio Braziliense

O prestígio da presidente Dilma Rousseff foi à lona com o ajuste fiscal que está sendo proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. As medidas para trazer de volta os gastos à realidade financeira foram interpretadas como um “estelionato eleitoral” pela opinião pública e não têm defensores convincentes. Nem o ministro pode explicá-las de forma clara à população, porque a presidente Dilma não deixa.

Ao substituir o “economês” por uma linguagem coloquial para explicar o fim das desonerações tributárias da indústria, Levy mordeu a língua com o seu “carioquês”. Classificou de “grosseira” e de “brincadeira” a política anterior. E levou um puxão de orelhas público da presidente Dilma, que chamou seus comentários de “infelizes” durante entrevista em Montevidéu.

Levy foi obrigado a fazer uma espécie de mea culpa por meio de sua assessoria, que vazou para a imprensa que o ministro lamentava o “escorregão” na entrevista. Chumbo trocado não dói, mas não é bem esse o caso entre a presidente da República e o ministro da Fazenda. Sinalizou-se para o mercado que o ajuste não conta com uma firme retaguarda. É vero!

Com apoio das centrais sindicais, o PT apresentou dezenas de emendas às medidas provisórias do ajuste fiscal, descaracterizando-o. O PMDB havia se reunido com Levy e estava disposto a aprová-las, mas exige que os petistas defendam as medidas originais. Quer também que Dilma reduza o número de ministérios e, pelo menos, 50% dos cargos comissionados do governo.

Os número da economia não ajudam o Planalto na política. A prévia da inflação (1,33%) do mês foi a mais elevada desde fevereiro de 2003. No acumulado do ano, a alta é de 7,36%. O dólar explodiu e já subiu 8,5% no ano. O real é uma das moedas mais desvalorizadas do mundo. Analistas do mercado chegam a prever uma retração econômica de 2%, que seria a maior dos últimos 25 anos.

Nesse ambiente desfavorável, o escândalo de corrupção na Petrobras desgasta ainda mais o governo, situação que pode se agravar com a abertura de inquéritos contra os políticos envolvidos no escândalo da Lava-Jato. Apesar de apostar no desgaste do Congresso para negociar com a própria base, é um erro de cálculo imaginar que o desgaste causado pela corrupção à imagem do governo Dilma será menor por causa disso.

Pelo contrário, até o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está se desgastando por causa das idas e vindas quanto às denúncias. Cacarejou demais antes de pôr os ovos e, agora, sofre pressões de todos os lados. Seus encontros com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o vice-presidente da República, Michel Temer, às vésperas de abrir os inquérito contra os políticos, passaram a ideia de que a lista dos envolvidos foi objeto de um pacto com o governo.

Por essa razão, caberia ao ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, relator do processo, a decisão de revelar os nomes dos políticos envolvidos. Todos os citados nos depoimentos das delações premiadas da Operação Lava-Jato estariam sujeitos a investigações. É grande a tensão no Palácio do Planalto e no Congresso em razão dessas expectativas.

O que fazer?
Nesse contexto, cresce a insatisfação social e a irritação da sociedade. Além da greve dos caminhoneiros, há outros protestos difusos pelo país. De trabalhadores demitidos ou sem receber por causa da crise das empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras a estudantes que não conseguem garantir suas bolsas de estudo por causa do ajuste fiscal.

Os partidos de oposição não sabem bem o que fazer diante das manifestações marcadas para 15 de março, em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, que está sendo convocada via redes sociais. Mesmo que a adesão seja alta, sobretudo nos grandes centros urbanos das regiões Sul e Sudeste, a presença da população deverá ser inferior às manifestações de junho de 2013.

Naquela ocasião, não havia uma palavra de ordem que unificasse o movimento e lhe desse um norte político. Agora há. Mas os políticos de oposição sabem que um impeachment depende de correlação de forças favorável e de fatos concretos que lhe deem legitimidade, o que ainda não é o caso. Além disso, temem serem hostilizados pelos manifestantes se aderirem ao movimento de corpo presente. Ou seja, vão apoiar os protestos contra a presidente Dilma, mas se manterão à distância das manifestações.

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