quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Lava Jato, balanço e dívida tiram selo de bom pagador da Petrobras

• Agência Moody's rebaixa nota da estatal; grandes fundos ficam impedidos de investir na empresa

• Mudança deve tornar ainda mais caro o financiamento de toda a cadeia de óleo e gás; Petrobras não comenta

Renata Agostini, Toni Sciarretta – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A Petrobras, maior estatal brasileira e sexta maior petrolífera do mundo, perdeu nesta terça (24) o chamado grau de investimento, espécie de selo de local seguro para investir, da agência de classificação de riscos Moody's, considerada uma das mais austeras em suas avaliações.

Os motivos foram "preocupação crescente em relação às investigações de corrupção", o endividamento da empresa e o atraso na divulgação do balanço auditado.

A empresa poderá ter de adiantar o pagamento de dívidas que só venceriam a partir de 2017 se não tiver balanço auditado até maio.

Procurada para comentar a perda do grau de investimento, a Petrobras limitou-se a emitir nota comunicando o mercado sobre o rebaixamento e informando que "não há dívidas sujeitas a vencimento antecipado por causa da piora da nota".

Consequências
O rebaixamento, que ocorre duas semanas após a troca no comando da estatal, terá como consequência a saída de recursos de fundos de pensão e de investimento que não podem colocar dinheiro em ações e dívidas de empresas com risco de calote.

Apesar das críticas na época da crise global, o aval das agências de classificação risco ainda é fundamental para o investimento.
A mudança deve tornar ainda mais caro o financiamento da estatal e de toda a cadeia de óleo e gás, que tinha na empresa a principal intermediadora para captar recursos.

Na prática, a Moody's ratificou a percepção do mercado internacional especializado em negociar seguros contra calotes. O valor do "seguro" contra calote (Credit Default Swap) da Petrobras disparou desde o ano passado --os contratos saltaram de 280 pontos para 571,86.

Isso significa que, para proteger US$ 10 milhões emprestados a estatal, o investidor paga US$ 571,86 mil.

De uma só vez, a agência rebaixou a nota da estatal em dois degraus, ação incomum no histórico das agências de avaliação de risco, e ainda indicou que a empresa pode ter novos rebaixamentos.

Também é raro que uma estatal tenha uma avaliação de risco tão abaixo do próprio país (que está em Baa2, três graus acima da Petrobras), já que o risco de calote de uma empresa dessas se confunde com o do país --ela tende a ser socorrida pelo governo.

Dessa vez, porém, a Moody's afirma que a disposição do governo em socorrer a estatal pode ser abalada se houver vencimento adiantado de grande parte de sua dívida.

No início deste mês, a agência Fitch Rating rebaixou a estatal e a colocou no último nível de grau de investimento, por causa da prolongada incerteza "em relação à habilidade da empresa de estimar as perdas decorrentes de corrupção".

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