sábado, 14 de fevereiro de 2015

'É só chamar que converso', diz Cunha sobre o Planalto

• Lula pede que dilma repactue relação com o pmdb; governo escala barbosa para negociar ajuste com o congresso

Simone Iglesias e Martha Beck – O Globo

BRASÍLIA - Depois dos relatos de que o ex-presidente Lula pediu que Dilma repactue sua relação com o PMDB e inclua o partido do vice Michel Temer nas decisões, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse ontem que que não vai se negar a dialogar com o Planalto, mas que não abrirá mão de sua independência.

- É só chamar que eu converso. Mas isso não vai alterar o contexto da independência da Câmara. Votamos a pauta do governo, mas vamos votar também a nossa pauta. Vamos ajudar a governabilidade, mas controlar a pauta não deve ser o objetivo dessa conversa. Não é que estejam pedindo arrego, não estou brigado com a presidente. Eu pretendo ser independente com harmonia - disse Cunha.

Segundo interlocutores, Lula teria dito que os peemedebistas são fundamentais para garantir a governabilidade. E teria lembrado que a adesão integral do partido em seu segundo mandato permitiu tranquilidade nas votações e na relação com os aliados.

Levy: fogo amigo
Com a interlocução do núcleo político do Palácio do Planalto enfraquecida no Congresso, a presidente Dilma escalou ontem o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, para negociar com os deputados e os senadores as medidas de ajuste fiscal que restringem o acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários.

Na volta do carnaval, Barbosa se reunirá com parlamentares para discutir a medida provisória (MP) 664, que muda as regras de pensão por morte, e a MP 665, que limita do acesso ao seguro-desemprego e ao abono.

Além de se reunir com os parlamentares, Nelson Barbosa deverá ir ao Congresso falar publicamente sobre as medidas. O ministro conta com mais credibilidade para fazer essa negociação desde que a entrada de Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Pepe Vargas (Secretaria de Relações Institucionais) na campanha contra a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dificultou ainda mais a articulação do Executivo no Congresso, já fragilizada pela dificuldade de relacionamento da presidente Dilma com sua própria base.

Os técnicos do governo afirmam ainda que a escolha do ministro do Planejamento foi também uma forma de preservar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, do fogo amigo, uma vez que o próprio PT vem atacando o ajuste fiscal proposto pela equipe econômica. Assim, Levy fica com a missão de conversar com empresários e o mercado financeiro. Enquanto Barbosa, que já integrou o governo Dilma no primeiro mandato e tem experiência de negociar temas espinhosos com deputadores e senadores, explica ao Congresso que as medidas estão sendo adotadas para corrigir distorções e não para retirar direitos dos trabalhadores.

Também caberá ao ministro do Planejamento lembrar que o próprio Congresso aprovou a alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015, que fixou a meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) em 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) para resgatar a credibilidade da política fiscal e tentar evitar que o Brasil seja rebaixado pelas agências de classificação de risco.

Reunião com líderes da base
A série de conversas se iniciará dia 24, numa reunião ampliada entre os líderes da base aliada na Câmara e os ministros Manoel Dias (Trabalho), Carlos Gabas (Previdência), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) e Pepe Vargas, além de Nelson Barbosa. ( Colaborou: Maria Lima )

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