quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Opinião do dia – Aécio Neves

De um lado, temos que nos lembrar que disputamos uma eleição desigual com o outro lado usando como nunca a máquina pública, a infâmia e a mentira contra nós.

A gente não pode esquecer que aconteceu uma coisa extraordinária, que foi o Brasil acordando, as pessoas indo para as ruas, querendo voltar a ser protagonistas da construção de seu próprio destino. Essa é a maior força que temos hoje: a nossa união para fiscalizarmos as ações deste governo e cobrarmos resultados. Fiquem tranquilas que estarei atento e vigilante para que cada compromisso da campanha seja cumprido. Senão será denunciado.

Por isso, eu digo: não podemos desistir do Brasil e não vamos nos dispersar. A força que adquirimos é a que levará o Brasil à mudança.

Aécio Neves, senador (PSDB-MG), em declaração de vídeo, 29 de outubro de 2014.

Três dias após eleição, BC surpreende e sobe juros

Juros sobem antes do previsto

• BC surpreende analistas e eleva taxa básica a 11,25% ao ano, citando riscos para 2015 e 2016

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO - Na primeira reunião após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o Comitê de Política Monetária (Copom) contrariou todas as expectativas e surpreendeu ao aumentar a taxa básica de juros (Selic) de 11% para 11,25% ao ano. A decisão rachou a cúpula do Banco Central. Foram cinco votos favoráveis ao aperto da política monetária contra a inflação e três pela manutenção dos juros. A alta foi vista por analistas como o primeiro gesto de Dilma para responder às críticas em relação à condução da política econômica. E como um sinal de que o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, permanecerá no cargo.

- Essa é a primeira grande ação de política econômica do segundo mandato de Dilma, antes mesmo do anúncio do novo ministro da Fazenda. O governo quer enviar um sinal ao mercado de que não está para brincadeira no combate à inflação, sobretudo quando esse assunto foi um tema importante da eleição que acabou de acontecer - afirmou o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito. - Se Tombini está fazendo isso, é para mostrar que ele continuará à frente do BC.

Em sua avaliação, o governo está tentando se antecipar às pressões inflacionárias esperadas para os próximos meses, como reajuste nos combustíveis e racionamento de água. Ele acredita que esse é o primeiro passo de uma sequência de altas que deve levar a Selic a 12% ao ano dentro de quatro reuniões.

Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, ressaltou ainda que a autoridade monetária está se antecipando também a um aumento dos juros nos Estados Unidos, esperado para meados de 2015, que deve elevar a cotação do dólar.

- O BC tenta recuperar o tempo perdido. A eleição já passou, e não tem mais motivo de se preocupar com o eleitor - alfinetou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Sinal positivo para o mercado
Em seu comunicado, o Copom justifica sua decisão afirmando que a alta recente do dólar terá um impacto nos preços internos e que subir os juros agora seria um jeito de garantir que a inflação se comporte bem nos próximos dois anos. "Para o comitê, desde sua última reunião, entre os outros fatores, a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável. À vista disso, o comitê considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016."

Na reunião, cinco membros do Copom, inclusive Tombini, defenderam a alta de 0,25% na taxa básica: Aldo Mendes (Política Monetária), Carlos Hamilton (Política Econômica), Anthero Meirelles (Fiscalização) e Sidnei Corrêa Marques (Organização do Sistema Financeiro). Já os diretores Altamir Lopes (Administração), Luiz Awazu (Assuntos Internacionais) e Luiz Edson Feltrim (Relacionamento Institucional) votaram pela manutenção dos juros em 11% ao ano.

- É uma decisão para ancorar as expectativas. Reforça a crença de que vamos atingir a convergência para a meta - avalia o economista-chefe da Votorantim Asset, Roberto Padovani.

Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 6,75%. A meta de inflação este ano é de 4,5% com margem de tolerância de dois pontos percentuais.

Apesar de a inflação ter estourado o teto da meta, a previsão de praticamente 100% dos analistas era que o Copom manteria os juros para não sacrificar ainda mais a já frágil atividade econômica. O país está na chamada recessão técnica, ou seja, a economia encolheu nos últimos dois trimestres.

- Foi uma decisão correta para conter a expectativa de inflação. Essa surpresa funcionou como um bom primeiro passo para recuperar a confiança do mercado. É um custo baixo para o ganho em credibilidade, que é o grande problema do Brasil. O ganho é maior do que o impacto sobre o crescimento - disse Luiz Eduardo Portella, gestor da Modal Asset.

Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, também vê a decisão como um sinal do governo Dilma ao mercado. Segundo ele, os investidores considerarão o movimento como positivo:

- É um sinal de que o segundo mandato terá uma maior preocupação com a inflação. Mas é importante usar outros instrumentos, como o fiscal.

A elevação dos juros, no entanto, foi alvo de críticas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Ablipast), que veem prejuízo para a economia.

Ninguém também apostava que o BC decidiria por uma guinada na política econômica sem saber quem ocupará a cadeira de ministro da Fazenda, porque fica difícil traçar projeções para a política de gastos públicos. Como o governo tem um grande peso na economia brasileira, a velocidade de crescimento de suas despesas pode continuar sendo combustível para a inflação.

Este ano, por exemplo, o BC teve de trabalhar dobrado porque a União elevou seus gastos em percentual maior que as receitas. Como a meta fiscal de 2014 não será cumprida, os técnicos da Fazenda já têm na manga uma proposta para enviar ao Congresso Nacional e mudar a meta na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a fim de evitar o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

O Brasil se mantém como o país com maior taxa real de juro (descontada a inflação do mundo) em um grupo de 40 países. Considerando a inflação projetada para os próximos 12 meses, o juro real do Brasil está em 4,46%, segundo o economista Jason Vieira, da consultoria Moneyou. Considerando-se as taxas nominais, o Brasil está em terceiro.

BC surpreende e eleva taxa de juros para 11,25% ao ano

• Em comunicado, a autoridade monetária cita riscos para a inflação; Selic estava estacionada em 11% desde abril

Célia Froufe - O Estado de S. Paulo

Três dias após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em decisão inesperada, o Banco Central decidiu nesta quarta-feira, 29, elevar a taxa básica de juros da economia (Selic) para 11,25% ao ano. Desde abril, a Selic estava estacionada em 11% ao ano.

A ação do BC, duramente criticado pelo mercado por deixar o índice oficial de inflação (IPCA) grudado no teto da meta de 6,5% por muito tempo, tenta deixar claro, de forma mais contundente, que não despreza as pressões inflacionárias e que buscará trazer o IPCA ao centro da meta de 4,5% no novo mandato de Dilma Rousseff. O IPCA acumulado em 12 meses está acima do teto da meta, em 6,75%.

Apesar do marasmo da economia, pesou na decisão a necessidade de carimbar que o único mandato do BC, o controle dos preços, está mantido. Principalmente, depois que o BC passou a admitir que a contenção dos gastos públicos, via política fiscal, não tem contribuído para aliviar a política de juros. Além disso, a instituição passa por um momento de recuperação de sua imagem, após desgaste sofrido durante a campanha eleitoral.

O papel do BC, sua autonomia e independência, estiveram no centro da campanha eleitoral. A presidente Dilma atacou, em seus programas, propostas feitas pelos candidatos da oposição. Insinuava, inclusive, que um BC fora do controle do Palácio do Planalto seria entregar o poder aos banqueiros sobre juros, empregos, preços e salários. E que isso tiraria comida da mesa dos brasileiros.

Nas palavras do BC, expressas no comunicado que se seguiu à decisão, o Comitê de Política Monetária (Copom) considerou "oportuno" ajustar as condições monetárias para garantir, a um custo menor, um cenário mais "benigno" para a inflação em 2015 e 2016. Nos cálculos apresentados pelo BC em setembro, a chance de estouro da meta este ano estava em 37% - para 2015, o índice chegava a 31%. As duas hipóteses consideravam o chamado cenário de referência do BC.

A decisão surpreendente, no entanto, não foi unânime. Cinco membros do comitê, inclusive o presidente Alexandre Tombini, votaram a favor da alta dos juros. Três outros diretores defenderam a estabilidade da taxa. Para explicar a decisão, o Copom apresentou o comunicado mais longo desde agosto de 2011, quando o BC promoveu o chamado "cavalo de pau" na política monetária ao reduzir a Selic em meio ponto porcentual, para 12% ao ano.

Cálculos. Com a decisão, os economistas já vão refazer os cálculos para as projeções de vários indicadores e definir as apostas para a próxima reunião do Copom, marcada para o início de dezembro. Até porque havia unanimidade entre os analistas do mercado financeiro de que a taxa seria mantida. Pela última pesquisa Focus, essa alta para 11,25% ao ano era aguardada apenas para janeiro de 2015, primeiro mês do próximo mandato de Dilma.

Um fator que será fundamental para o BC nas próximas decisões de política monetária é o comportamento do dólar. Ainda mais depois que o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos) anunciou que não continuará com seu programa de compra de ativos. Embora amplamente esperada, essa decisão do Fed pressiona as moedas de países emergentes, como o real.

Além disso, a divulgação é vista como um prenúncio de que a alta dos juros por lá está mais próxima. O anúncio se deu antes do início da segunda parte da reunião do Copom e se encaixa no teor do alerta feito pela diretoria do BC no Relatório Trimestral de Inflação de setembro sobre a aversão ao risco que se instalou no mercado internacional.

Alterações. Do lado doméstico, a elevação da taxa nesta quarta-feira se deu em meio a indefinições sobre a permanência dos membros do Copom em seus cargos. Apesar de haver um convergência no mercado sobre a permanência de Tombini à frente do BC, aguarda-se a oficialização pela presidente Dilma. Os diretores tiveram que lidar com um fator externo na reunião, que são os rumores sobre os possíveis desligamentos de seus cargos. Muitos estão "incomodados" com essa situação de indefinição, apurou o `Broadcast'.

Há um consenso, no entanto, de que nenhum deles baterá o martelo sobre o rumo de suas carreiras antes da definição na alta cúpula da instituição. Antes disso, é aguardado o novo nome para o Ministério da Fazenda em substituição a Guido Mantega. O BC é subordinado à Pasta. Em casos de um possível descumprimento da meta de inflação, por exemplo - que pode ocorrer este ano -, o presidente do BC tem que dar satisfação pública ao ministro da Fazenda.

Veja a íntegra do comunicado:
"O Copom decidiu elevar a taxa Selic para 11,25% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e três votos pela manutenção da taxa Selic em 11,00% a.a.

Para o Comitê, desde sua última reunião, entre outros fatores, a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável. À vista disso, o Comitê considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016.

Votaram pela elevação da taxa Selic para 11,25% a.a. os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo e Sidnei Corrêa Marques. Votaram pela manutenção da taxa Selic em 11,00% a.a. os seguintes membros do Comitê: Altamir Lopes, Luiz Awazu Pereira da Silva e Luiz Edson Feltrim."

Senado ameaça também derrotar Dilma

• Presidente da Casa diz que conselhos populares serão derrubados de novo

Cristiane Jungblut, Isabel Braga e Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - A derrota do governo na noite de terça-feira, com a derrubada na Câmara do decreto presidencial que cria conselhos populares, foi apenas o primeiro obstáculo da presidente após sua reeleição. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ontem que o Senado também derrubará o decreto. Parlamentares da base e da oposição viram como uma tentativa de atropelo ao Congresso a defesa da presidente Dilma Rousseff de fazer uma reforma política por meio de plebiscito e prometem reagir nos próximos meses para medir forças com o Palácio do Planalto.

Irritado com as críticas ao Congresso do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que considerou uma "vitória de Pirro" a derrubada do decreto, Renan afirmou que o ministro não sabe do que está falando.

- Ela (a matéria) ser derrubada na Câmara não surpreendeu, da mesma forma que não surpreenderá se ela for, e será, derrubada no Senado - afirmou Renan, acrescentando: - Essa coisa do decreto não enxergo como derrota. Já havia um quadro de insatisfação com relação à aprovação dessa matéria. Essa coisa da criação de conselhos é conflituosa, não prospera consensualmente no Parlamento. Deverá cair. Sinceramente, mais uma vez, o ministro Gilberto Carvalho não está sabendo nem o que está falando.

O presidente do Senado argumentou que a insatisfação dos parlamentares com o decreto dos conselhos é antiga e não tem relação com o resultado das eleições.

- Essa dificuldade já estava posta antes das eleições. Apenas se repete. Esse é um projeto polêmico, que encontra muitas resistências no Parlamento - disse.

Na Câmara, o clima aparentemente arrefeceu com uma ligação de Dilma ao presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Em alerta com as possíveis retaliações, a presidente fez o gesto ontem e disse a Alves que na volta de sua viagem de descanso quer conversar com ele. A investida deu resultado e conteve, ao menos momentaneamente, a onda contra o governo. Horas após o telefonema, os deputados desistiram de votar, na noite de ontem, a PEC do Orçamento Impositivo.

Já amansado pelo telefonema de Dilma, Alves disse que o governo não deveria temer as votações com impacto nos cofres públicos nos próximos dias. O deputado contou que a conversa com Dilma foi "muito cordial e agradável" e que a presidente não teria mencionado a derrubada do decreto.

- Há demandas da sociedade que chegam aqui e que essa Casa tem o dever de analisar, mas nada que venha a beirar alguma irresponsabilidade, com compromisso de ajuste fiscal - disse Alves.

Os presidentes da Câmara e do Senado têm pautas bomba como munição para pressionar o governo, com propostas de impacto fiscal. A lista inclui itens como o aumento dos vencimentos dos deputados e senadores e a chamada PEC dos Magistrados.

Renan já avisou que o Senado votará na próxima semana a proposta que muda o indexador da dívida dos estados junto à União. O governo trabalha para impedir a votação dessa proposta, e a Fazenda não quer sequer discuti-la na Casa.

Mas a pauta mais polêmica no Senado é a PEC dos Magistrados, que cria um adicional por tempo de serviço para a magistratura e integrantes do Ministério Público, sem que o benefício seja incluído no teto salarial do funcionalismo, previsto na Constituição. A proposta já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e está pronta para ir a plenário. O impacto da medida seria de R$ 3,4 bilhões ao ano.

Na Câmara também devem ser votadas este ano outras duas emendas constitucionais que preocupam o governo: a da aposentadoria por invalidez e a que eleva o percentual do Fundo de Participação dos Municípios.

PMDB isola PT e dá aval a Cunha na Câmara

• Deputado peemedebista ganha autorização da bancada para costurar "bloco" e ser candidato à presidência da Casa

• Nome do RJ enfrenta resistência do governo; proposta de reeditar acordo de rodízio no comando é rechaçada

Márcio Falcão e Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ganhou nesta quarta-feira (29) aval de sua bancada para ser pré-candidato à presidência da Câmara a partir de fevereiro.

Reconduzido, por unanimidade, como líder do partido, ele recebeu autorização para costurar um "blocão", reunindo partidos para atuação na Casa no próximo ano.

A estratégia dos peemedebistas é fortalecer Cunha com um amplo arco de aliança e, de quebra, isolar o PT, maior bancada da Câmara em 2015, com 70 parlamentares.

O PMDB já abriu conversas com PR, PSC, PTB e Solidariedade. A ideia é criar um bloco de partidos independentes, com força para interferir em votações e garantir espaços na cúpula da Câmara e em comissões importantes.

Com 66 deputados para a próxima Câmara, parte dos integrantes do PMDB defende não ser saudável o PT, que controla o Executivo, ficar no comando do Parlamento.

"Não há uma boa harmonia para que o PT consiga impor uma candidatura. Eu acho muito difícil uma candidatura do PT lograr êxito na Casa", disse Cunha.

Aliado e magoado com petistas, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), disse que Cunha é um "nome natural que sem dúvida honraria a Câmara".

A bancada rechaça a proposta do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), de reeditar o acordo de rodízio entre PT e PMDB no comando da Câmara. Hoje é o PMDB que comanda Câmara e Senado.

O Planalto emitiu sinais de resistência ao nome de Cunha e vê com preocupação a antecipação da sucessão na Casa.

O governo teme o peemedebista porque, neste primeiro mandato de Dilma, Cunha agiu, em alguns casos, como líder da oposição dentro do governo, armou rebeliões, mediu forças e sempre preservou pontes com a oposição.

Diante da posição do Planalto, o PT também pretende lançar nome na disputa. São cotados os ex-presidentes da Casa Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Marco Maia (PT-RS), além de José Guimarães.

Os petistas, no entanto, pretendem adiar qualquer definição, até para saber se Cunha terá fôlego para bancar uma candidatura para o comando da Câmara.

"Para nós, ainda está cedo para discutir presidência. Nós somos de fazer e cumprir acordo. É hábito nesta Casa os maiores partidos fazerem o revezamento. Nós não temos pressa. Vamos dar tempo ao tempo", afirmou o líder do PT, Vicentinho (SP).

Partidos de oposição também estudam apresentar candidatura. PSDB, DEM, PPS e o Solidariedade discutem com o PSB um nome.

Entre os possíveis candidatos estão Júlio Delgado (PSB), Duarte Nogueira (PSDB-SP) e Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Nos bastidores, os oposicionistas admitem que a candidatura é mais um gesto político e que há espaço para negociação com Cunha.

Líder do PSB diz que proposta de diálogo 'não é sincera'

Gabriela Lara - O Estado de S. Paulo

O deputado federal Beto Albuquerque, líder do PSB na Câmara, afirmou nesta quarta-feira, 29, que não é sincera a disposição da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) de dialogar com todas as forças políticas. "Se fosse para pedir desculpas pelas mentiras e calúnias, pelas inverdades que foram desferidas a nós ao longo da campanha, até valeria a pena sentar e conversar, mas não acredito que seja sincero por parte da Dilma esse tipo de manifestação. Acho que ela tem de tratar de governar com seus aliados e cumprir as suas tarefas", afirmou em entrevista, antes de participar de reunião do diretório estadual do PSB, na capital gaúcha. Na ocasião, ele foi presidente do PSB gaúcho.

O deputado gaúcho, que foi candidato a vice na chapa de Marina Silva, é o atual líder do seu partido na Câmara, mas ficará sem mandato a partir de janeiro. Provavelmente, participará da administração do governador eleito no Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), aliado do PSB no Estado.

Beto se disse surpreso pela informação de que o presidente executivo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, estaria entre os nomes defendidos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comandar o Ministério da Fazenda no novo mandato de Dilma, conforme reportagens publicadas nos últimos dias. "Afinal, éramos nós que tínhamos a proposta de entregar o governo aos bancos? Ou é o PT que depois da eleição volta a se encontrar com os bancos, que foram os que mais ganharam dinheiro ao longo dos 12 anos de governo petista", questionou.

De acordo com o parlamentar, não faz sentido pensar em uma proposta de diálogo com um partido que muda de opinião "tão rapidamente". Beto reforçou que, nos próximos quatro anos, o PSB fará oposição com a cara do partido. "Não vamos misturar o nosso movimento de oposição ao PSDB, ao DEM, que têm um outro propósito, embora tenham recebido nosso apoio no segundo turno. Fôssemos iguais e pensássemos iguais, teríamos estado juntos no primeiro turno", explicou.

Segundo Beto, a oposição do PSB será crítica, mas não raivosa. "Nossa oposição será propositiva. Vamos fiscalizar do início ao fim o governo da Dilma, nas suas promessas e projetos, e queremos independência para isso", falou.

Beto também revelou que vê com naturalidade o fato de Marina ter reafirmado sua intenção de criar a Rede Sustentabilidade, já que sempre se soube que seu ingresso no PSB seria passageiro.

O discurso segue o mesmo tom da postura adotada por outras lideranças do PSB. "Não há nenhum constrangimento. Se o desejo dela for realmente fazer a Rede, lhe desejamos sucesso", disse o deputado, antes de completar: "Mas quero reiterar que o PSB vai se manter na oposição porque quer ter candidato próprio em 2018 à Presidência da República. Vamos manter essa nossa linha iniciada por Eduardo Campos em 2014."

Novo obstáculo para a reforma política

• Plebiscito sugerido por Dilma já enfrenta resistência entre aliados no Congresso

Cleidi Pereira – Zero Hora (RS)

Uma das principais bandeiras da presidente Dilma Rousseff (PT) no segundo mandato, a reforma política é discutida há 20 anos no Congresso e nunca saiu do papel.

Para viabilizar as mudanças, Dilma defendeu, no primeiro discurso como presidente reeleita, a realização de um plebiscito, em que a população seria consultada previamente sobre o tema. Mas a medida enfrenta resistências até mesmo entre seus aliados no Congresso, que preferem um referendo. Especialistas avaliam que, pela complexidade do tema, o melhor seria nem uma coisa nem outra.

– A reforma sairá desde que estejam presentes pressão popular intensa, empenho do governo e generosas regras de transição, ou seja, fazer agora para vigorar daqui a duas eleições – diz Antônio Augusto de Queiroz, analista do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Para Queiroz, a melhor forma de realizar a reforma seria por meio de uma Constituinte exclusiva, mas, como o Congresso dificilmente concordaria, o ideal seria aprovar as propostas que já estão em tramitação.

Cientista política da Fundação Getulio Vargas (FGV), Sônia Fleury considera a Constituinte exclusiva "extremamente perigosa", pois nada impediria que outros pontos da Constituição fossem alterados. Ela avalia que o projeto de iniciativa popular apoiado por entidades como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é a melhor alternativa:

– Pode ser o grande estímulo, porque vai passar pelo Congresso. O problema é que, com o número exigido de assinaturas, seria possível criar três partidos. E chegando lá no Congresso não ganha prioridade, pode morrer na praia.

Reeleição não garantiu trégua à presidente

• Para analistas, Dilma tem que melhorar articulação com Congresso e não medir forças

Carolina Benevides – O Globo

Derrotada na Câmara dois dias depois da eleição, Dilma não tem tido, segundo cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, a esperada lua de mel que os presidentes recém-eleitos costumam encontrar.

De lá para cá, a petista já viu o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira, que foi candidato a vice na chapa de Aécio Neves, fazer críticas contundentes; o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), afirmar que ela será derrotada também na Casa e ainda o peemedebista Eduardo Cunha deixar claro que não concorda com a proposta do vice Michel Temer de revezamento entre PT e PMDB na presidência da Câmara.

- O Planalto esnobou o Congresso nos últimos quatro anos e agora levou de novo o troco, que já havia sido dado quando o Código Florestal foi votado. O PMDB é parceiro, mas quer mais - diz David Fleischer, da UnB, completando: - Se o Planalto não tiver aprendido com a derrota de anteontem, vai perder mais. Dilma não tem o jogo de cintura que Lula tinha, mas depois de reeleita tem acenado com palavras. No entanto, o Congresso quer ação. Com o Eduardo Cunha na presidência da Câmara, por exemplo, que provavelmente tentará isolar o PT, Dilma terá que articular muito bem.

Professor da UFF, Eurico Figueiredo concorda que a Câmara mandou um recado à presidente, mas lembra que ela já havia recuado quando, após o discurso da vitória, declarou não ter preferência por plebiscito ou referendo para a reforma política, desde que a participação popular fosse mantida:

- Recuou, mas não foi suficiente. É preciso que Dilma tenha sabedoria política. Mas não pode esquecer que a correlação de forças no Congresso muda a partir de 1º de janeiro. Não é hora de ninguém medir força. Em relação ao Eduardo Cunha, ela pode postergar por dois meses e esperar as mudanças que virão.

Para Figueiredo, a situação política é "complexa" e engloba desde o anúncio que Dilma fará sobre quem assumirá a Fazenda, passando pelos nomes que vão compor o Ministério no segundo mandato, até a nova composição do Congresso, o papel da oposição, que saiu fortalecida das urnas, e a pressão que a sociedade vai exercer:

- O voto não foi um cheque em branco. E pelo que vejo o Congresso e o Executivo ainda não assimilaram o recado das ruas. Claro que é bom ter um Legislativo independente, mas é preciso saber se a independência não é só para obter privilégios, barganhar.

Segundo ele, reeleita, Dilma tem a chance de se firmar como quem atende às demandas da sociedade:

- Ela prometeu um novo governo. Se ouvir os empresários, as entidades que representam a classe média, a imprensa, que faz críticas pertinentes, negociar os melhores nomes para o Ministério e souber avaliar o Congresso, pode sair desse impasse.

Movimento 'Lula 2018' é cortina de fumaça

Raymundo Costa - Valor Econômico

BRASÍLIA - O movimento 'Lula 2018' é uma cortina de fumaça. O ex-presidente está mais preocupado, a curto prazo, com os rumos da política econômica e a viabilização do novo governo da presidente Dilma do que com uma eventual candidatura daqui a quatro anos. O lançamento de seu nome, na prática, tem por objetivo impedir a precipitação do debate sucessório dentro do PT, onde já despontam nomes como Aloizio Mercadante (Casa Civil), o governador da Bahia, Jaques Wagner, o governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel e Fernando Haddad, se o prefeito de São Paulo recuperar popularidade e se reeleger em 2016.

O que Lula efetivamente está interessado, no momento, segundo fontes ouvidas pelo Valor, é ter uma participação mais efetiva no segundo mandato da presidente Dilma. A sua intenção é ajuda, até, porque não haverá 2018 se o segundo mandato de Dilma não for melhor que o primeiro. Ontem o ex-presidente da República divulgou dois vídeos que expõem uma estratégia para aliviar as pressões sobre Dilma nas preliminares do segundo mandato.

No primeiro, Lula rebateu uma declaração de Aécio Neves de que cabia à presidente Dilma Rousseff unir o país, depois de uma disputa acirrada como foi a eleição presidencial. "É obrigação dos partidos políticos, do candidato que perdeu a eleição, dos que não foram para o segundo turno e do movimento social", disse o ex-presidente. "Não tem essa de jogar a responsabilidade apenas nas costas da presidente". No segundo vídeo, postado no YouTube, Lula afirmou que "o povo brasileiro, com todas as divergências, com todos os seus votos diferenciados, deu uma lição de política nos políticos".

No momento são três as principais preocupações do grupo mais próximo ao ex-presidente da República: a economia, o escândalo da Petrobras e a articulação da maioria para o governo no Congresso, onde o líder do PMDB, Eduardo Cunha, se articular com a oposição para disputar a presidência da Câmara, à revelia do governo, inclusive do vice-presidente Michel Temer, que preside o partido do deputado. O PT fez a maior bancada na Câmara e reivindica o cargo.

Segundo interlocutores de Lula, as medidas econômicas são urgentes e deveriam ser sinalizadas já a partir do mês de novembro. Causou mal-estar uma declaração do ministro Guido Mantega (Fazenda), segundo a qual as urnas teriam aprovado o modelo econômico do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. "Ele não percebeu a dificuldade que foi eleger Dilma", disse uma fonte do PT.

Lula e o PT gostariam de ter mais influência no segundo mandato da presidente Dilma. O "day after" das eleições, no entanto, indica que pouca coisa mudou na relação entre a presidente reeleita e seu antecessor. Até agora, pois está prevista uma conversa entre ambos. Por enquanto, a presidente e o Palácio do Planalto se apropriaram da vitória e atribuem uma importância menor ao papel desempenhado pelo ex-presidente na campanha. As relações de fato azedaram no decorrer da disputa, mas os aliados de Lula consideram que sua participação foi decisiva, na reta final da eleição, e por isso contam com maior receptividade da parte da presidente.

Conforme revelou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, Lula fez três sugestões a Dilma para o Ministério da Fazenda: o ex-presidente do Banco Central de seu governo, Henrique Meirelles, o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, e o economista Nelson Barbosa, que já integrou a equipe de Mantega. Lula indicou três para levar um: Henrique Meirelles, justamente o nome que a presidente não quer em seu governo. Os aliados de Lula acham que a mexida na área econômica não deve se restringir ao ministro da Fazenda, mas também se aprofundar pelas secretarias.

Há um temor de que o escândalo da Petrobras contamine o governo Dilma já no início. Entre os aliados do ex-presidente defende-se uma solução imediata de comando na estatal. Um dos nomes sugeridos para substituir Graça Foster na empresa tem sido o do governador da Bahia, Jaques Wagner, um político com habilidade e capacidade de pacificar a empresa. Wagner, no entanto, é cotado para ficar em Brasília no chamado "núcleo duro" do governo, a ser formado especialmente por políticos que devem comandar o processo de diálogo da presidente Dilma com o Congresso.

A derrota do governo na votação do decreto que trata de organizações sociais já era esperada desde antes da eleição, portanto, não é um indicativo do futuro das relações do Palácio do Planalto com o Legislativo. Mas as eleições para os comandos do Senado e da Câmara é, e o governo pode perder na Câmara. No grupo lulista havia quem sugerisse que Dilma, no discurso da vitória da eleição, fizesse um aceno ao diálogo ao candidato Aécio Neves (PSDB). A presidente não fez, mas uma sugestão é a abertura de diálogo com três governadores tucanos reeleitos, todos ávidos por uma parceria com o governo federal: Geraldo Alckmin (SP), Beto Richa (PR) e Marconi Perillo (GO).

O nome de Lula para 2018 foi lançado duas vezes pelo presidente do PT, Rui Falcão. O ex-presidente da República não diz que sim, mas também nunca descartou inteiramente a hipótese. Enquanto existir o "Lula 2018", nenhum outro nome se aventura no PT, até porque, se o ex-presidente realmente não quiser sair candidato, será um cabo eleitoral decisivo para qualquer postulante à indicação do partido.

(Colaboraram Fernando Taquari e Adauri Antunes Barbosa, de São Paulo)

Grito das ruas sem eco nas urnas

• Protestos que tomaram conta do país em 2013 pedindo reformas drásticas não transformaram o cenário político após as eleições. O percentual de renovação da Câmara, por exemplo, foi inferior à média registrada em pleitos anteriores

Marcelo Monteiro – Zero Hora (RS)

Em junho de 2013, barulhentos protestos tomaram as principais cidades brasileiras, exigindo, entre outras coisas, mudanças na política do país. Na primeira oportunidade de transformar o cenário pela via democrática, porém, o grito das ruas não ecoou nas urnas. Tanto no âmbito federal, que pela quarta vez seguida teve PT e PSDB em embate direto no segundo turno, quanto nas eleições parlamentares, o que se viu foi mais do mesmo – na Câmara, o percentual de renovação foi de 46,4%, inferior à média de 49% registrada em pleitos anteriores.

Para Valeriano Costa, doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma das explicações para que o elenco congressual não tenha se alterado drasticamente está no próprio caráter das manifestações de 2013, que pregavam o distanciamento da política tradicional.

– Como o movimento recusava os partidos e qualquer organização partidária, seus potenciais representantes não concorreram e não puderam ser eleitos. Para eles, não havia sentido em cobrar renovação na política. Eles queriam uma nova política, e não novos políticos – argumenta Costa.

Outra razão para que a voz dos protestos não tenha sido ouvida nas urnas um ano e quatro meses depois dos protestos seria, segundo Costa, a pouca representatividade numérica dos manifestantes diante da população como um todo. De acordo com o estudioso, embora formasse uma massa barulhenta, o contingente de pessoas que participaram dos atos não chegava a ser expressivo quando considerados os 142 milhões de eleitores.

Para completar, em regra, os manifestantes tinham um perfil comum – adolescentes, jovens e adultos jovens de classe média, urbanos, com padrão de renda média/alta – que não refletia a população brasileira em todas as suas variáveis econômicas, sociais e culturais.

– Quem se mobilizou foram alguns poucos milhões de pessoas, não há como precisar. Quem estava na rua não dá nem 5% do eleitorado. Este contingente não tem a menor capacidade de conseguir um resultado eleitoral significativo – completa Costa.

Radicalismo distanciou população dos protestos
O cientista político Murillo de Aragão, presidente da Arko Advice, empresa de análise política e políticas públicas, acredita que a imensa gama de bandeiras estampadas nos protestos de junho – do passe livre estudantil à revolta contra a corrupção, passando pelo repúdio aos gastos públicos com a Copa – ajudou a diluir o reflexo das manifestações. Além disso, segundo Aragão, a radicalização de algumas alas, como os black blocs, teria afastado a massa da população do ideário do movimento.

– Aquela mobilização tinha interesses difusos e, basicamente, se direcionava a questões urbanas, como por exemplo o transporte coletivo e a questão da cura gay. Foi um movimento pontual, que não criou raízes, já que foi apropriado por setores radicais. Com isso, a população ficou distante, e não houve impacto eleitoral.

Ainda na opinião do cientista político, mesmo que eventuais expoentes das manifestações tenham buscado participar da política tradicional, procurando filiar-se a partidos consolidados no cenário nacional, é provável que a maioria não tenha recebido oportunidade de participar do pleito pelas principais siglas.

– Os partidos são muitos fechados, não abertos à renovação. A renovação é lenta, sempre submetida aos caciques e àqueles que comandam os partidos. Existem milhares de pessoas que tentam entrar na política por partidos pequenos e não conseguem – sentencia Aragão.

O difícil consenso

• Especialistas discordam sobre tipo ideal de reforma política para o país: um dos impasses é a escolha entre referendo e plebiscito

Silvia Amorim – O Globo

O tipo de reforma política que o país necessita está longe de ser um consenso, mesmo quando a discussão se dá entre estudiosos do tema. A divisão de opiniões começa já na escolha do tipo de instrumento a ser usado para definir quais regras seriam mudadas no sistema político-eleitoral - se referendo ou plebiscito.

Por referendo, os eleitores seriam convocados a opinar ao final do processo de debate no Congresso, votando contra ou a favor de uma proposta aprovada pelos parlamentares. Por plebiscito, a discussão começaria pelos eleitores, que escolheriam nas urnas as mudanças a serem feitas pelo Congresso.
A discussão voltou à pauta após discurso da presidente Dilma Rousseff no último domingo. Ela defendeu a realização de plebiscito, mas, anteontem, voltou atrás, admitindo a possibilidade de referendo, depois que lideranças do Senado e da Câmara se colocaram contra um plebiscito.

Especialistas ouvidos ontem pelo GLOBO falaram sobre vantagens e desvantagens de ambos os mecanismos. Os defensores de um referendo disseram que ele tende a ser mais viável porque a maioria do eleitorado não está preparada para uma discussão complexa como a da reforma política. Já os favoráveis a um plebiscito argumentaram que o Congresso caiu em descrédito e não há garantias de que uma reforma feita por ele venha representar os anseios da sociedade.

- Acho que o plebiscito demandaria um esclarecimento da população muito além do que podemos conseguir. Como explicar a diferença de um voto distrital e distrital misto para um eleitor médio? Nosso histórico mostra que campanhas de esclarecimento não são tão esclarecedoras. Em 1993, quando eleitores tiveram que decidir entre o presidencialismo e o parlamentarismo, tivemos campanha pregando que o voto acabaria no Brasil se vencesse o parlamentarismo - disse o cientista político Rubens Figueiredo.

Juiz eleitoral e membro do Comitê Nacional do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), autor da proposta da Lei Ficha Limpa, Marlon Reis discorda e diz que o referendo não pode ser tratado neste caso como uma participação popular.

- O mais complicado desses mecanismos é o referendo, porque nele a sociedade é distanciada da discussão. Os parlamentares se reúnem e decidem o que é mais conveniente e compete a nós apenas dizer sim ou não. Isso não é participação popular - defendeu.

É grande o ceticismo em relação a uma reforma política ampla. O cientista político e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Carlos Melo estuda o tema há 20 anos e diz que a forma como o assunto foi colocado à opinião pública é sinal de que pouco avançará.

- O debate é complexo. Se você perguntar para 50 cientistas políticos qual a reforma mais adequada, você vai sair com 500 modelos nas mãos -avaliou Melo.

Financiamento de campanha dificulta reforma política, dizem especialistas

• Apenas 15 empresas responderam por 32,5% de tudo o que foi doado oficialmente para as campanhas em 2010

Alexandre Rodrigues - O Globo

CAXAMBU (MG) — O financiamento das campanhas eleitorais é o ponto mais sensível da discussão sobre uma reforma política, reaberta pela presidente Dilma Rousseff em seu primeiro discurso como reeleita. O sucesso das campanhas, cada vez mais caras, está diretamente ligado ao volume de recursos que elas movimentam, sobretudo a dos parlamentares. É o que apontam resultados preliminares de pesquisas que estão em andamento no Brasil apresentadas na manhã de quarta-feira em um grupo de trabalho dedicado ao tema no Encontro Anual da Associação Nacional de Pos-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG).

O fim das contribuições presidenciais para as campanhas, prestes a ser sacramentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), altera substancialmente a forma como as campanhas eleitorais se organizam hoje. Um estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que tenta mapear as redes de financiamento dos partidos com base nos dados da eleição de 2010 mostra que a participação de pessoas físicas nas listas de doadores não é tão pequena como se imagina. Foram 212,5 mil em 2010, quase 80% do total. No entanto, as 22,5 mil empresas que contribuíram com as campanhas responderam por 75% de tudo o que foi arrecadado pelos comitês financeiros dos candidatos e dos partidos naquela eleição, cerca de R$ 3 bilhões. Outro estudo, da Unicamp, mostra que apenas 15 empresas responderam por 32,5% de tudo o que foi doado oficialmente para as campanhas em 2010, uma concentração que os especialistas esperam se repetir na prestação final de contas das eleições deste ano.

O trabalho apresentado por Rodrigo Rossi Horochovski, pesquisador da UFPR, revela que as redes de financiamento dos partidos não envolvem apenas as empresas e os doadores individuais. Há também os repasses de um partido para outro, por meio de coligações, e para os candidatos, por critérios que não são claros. Dessa forma, os recursos das empresas envolvem numa mesma rede partidos antagônicos, como PT e PSDB, já que a lógica empresarial é distribuir recursos entre os partidos mais fortes, com maior chance de vitória. Já o dinheiro doado por pessoas físicas estabelece redes cuja organização está mais ligada ao espectro ideológico das legendas.

— Os agentes partidários atuam como intermediadores, distribuindo majoritariamente recursos oriundos das empresas, que também fazem suas contribuições diretamente aos candidatos. Nessa rede, não existe a dimensão ideológica. Os partidos mais conectados são PT e PSDB. Há muitos pontos de encontro entre doadores e partidos de tendências opostas — explicou Horochovski. — O agrupamento é por desempenho eleitoral, que se confirma no resultado. Ou seja: quem manda nas eleições são as empresas. Elas estabelecem quem é eleito.

Nesse sentido, acrescenta o pesquisador, a viabilidade eleitoral de um candidato ou de um partido está ligada à participação nessa rede de financiamento, que é operacionalizada por meio das coligações. Isso ajuda a explicar a disciplina com que parlamentares ou partidos pequenos seguem líderes partidários no Congresso para formar maiorias, por exemplo. Os políticos infiéis ficam marginalizados dessas redes e têm menos chance de se reeleger.

Os pesquisadores da Unicamp João Paulo Viana, Rodrigo Dolandeli e Jeison Heiler resolveram estudar a outra ponta do custeio das campanhas: como o dinheiro arrecadado é gasto. Eles perceberam que a maioria dos candidatos a deputado gasta mais com comunicação e publicidade. O que faz diferença é o gasto com estrutura logística e de pessoal das campanhas.

— Vemos que, para ser eleito, um candidato precisa acompanhar a tendência de gastos em estrutura dos seus principais opositores. Não adianta colocar muito mais dinheiro em publicidade, que é o padrão maior de gasto. Apesar de o volume total da despesa eleitoral ser uma variável significativa, a despesa com estrutura se mostra mais importante (para o sucesso eleitoral) — diz Rodrigo Dolandeli, que apresentou o trabalho feito em parceria com

Marcos Campos, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), chamou a atenção para o financiamento dos partidos fora do período eleitoral. Diferente das doações para campanhas, as de empresas para os partidos são ilimitadas. Os dois pesquisadores estudaram a ramificação das legendas em diretórios estaduais e municipais e perceberam que existe um movimento de abertura e fechamento de unidades partidárias nas cidades. Entre 2010 e 2014, o numero de diretórios (nacionais, estaduais e municipais) subiu de 52.918 para 60.562. Em todos há o repasse de contribuições locais para a direção nacional e também e recebimento de recursos, embora a maior parte das legendas desrespeite a regra de redistribuir regionalmente o dinheiro público do fundo partidário.

— Os diretórios funcionam basicamente como franquias, mas recebem recursos nacionais de acordo com o interesse de cada comando nacional – explicou Mauro Campos, acrescentando que a maior parte da documentação de prestação de contas de diretórios municipais é falha. — Cada diretório tem uma estrutura diferente. Não estamos falando de 32 partidos no país, mas de 60 mil para serem fiscalizados e os juízes não conseguem fazer isso adequadamente.

Desapreço pela democracia - ITV

• Dilma e seus petistas investem contra a democracia representativa e buscam formas de impor a democracia direta, aquela em que quem grita mais, pode mais

Depois de reeleita, Dilma Rousseff se disse disposta a dialogar com as forças que lhe fazem oposição. Mas os atos posteriores dela e de seu grupo político vão na direção contrária. Felizmente, estão encontrando no exercício da democracia representativa uma firme barreira a suas pretensões.

Ontem, caiu por terra a tentativa de instalar no país conselhos populares de inspiração chavista e bolivariana. A Câmara rejeitou no voto - ainda que simbólico - a criação da Política Nacional de Participação Social, objeto de decreto editado pela presidente no primeiro semestre.

Tratava-se de tentativa de obrigar órgãos da administração direta e indireta a criar instâncias às quais teriam que sujeitar suas decisões. O governo petista sustentava que seria uma forma de ampliar a participação democrática, mas na prática funcionaria como canal de pressão de movimentos organizados sobre os governantes.

Sempre que podem, Dilma e seus petistas investem contra a democracia representativa, aquela que é exercida pelos meios institucionais e por aqueles legitimamente eleitos pela população para representá-los. Buscam formas de impor a democracia direta, aquela em que quem grita mais, pode mais.

Com a reeleição, a presidente também ressuscitou a proposta da reforma política, espécie de paliativo para todas as horas de quem não tem nada de mais concreto a oferecer. Dilma disse que queria um plebiscito para decidir sobre questões tão intrincadas quanto voto em lista e financiamento de campanha.

O mesmo veto imposto pelo Legislativo a sua proposta de criação dos conselhos populares surgiu em relação ao plebiscito e a presidente reeleita já teve que recuar. A reforma política pode até ser bem-vinda, mas deve ser discutida por quem de direito e só depois submetida à consulta da população, por meio de referendo. Diferente disso, é populismo.

Outro aspecto deixa claro que Dilma e o PT tentarão fechar os espaços de uma oposição cada vez mais fortalecida e representativa. Segundo a Folha de S.Paulo, na agenda de prioridades da nova administração está a regulação dos meios de comunicação, tão sonhada pelos petistas ciosos de calar as vozes que não lhes dizem amém.

A eleição mal acabou, mas o PT já deixou claro qual é seu projeto doravante: bloquear as brechas de atuação da oposição, abrir canais para que movimentos sociais manipulados pelo petismo exerçam pressão, diminuir o espaço das críticas e enfraquecer as instituições da democracia representativa. Para quem quer se eternizar no poder, 16 anos certamente ainda são muito pouco.

Deputada brasileira na Itália afirma que defesa do pedido foi ‘protocolar’

• Em Roma, Renata Bueno avalia que ação não foi suficiente para convencer a Justiça italiana a extraditar Pizzolato

Jamil Chade - O Estado de S. Paulo

MÓDENA - O governo brasileiro agiu de forma “protocolar” e insuficiente para convencer a Justiça da Itália a extraditar Henrique Pizzolato, condenado por envolvimento no mensalão, afirmou nesta quarta-feira Renata Bueno, deputada brasileira no Parlamento Italiano.

Pizzolato, que desde fevereiro estava preso em Módena, foi solto na terça-feira após a Corte de Apelação de Bolonha rejeitar o pedido de extradição. A Justiça italiana concluiu que o Brasil não atende às exigências mínimas em suas prisões para receber um detento. Entre os argumentos apresentados pela defesa estavam declarações da presidente Dilma Rousseff confirmando que a situação das prisões nacionais não é adequada.

“A ação do Brasil foi protocolar”, afirmou Renata, que na quarta-feira usou a tribuna em Roma para levantar a questão.

O ex-diretor do Banco do Brasil foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão no julgamento do mensalão. Há um ano, ele fugiu para a Itália com um passaporte falso de um irmão morto em 1978. Em fevereiro, Pizzolato foi descoberto na casa de um sobrinho em Maranello e preso.

O governo brasileiro anunciou que vai recorrer à Corte de Apelação em Roma, mas o Ministério Público italiano, que havia defendido a extradição, ainda avalia se fará o mesmo. “Não temos uma decisão ainda”, disse o procurador italiano Alberto Candi.

O principal desafio do Brasil era rebater as acusações da defesa de Pizzolato de que a Justiça não deveria permitir a extradição porque as prisões brasileiras não oferecem garantias aos direitos humanos dos presos.

A defesa de Pizzolato usou relatórios da ONU, apresentou documentos mostrando a rebelião em Pedrinhas, no Maranhão, e citou dois homicídios no Complexo da Papuda, para onde iria o condenado.

O Brasil apresentou fotos de celas, hortas e alas da Papuda sem qualquer detento. Até a defesa de Pizzolato se disse surpresa com a documentação. “O Brasil não negou o que dissemos, que as prisões não respeitam os direitos humanos”, disse Alessandro Sivelli, advogado do ex-diretor do BB.

A Procuradoria-Geral da República disse que foi feito um extenso levantamento sobre o sistema prisional, antecipando-se à tramitação do processo na Itália. O órgão explicou que as imagens não têm presos porque isso violaria o direito desses detentos.

O Brasil terá um indicativo se Pizzolato poderá ser extraditado em janeiro. A mesma Corte de Cassação de Roma julgará pedido de extradição do holandês Ronald Van Coolwijk, condenado aqui a 20 anos por tráfico de droga. A Itália já indicou que vai tomar uma decisão baseada nas condições das prisões brasileiras.

Congresso reafirma prerrogativa na democracia – O Globo / Editorial

• A derrota do decreto das comissões populares na Câmara ajuda a proteger o Legislativo de grupos que apoiam um sistema de consultas chavista-bolivariano

Primeiro fato político de peso depois das eleições, a derrota do governo Dilma e do PT na rejeição pela Câmara — a ser referendada no Senado — do decreto presidencial dos conselhos populares estava, na verdade, contratada faz tempo. Algum parlamentar insatisfeito com o tratamento recebido do Planalto e do partido da presidente nas eleições pode ter aproveitado a sessão plenária de terça para comer quente o prato da vingança, mas, desde que foi publicado em maio, o decreto 8.243 tem rejeição quase unânime no Congresso.

Partidos da oposição logo formularam uma proposta de decreto legislativo para derrubá-lo, com apoio de políticos da base do governo. E terça-feira o Congresso começou a recuperar a prerrogativa de ser o único foro de discussão e deliberação de assuntos que se refiram ao próprio regime de democracia representativa vigente no país. Se o Planalto desejar alterá-lo, que envie projeto ao Congresso.

O ministro Gilberto Carvalho, diretamente interessado naquele decreto, rebateu as críticas com o argumento de que nada de novo se instituía, apenas se ordenava o funcionamento de comissões já existentes. O ministro dissimulava. O decreto institui a "Política Nacional de Participação Social" e coloca o ministério de Carvalho à frente de uma miríade de novas comissões criadas em ministérios e empresas estatais. Todas, é claro, a serem ocupadas por representantes das chamadas "organizações sociais", sindicatos e outras entidades companheiras.

Na verdade, o 8.243 relativiza o papel do Congresso como espaço de representação política da sociedade, transferindo parte de seu poder para essas comissões, mesmo "consultivas". O decreto é a materialização legal da política de aparelhamento do Estado, em curso desde o primeiro governo Lula, a partir de 2003.

Manietar a democracia representativa brasileira, enquanto abre espaços crescentes para mecanismos de democracia direta no estilo chavista-bolivariano, é antigo projeto de falanges do PT. A ideia da assembleia constituinte exclusiva — rechaçada por ilegal —, desidratada para a proposta de um plebiscito para a reforma política, deriva desta obsessão de reduzir a importância do Legislativo. A própria Dilma já admite, como defendem lideranças no Congresso, inclusive o aliado Renan Calheiros, a realização de um referendo, por ser a melhor alternativa de consulta popular sobre um tema complexo como esta reforma. O Congresso discute, delibera, aprova e ouve a população, que responde "sim" ou "não".

O sonho petista é mobilizar sindicatos, "organizações sociais" etc., para fazerem o papel de "povo" nos plebiscitos. Mas, depois do segundo turno das eleições, o trânsito desses planos golpistas na sociedade ficou ainda mais difícil, porque mais de 85 milhões não escolheram a candidata do PT — os votos concedidos a Aécio somados aos nulos, aos em branco e às abstenções. Para Dilma, foram 54,5 milhões.

Dilma começa perdendo - O Estado de S. Paulo / Editorial

Muito mais do que uma desforra pessoal do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, do PMDB do Rio Grande do Norte - que atribuiu a Lula a sua derrota na disputa pelo governo do Estado para o seu adversário do PSD, Robinson Faria -, a derrubada do decreto da presidente Dilma Rousseff instituindo a participação de conselhos populares na elaboração de políticas públicas federais foi um sinal dos tempos. Trata-se do primeiro bote do principal partido da base aliada do Planalto para se impor ao PT no segundo mandato da governante petista. Em parceria com a oposição e três bancadas tidas como leais ao Executivo - PDT, PR e PSD -, a sigla do vice-presidente Michel Temer não esperou a posse formal de ambos em 1.º de janeiro para participar a seu modo do "diálogo" que a candidata reeleita apregoou na sua primeira fala depois da apuração.

É bem verdade que Dilma tinha tudo para perder essa batalha. Tão logo tomou, em maio último, a malfadada iniciativa de abrir espaço na mesa de decisões administrativas - até das agências reguladoras federais - ao que chamou de "grupos sociais historicamente excluídos", ficou escancarado o DNA chavista da medida, porque, ao silenciar, de caso pensado, sobre os critérios que guiariam a formação do denominado Sistema Nacional de Participação (SNP), a presidente só faltou proclamar a sua serventia como modalidade adicional de aparelhamento do Estado e, também à maneira bolivariana, amputação de prerrogativas do Legislativo. De nada adiantou o desdém de Dilma pela inteligência alheia ao negar que os órgãos públicos não ficariam obrigados a se aconselhar com presumíveis representantes da sociedade, mas "deverão considerar" esse procedimento.

Antes que a campanha eleitoral esvaziasse o Parlamento, o PT recorreu a manobras de todo tipo para barrar a votação do decreto. Agora não deu - e a excrescência foi rejeitada por aclamação pela Câmara. (Falta ainda o voto do Senado.) Fica assim a presidente notificada de que, diferentemente do que ocorreu no quadriênio em vias de se encerrar, quando PT e PMDB tendiam mais a se entender do que a divergir em matérias de interesse do Planalto, a atitude da legenda do vice e dos titulares das duas Casas do Congresso será basicamente de confronto com o partido do poder, reproduzindo na esfera parlamentar o combate entre petistas e antipetistas que marcou a sucessão. Já não se trata de reencenação da disputa por espaço na Esplanada dos Ministérios e nas estatais. O que o PMDB quer é assumir o comando da política nacional, abrindo-se a uma aliança tácita com a oposição. Diga-se o que se queira da tigrada, menos desprezar o seu faro para a debilidade alheia.

E nunca o PT esteve tão fraco desde a primeira presidência Lula. Na votação de 5 de outubro para a Câmara, o partido perdeu 1,3 milhão de votos e 18 cadeiras. Com as 70 que vai ocupar na próxima legislatura ainda terá a maior bancada, mas a diferença de 2010 para agora entre o número de assentos petistas e os do PMDB encolheu de 17 para 4 somente. Além disso, considerando os sufrágios colhidos, o PSDB de Aécio Neves tornou-se proporcionalmente a segunda força da Casa. Em números absolutos, a sigla foi uma das mais bem-sucedidas entre as 28 dotadas de representação parlamentar a partir de 2015: os tucanos serão 54, com um ganho de 10 lugares. Além de a nova composição da Câmara favorecer o PMDB em detrimento do PT - como possivelmente se verá na disputa entre eles pela presidência do colegiado, em fevereiro -, o partido de Dilma perdeu o controle da rua para atiçá-la contra quem quer que seja.

Há de ter sido por isso que a presidente, em sintonia com os companheiros, teve a ideia de exumar a proposta de convocação de um plebiscito para a reforma política, o que o PMDB já havia posto a pique no ano passado. Isso daria ao PT a chance de brigar pela retomada do espaço perdido na arena pública - e, a partir daí, voltar a pressionar o Congresso. Para os peemedebistas foi um presente inesperado: mais uma vez rebatendo de imediato a manobra, a cúpula partidária desafiou Dilma abertamente - e ela piscou primeiro, ao admitir que a reforma poderia ser submetida a consulta depois de aprovada pelo Congresso.

Corrida pela Prefeitura do Rio em 2016

• Romário (PSB) e Freixo (Psol) são os mais lembrados para o posto de alcaide da capital fluminense. Indecisos chegam a 31%

Eduardo Miranda – Brasil Econômico

Pesquisa do Instituto GPP para a Prefeitura do Rio de Janeiro, realizada às vésperas do segundo turno da eleição para o governo do Estado, mostra o senador eleito Romário (PSB-RJ) como o nome mais forte para ocupar o posto que será deixado em 2016 pelo prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PMDB). Na sondagem, encomendada pelo DEM e pelo PMDB, Romário tem 31,8% da preferência da amostra de 1.200 eleitores entrevistados. Colhendo elogios por sua atuação como deputado na Câmara Federal, Romário afirmou, no ano passado, que seu sonho é ser prefeito da capital em 2016, quando ele completa 50 anos de idade. Atualmente, para evitar críticas sobre a provável renúncia ao Senado, onde cumpriria apenas 1/4 do mandato de oito anos, pessoas próximas ao ex-jogador dizem que ele só deve pensar na candidatura daqui a um ano. Candidato convicto mesmo, apenas Marcelo Freixo (Psol), deputado estadual mais votado da assembleia legislativa, com 350 mil votos.

O potencial de Freixo para enfrentar Romário é visto pelo PT fluminense como a chance para a formação de uma grande frente da esquerda. Por isso, o diretório estadual do PT defende a ruptura com o PMDB de Eduardo Paes e do governador Luiz Fernando Pezão e estuda proibir por votação a ocupação de cargos e secretarias do governo estadual por petistas. Apesar do ressentimento em relação ao apoio de Dilma Rousseff à candidatura de Pezão, petistas apostam que a presidenta se sensibilizará com a dívida que tem com Freixo. No segundo turno, ele e o deputado federal Jean Wyllys se adiantaram à decisão do Psol e declararam apoio à candidatura de Dilma. Para os petistas fluminenses, a proximidade da presidenta com o prefeito Eduardo Paes é passageira. Eles acreditam que o afago a Paes é uma tentativa de o PT nacional neutralizar a ala rebelde do PMDB, liderada pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) e pelo presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani.

Apesar de recém-saído de uma eleição, o PMDB fluminense já deixa exposta a disputa dentro do partido pela indicação de um nome à disputa da prefeitura. De um lado, Picciani mobiliza prefeitos do estado, parlamentares da capital, cuidando, inclusive, da reeleição de Jorge Felippe (PMDB) para presidente da Câmara dos Vereadores. O objetivo de Picciani é indicar o recém-eleito deputado federal Leonardo Picciani, seu filho, para a disputa de 2016. Do outro lado, Eduardo Paes trabalha pela manutenção da relação entre Dilma e Pezão e a indicação, no futuro, de seu ex-secretário e agora deputado federal Pedro Paulo. Citado na pesquisa de intenção de voto, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) afirma apenas que "2016 está muito longe".

Já o presidente do PSDB-RJ, deputado Luiz Paulo, disse que seu partido terá candidatura própria e a indicação sairá dos três nomes eleitos nas últimas proporcionais (o próprio Luiz Paulo, Lucinha ou o deputado federal Otávio Leite). O parlamentar descartou, em princípio, o apoio a Romário, que participou da campanha de Aécio Neves (PSDB) para presidente. Outro nome cotado, mesmo antes da pesquisa GPP, é o de Clarissa Garotinho (PR), aposta política do clã Garotinho. Apesar de dizer que é "muito cedo" para se falar em disputa na Prefeitura, Clarissa admite que sua expressiva votação para a Câmara Federal — ela obteve 335 mil votos — desperta a atenção do partido. "É natural (seu nome ser apontado), já que minha votação me credencia para isso.

Fui a mulher mais votada dessa eleição em todo o Brasil e um terço dos meus votos vieram da capital", afirmou a parlamentar. Na eleição de 2012, o prefeito Eduardo Paes obteve 2,097 milhões de votos (64,6% dos votos válidos), contra Marcelo Freixo (914 mil, equivalente a 28,15% dos votos válidos). Na recente eleição para o Senado, Romário conquistou 4,6 milhões de votos. O desafio dos demais candidatos à Prefeitura será o de retirar votos do ex-jogador e conquistar os indecisos (31,3%, segundo o GPP) e os votos em branco e nulos (6,5%).

Merval Pereira - Conflito pós-eleitoral

- O Globo

O segundo mandato da presidente Dilma, conseguido aos trancos e barrancos , nem mesmo começou, e o PT já lança a candidatura de Lula para 2018. O PT, fragilizado pelas urnas, precisa sinalizar à militância que existe um Lula no fim do túnel, mesmo com a perspectiva de um governo fraco, que tende a se manter no mesmo rumo por que Dilma não mudará da noite para o dia sua maneira de ver o mundo.

O conflito explicitado pelo veto ao decreto dos conselhos populares já existia antes da eleição , e ele só não foi derrubado naquela ocasião por que ainda havia a expectativa de poder do PT , e muita gente receava enfrentá-lo . Passada a eleição, e constatada a fragilização, com a eleição apertada e a divisão clara do eleitorado , além do grande número de não- votos , todo político da base do governo que olha para o longo prazo vê que o segundo governo vai ser complicado. Vai haver momentos de demonstrar força para ganhar dividendos imediatos ou, no caso do PMDB, para preparar um salto mais alto na direção da oposição , ou de um candidato próprio em 2018. Uma batalha permanente da presidente Dilma com o Congresso , com grande chance de sair perdedora em muitas ocasiões , como aconteceu anteontem com a derrubada do decreto dos conselhos populares.

Quais serão os métodos de que se utilizará Dilma no segundo governo para fazer sua bancada de apoio? Com o processo do petrolão correndo na Justiça, e dezenas de deputados e senadores envolvidos no esquema de corrupção , que pode ainda respingar na própria presidente Dilma e no ex-presidente Lula , estará impedido o governo de usar o "toma-lá-dá-cá" com esse fim. No fim das contas , no mínimo, ser á mais arriscado nomear o diretor da Petrobras da área que fura poço . Vai ser, portanto , muito difícil negociar com a base aliada, que já foi muito infiel no primeiro governo.

Controle da chamada mídia profissional, plebiscito sobre formas de governo , além de formação de conselhos populares são receitas típicas de regimes autoritários de países vizinhos , muito ao gosto de setores importantes do atual governo brasileiro. No Congresso há diversas correntes que ajudaram a derrubar o decreto dos conselhos populares , desde os que o consideram eleitoreiro, editado às vésperas da eleição presidencial para ganhar a simpatia dos chamados movimentos sociais , que seriam os beneficiados pela medida, até os que temem que esse seja um passo a mais na direção de um governo no estilo bolivariano .

Há muitos deputados que votaram contra o decreto para preservar a função do Congresso Nacional no nosso sistema presidencialista, como um dos poderes da República, um contraponto ao Executivo e ao Judiciário. Mesmo quem não considera que o decreto seja inconstitucional, embora haja quem o considere assim, teme a manipulação que ele permite ao definir , por exemplo , sociedade civil como "o cidadão , os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados , suas redes e suas organizações".

Além de ser uma definição muito ampla que abarca qualquer tipo de movimento social, até mesmo os "não institucionalizados", os parlamentares temem que o Palácio do Planalto se aproveite dessa amplitude conceitual para organizar, através da Secretaria Geral da Presidência da República, chefiada pelo ministro Gilberto Carvalho , os próprios conselhos , manipulando suas decisões. Uma das tarefas de Carvalho é, pelo decreto que define seu ministério , atuar "no relacionamento e articulação com as entidades da sociedade civil e na criação e implementação de instrumentos de consulta e participação popular de in ter esse do Poder Executivo ".

Mesmo os partidos mais fisiológicos da base aliada re agem a tentativas de enfraquecer os fundamentos democráticos porque sabem que, num governo autoritário, ser á menor sua influência e maior a força política do PT . O principal responsável por barrar essas tentativas é o próprio PMDB, que tem no DNA a defesa da democracia e impede que o PT ultrapasse limites constitucionais . Essa votação demonstrou que sempre que uma decisão do governo vai de encontro à Constituição ou tenta ultrapassar o Congresso , há uma maioria parlamentar na defesa da democracia representativa, que os petistas estão chamando de "bloco de centro-direita" ou de "centrão ". Boa parte desse "centrão " ficou dissidente do governo e apoiou a oposição na eleição presidencial.

Dora Kramer - Confiar desconfiando

- O Estado de S. Paulo

Nem a rejeição do Congresso à reforma política por meio de plebiscito nem a derrubada do projeto presidencial dos conselhos populares na Câmara servem como medida precisa de como serão as relações entre o Parlamento e o Palácio do Planalto no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Pelo simples e conhecido fato de que as duas propostas já entraram em campo derrotadas. Por isso mesmo do ponto de vista do governo a surpresa foi a insistência da presidente, ou dos autores de seu discurso da vitória, de reapresentarem uma sugestão que no ano passado havia sido amplamente rejeitada. Tanto que sobre ela não se deu uma só palavra durante a campanha.

Uma hipótese: Na falta de algo melhor para dizer, fizeram-na falar algo de apelo popular já sabendo qual seria a reação dos políticos e que haveria espaço para recuar; como de fato aconteceu. Com sua bancada reduzida em 18 deputados em 2015, de 88 para 70, e sem o apoio da tradicional base aliada, o PT não vai à esquina com esse plebiscito. Inclusive porque o partido vai da premissa para chegar à conclusão errada. Isso considerando o princípio da boa fé, bem entendido.

O acerto da premissa: a reforma não anda sem a sociedade. O equívoco da conclusão: os temas envolvidos são complexos e não podem ser submetidos ao escrutínio simplista das respostas do "sim" e do "não". Muito menos essa é uma discussão que possa ser desenvolvida sob as diretrizes dos termos bobos, enganadores e infantilizados já vistos.

A aprovação na Câmara do projeto que suspende o decreto presidencial que regulamenta os conselhos populares era uma das favas mais contadas da República. Todos os partidos, à exceção do PT, PSOL e PC do B, já haviam se manifestado contra. Restava apenas levar o assunto à votação para sacramentar o resultado. Pois foi o que fez o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, voltando de ser derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte com a ajuda do PT e o patrocínio do ex-presidente Lula ao candidato do PSD, Robinson Faria.

Não precisou fazer nada além de exercer a prerrogativa do cargo. O PMDB comandou o espetáculo, a oposição teve assim o reforço que precisava. Mas, convenhamos, a situação era por si favorável. Um caso específico que não serve como esboço do cenário das relações entre o Planalto e o Parlamento na virada do próximo mandato.

Soa precipitado tanto dizer que o grau de dificuldade será maior quanto prever que será o mesmo ou menor. Sem dúvida alguma será muito maior se a presidente achar que ganhou eleição porque fez as coisas "do jeito dela". E mais: não podendo disputar eleições, está livre de compromissos. Aí terá a companhia indesejável do diabo porque viverá um inferno.

Ocorre que exatamente por ela não representar mais expectativa de poder futuro, o PT em geral e o ex-presidente Lula em particular dificilmente deixarão que a autonomia ponha em risco do projeto do coletivo. O mais provável, portanto, é que se façam ajustes para melhorar a interlocução, dificultar a vida da oposição e não deixar a peteca cair.

Risca de giz. Se a decisão de não extraditar Henrique Pizzolato foi tomada em retaliação à negativa de atender ao pedido da Itália para que Cesare Battisti cumprisse a pena a que foi condenado em seu país, é um exercício de suposição.

O fato inescapável é que o pedido do governo brasileiro foi negado por determinação da Justiça italiana e a extradição de Battisti decidida por ato unilateral do presidente da República que contrariou sentença do Supremo Tribunal Federal.

Não é ilegal, mas é um dado a ser levado em conta no cotejo das relações institucionais nas nações democráticas.

Eliane Cantanhêde - O recorde de Dilma

- Folha de S. Paulo

A maior votação proporcional de Dilma foi no Maranhão, onde ela teve o recorde de 78,8% dos votos, perto da unanimidade.

Controlado há meio século pelo clã Sarney, o Estado votou sempre nos Sarneys ou nos indicados pela família para o palácio dos Leões e a favor do governo federal, qualquer que fosse o governo.

Votou com a ditadura militar, na reeleição de FHC em 1998, na de Lula em 2006 e agora na de Dilma, que também venceu entre os maranhenses em 2010, quando representava o continuísmo do PT e de Lula. A exceção foi em 2002, quando o Estado, puxado por Sarney, optou por Lula.

O lema no Maranhão é: "Há governo, sou a favor". Ser a favor, porém, não tem alavancado o progresso do Maranhão. Ao contrário, parece apenas consolidar dramática e melancolicamente um situação que parece não mudar nunca. É como se fosse assim mesmo, escrito nas estrelas, definido por uma divindade do mal.

Apesar de toda essa fidelidade canina ao grande líder do Estado e aos governos de plantão, o que ocorreu com o Maranhão? Só colecionou nesse meio século, década após década, recordes negativos. É o último, ou está entre os últimos, no IDH, no saneamento, no ensino de português e de matemática...

Em 2014, pela primeira vez em tantas décadas, o Maranhão esboçou um basta, vencendo o candidato dos Sarneys e do governo federal e elegendo o alvissareiro Flávio Dino (PCdoB), mas ele não terá vida fácil. Há tanta coisa para fazer, há tanto vício na máquina, há tanta carência de quadros para mudar.

À espreita, estará uma oposição pronta para dar o bote. O senador José Sarney não concorreu no Amapá, a governadora Roseana Sarney não concorreu no Maranhão, mas eles não sumiram do mapa.

Apesar da rebelião pró Dino, o Maranhão confirmou mais uma vez a vocação governista com o recorde de quase 80% para Dilma. Que, desta vez, não seja tão tristemente em vão.

Luiz Carlos Azedo - O strike da Lava-Jato

• Ninguém sabe exatamente o que o doleiro revelou, mas quem foi beneficiado pelo esquema da Petrobras tem consciência de quanto recebeu e como o dinheiro chegou

Correio Braziliense

O doleiro Alberto Youssef deixou ontem o Hospital Santa Cruz, em Curitiba, após receber alta e retornou para a sede da Polícia Federal. Fora hospitalizado após passar mal na carceragem da PF em Curitiba, com forte queda de pressão, sendo internado, na UTI coronariana, o que deu origem a uma onda de boatos à véspera das eleições, de que teria sido envenenado. Na manhã de domingo, nas redes sociais, chegou a circular que ele havia morrido.

Youssef voltará à rotina de depoimentos ao juiz federal Sérgio Moro, considerado uma das maiores autoridades do país em crimes de lavagem de dinheiro por sua atuação no caso Banestado e, depois, como auxiliar da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber no julgamento do mensalão. Preso desde março deste ano, o doleiro é acusado de chefiar um esquema de desvio e lavagem de dinheiro, estimado em R$ 10 bilhões, desvendado pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal, mas entrou em acordo com os procuradores do Ministério Público Federal (MPF) para obter o benefício da delação premiada.

O doleiro se comprometeu a dizer tudo o que sabe sobre o esquema de lavagem de dinheiro que chefiava, em troca de reduções nas penas que podem lhe ser imputadas. Segundo os bastidores da investigação, suas revelações são muito mais contundentes do que as do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, que já obteve o benefício da delação premiada. Toda a contabilidade do esquema de desvio de recursos da Petrobras em poder da Polícia Federal estaria sendo destrinchada pelo doleiro nos depoimentos ao juiz federal.

Cerca de 80 políticos com mandato estariam envolvidos no esquema de desvio de recursos, segundo as investigações da Lava-Jato. Com as planilhas, estariam também os comprovantes das transferências de recursos. A Polícia Federal, a Receita Federal e o Banco Central(BC) estão colaborando com as investigações no rastreamento dessas operações. As denúncias podem causar um strike no Congresso, com dezenas de cassações, pois as denúncias seriam acompanhada de provas documentais e não apenas dos testemunhos dos operadores do esquema. Outros envolvidos, inclusive executivos, também já estão negociando a delação premiada com o Ministério Público Federal.

Youssef deveria ontem comparecer à CPI mista que investiga a Petrobras, mas o depoimento foi suspenso por causa do estado de saúde. Se comparecesse, manteria sigilo sobre os depoimentos dados em segredo de Justiça, para não perder o benefício da delação premiada. Citar seu nome no Congresso é como falar de corda em casa de enforcado. Ninguém sabe exatamente o que ele revelou, mas quem foi beneficiado pelo esquema da Petrobras tem consciência de quanto recebeu e como o dinheiro chegou, como uma espécie de Raskólnikov, aquele personagem de Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski.

Não importa se o recurso foi usado para financiamento de campanha ou em benefício da formação de patrimônio pessoal, se o dinheiro for rastreado, a origem será o superfaturamento ou o desvio de recursos de obras da Petrobras. Boa parte da tensão existente na base governista tem a ver com o fantasma dessas investigações, uma vez que a maioria dos envolvidos seriam ligados ao PT, ao PMDB e ao PP. Há também uma grande expectativa em relação a novas prisões pela Polícia Federal, uma vez que muitos envolvidos, principalmente executivos das empresas flagradas no esquema, não têm direito a foro especial.

No Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff foi aconselhada a manter distância regulamentar em relação ao Congresso por causa da Operação Lava-Jato. A proposta de plebiscito para aprovar a reforma política e a busca de apoio junto de entidades da sociedade civil fazem parte de uma estratégia para aproveitar o desgaste do Congresso em razão de novas revelações sobre a Operação Lava-Jato. A própria reforma da equipe de governo estaria em compasso de espera devido a isso, pois há integrantes da atual equipe de governo citados nos depoimentos.