quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Fundação do PT volta a atacar política econômica

• Texto assinado pelo economista Guilherme Mello condena juros altos para combater inflação

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA- A Fundação Perseu Abramo (FPA), do PT , voltou a criticar ontem a política econômica adotada pela presidente Dilma Rousseff neste segundo mandato, atacando apolítica de juro s altos para combater a inflação."Novos aumentos na Selic, aliados a medidas fiscais anunciadas neste início de ano, podem afetar a defesa dos ganhos sociais e de empregos dos anos recentes, dado o impacto recessivo que tais medidas irão ocasionar na economia brasileira" , afirma o boletim de conjuntura.

Responsabilidade do autor
Ao contrário do documento de terça-feira, o texto de ontem foi assinado pelo economista Guilherme Mello e estampou a ressalva: "As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade de seu autor , não representando a visão da FPA ou de seus dirigentes" . No dia anterior , a fundação divulgara boletim com análise de conjuntura no qual afirmava que a presidente Dilma, no início do segundo mandato,adota estratégia "bastante conservadora e ortodoxa na política econômica" . O documento ainda colocava em dúvida os efeitos do "ajuste recessivo" para alcançar os resultados desejados. Esse documento não era assinado. Procurada, a assessoria de imprensa da FPA afirmou que ele tinha sido escrito por Mello .

Ele é doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na nova análise, Mello traçou um cenário em que analistas de mercado esperavam alta de 0,25 p.p a 0,5 p.p. na taxa básica de juros, em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que seria realizada na noite de ontem. O Copom acabou confirmando o aumento de 0,5 p.p. na taxa. "Do ponto de vista dos impactos reais de tal medida, os efeitos recessivos do atual ciclo de juros já são visíveis e devem adentrar ainda mais 2015, caso a tese destes analistas se confirme", afirma o economista. Ainda de acordo com a análise da fundação petista, o governo Dilma "parece ver-se obrigado a coadunar parcialmente com os argumentos mercadistas (em particular na esfera fiscal), apesar de manter a orientação de buscar sempre a preservação dos empregos e da renda".

Apesar do desconforto comas medidas, integrantes da corrente majoritária do PT , a Construindo um Novo Brasil (CNB), afirmam que elas são necessárias e lembram que o mesmo foi feito pelo ex-presidente Lula em seu primeiro mandato, quando o ministro da Fazenda era Antonio Palocci. O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), defendeu as medidas e minimizou as críticas publicadas no site da Fundação Perseu Abramo:— Eu apoio a política econômica da presidente, entendo que ela está aplicando a política cor re ta para o momento que o país está vivendo. Estamos passando também por ajustes necessários. Quanto à Fundação Perseu Abramo, as contestações são normais, porque política econômica não é uma ciência exata. Não pode ter uma verdade única.

Oposição ironiza silêncio
Líderes da oposição ironizaram ontem o fato de a presidente Dilma Rousseff ter completado 30 dias sem dar entrevistas, em meio às duras medidas para reequilibrar as contas públicas. O líder da minoria no Congresso, Ronaldo Caiado (DEM-GO), ironizou o mote de campanha da presidente, que era justamente "Dilma, Coração Valente". — A presidente Dilma tem que dar uma explicação geral à nação, não pode simplesmente se esconder enquanto o povo é bombardeado com notícias ruins. Sei que é uma situação difícil de ser explicada. Mas cadê o coração valente? Amarelou?

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