sábado, 17 de janeiro de 2015

Igor Gielow - Pressão patrimonialista

- Folha de S. Paulo

Um dos pontos mais alvissareiros do discurso de posse de Joaquim Levy como ministro da Fazenda foi a contundente crítica ao patrimonialismo que rege as relações de poder no país, prometendo acabar com socorros aos "amigos do rei". O governo mal entra em sua terceira semana e sua palavra já está sendo posta à prova.

Até por suas peculiaridades, não há como deixar quebrar o setor elétrico, que agoniza muito por culpa do populismo feito pelo governo com a conta de luz. Ao menos a solução em estudo, com os famigerados empréstimos de bancos públicos, prevê acabar com o dreno instalado. O consumidor pagará boa parte da fatura, mas esta é outra questão.

Já a retórica adotada no caso das montadoras, de negar manobras como redução de IPI, é promissora se encarnar como política firme.

Os sinais são bem mais contraditórios na negociação para salvar a Sete Brasil, empresa de sondas para extração de petróleo turbinada pelas políticas equivocadas associadas ao delírio megalomaníaco do pré-sal --que embutia, sabemos agora, uma corrupção oceânica em si.

Em crise, a Sete pode até falir. A reação de Dilma foi mandar BNDES e Banco do Brasil amaciarem um salvamento, no melhor estilo patrimonialista. O que diz Levy?

Alckmin enfim admite racionamento, "tucanado" no caso como restrição hídrica. O discurso de Dilma na campanha é desdito por fatos e ações. Inescapável lembrar de Robert McNamara, o mais longevo secretário de Defesa dos EUA.

Ele ajudou seu superior na Segunda Guerra, general Curtis LeMay, a arquitetar a destruidora campanha aérea que literalmente torrou o Japão até a derrota. Segundo McNamara, o então chefe uma vez lhe disse: "Se tivéssemos perdido, todos nós teríamos sido julgados como criminosos de guerra". Mas eles ganharam.

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