sábado, 7 de fevereiro de 2015

Merval Pereira - Já vimos esse filme

- O Globo

Quando a nomeação de um Aldemir Bendine para presidir a Petrobras é considerada uma ação de resistência esquerdista da presidente Dilma, e aplaudida como tal pela militância partidária; quando o tesoureiro João Vaccari Neto, acusado de desviar até U$ 200 milhões para o partido e levado coercitivamente a depor na Polícia Federal, é aplaudido pelos militantes, aí vemos que o caminho do PT está definitivamente obstruído pelos interesses internos, e ele não tem qualquer capacidade (ou vontade) de se reinventar.

Revendo um velho preceito jurídico que manda "na dúvida, a favor do réu", Lula disse: "Na dúvida, fique com o companheiro", já colocando indiretamente Vaccari como réu nesse processo. Mais um tesoureiro do PT encalacrado com métodos nada ortodoxos de recolher doações políticas.

Delúbio Soares, de triste memória, achava que tudo terminaria em piada, e ele terminou na cadeia. Mas não abriu o bico, o que parece ser condição sine qua non para assumir essa tarefa partidária.

Não há mais volta nesse pântano em que o PT se encalacrou, e o que vier daí será apenas para aumentar o ridículo da situação, dar o tom escandaloso dessa tragicomédia em que nos meteram.

Quando a presidente Dilma Rousseff, a grande muda nesses dias de crises, sai de seus cuidados para dar posse na Secretaria de Ações Estratégicas a Mangabeira Unger, e fala da importância do pré-sal para nossa Educação, aí vemos que ela está fora de órbita.

Fala de uma situação que já está superada pela conjuntura internacional, assim como, por exemplo, os sonhos megalômanos de Mangabeira Unger para os Brics, ou o aqueduto para levar água do Amazonas para o Nordeste.

Quando o ex-presidente Lula, como um Jim Jones aloprado, leva ao suicídio político seus seguidores repetindo na festa dos 35 anos do PT o mesmo discurso da festa dos 25 anos, em que o mensalão estava em evidência, vemos que o partido não saiu do lugar onde sempre esteve. Dez anos depois, o petrolão rebobina o filme para contar novamente a mesma história.

O PT manteve os mesmos instrumentos de fazer política que sempre usou, transformando o cenário brasileiro em uma baixa disputa sindicalista, em que valem todos os métodos para vencer, e em que o adversário torna-se inimigo e precisa ser destruído, não apenas derrotado.

Quando um executivo petista como Aldemir Bendini é visto como um adepto de políticas progressistas, e o que de mais progressista que se vê em sua biografia foi afrontar as normas internas do Banco do Brasil para conceder um empréstimo milionário para uma socialite deslumbrada, vemos que não há mais saída para esses que militam por uma causa que é apenas uma frase no programa partidário vazio.

Val Marchiori é a versão real de Dorinha, a socialite socialista de Luis Fernando Veríssimo. O progressismo representado pela nomeação de um Aldemir Bendini para presidir a Petrobras é uma tragédia tornada farsa pela repetição de um truque malfeito.

Ainda mais quando se constata que mesmo no atual Conselho de Administração houve votos contrários à sua nomeação, assim como os novos diretores receberam o veto de conselheiros. Os representantes dos minoritários foram atropelados pela maioria governista, que manteve sob controle a gestão da Petrobras, não para defendê-la do ataque dos privatistas, essa bobagem de militantes fora do eixo ou de má-fé, mas para blindar o Palácio do Planalto, repentinamente desguarnecido com a demissão antecipada de Graça Foster e parte de sua diretoria.

Bendine é o primeiro presidente da Petrobras desde que o PT chegou ao poder que não é filiado ao partido, mas tornou-se petista "de coração". Primeiro José Eduardo Dutra, depois José Sergio Gabrielli, dois sindicalistas da área, e em seguida Graça Foster; o PT perdeu a condição política de indicar o substituto, e se preparava para abrir mão do controle da estatal para um executivo do mercado. Não foi por falta de convite, mas não apareceu ninguém interessado nesse emprego, com os problemas colaterais que ele traz consigo. 

Paradoxalmente, a recusa ajudou Dilma a buscar no seu entorno o substituto, dando uma saída política para a crise que se no momento interessa ao Palácio do Planalto, a médio prazo deve lhe trazer mais dores de cabeça.

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