segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Com R$ 1,5 bi a receber da Sete Brasil, estaleiros cortam produção e demitem

• Paralisia. Cinco estaleiros que têm contratos com a empresa, criada para gerenciar a construção de sondas para a Petrobrás, estão sem receber desde novembro; na Bahia, unidade que pertence às construtoras Odebrecht, OAS e UTC está com as obras paradas

Josette Goulart - O Estado de S. Paulo (15/2/2015)

Com uma carta aos funcionários dizendo que a indústria naval vive uma crise sem precedentes e que os atrasos de pagamento da Sete Brasil tornaram sua situação insustentável, o estaleiro Enseada, no Recôncavo Baiano, demitiu na sexta-feira 350 trabalhadores. O número de demitidos acentua ainda mais a queda de empregados no setor de construção naval. Segundo o Sindicato da Indústria Naval, só em janeiro deste ano, foram cortados três mil postos.

A situação é crítica para os cinco estaleiros que têm contratos com a Sete Brasil, empresa criada para gerenciar a construção das sondas a serem usadas pela Petrobrás na exploração do pré-sal. Segundo fontes ligadas à empresa, a Sete deixou de pagar aos cinco estaleiros entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões desde novembro. E é no estaleiro da Bahia que a situação parece mais grave.

O estaleiro Enseada, que pertence às construtoras Odebrecht, OAS e UTC, além do grupo japonês Kawasaki, começou a ser construído em 2012 para atender a demanda do pré-sal. O estaleiro já está 82% concluído, mas as obras foram paralisadas desde que a Sete Brasil começou a atrasar pagamentos e três mil trabalhadores foram desmobilizados. As demissões alcançam o estaleiro, que informou a suspensão da produção, assim como outros fornecedores da Sete. A empresa está desde novembro sem pagar o Enseada e a dívida já chega a R$ 500 milhões. Com a inadimplência de seu único cliente, está impossível obter crédito.

Também sem receber, o estaleiro Rio Grande, da construtora Engevix, reduziu o ritmo da produção e a empresa só não demitiu porque tem outros contratos em andamento e conseguiu transferir seus funcionários para trabalhar em outras embarcações. Os atrasos da Sete com o Rio Grande chegam a R$ 180 milhões, e a estimativa é de que atinjam R$ 250 milhões.

Montante parecido é devido ao estaleiro Jurong, do grupo SembCorp de Cingapura, segundo informou o presidente mundial na semana passada. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, na semana anterior, o presidente do estaleiro no Brasil chegou a ameaçar processar a Sete na Justiça.

Segundo fontes próximas à companhia, outros R$ 900 milhões estão em atraso com os outros dois estaleiros, o Atlântico Sul, que pertence à Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, e o estaleiro BrasFels, do grupo Keppel de Cingapura. E as demissões também já começam a ser percebidas no Atlântico Sul (leia mais na página B3).

Nenhum dos estaleiros quis conceder entrevistas sobre o assunto. O estaleiro Jurong informou apenas que as atividades estão normais. O Enseada confirmou as demissões. E o Rio Grande disse que teve de realocar pessoal. Atlântico Sul e BrasFels, não quiseram comentar.

Lava Jato. Há menos de duas semanas, vieram à tona os termos da delação premiada do ex-diretor da Sete, Pedro Barusco, e todos os estaleiros foram envolvidos na Operação Lava Jato. Eles teriam pago propinas à empresa para fechar os contratos. Isso vai dificultar a liberação do financiamento do BNDES, de cerca de US$ 3,2 bilhões. O dinheiro serviria para garantir a construção do primeiro bloco de sondas. A Sete informou que "está em constante negociação com os estaleiros e que confia que, em breve, terá aprovada a liberação dos recursos contratados com o BNDES".

As dificuldades da Sete começaram quando Barusco, em novembro, fez o acordo de delação premiada. Como além de ex-funcionário da Petrobrás, era ex-diretor da Sete, surgiu a dúvida se haveria implicação da empresa. Em dezembro, a então diretoria da Petrobrás ameaçou desistir do contrato de sete sondas, que faziam parte do contrato do Atlântico Sul. Sem ele, a Sete, controlada pelos bancos BTG, Santander e Bradesco além de fundos de pensão, iria à bancarrota. Em janeiro, com a intervenção do governo, a diretoria da Petrobrás voltou atrás e assinou o termo. Mas o BNDES fez ajustes, e quando a Petrobrás iria novamente assiná-lo, a diretoria da empresa mudou.

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