sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Serviço de inteligência detecta ameaça contra procurador-geral

• Rodrigo Janot foi informado sobre a ameaça numa reunião sigilosa com o ministro da Justiça; em coletiva, Cardozo não confirma nem nega informação

Jailton de Carvalho / Evandro Éboli – O Globo

BRASÍLIA - O serviço de inteligência descobriu indícios de uma trama contra o procurador-geral da Republica, Rodrigo Janot, e outras autoridades de âmbito federal. Janot foi informado sobre a ameaça numa reunião sigilosa com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na noite da quarta-feira.

Em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira, Cardozo disse que não confirmaria nem negaria a informação sobre a ameaça à segurança do procurador. Segundo ele, um ministro da Justiça não pode falar publicamente sobre o assunto, pois estaria colocando em risco o suposto ameaçado.

— Se houver risco, caso tenha, não será comentado — disse Cardozo. Segundo ele, nem ministro, nem diretor da Polícia Federal podem falar abertamente sobre isso: — Se alguém está em situação de risco, seja quem for e houve análise de risco, nem confirmarei nem negarei por razões óbvias de segurança. Quem o fizer (revelar esse tipo de informação) será chamado de incapacitado.

O ministro teria orientado o procurador-geral a reforçar a segurança pessoal. As ameaças estariam vinculadas às investigações da Operação Lava Jato. Outras autoridades federais também estariam sob ameaça, e também deverão ter esquema especial de segurança.

Uma equipe da Procuradoria-Geral da República está prestes a concluir a análise do material que dará base aos pedidos de abertura de inquérito que Janot fará ao Supremo Tribunal Federal contra políticos suspeitos de envolvimento com fraudes em contratos de empreiteiras com a Petrobras.

A reunião entre o ministro da Justiça e o procurador-geral não constou da agenda de nenhum dos dois. Cardozo disse que o encontro não foi registrado “porque não estava previsto” para a data específica. Segundo ele, Janot o havia convidado para discutir um projeto de lei que cria um órgão para facilitar o combate à corrupção, com a participação do Executivo. Quando achou uma brecha na agenda, foi de encontro ao procurador. A Procuradoria-Geral da República também confirma que foi discutiudo o projeto de lei.

— Isso (projeto que ajuda a combater a corrupção) se encaixa exatamente com a orientação da presidente Dilma Rousseff — disse ele.

Cardozo também negou que a lista de políticos que serão denunciados pelo procurador fosse assunto do encontro.

— Evidentemente que não. Óbvio que não — disse ele, ressaltando que o assunto é sigiloso.

Cardozo diz que compareceria à CPI
O ministro afirmou que se convidado ou convocado para comparecer à CPI da Petrobras — instalada nesta quinta-feira — para explicar sua reunião com advogados de empreiteiras citadas na operação Lava-Jato, irá ao Congresso Nacional sem problemas.

— Não tenho o menor problema em comparecer ao Congresso. É uma honra ser convidado ou convocado e sempre fui. Estarei lá se chamado. Tenho um apreço profundo pelo Parlamento. Cumprirei meu papel expondo o que já expus. E quando for acionado pela Comissão de Ética da Presidência da República prestarei os questionamentos. Foi absolutamente legal o que foi feito (a reunião com os advogados). Tive o apoio da OAB ontem (quarta-feira), e de todos os presidentes das seccionais das ordens, que entenderam ser legal, correto e devido que o ministro da Justiça receba os advogados.

Ao ser questionado se, por conta das investigações do escândalo da Petrobras, esteja ocorrendo um clima de acirramento, a ponto de existir ameaças ao procurador-geral da República, o ministro disse que o Brasil é um país com instituições fortes e que tem mecanismos para agir nesses casos.

— Fora disso, há muito tempo superamos o período do arbítrio, da ditadura, do golpismo. Mas alguns parecem gostar de tramar situações antidemocráticas.

Questionado se fazia referência aos defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff, respondeu:

— Me refiro àqueles que não querem respeitar a democracia e o resultado de eleições legítimas.

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