quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Luiz Carlos Azedo - Entre boatos e fatos

• O que parecia um esforço de Sísifo da oposição, agora é do governo, pois o trabalho para viabilizar uma nova CPI da Petrobras avançou

- Correio Braziliense

Bastaram os rumores sobre a saída da presidente da estatal, Graça Foster, para as ações de Petrobras subirem na Bovespa. A informação divulgada cedo, e corroborada por dois encontros da presidente Dilma Rousseff com a presidente da estatal, alavancou em R$ 16,59 bilhões o valor de mercado da companhia. Para os investidores, com todos os desfalques e prejuízos já apurados e que chegam a R$ 88,6 bilhões, o maior problema da empresa é a governança.

Prisioneira de suas idiossincrasias, Dilma Rousseff descartou a amiga Graça Foster como quem joga fora o bagaço de uma laranja que não deu suco. Manteve-a no cargo porque sua prioridade era blindar sua administração e a própria atuação como presidente do Conselho de Administração. As denúncias de corrupção, porém, jorram da Operação Lava-Jato como se fossem um grande poço de petróleo. Mais valia uma amiga de fé e camarada matando a crise no peito do que um executivo independente e tarimbado, com carta branca para pôr a empresa nos trilhos.

Ontem, ao falar sobre, o assunto, Graça disse que a conversa foi boa, mas não confirmou a própria saída. Também não disse que continuaria, como das vezes anteriores. Segundo fontes palacianas, teria queimado o filme com Dilma na última reunião do Conselho de Administração, ao divulgar os números das perdas da companhia depois de examinados, caso e caso, todos os projetos em execução por empresas envolvidas na Operação Lava-Jato. Toda a diretoria deverá ser substituída até o final do mês.

O levantamento foi feito por uma empresa de auditoria independente, mas não foi incluído no balanço trimestral por orientação do Palácio do Planalto. Os ex-ministros da Fazenda Guido Mantega, atual presidente do conselho, e do Planejamento Miriam Belchior detonaram Graça Foster na reunião. O balanço foi divulgado na madrugada, sem considerar as perdas, e provocou um desastre, com monumentais quedas nas ações da Petrobras nas bolsas.

Dilma Rousseff reiterou ontem que o governo trabalhará contra a instalação de uma nova CPI para investigar a empresa. O que parecia um esforço de Sísifo da oposição, agora é do governo, pois o trabalho para viabilizar a comissão avançou nos dois primeiros dias de legislatura. A CPI da Petrobras na Câmara já foi protocolada, com 186 a assinaturas, mas depende do novo presidente Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para ser instalada. A proposta de CPI Mista, cuja instalação é imediata, precisa do apoio de 171 deputados e 27 senadores. Não é uma missão impossível para a oposição, que já tem as assinaturas na Câmara.

A montagem da nova diretoria da Petrobras passou a ser a prioridade de Dilma para refrear o ímpeto da oposição, que conta com ampla simpatia da opinião pública porque a presidente da República, de prático, nada fez até agora para enfrentar a crise. Pelo contrário, nos bastidores ainda trabalha para abafá-la. A dificuldade está sendo encontrar um executivo que queira entrar nessa fogueira. Os nomes mais cotados no mercado ontem eram os do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, do ex-presidente da Vale Roger Agnelli e do Rodolfo Landim, ex-parceiro e hoje desafeto de Eike Batista, com passagens pela Eletrobras e BR Distribuidora.

Novos líderes
O dispositivo parlamentar do governo na Câmara foi reestruturado ontem com a eleição do deputado Sibá Machado (PT-AC) para líder do PT e a indicação do deputado José Guimarães (PT-CE) para líder do governo, no lugar de Henrique Fontana (RS). A alteração sinaliza que a orientação política do governo seguirá sob comando do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, coadjuvado pelo ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas. Não tem risco de dar certo, diante do enfraquecimento do PT na Câmara, embora Guimarães tenha mais trânsito com os aliados e seja do grupo ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No PMDB, criou-se um vácuo de poder na bancada, com a eleição de Eduardo Cunha e a saída de alguns parlamentares influentes que foram eleitos para o Senado. Ontem, havia cinco candidatos lançados — Danilo Forte (CE), Leonardo Picciani (RJ), Lúcio Vieira Lima (BA), Manoel Júnior (PB) e Marcelo Castro (PI). Está decidido que haverá revezamento anual entre eles, o que facilita as composições. Cunha está numa saia justa, pois o nome de sua preferência é Manoel Junior, mas o prefeito carioca Eduardo Paes, que almeja ser candidato a presidente da República em 2018, pressiona para que apoie a eleição de Picciani.

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