terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Apoio no Congresso será condição para obter cargos, diz Mercadante

• Segundo ele, Dilma cuidará pessoalmente da divisão; grupo de Cunha já tem lista de desejos

• Após ser alvo de forte oposição do governo, chefe da Câmara recebe ligação da presidente e acenos de ministros

Ranier Bragon, Márcio Falcão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia após sofrer uma derrota histórica, o Palácio do Planalto iniciou a tentativa de reaproximação com o novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e admitiu abertamente que usará a distribuição de cargos para remontar sua base de apoio no Congresso.

O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) afirmou após a solenidade de reabertura dos trabalhos do Congresso, nesta segunda-feira (2), que a presidente Dilma Rousseff vai comandar pessoalmente a divisão dos cargos do segundo escalão, postos logo abaixo de ministros ou de direção em estatais.

Os critérios para a nomeação, segundo ele, serão a competência técnica e o apoio que o partido do indicado dá ao governo no Legislativo.

"O segundo escalão começa a ser montado agora no mês de fevereiro, sob a condução da presidenta Dilma, ela que evidentemente vai decidir toda essa distribuição de cargos", disse Mercadante, que representou a petista na solenidade no Congresso.

"Recebemos as solicitações dos partidos. [...] A partir desse momento começam as negociações com os partidos para definir o segundo escalão e buscar combinar o critério técnico da competência com o critério político do apoio parlamentar no Congresso."

As indicações ficaram congeladas durante a disputa pelo comando da Câmara, mas nos bastidores o governo ofereceu parte dos postos a siglas aliadas em troca do voto em Arlindo Chinaglia (PT-SP).

A operação, entretanto, se mostrou um fracasso e a Câmara acabou elegendo Cunha, antigo desafeto do Planalto, em primeiro turno.

O peemedebista teve o apoio oficial e extraoficial, na votação secreta, de várias siglas governistas, como PP, PRB, PR, PSD e PDT.

Fortalecido, seu grupo já discute uma lista de postos que deseja ocupar. A avaliação é que o PMDB conseguiu barrar a ação do Planalto que buscava enfraquecer a legenda em prol de outros aliados, como o PSD do ministro Gilberto Kassab (Cidades).

A lista de desejos inclui diretorias do setor elétrico, especialmente Eletrobras e Furnas. Outra reivindicação será a manutenção do comando do Departamento Nacional de Obras Contras as Secas.

Peemedebistas esperam ainda uma revisão na situação do ex-presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Cotado para um ministério, ficou de fora após ser citado por investigados no esquema de desvios na Petrobras. Ele nega envolvimento.

Para mostrar disposição de entendimento, Mercadante e o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais), que atuaram fortemente a favor de Chinaglia, fizeram acenos a Cunha nesta segunda.

Eles adotaram o discurso de que o peemedebista nunca foi considerado desafeto.

"Num jogo de futebol tem carrinho, tem puxão na camisa e até canelada. Mas termina o jogo e os amigos tomam uma cervejinha. É mais ou menos isso", disse Vargas.

Mercadante lançou um afago a Cunha. "Não reconhecemos essa expressão [Cunha como "desafeto" do Planalto], ele é um parlamentar destacado, foi líder de sua bancada, soube negociar matérias importantes e todos os nossos projetos mais importantes foram aprovados", disse.

Dilma ligou para cumprimentar Cunha. "Foi uma conversa amistosa", resumiu ele.

Colaboraram Gabriela Guerreiro e Mariana Haubert

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