segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Partido de esquerda Syriza vence eleições na Grécia

• Tsipras comemora vitória e promete acabar com ‘desastrosa austeridade’

- O Globo

ATENAS — Com mais de 99% das urnas apuradas na Grécia, o Syriza, partido radical de esquerda, venceu neste domingo as eleições legislativas na Grécia com 36,3% dos votos — o que significa 149 cadeiras no Parlamento, ou seja, a duas cadeiras de obter a maioria absoluta no Legislativo de 300 lugares. O Nova Democracia, do atual primeiro-ministro, Antonis Samaras, ficou em segundo, com 27,8%, na frente do neonazista Aurora Dourada que, mesmo com a maioria dos seus líderes na cadeia, conseguiu manter a marca de 6,3%.


Alexis Tsipras, líder da legenda, comemorou sua chegada ao poder em Atenas com promessas renovadas de acabar com uma era que chama de “austeridade desastrosa” imposta pela União Europeia nos últimos cinco anos.

Apesar da vitória clara, o nervosismo ainda marcava a contagem de votos na noite de domingo. Os gregos foram dormir sem saber se o Syriza conseguira conquistar pelo menos 151 cadeiras no Parlamento — necessárias para que o partido governe sozinho, sem ter que fazer alianças com os rivais. Outras seis legendas conseguiram vaga na Casa, sendo três de esquerda: os comunistas do KKE, os socialistas do Pasok e os Gregos Independentes.

O resultado do pleito deve fazer de Tsipras, aos 40 anos, o mais jovem primeiro-ministro do país nos últimos 150 anos. Ele celebrou a vitória e reforçou as promessas de campanha, como o aumento do salário mínimo, a abolição de impostos para os mais pobres e a negociação da dívida externa, que soma € 300 bilhões, 175% do PIB.
— O sol voltou a brilhar para a Grécia. Fizemos história e deixamos para trás a austeridade depois de cinco anos de humilhação. Temos uma grande oportunidade para um novo início numa nova Europa — disse ele, prometendo uma “nova solução viável”.

Horas antes, o premier Antonis Samaras havia reconhecido a derrota, não sem alfinetar o adversário:

— Os gregos falaram, e respeitamos sua decisão — disse o premier do Nova Democracia. — Deixo um país que está saindo da crise e é membro da União Europeia e da zona do euro. Pelo bem deste país, espero que o próximo governo mantenha estas conquistas.

A resposta foi rápida. Na abertura dos mercados asiáticos, na noite de domingo, a cotação do euro caiu para o seu menor patamar em 11 anos. Na Bolsa de Tóquio, a moeda recuou para US$ 1,1135, bem próximo do patamar de US$ 1,1115 alcançado na sexta-feira após o anúncio do pacote de estímulos do Banco Central Europeu.

Diante da crise na zona do euro, as eleições gregas ultrapassaram as fronteiras do país têm implicações diretas no futuro da União Europeia. O partido vencedor é ferozmente contrário à política de austeridade imposta pelo bloco e promete ir na contramão das políticas mais caras a Bruxelas — e à chanceler federal alemã, Angela Merkel.

O risco de a Grécia, endividada, abandonar a zona do euro existe. E por isso, os ministros das Finanças do bloco europeu já convocaram para segunda-feira uma reunião para avaliar as possibilidades de negociação. O premier britânico, David Cameron, foi um dos poucos líderes europeus a se pronunciar sobre o resultado, afirmando que ele “aumenta a incerteza econômica na Europa”.

Partido cresceu com a crise
Nascido como uma coalizão de 13 grupos e partidos que inclui maoistas, trotskistas, comunistas, ambientalistas, social-democratas e populistas de esquerda, o Syriza tinha pouca força eleitoral até 2012. Mas o aprofundamento da crise econômica no país levou-o à marca de 27% dos votos naquele ano, passando os sociais-democratas — e tornando-se, assim, a segunda força política da Grécia e a principal voz da oposição.

Seguindo as determinações da UE, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu, o governo de Samaras implementou uma série de medidas de austeridade, como aumento de impostos e cortes de gastos, em troca de um pacote de resgate para a economia grega. Mas o resultado não foi capaz de recuperar a economia e frear o empobrecimento da classe média.

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