terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A hora de assumir o ajuste

• Após 26 dias reclusa, presidente deve aproveitar primeira reunião ministerial do 2º mandato para defender cortes; ministra distribuirá livro de 800 páginas com defesa da área social

Eliane Oliveira e Luiza Dame - O Globo 

Fim do silêncio
Cobrada pela oposição e até por aliados a dar explicações sobre as duras medidas econômicas anunciadas até agora pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a presidente Dilma Rousseff encerra hoje um período de 26 dias de silêncio e reclusão e aproveitará a primeira reunião ministerial de seu segundo mandato para cumprir uma missão espinhosa: fazer a defesa seu pacote de ajuste fiscal.

Mas para não sobressaírem apenas as más notícias, o encontro dos 39 integrantes da Esplanada deve ser marcado também por uma defesa enfática das políticas sociais - principal bandeira das gestões petistas. Como foi obrigada a abrir mão de promessas de campanha para equilibrar as contas, Dilma tentará demonstrar que a área social será preservada da tesoura.

A expectativa no governo é que a presidente utilize o início do encontro, parte que deverá ser transmitida pelas TVs governamentais, para cumprir a missão.

Os debates serão puxados, de um lado, pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e de outro, por sua colega Tereza Campello, do Desenvolvimento Social. Para sensibilizar os integrantes da equipe econômica, Tereza Campello deverá distribuir, para cada um dos 39 ministros presentes, um livro de 800 páginas com os principais resultados do programa Brasil sem Miséria, para que as ações sejam preservadas. Ela tentará mostrar no encontro que o programa consiste em um avanço significativo do Bolsa Família, criado no governo Lula.

A fala da presidente na abertura da reunião ministerial, por sua vez, será objetiva: os cortes nos orçamentos dos ministérios serão pesados, mas as políticas públicas do governo não serão paralisadas.

- Será uma reunião para afinar o discurso dos ministros. A presidente quer afinar falas e atitudes - disse um ministro.

O pacote de ajuste começou a ser defendido ontem pelo vice-presidente Michel Temer. Indagado se os ajustes teriam sido pensados antes mesmo da eleição, apesar de a presidente ter prometido o oposto na campanha, o vice admitiu que eles começaram a ser analisados "no passado":

- Esses ajustamentos começaram a ser analisados no passado e agora vão ser implementados. Agora, são variações mais do que naturais. É claro que às vezes em face até de um progresso social, você tem que readequar certos institutos. Penso que está se falando de seguro-desemprego. Acho que é um tema que está sendo examinado. Não causará prejuízo aos trabalhadores, nós esperamos que não, não tenho ainda o texto daquilo que poderá ser legislado, mas essas adequações são transitórias e às vezes necessárias - disse Temer.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, passou a tarde de ontem no Planalto finalizando a preparação de sua participação na reunião. Ele fará um balanço sobre o Fórum Econômico Mundial, em Davos, onde conversou com dezenas de investidores, acompanhado do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e também explicará detalhadamente as medidas tomadas desde que assumiu.

Levy falará de cenário
Levy fará uma análise do cenário econômico internacional, da situação do país e das perspectivas de crescimento. A ideia é que o ministro dê argumentos aos colegas para defenderem as medidas anunciadas desde o ano passado, que incluem o endurecimento das regras de acesso a benefícios previdenciários e trabalhistas e o aumento de impostos. O destaque para a fala de Levy será um gesto político da presidente de apoio a ele, diante de ataques ao ministro da Fazenda por setores do PT.

A presidente vai dizer aos ministros que os projetos de cada área só devem ser anunciados após serem oficialmente aprovados como política de governo. Dilma reunirá os 39 ministros, na Granja do Torto, a partir das 16h.

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