segunda-feira, 16 de março de 2015

Democracia tem novo 15 de março

Dois milhões nas ruas

• Trinta anos depois da data que marcou a redemocratização, brasileiros protestam contra a presidente Dilma e o PT; manifestações pacíficas ocorrem em todos os estados e no Distrito Federal

- O Globo

A volta dos protestos

Com menos de três meses de seu segundo governo, Dilma Rousseff foi alvo ontem da maior série de protestos enfrentada por um presidente desde as passeatas pelo impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992. As manifestações levaram ao menos dois milhões de pessoas às ruas, de acordo com estimativas oficiais, número que surpreendeu o governo. Na maior delas, em São Paulo, um milhão de pessoas tomaram a Avenida Paulista, segundo a Polícia Militar, no maior ato contra o governo. Todos os 26 estados, além do Distrito Federal, foram palco de protestos.

Os protestos aconteceram exatamente 30 anos depois da posse de José Sarney no Palácio do Planalto, pondo fim a um regime militar que durou 21 anos. Por essa razão, o 15 de março de 1985 tornou-se o marco da redemocratização.

No 15 de março de 2015, os atos tiveram como mote central das críticas ao governo Dilma. Muitos pediram o impeachment da presidente, mas não todos. Sobraram críticas ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsabilizados por alguns participantes por escândalos de corrupção como o revelado pela Operação Lava-Jato, na Petrobras. Alguns pediram uma intervenção militar como forma de solucionar a crise no país, mas esses grupos eram pequenos.

Em sua maioria, os manifestantes vestiam verde-e-amarelo, em contraste com os protestos de sexta-feira, em favor do governo, onde a cor vermelha, usada nas bandeira dos sindicatos, predominou. Na sexta-feira, o público foi estimado pela Polícia Militar em 33 mil.

A grande maioria das manifestações de ontem ocorreu de foram pacífica. O principal incidente foi registrado em Jundiaí, onde a sede do PT na cidade foi incendiada. Em São Paulo, 20 integrantes do grupo batizado de Carecas do Subúrbio foram presos com morteiros e um soco inglês. Eles foram hostilizados pelos demais manifestantes, que os acusaram de tentar tumultuar um ato pacífico.

Todas as capitais nordestinas, região onde Dilma venceu a eleição do ano passado com folga, tiveram protestos. Em Fortaleza, 20 mil pessoas foram às ruas. Atos expressivos também foram registrados em Porto Alegre (100 mil), Curitiba (80 mil) e Goiânia (70 mil). No Rio de Janeiro, milhares foram à Avenida Atlântica, em Copacabana, muitos com rostos pintados, lembrando os caras-pintadas que, em 1992, exigiam a saída de Collor.

A adesão em massa pegou de surpresa o governo. Após reunião emergencial, a presidente Dilma escalou os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), que anunciaram medidas em resposta às ruas, entre elas a reforma política. Enquanto eles falavam, foram registrados panelaços nas principais capitais.

O Movimento Brasil Livre, um dos que organizou os protestos de ontem, já está convocando na internet novos atos para 12 de abril.

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