sábado, 21 de fevereiro de 2015

Renato Andrade - Questão de exemplo

- Folha de S. Paulo

Agenda opaca não é um problema exclusivo do ministro da Justiça. Falta de transparência é um costume da Esplanada dos Ministérios e o mau exemplo vem de cima.

A expressão mais clássica encontrada nas agendas de ministros é o enigmático "despachos internos". Cabe tudo sob essa denominação. Desde conversas com secretários e subalternos, até encontros com presidentes de empresas e políticos.

A situação do ministro José Eduardo Cardozo é apenas um dos exemplos desse hábito da capital federal.

Joaquim Levy, que comanda a equipe econômica, também "esqueceu" de contar nesta semana que iria participar de um encontro com empresários, representantes do governo americano e integrantes de organismos multilaterais em Washington em plena terça-feira de Carnaval.

Mas a situação é um pouco mais complexa. A titular da cadeira mais importante do país também é adepta da política de divulgação parcial (às vezes nula) de sua agenda.

Na Quarta-Feira de Cinzas, Dilma se encontrou com vários ministros no Palácio da Alvorada. Na comunicação oficial, entretanto, a petista estava "sem compromissos oficiais".

Assessores têm um argumento clássico para justificar essas situações. Os encontros de trabalho da presidente acontecem no Planalto. No Alvorada, a "casa" de Dilma, o compromisso seria "pessoal".

É difícil imaginar, entretanto, que a petista levou seus ministros para a cozinha do palácio para falar sobre o feriado ou acompanhar a apuração das escolas de samba do Rio.

Os encontros de Dilma e Lula também seguem esse roteiro do sigilo. Da última vez em que os dois estiveram juntos, o Planalto disse apenas que a presidente iria para São Paulo. Horas depois da conversa entre criador e criatura, a agenda oficial foi alterada para comunicar que a reunião acontecera no meio da tarde.

A turma do poder precisa entender que transparência é obrigação.

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