segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Opinião do dia – Aécio Neves

Minha primeira palavra é de profundo agradecimento a todos os brasileiros que participaram desta festa da democracia.

Agradecimento especial aos mais de 50 milhões de brasileiros que apontaram o caminho da mudança. Serei eternamente grato a cada um de vocês, que me permitiram voltar a sonhar e a acreditar na construção de um novo projeto. As cenas que vivi ao longo destes últimos meses jamais sairão da minha mente e do meu coração.

Mais vivo do que nunca, mais sonhador do que nunca, eu deixo esta campanha, ao final, com sentimento de que cumprimos o nosso papel. E repito, para encerrar, mais uma vez, São Paulo, que é o que retrata para mim de forma mais clara o sentimento que tenho hoje na minha alma e no meu coração. "Combati o bom combate, cumpri minha missão e guardei a fé". Muito obrigado a todos os brasileiros.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato derrotado a presidente da República, em pronunciamento conhecido o resultado das eleições de 26 de outubro de 2014.

Reeleita, Dilma prega união e reforma política

• Dilma é reeleita no pleito mais disputado da história do país e assume compromisso de dialogar com a oposição

Chico Otavio – O Globo

Com uma diferença de apenas 3,3 pontos percentuais, a presidente Dilma Rouseff (PT) foi reeleita ontem e enfrentará um país rachado em seu segundo mandato. Na mais disputada eleição presidencial da história do país, ela ganhou mais quatro anos de mandado com 51,64% dos votos (54,5 milhões de eleitores) contra 48,36% (51 milhões) dados a Aécio Neves. No primeiro pronunciamento após a vitória, fez um apelo à união e ao entendimento, afirmando não acreditar que o país esteja dividido. A presidente assumiu como primeiro compromisso do segundo mandato o diálogo com a oposição:

- Conclamo brasileiros e brasileiras a nos unir em favor do futuro da pátria, do país e do nosso povo. Não acredito que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Entendo, sim, que mobilizaram ideias e emoções às vezes contraditórias, mas movidas pela busca de um sentimento comum: um futuro melhor para o país. Em lugar de ampliar divergências e criar um fosso, tenho forte esperança de que a energia mobilizadora tenha preparado um bom terreno para construção de pontes.

Agressividade igual só em 1989
Desde 1989, quando Fernando Collor venceu Lula com uma diferença 4,9 pontos percentuais no segundo turno, o país não via uma eleição tão agressiva, marcada pelo intenso tiroteio verbal entre os dois candidatos. Além dos ataques ostensivos de ambas as partes, a disputa também foi marcada pela guerra subterrânea e apócrifa nas redes sociais. Dilma, agora, quer juntar os cacos:

- O calor da disputa deve ser transformado agora em energia construtiva de um novo momento para o país. Com a força este sentimento mobilizador, é possível encontrar pontos em comum e construir uma boa base de entendimento para fazer o país avançar. Algumas vezes, na história, resultados apertados produziram resultados mais fortes e mais rápidos do que vitórias muito amplas. É essa a nossa esperança.

Foi a terceira vez consecutiva que os brasileiros reelegeram um presidente. E a quarta vitória do PT, que completará 16 anos no poder. Dilma venceu em 15 estados, principalmente no Norte e Nordeste, enquanto Aécio bateu a petista em 12, concentrados no Sul e Centro-Oeste. O Sudeste rachou. São Paulo e Espírito Santo deram vitória ao tucano, enquanto Minas e Rio de Janeiro optaram pela petista. A maior diferença entre os dois foi registrada no Maranhão: 78,75% para Dilma e 21,25% para Aécio.

Um país com baixo crescimento e inflação em alta espera respostas urgentes do futuro governo. Pelas projeções do mercado financeiro, o Brasil só avançará 0,27% este ano e, no ano que vem, as estimativas não ultrapassam 1%. A inflação é outro nó: preços estão subindo no topo estipulado pelo governo. Em setembro, Dilma avisou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não fica. Outras mudanças são aguardadas. "Governo novo, equipe nova", garantiu a presidente durante a campanha.

Outro desafio urgente será enfrentar a seca histórica nos rios e represas que formam o Sistema Cantareira (SP). Se as chuvas abundantes do verão não vieram, a crise será desastrosa, obrigando o rodízio no abastecimento.

Dilma fez a campanha da desconstrução, misturando o discurso técnico - comparação de números - com a virulência. No primeiro turno, ameaçada por Marina Silva, acusou a adversária do PSB de incoerência ao trocar de partido três vezes e a mudar constantemente de posição. No segundo, a artilharia da presidente voltou-se principalmente para o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2001), acusou os tucanos de preconceito com os pobres, e no desempenho de Aécio em Minas no primeiro turno, quando o candidato foi derrotado pelo PT na própria casa.

Leis mais rigorosas contra caixa dois
Aécio tentou empurrá-la para a lona com a munição produzida pelos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, os deladores do esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava-a-Jato. Para reduzir os danos, ela prometeu aprovar leis mais rigorosas, como o projeto que pune os agentes públicos que enriquecem sem justificativa e o que transforme em crime a prática de caixa dois.

Para governar, Dilma terá de negociar com um Congresso que terá no senador Aécio Neves a principal referência da oposição. Na Câmara, tomarão assento 28 partidos, a maior parcela constituída de siglas médias e pequenas. PT e PMDB continuam com as maiores bancadas no Congresso Nacional, mas perderam algumas cadeiras. Em pauta, projetos importantes como a reforma política, apontada pela candidata vitoriosa como prioridade.

Aécio disse que telefonou para Dilma, para cumprimentá-la pela vitória.

- E ressaltei à presidente que a maior de suas prioridades deve ser unir o Brasil em torno de um projeto honrado e que dignifique a todos os brasileiros. Mais vivo do que nunca, mais sonhador do que nunca, deixo essa campanha com sentimento de que cumprimos nosso papel - afirmou o tucano.

O resultado de ontem, com a vitória decidida no fio do bigode, é o última de uma sucessão de emoções que o país tem vivido desde de junho do ano passado, quando o Movimento Passe Livre (MPL) convocou um protesto em São Paulo contra o aumento nas tarifas do transporte público municipal que incendiou as ruas do país. Nestes 16 meses, os brasileiros se assustaram com os black blocs, envergonharam-se com a derrota da seleção para a Alemanha por 7 a 1 e se chocaram com a morte de Eduardo Campos em acidente aéreo no dia 13 de agosto.

Confirmado o resultado, Dilma iniciou o discurso da vitória citando o ex-presidente Lula, que estava a seu lado e participou ativamente da campanha petista no segundo turno. Porém, ao contrário de 2010, quando Lula a escolheu para disputar a sucessão e praticamente assumiu o comando da campanha, Dilma desta vez chamou para si o enfrentamento dos adversários. Ela quer provar que o "poste", como era chamada há quatro anos, tem agora luz própria.

Desafio é reverter o desânimo na economia

• Presidente prometeu resgatar confiança e implantar novo ciclo de desenvolvimento
 
Rafael Moraes Moura e Tânia Monteiro – O Estado de S. Paulo

Com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, a ordem no Palácio do Planalto é tentar resgatar a confiança em torno da economia brasileira, promover um novo ciclo de desenvolvimento e aprofundar conquistas sociais. Ela terá pela frente, porém, um cenário de desacerto das contas públicas, dificuldade de relação com o Congresso Nacional e uma investigação que atinge partidos da base aliada e na qual seu próprio nome já foi citado, a Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobrás, maior estatal do País.

Dilma pretende se concentrar na parte administrativa e afastar as suspeitas do Palácio do Planalto a partir da imposição de sua agenda. Ela quer dedicar o segundo mandato a implantar uma série de medidas anunciadas no horário eleitoral como “ideias novas”. A maioria delas, no entanto, são ideias repaginadas, que já haviam sido prometidas na primeira eleição de Dilma, foram anunciadas pelo próprio governo antes da campanha eleitoral, já estão em tramitação no Congresso ou se encontram em fase inicial de implantação.

O caso mais emblemático de “ideia nova” reciclada é a promessa de implantar uma reforma política no País, compromisso que já constava no programa de governo lançado na campanha de 2010. Essa bandeira foi retomada pelo Palácio do Planalto como resposta às manifestações de junho de 2013 e relançada nesta eleição, após a resistência do Congresso à convocação de um plebiscito sobre o tema. Para se blindar dos escândalos de corrupção, o PT e o governo têm batido na tecla de acabar com o financiamento empresarial de campanha.

Promessas. O “Banda Larga Para Todos” é outro compromisso repaginado que Dilma tentará implantar no segundo mandato. Em 2010, o programa de governo da petista já previa a “extensão da banda larga para todo o País”. A promessa, agora, de acordo com a campanha do PT, é promover uma parceria público-privada para levar fibra ótica a 90% dos municípios brasileiros, oferecendo financiamentos baratos ao setor privado.

Na área de educação, Dilma apresentou como “ideais novas” a ampliação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e a implantação de um eixo focado nos jovens aprendizes, medidas que já haviam sido anunciadas pelo próprio governo meses atrás. A reforma curricular do ensino médio, outro compromisso apresentado durante a campanha, está prevista em resolução aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em maio de 2011. Desde 2009, o Ministério da Educação (MEC) conta com o programa Ensino Médio Inovador, que apoia o desenvolvimento de mudanças curriculares. Durante a campanha, Dilma falou em “dar estímulos ao professor”, mas o tema não foi aprofundado.

Impunidade. Em meio à sucessão de escândalos de corrupção envolvendo a Petrobrás, a presidente reeleita lançou durante a campanha um pacote com cinco iniciativas contra a impunidade, como modificar a Lei das Eleições e tornar crime a prática de caixa dois. Ao menos três delas correspondem, integral ou parcialmente, a propostas que já tramitam no Congresso.

Entre as ideais novas apresentadas pela candidata, estão a promessa de implantar o Mais Especialidades, que criará uma rede de clínicas e serviços especializados para o atendimento da população. A iniciativa dá prosseguimento aos esforços para melhorar a saúde pública no País, uma das áreas mais mal avaliadas do governo.

N a área da segurança, a petista ainda pretende criar centros de comando e controle em todas as capitais brasileiras, replicando a experiência nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo.

Mudanças em ministérios serão feitas a médio prazo

• Fazenda, Casa Civil, Comunicações e Minas e Energia são pastas com prováveis substituições, além do BNDES

Agora reeleita, a presidente Dilma Rousseff terá que se debruçar na montagem de seu novo ministério, mas interlocutores do governo dizem que ela ainda deve demorar um pouco para anunciar o seu novo time.

Especulações em torno dos nomes do ministro licenciado da Casa Civil, Aloizio Mercadante; do presidente do BNDES, Luciano Coutinho; do empresário Josué Gomes da Silva (Coteminas), e do economista Nelson Barbosa para substituir o ministro da Fazenda, Guido Mantega, circulam em Brasília.

A escolha de um ministro-empresário, porém, como Josué, é vista como uma aposta arriscada, já que à frente do Ministério da Fazenda ele teria acesso a informações privilegiadas de empresas concorrentes, além de ter sob sua responsabilidade medidas que poderiam beneficiar o seu ramo de negócios. O convite para Josué é mais provável para o Desenvolvimento.

Mercadante não está fora do jogo para assumir o ministério da Fazenda, mas também pode preferir permanecer na Casa Civil, mais próximo da presidente e com domínio sobre toda a Esplanada dos Ministérios.

Luciano Coutinho, embora também cotado para a Fazenda, tem chance de continuar no BNDES, mas com mudanças na diretoria para o segundo mandato. Paulo Rogério Caffarelli, secretário executivo do Ministério da Fazenda, é um dos mais cotados a ocupar a presidência do Banco do Brasil (BB) ou a do BNDES. Ele é o principal interlocutor com os bancos públicos e privados para os projetos de concessão de infraestrutura.

O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, tem chances de ficar no cargo com a reeleição de Dilma, pelo menos nos primeiros meses de 2015, fazendo a transição da gestão da política fiscal. Depois, ele deve continuar no governo em outra função, mesmo sendo uma das autoridades mais criticadas pelo mercado.

Já o ministério de Minas e Energia deve ser alvo de grande disputa. Citado pelo ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa como membro do esquema de desvio de recursos da Petrobrás, o atual ministro, Edison Lobão, não deve permanecer no cargo. Ganhou força o grupo do PMDB de Alagoas, liderado pelo senador Renan Calheiros. No Ministério das Comunicações, a percepção é de que o tempo de Paulo Bernardo na pasta está chegando mesmo ao seu fim. O ministério pode deixar de figurar como um posto estratégico do PT e voltar ao balcão de negociação com a base aliada.

Primeiros sinais serão decisivos para retomada da confiança

• Questão fiscal é prioritária; País pode ficar sem trégua do investidor no início do mandato se não houver estratégia sustentável

O baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) colocou a economia brasileira no pronto-socorro, o que exigirá uma agenda de emergência durante o período da transição para afastar o horizonte de crise. O novo governo terá de resolver questões sensíveis que ficaram na geladeira nos últimos meses para não prejudicar a campanha eleitoral.

Os sinais que o governo emitirá logo de início são considerados decisivos para aplacar as incertezas sobre o cenário econômico e abrir caminho para a recuperação do crescimento nos primeiros meses de 2015. De acordo com integrantes das duas campanhas, a recuperação da confiança geral no País é tida como “prioridade número 1”.

A agenda inclui, de imediato, o ataque à questão fiscal, um dos pontos de maior fragilidade do País diante da ameaça real de as contas públicas fecharem o ano com o pior resultado dos últimos 17 anos. Não está descartado o risco de se chegar ao fim de 2014 com superávit próximo de zero ou até mesmo déficit.

Levantamento feito pelo Estado lista pelo menos 15 problemas que precisam de solução até dezembro. Dependendo da velocidade de encaminhamento dessas matérias pendentes, a economia pode iniciar 2015 melhor ou pior.

Como efeito em cascata, o fraco desempenho do PIB impediu a alta da arrecadação, tornando complexas as promessas tanto de Dilma quanto de Aécio de “apertar o cinto”. Será preciso negociar a votação do Orçamento num quadro de previsão de crescimento menor (economistas do mercado esperam alta de apenas 1% em 2015). As receitas terão de ser recalculadas. E o impacto das medidas adotadas nos meses de eleição precisará entrar na conta.

Trégua. Sem uma estratégia sustentável, o próximo governo pode perder a trégua que sempre é dada pelos investidores em início de governo, apontam os especialistas. O risco será de um novo rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de rating, o que afastaria o ingresso de capital externo.

Será preciso tomar decisões sobre duas reformas no campo tributário: ICMS e do PIS e Cofins. Outro ponto em suspenso é o reajuste dos combustíveis. A despeito das dificuldades financeiras da Petrobrás, o governo adiou o aumento da gasolina para depois das eleições.

Para reforçar a arrecadação, também está na mesa a possibilidade de aumento da Cide, tributo que incide sobre os combustíveis. O governo terá de buscar recursos para bancar o custo adicional de energia. Já se sabe que os R$ 9 bilhões previstos não serão suficientes.

Se não podem ter solução para já, outros problemas conjunturais terão de receber um norte, como a convergência da inflação para o centro da meta de 4,5% ao ano, a modulação da política monetária para equilibrar o crescimento do PIB e os preços sob controle, a intervenção no mercado de dólares, a crise da indústria e o apoio às exportações, para tirar a combalida balança brasileira do saldo comercial deficitário.

Dilma vence com margem apertada e promete diálogo

• Presidente ganha novo mandato e dá ao PT chance de ficar 16 anos no poder

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA e BELO HORIZONTE - Dilma Vana Rousseff, 66, foi reeleita neste domingo para um segundo mandato como presidente da República. Ao final da disputa presidencial mais acirrada da história brasileira, ela recebeu nas urnas 54,5 milhões de votos, o equivalente a 51,6% dos válidos.

Seu adversário, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), 54, obteve 51 milhões de votos, 48,4% dos válidos. A diferença entre os dois é a menor observada entre dois finalistas de uma eleição presidencial desde o fim da ditadura militar e a redemocratização do país.

A reeleição de Dilma representa um triunfo de ordem pessoal e outro de natureza política. Criticada por ministros do seu governo e dirigentes do próprio partido, o PT, a presidente venceu apesar do desempenho ruim na economia e ao final de uma campanha marcada pelo desejo de mudança da maioria do eleitorado.

A vitória de Dilma também é um troféu para o PT, que chegou ao poder com Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e agora ganhou o direito de ocupar o Palácio do Planalto por mais quatro anos, completando 16 anos no poder. Nenhuma outra força política do país alcançou essa marca desde a volta da democracia. Esta foi a sexta eleição presidencial em que petistas e tucanos se enfrentaram na final, e a quarta que o PT venceu.

"Esta presidenta está disposta ao diálogo e este é o meu primeiro compromisso", afirmou Dilma após a confirmação de sua reeleição, num discurso em que rejeitou a ideia de que o país saiu dividido da eleição por causa da agressividade da campanha eleitoral.

O maior desafio da presidente reeleita será recuperar a credibilidade de sua política econômica e reconquistar a confiança dos investidores. Outro será recuperar o apoio de partidos que a apoiavam no Congresso e se afastaram do governo durante a campanha.

As negociações ocorrerão em meio à tensão causada pelas investigações do escândalo na Petrobras, estimuladas pelos depoimentos de um ex-diretor da estatal e um doleiro que acusam o PT e seus aliados de montar um esquema para desviar recursos da empresa para os partidos que apoiam Dilma no Congresso.

Aécio diz que 'maior de todas as prioridades' é unir o país

• Tucano deseja sucesso a Dilma e afirma que sai da eleição "mais vivo do que nunca"

Maria Lima e Cristiane Jungblut – O Globo

BELO HORIZONTE - A primeira palavra do candidato do PSDB derrotado no segundo turno da eleição presidencial, Aécio Neves, foi um alerta de que a presidente Dilma Rousseff tem a tarefa de unir o Brasil rachado, numa votação apertadíssima. Cercado por aliados, ele fez um rápido pronunciamento para anunciar que sai da disputa "mais vivo do que nunca". O consenso na oposição é que, apesar de perder por uma margem muito pequena, em uma campanha de pesados ataques, o tucano recebeu 50 milhões de brasileiros que querem mudanças e sai como o maior líder da oposição no país.

- Cumprimentei agora há pouco, por telefone, a presidente reeleita. E desejei a ela sucesso na condução do seu próximo governo. E ressaltei: considero que a maior de todas as prioridades deve ser unir o Brasil em torno de um projeto honrado e que dignifique a todos os brasileiros

Segundo aliados tucanos, o próximo passo é esfriar a cabeça e articular uma dura oposição a PT e ao governo. Aécio iniciou sua fala agradecendo a sua votação no segundo turno:

- Minha primeira palavra é de profundo agradecimento a todos os brasileiros que participaram desta festa da democracia. Agradecimento especial aos mais de 50 milhões de brasileiros que apontaram o caminho da mudança. Serei eternamente grato a cada um de vocês, que me permitiram voltar a sonhar e a acreditar na construção de um novo projeto. As cenas que vivi ao longo destes últimos meses jamais sairão da minha mente e do meu coração.

O tucano fez um agradecimento especial a seu vice, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), chamado por ele de "um verdadeiro guerreiro". Aécio repetiu a passagem de São Paulo, inscrita no túmulo da avó Risoleta Neves, que, segundo ele, retrata o sentimento da sua alma e coração neste momento:

- Mais vivo do que nunca, mais sonhador do que nunca, eu deixo esta campanha, ao final, com sentimento de que cumprimos o nosso papel. E repito, para encerrar, mais uma vez, São Paulo, que é o que retrata para mim de forma mais clara o sentimento que tenho hoje na minha alma e no meu coração. "Combati o bom combate, cumpri minha missão e guardei a fé". Muito obrigado a todos os brasileiros.

O coordenador da campanha, Agripino Maia (DEM), disse que Aécio foi aplaudido pelos amigos e companheiros que acompanhavam a apuração com ele na residência da irmã, Andréia Neves.

- Fiz uma campanha honrada. Bola para frente. É isso mesmo. É o jogo - disse naquele momento.

Para os aliados, Aécio foi quem mais conseguiu chegar perto da vitória da oposição, nos últimos 12 anos, e conseguiu rearticular a oposição.

- Aécio foi um herói. O resultado das urnas mostram que Dilma começa um segundo mandato em contagem regressiva. O país está dividido ao meio e 50 milhões de brasileiros disseram que não aceitam mais a continuidade desse governo nos campos político, econômico e ético - disse Agripino.

Apesar do discurso de unidade de Aécio, o senador eleito José Serra (PSDB-SP) disse que a oposição não terá contemplação com os desvios do governo Dilma:

- É a oposição que não vai ter nenhuma contemplação com os desvios de natureza moral e de natureza administrativa. E sempre apontando caminhos. A oposição tem que atuar, combatendo e sempre olhando o interesse do futuro do país, a unidade do país. E não vamos atuar no quanto pior, melhor. O PSDB não tem essa natureza - disse Serra.

Serra acrescentou que a oposição sai fortalecida e tem estados como São Paulo no centro de sua atuação:

- Aquilo que se chama oposição no Brasil tem uma força muito grande, e vamos usar essa força em benefício do Brasil. Vamos jogar todo esse peso no enfrentamento dessas questões, especialmente da economia.

Serra critica métodos do PT
Serra criticou os métodos usados pelo PT nesta campanha eleitoral:

- Não foi a primeira que eles fizeram. Eles têm esse método de atuação, não só no governo, mas no processo eleitoral, mas saímos de cabeça erguida e com uma quantidade de votos maior ainda e com muita determinação de combatermos tudo aquilo que consideramos errado.

O deputado Geddel Vieira Lima (PMDB -BA) elogiou o desempenho da oposição:

- Não foi uma eleição da qual a gente tenha que se envergonhar.

Aécio chegou ao hotel para o curto pronunciamento ao lado de tucanos e democratas. Mais cedo, o clima no local onde ele acompanhou a votação passou da euforia à tristeza, depois da confirmação da vitória de Dilma, reeleita. Alguns eleitores abriram uma faixa com a frase: "Não vamos desistir do Brasil", dita pelo então candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, na entrevista ao "Jornal Nacional" na véspera de sua morte, em acidente aéreo.

Na saída do prédio da irmã, Aécio acenou de dentro do carro para o grupo de eleitores. Ele comentou com assessores que achara "simpática" a faixa. O tucano acenou, deu adeus com as duas mãos e fez até sinal de positivo.

PSDB não fará oposição destrutiva, afirma Serra

• Senador Álvaro Dias afirma que partido perdeu a batalha pela comunicação

• Políticos do DEM elogiam desempenho de Aécio; em São Paulo, derrota é recebida com lágrimas na sede tucana

Daniela Lima Lígia Mesquita e Paulo Peixoto - Folha de S. Paulo

BELO HORIZONTE - O ex-governador José Serra, eleito para o Senado, afirmou que o PSDB não fará nunca uma oposição "destrutiva, do tipo quanto pior, melhor" e que no Congresso o partido continuará combatendo "tudo o que combateu nesta campanha". Sobre o futuro, Serra disse que o que cabe "é colocar o país no rumo".

O senador Álvaro Dias (PSDB), reeleito no Paraná, disse que "o país ficou dividido politicamente. Quem ganhou, ganhou em função de detalhes e da arte da comunicação. Nós perdemos a batalha da comunicação e não conseguimos dar consistência no sentimento de mudança do país".

O governador eleito de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, lamentou a derrota em Minas: "Minas foi a grande surpresa. Era um Estado onde a gente esperava diferença bem maior". Disse: "Agora é tocar em frente".

Para o senador José Agripino Maia (DEM), um dos coordenadores da campanha de Aécio, o tucano seria eleito se o segundo turno tivesse uma semana a mais: "Aécio foi um gigante! Os números mostram que esse novo governo do PT começa com contagem regressiva. A oposição tem que ficar orgulhosa", afirmou.

Outro integrante do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto, disse que Aécio termina esta eleição com "um capital político extraordinário". "Ele enfrentou uma das campanhas mais duras que já tivemos. Agora é ele quem lidera nossa oposição."

Lágrimas
A vitória da presidente Dilma Rousseff (PT) neste domingo (26) foi recebida com lágrimas e indignação na sede do PSDB em São Paulo. Após a derrota de Aécio Neves (PSDB) ser oficializada, pouco depois das 20h, o governador Geraldo Alckmin cancelou o pronunciamento público que faria na sede do partido.

Apesar disso, o coordenador de campanha de Alckmin, Edson Aparecido, destacou a grande votação de Aécio: "O PSDB teve seu melhor resultado nos últimos 12 anos, o que mostra que o partido está conectado com a sociedade e representa milhões de brasileiros".

A sede do PSDB ficou esvaziada desde o final da tarde, sem nenhuma liderança importante do partido. O presidente do partido em São Paulo, deputado Duarte Nogueira, disse depois que "avançamos na adversidade, e o PSDB cresceu com Aécio. Quem ganha governa, quem perde fiscaliza. Estamos prontos para isso". Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso preferiu ficar em seu apartamento, na zona oeste.

Cerca de cem militantes e simpatizantes do partido apareceram neste domingo na sede do PSDB. Eles vaiaram a petista e puxaram gritos anti-PT. "A nossa bandeira jamais será vermelha", cantavam em frente a um telão que mostrava o resultado final da apuração. Quando apareceram na TV, os números de Minas Gerais e Pernambuco foram bastante vaiados pelos presentes, que puxaram palmas para São Paulo

Dilma deve enfrentar governo difícil, diz FHC

• Ex-presidente cita Congresso dividido e oposição com mais força política

• Álvaro Dias afirma que partido perdeu 'batalha da comunicação'; em SP, derrota é recebida com lágrimas na sede tucana

- Folha de S. Paulo 

SÃO PAULO e BELO HORIZONTE - Principal fiador da candidatura de Aécio Neves (PSDB) à sucessão presidencial, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso previu neste domingo (26) um segundo mandato difícil para a presidente Dilma Rousseff (PT).

Segundo o tucano, a petista deve enfrentar nos próximos quatro anos um Congresso Nacional "dividido" e uma oposição com mais força política.

Na capital paulista, onde acompanhou em seu apartamento a apuração da disputa presidencial, o tucano considerou que a vitória apertada da presidente é resultado de uma demanda da população por mudança, um sinal para que o governo petista passe por reorientação de rumo.

"Isso deve dar um sinal à presidente Dilma Rousseff de que ela deve mudar de caminho. Esse caminho de ficar atacando e denegrindo só faz mal ao país", disse o tucano no edifício onde mora, no bairro de Higienópolis.

O ex-presidente atribuiu a derrota do PSDB a uma campanha eleitoral agressiva feita pela equipe da petista.

"Eu tenho experiência de vida política e nunca tinha visto um esforço de destruição de candidaturas como o que foi feito com a Marina [Silva] e com o Aécio Neves."

Para ele, o senador mineiro sai das urnas como uma importante força política, mas ainda é cedo para discutir uma eventual candidatura dele nas eleições de 2018.

Em Belo Horizonte, o ex-governador de São Paulo José Serra, eleito senador, também considerou que a presidente enfrentará uma oposição mais dura no Congresso Nacional. Segundo ele, o PSDB não fará uma oposição "destrutiva", mas continuará combatendo "tudo o que combateu nesta campanha".

Autocrítica
Em agradecimento ao resultado que obteve em São Paulo, 64% dos votos válidos, Aécio telefonou na noite do domingo (26) ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e aos coordenadores de sua campanha eleitoral no Estado.

Alckmin, que se cacifou no primeiro turno como um nome forte para a disputa presidencial de 2018, não foi a Belo Horizonte e não fez pronunciamento público sobre o resultado da eleição.

A avaliação dos principais dirigentes tucanos é que o desempenho de Aécio em Minas Gerais, onde foi derrotado por Dilma, é um dos principais responsáveis pela sua derrota. "Infelizmente perdemos em Minas. Nós vamos com serenidade avaliar. Eu estou muito triste. Nem na nossa pior projeção nem na construção do pior cenário a gente pensaria em um resultado desse", disse o presidente do PSDB-MG, Marcus Pestana.

O senador Álvaro Dias (PSDB), reeleito no Paraná, disse que "o país ficou dividido politicamente. Quem ganhou ganhou em razão de detalhes e da arte da comunicação. Nós perdemos a batalha da comunicação e não conseguimos dar consistência no sentimento de mudança do país".

A vitória de Dilma foi recebida com lágrimas e indignação na sede do PSDB em São Paulo que ficou esvaziada desde o final da tarde, sem nenhuma liderança importante do partido.

Marina também prega necessidade de evitar divisões

• Sobre o seu futuro, ex-senadora diz que voltará a militar por suas causas "de cabeça erguida"

José Pinheiro – O Globo

RIO BRANCO - A ex-senadora Marina Silva, candidata do PSB à Presidência e terceira colocada no primeiro turno, prometeu voltar a militância, mas evitou falar sobre a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Pela manhã, no Acre, ela afirmou que o eleito precisa unir o Brasil:

- Independente do resultado, é fundamental que, depois dessas eleições, se tenha uma postura de unir o Brasil e não permitir que o nosso país seja dividido entre Norte e Nordeste, Sul e Sudeste.

À noite, quando foi divulgado o resultado da apuração, Marina preferiu desconversar:

- Ainda preciso pensar. Hoje não vou comentar sobre o assunto.

Marina apoiou o tucano Aécio Neves. Ela chegou à sede da Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Rio Branco, para a votação por volta de 9h, acompanhada do marido, Fábio Vaz e do pai, Pedro Augusto da Silva.

- Assim que terminar as eleições, volto para as minhas causas. Volto para a militância de cabeça erguida - disse.

"Fui muito atacada, desconstruída"

Em tom de desabafo, Marina disse que foi "desconstruída" nestas eleições, mas afirmou que não usou o ódio para atacar adversários políticos. Segundo ela, a decisão de apoiar Aécio se deveu ao compromisso dele de institucionalizar programas sociais como o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família:

- Fui muito atacada nestas eleições, muito desconstruída nesta campanha. Não foi possível ganhar ganhando, mas perdemos ganhando porque não mentimos, não atacamos, mantivemos os princípios. Não desconstruímos ninguém. Não fizemos a campanha do ódio - disse a ex-candidata do PSB.

Sobre seu futuro político, Marina frisou que continuará sua luta em defesa do meio ambiente. Disse que não se prenderá às eleições e destacou que faz política por ideias. Ela também voltou a defender a reforma política.

- Precisamos melhorar a qualidade da política. Temos que governar com os melhores. É assim que se faz nas democracias desenvolvidas - salientou.

Críticas à política ambiental
Marina criticou a política ambiental brasileira do governo Dilma. Segundo ela, o desmatamento tem crescido no Brasil nos últimos dez anos. Ela, que foi ministra do Meio Ambiente no governo de Lula, disse que o número de terras indígenas e unidades de conservação é insignificante no governo Dilma.

- O desmatamento voltou a crescer no Brasil, depois de ter caído duramente dez anos. A proteção ao meio ambiente é o grande desafio para conter as mudanças climáticas. O Brasil precisa aumentar a produção por produtividade e não por expansão predatória da fronteira agrícola - ressaltou.

Marina comentou, ainda sobre os ataques à Editora Abril. Disse que defende a liberdade de expressão e que os fatos precisam ser apurados para que a Justiça possa julgar o caso:

- Sou favorável à liberdade de expressão e que a Justiça dê o seu veredito – completou.

Oposição organiza discurso e cobra mais ações do governo

• Serra fala em ação 'sem contemplação com as lambanças'; Fernando Henrique acusa tentativa 'de dividir o País'

P. V., Marcelo Portela, Elder Ogliari, Gabriela Lara e Ivan Marsiglia - O Estado de S. Paulo

Após o resultado das urnas, líderes tucanos prometeram empreender uma oposição "firme" ao novo governo de Dilma Rousseff. O senador eleito José Serra (PSDB) avaliou como "espetacular" o desempenho do correligionário Aécio Neves na campanha presidencial e disse que o partido fará oposição "sem contemplação com as lambanças".

"Vamos pensar no caminho do PSDB em fevereiro, quando reabre o Congresso, e em janeiro quando muitos governadores vão assumir ou reassumir", disse Serra em Belo Horizonte, onde acompanhou o discurso do senador mineiro.

O coordenador da campanha tucana, senador José Argipino (DEM-RN), disse que Aécio e seu grupo farão "oposição enérgica" à nova gestão Dilma. "O número de votos que Aécio obteve significam um imenso aumento da oposição e o início da contagem regressiva para o PT", afirmou.

Ao votar, em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu um governo de união nacional a partir de primeiro de janeiro de 2015. "Essa tentativa que foi feita, de dividir o País por classe social, região, cor, não é aceitável", declarou o ex-presidente, na saída da seção eleitoral, no bairro de Higienópolis.

'Meditação'. Em Porto Alegre, o senador Pedro Simon (PMDB) manifestou tristeza e perplexidade com o resultado da eleição presidencial por entender que o Brasil ficou dividido ao meio.

"O País fica em uma situação muito difícil, rachou de maneira triste", disse, o mesmo tempo em que o PMDB gaúcho, que apoiou Aécio Neves (PSDB) no segundo turno, celebrava a vitória de José Ivo Sartori para o governo do Estado (mais informações na pág. H24). "Temos de fazer uma profunda meditação", propôs, prevendo que Dilma Rousseff terá dificuldades para compor seu novo governo em meio às denúncias de irregularidades na Petrobrás. "Será uma dificuldade quase dramática, para o governo e para a oposição, para o Brasil inteiro, ninguém pode se sentir feliz vivendo o que estamos vivendo", comentou.

"Meu Deus, alguma coisa tinha de ser feita, porque eu tenho muito medo que esse estilo de campanha, essa radicalização, esse tipo de linguagem que está sendo usada, para quem está no governo, para quem está na oposição...", disse o senador, sem concluir a frase. "Se não vier alguém que busque o entendimento, um pensamento em torno do qual a gente vá, fica tudo muito ruim".

Simon afirmou que o País passa por um momento em que "falta credibilidade de todos, do governo, da oposição, do Congresso, do Judiciário". De acordo com o senador, o Brasil perdeu a disposição de acreditar.

Presidente reeleita vai encontrar um Senado hostil

• Apesar de ter tido a bancada reduzida, o PSDB contará com a participação do adversário da petista Aécio Neves

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

Com a derrota do PSDB na disputa presidencial, a presidente Dilma Rousseff deverá enfrentar uma oposição reforçada por nomes tradicionais, com histórico no Executivo e no Congresso e tende a ser mais aguerrida do que a enfrentada pela petista no seu primeiro mandato e muito concentrada no Senado.

O motivo é que, apesar de ter tido a bancada reduzida de 12 para dez senadores, o PSDB contará com a participação do adversário da petista na disputa pelo Palácio do Planalto, Aécio Neves, e do candidato derrotado à vice, Aloysio Nunes.

Juntam-se a eles tucanos que governaram os principais Estados do país como José Serra (São Paulo), Antônio Anastasia (Minas Gerais), Tasso Jereissati (Ceará). A bancada do Senado também contará com a aliança do PSB, legenda que mais conquistou cadeiras na Casa chegando a sete senadores, e dos recém-chegados como o ex-líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO) e David Alcolumbre (DEM-AP).

Além disso, a Câmara, onde a própria base aliada de Dilma costuma dar muito mais trabalho do que a oposição, estará muito fragmentada após a eleição de deputados egressos de 28 partidos.

“A Câmara ficou muito retalhada com 28 partidos e ficará dividia em relação às ações de plenário e de pauta. Acho que o Senado Federal vai ter uma concentração maior dos debates com uma bancada de parlamentares opositores que são conhecedores do regimento, são pessoas que estudam os temas, além de ter o fato de alguns já terem sido do Executivo. Acho que esse grupo vai dar o tom na Casa num debate de alto nível e formador de opinião”, ressaltou o senador eleito, Ronaldo Caiado.

Na avaliação dele, as denúncias envolvendo a Petrobrás devem “contaminar” o início das atividades no Congresso.

“Isso de imediato vai causar um impacto muito grande na Câmara e no Senado porque você vai ter vários deputados e senadores que, infelizmente, vão passar por um processo de cassação, que é inevitável diante de todas essas denuncias que estão apresentadas”, ressaltou.

Presidente vence agora, mas deve enfrentar 3º turno tão ou mais difícil

Igor Gielow - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Dilma Rousseff venceu as mais disputadas eleições presidenciais desde a redemocratização, mas agora deverá enfrentar um "terceiro turno" tão ou mais difícil.

Na economia, esta segunda-feira (27) deve trazer uma grande turbulência que já está "precificada", para ficar no jargão do mercado financeiro. Não será surpresa se o dólar chegar a R$ 3.

Tudo ciranda normal, pode-se argumentar. Mas a pressão inflacionária do dólar alto vai dificultar ainda mais o cenário geral. Uma resposta melhor que a demissão prévia de Guido Mantega da Fazenda será esperada.

Vem ao encontro disso a crise política decorrente do escândalo da Petrobras. A partir do fim do ano deverá ficar mais sólido o que hoje é indício, e não há quem não considere o caso muito mais grave do que o do mensalão.

Num cenário extremo e a se confirmar o que diz a delação premiada, Dilma e Lula podem ser envolvidos. Mesmo sem isso, o PT sangrará de forma profusa, depois de uma eleição em que a sigla e corrupção eram associadas em pesquisas qualitativas.

Outros partidos aliados, PMDB à frente, também sofrerão baixas. Isso deixará o já fragmentário quadro de apoio parlamentar ao governo mais volátil --logo, propenso a apetites fisiológicos.

Politicamente, ainda que interlocutores neguem chance de ruptura, a tendência é a de uma tensão maior entre Dilma e seu criador político, Luiz Inácio Lula da Silva.

Apesar de ter reaparecido na campanha em sua reta final, um certo afastamento foi a marca do relacionamento entre os dois no governo e na disputa eleitoral. Alguma equação deverá ocorrer, visando a disputa de 2018.

O problema é que, para chegar lá, o PT precisa de Dilma e de um segundo mandato melhor que o primeiro, embora o cenário sugira dias ainda mais turbulentos.

Em favor de Dilma, há o argumento de que não se discute com resultados. Terá a autonomia que não teve em 2010-2011 na hora de nomear seu ministério, e tenderá a endurecer a relação com o PMDB e outros aliados.

Sem a pressão da reeleição, deverá aprofundar suas convicções, e é previsível mais atritos com a mídia.

Uma incógnita é a temperatura de um eleitorado dividido. O arrefecimento dos ânimos, registrado em outros pleitos, irá se repetir? Ou a "Kulturkampf" do "nós contra eles" alimentada pelo PT por 12 anos e amplificada pelos dois lados nas redes sociais irá espraiar para as ruas?

Luiz Carlos Azedo - E agora, presidente?

• Há uma grande expectativa da população e dos agentes econômicos em relação aos próximos passos da presidente reeleita, principalmente em relação à economia

- Correio Braziliense

Chovia em Brasília na noite de ontem quando o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro José Antônio Dias Toffoli, anunciou que a presidente Dilma Rousseff (PT) fora reeleita presidente do Brasil. Foi uma vitória relativamente apertada, numa campanha radicalizada, que dividiu o país e deixou sequelas, pelo clima odiento criado na sociedade, até mesmo em âmbito familiar. Mas foi também uma grande vitória da democracia, e isso é mais importante, pois as eleições transcorreram em clima de normalidade e ninguém contesta o seu resultado, devido à lisura de pleito, o que não seria possível se não tivéssemos um sistema eleitoral democrático, robusto, à prova de fraudes.

Dilma Rousseff foi confirmada no cargo pela inequívoca vontade popular. Está, porém, diante de grandes desafios: o baixo crescimento da economia, a inflação rompendo o teto da meta, a desorganização das contas públicas e a insatisfação de quase a metade da população — a maioria nas regiões meridionais do país — exigem respostas imediatas. A faxina que ensaiou fazer no começo de seu primeiro mandato agora urge, ainda mais, diante da sucessão de escândalos que quase inviabilizou a reeleição. Enfrenta uma situação nebulosa por causa da Operação Lava-Jato, na qual algumas dezenas de políticos e autoridades estariam envolvidos em desvios de recursos da Petrobras.

A oposição emerge das urnas fortalecida, seja pela expressiva votação de seu candidato no segundo turno, o senador Aécio Neves (PSDB), seja pela vitória eleitoral de seus candidatos a governador em estados importantes da Federação. Diante da realidade das urnas, cabe à oposição dar um crédito de confiança à presidente eleita, sem abdicar do papel de criticar e fiscalizar o governo. Dilma foi reeleita sem anunciar um novo programa, apenas com base nos 12 anos de administração petista e de ideias e propostas balizadas pelo marketing eleitoral. Há dois caminhos a seguir: reiterar a estratégia que vem adotando no governo, a qual dividiu o país, ou corrigir os rumos ao montar uma nova equipe ministerial e promover a reconciliação da sociedade.

A retórica da “luta de classes” que norteou a campanha petista é de natureza ideológica e não resolve os problemas do país, embora tenha mobilizado a militância do PT. Prosseguir nessa rota seria o caminho para dividir ainda mais a sociedade e nos levaria à situação semelhante a dos nossos vizinhos da Argentina e da Venezuela. A agenda nacional é objetiva, exige o controle da inflação e um ajuste nas contas públicas para a retomada do crescimento; a melhoria da qualidade do ensino e investimentos em infraestrutura para aumentar a produtividade e a competitividade da nossa economia; melhores serviços à população nas áreas de saúde, transportes e segurança pública; e o combate à corrupção na administração direta e nas empresas estatais, sobretudo a Petrobras.

Divisor de águas
Muito se falou na campanha eleitoral sobre tudo isso, mas é preciso pôr as propostas em prática. Há uma grande expectativa da população e dos agentes econômicos em relação aos próximos passos da presidente eleita, principalmente em relação à economia. O atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi “demitido” no exercício das próprias funções. Ninguém sabe ainda quem ocupará seu lugar na Esplanada. A definição em relação ao futuro ocupante desse cargo será um divisor de águas. É uma das grandes expectativas sobre o novo mandato. Hoje mesmo, na Bolsa de Valores, teremos os sinais do mercado em relação ao resultado da eleição.

Uma das interrogações do resultado das urnas é em relação ao Congresso, devido à mudança de composição do Senado e da Câmara. Na primeira Casa, estarão alguns dos principais lideres da oposição, entre eles Aécio Neves (PSDB-MG) e José Serra (PSDB-SP), ambos derrotados por Dilma. Com José Sarney fora do Senado, o esteio governista será o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que tentará a reeleição para o comando da Casa. Na Câmara, a sucessão de Henrique Alves (PMDB-RN), o atual presidente, que perdeu as eleições para o governo no Rio Grande do Norte, já acirra os ânimos entre as duas principais forças da base de Dilma: o PT e o PMDB.

Durante a campanha, Dilma reiteradas vezes defendeu a ideia de uma reforma política, por meio de um plebiscito, cujos contornos não são claros. Eis outro ponto de interrogação. Logo após ser eleita, Dilma disse que não acredita na divisão do país e que a energia positiva da disputa eleitoral servirá de base para o país avançar. “Algumas vezes, resultados apertados produziram mudanças mais rápidas”, disse, ao agradecer aos eleitores e aliados pela vitória nas urnas. Fez um chamamento ao diálogo com a oposição em torno dessa reforma, mas não esclareceu os termos das mudanças que propõe.

Ricardo Noblat - Viva o povo

- O Globo

"Não vamos desistir do Brasil. " Eduardo Campos

No domingo 21 de abril de 1985, o presidente Tancredo Neves agonizava em um hospital de São Paulo enquanto eu me preparava para escrever a coluna do "Jornal do Brasil" chamada "Coisas da política". Tancredo poderia morrer a qualquer hora. A coluna deveria ficar pronta até as 20h. No primeiro parágrafo da coluna intitulada "Viva Tancredo", ele estava vivo. Foi morrendo. Morreu no último parágrafo.

SÃO 14H30M DESTE domingo 26 de outubro de 2014. Tudo que sei até agora é que nada sei sobre a eleição ainda em curso do presidente da República — Dilma ou Aécio Neves. O Ibope, ontem, conferiu a Dilma seis pontos de vantagem, para além do empate técnico. O Datafolha, quatro. Empate técnico, pois, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para lá ou para cá. O Sensus pôs Aécio quatro pontos na frente.

ESPANTADO COM a discrepância dos resultados das pesquisas? Esse é o ramo do crime perfeito. Se você acertar, acertou. Louve-se sua competência. Se errar, foi o distinto eleitor que resolveu mudar de posição no último minuto. A culpa é dele. Instituto que faz pesquisas para veículos de comunicação deveria se declarar impedido de fazer pesquisas simultaneamente para partidos políticos. Pega mal. Torna-se suspeito.

SÃO 15H28M. Avisaram-me que a coluna deve ser fechada, no máximo, às 20h. A Justiça Eleitoral prevê que o primeiro boletim com resultados parciais da eleição será divulgado às 20h. Se estivermos, de fato, diante de uma eleição apertada, como será? O que faço? Ponho um ponto final nesta coluna sem dizer quem venceu? Você me desculpará?

FALANDO EM desculpa, Lula chamou a revista "Veja" de leviana por ter publicado trechos da confissão à Justiça do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema que desviou mais de R$ 10 bilhões da Petrobras para enriquecer políticos. Youssef revelou que Lula e Dilma sabiam de tudo. Outro dia, Lula explicou que leviana tem a ver com prostituta. E recriminou Aécio por ter chamado Dilma de leviana.

MENTIRA DE LULA — mais uma das tantas que ele propaga quase todo dia. Leviana quer dizer imprudente, sem seriedade. Faz sentido chamar Dilma de leviana. Ela sugeriu, por exemplo, que Aécio bate em mulher. Não foi uma leviandade? Dilma ouviu militantes do PT gritarem em coro que Aécio é viciado em cocaína. Leviandade de quem gritou. Cumplicidade de quem ouviu sem protestar.

SÃO QUASE 17h. A votação está chegando ao fim — menos no Acre, com seu fuso horário de menos de três horas em relação ao horário de Brasília. A essa altura, Dilma e Aécio fazem uma ideia de quem ganhará. Será? Choveu no Nordeste? A abstenção ali, no maior reduto eleitoral de Dilma, foi maior do que o esperado? E em Minas Gerais, onde Aécio perdeu a eleição para o governo?

VENÇA QUEM vencer, Dilma e o PT enfrentarão tempos difíceis. Por causa deles, vem por aí um ajuste na economia que atravessará os próximos dois anos. Sem falar de uma crise política destinada a se transformar numa crise institucional, dado os efeitos do escândalo da Petrobras sobre o Congresso e figuras coroadas do poder nacional. Os donos do poder estão em pânico.

EPA! QUEM SE ELEGEU? Está na hora de fechar a coluna. Se der, acrescentem : "Dilma se elegeu. O medo venceu a mudança." Ou então: "Aécio se elegeu. A mudança venceu o medo." Num caso como no outro, o país sai partido ao meio — e a maior culpa cabe ao PT com a política do "nós" contra "eles ".

Jose Roberto de Toledo - Seis e meia dúzia

- O Estado de S. Paulo

Milhões nas ruas protestando; sete em cada dez eleitores declarando desejo de mudança no governo. O cenário no qual transcorreram as eleições de 2014 prenunciava uma transformação profunda da política brasileira. O resultado não poderia ser mais contrastante. O Congresso Nacional terá poucas caras novas e com sobrenomes velhos. Os Estados continuam sendo governados, na imensa maioria, pelos mesmos caciques de sempre. E Dilma Rousseff (PT) segue sendo presidente do Brasil, após derrotar o PSDB no segundo turno: 2002, 2006 e 2010 “reloaded”.

Das 27 eleições para governador, só dá para dizer que houve algum tipo de renovação em quatro. Nas outras 23, o atual governador se reelegeu, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, ou fez o sucessor, como em Pernambuco e na Bahia, ou o eleito é um ex-governador, como no Espírito Santo, Tocantins e Piauí. Na melhor das hipóteses, o novo governador pertence a um grupo político que, não faz muito tempo, mandava no Estado.

A maior renovação aconteceu no Maranhão, com Flávio Dino (PC do B), que desalojou o clã dos Sarney. No Mato Grosso, Pedro Taques (PDT) é um procurador tornado senador que se elegeu governador. Não foi eleito por ter parentes políticos. No Distrito Federal, a eleição de Rodrigo Rollemberg (PSB) acabou com a polarização entre o PT e o grupo de Joaquim Roriz. No Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB) põe fim a uma era do PMDB no poder. Só.
Em todo o resto, a troca de comando, quando houve, foi de seis por meia dúzia. Ou, no máximo, por um terço de 18.

Dos 513 deputados federais, 401 tentaram se reeleger e 290 conseguiram. Sua taxa de sucesso foi de 72%. Nada se correlaciona mais com a vitória na eleição parlamentar do que já ser um parlamentar. Por outro lado, se “apenas” 290 estarão de volta a Brasília no próximo ano, quer dizer que 223 são novos, certo? Não exatamente. Pelo menos 25 não são novatos, mas redivivos. Já foram deputado antes, só tinham dado um tempo.

A Câmara terá 198 neófitos que terão seu primeiro gabinete brasiliense. Formalmente, é a maior taxa de renovação desde 1998: 39%. Mas o exame da lista de eleitos revela que grande parte das caras novas têm sobrenomes ou nomes de guerra velhos conhecidos do Congresso, como Covas, Cardoso e Garotinho.

Mudam só os prenomes: Bruno em lugar de Mario, Clarissa em vez de Anthony. Às vezes nem isso, basta acrescentar um “júnior”, um “neto” ou até um um “bisneto” no final. São todos herdeiros do poder, como Newton Cardoso Jr., Expedito Netto e Arthur Bisneto. A hereditariedade do poder é um dos legados da monarquia que a república brasileira conserva com mais afeto e zelo.

Entre os neófitos, quem não chegou lá por ser parente se encaixa em pelo uma dessas categorias: já passou por outro cargo eletivo (prefeito, deputado estadual etc), exerceu alguma função pública (policial, promotor etc), é celebridade – com as exceções que confirmam a regra. Na Câmara, a eleição foi seis por meia dúzia.

Por que os gritos e cartazes não se converteram em votos de protesto? Não em quantidade suficiente para mudar os donos do poder. Por que? Há várias respostas, esta é apenas uma.
Porque quem foi às ruas protestar foi um segmento expressivo, mas um segmento, não toda a população. Eram majoritariamente jovens que tiveram mais oportunidades de estudo do que qualquer outra geração anterior à deles na história do Brasil. Mas que não conseguem equiparar esses anos de estudo a cifrões nos seus salários. Estão mais frustrados do que as gerações anteriores. Foram essas gerações mais velhas que decidiram a eleição.

Os mais velhos votaram na continuidade. Não arriscaram porque, mesmo sem tanto estudo quanto os filhos, experimentaram um incremento de renda que nem seus pais nem avós experimentaram. Para eles não era seis por meia dúzia.

Fernando Gabeira - Ao vencedor, a pedreira

- O Globo

Quando um presidente se reelege, não há lua de mel, apenas curtas férias conjugais. O dia seguinte já coloca em sua agenda quase todos os problemas que aqueceram a campanha eleitoral. O primeiro e mais importante é o econômico. As necessidades de ajustes de rumo podem levar Dilma a tomar algumas medidas que ela própria condenava, sobretudo aumento nos preços da gasolina e da energia.

O preço da energia subiu 17% enquanto todos se envolviam na campanha. No campo político, Dilma terá de se relacionar com um Congresso bem mais fragmentado e com maior presença da oposição. As dificuldades de organizar a base de governo e acumular recursos para a reeleição estão na origem dos grandes escândalos do Brasil.

O da Petrobras está apenas começando. Passado o momento eleitoral, os depoimentos de Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef serão conhecidos na íntegra, com os nomes de todos os políticos envolvidos. A oposição chegou mais forte ao final da campanha do que nas eleições anteriores. Pela primeira vez, sua presença nas ruas foi relevante.

Ao término de um processo tão disputado como esse, o vencedor costuma lançar uma mensagem de reconciliação. Mas o PT e seus aliados têm pela frente uma consistente rejeição e devem, simultaneamente, lidar com a estagnação econômica e as acusações de que assaltaram a Petrobras.

Foi uma campanha de mentiras e calúnias. Elas vão perder força para que entrem na agenda um outro tópico: as verdades escondidas pela propaganda oficial. Dados sobre o ensino em escala nacional, a redução da pobreza e o desmatamento são apenas alguns que esperam o fim do momento eleitoral para passarem por análises. Estamos diante de mais quatro anos de governo e muitos temas de campanha serão lembrados ao longo do caminho.

É um tempo de reconciliação, mas isso não significa que o debate sobre o presente e o futuro do Brasil irá sumir. Os eleitores estiveram tão envolvidos na campanha que não tiveram tempo para avaliar uma boa e suprapartidária notícia: ontem choveu no Sudeste. O quanto vai chover é outra dúvida, passada a certeza sobre o vencedor nas urnas. Guimarães Rosa dizia : quem moi no áspero não fantasia. Os fatos, a partir da agora, valem mais que a idílica propaganda de campanha eleitoral. O ano de 2015 será uma pedreira.

Valdo Cruz - A face do segundo mandato

- Folha de S. Paulo

Foi aos 45 minutos do segundo tempo. Uma vitória suada e sofrida, depois de um domingo em que os petistas chegaram a temer uma derrota de Dilma Rousseff para o tucano Aécio Neves.

Resultado da reeleição apertada, na qual foi a petista com a menor taxa de apoio desde 2002, a presidente pregou no discurso de vitória "união, diálogo e mudanças", num aceno de paz depois de uma campanha petista marcada pela agressividade.

Presentes em seu pronunciamento, as promessas de união e diálogo foram duas virtudes bem escassas em seu primeiro mandato --reclamadas e reivindicadas por aliados, sindicalistas e empresários.

Mudanças foram um desejo marcante do eleitorado nesta eleição, o que levou quase metade do país a desaprovar a gestão dilmista. A petista terá de atender este anseio da população brasileira, que também vem de boa parte de seus eleitores.

A dúvida é como a reeleita Dilma cumprirá tais promessas. A seu estilo, já que pode se sentir dona da vitória. Ou mais dependente de Lula, que entrou de corpo e alma na reta final.

De olho na manutenção do projeto de poder do PT, o ex-presidente deseja influenciar mais na segunda administração de sua criatura. Afinal, pode ser o candidato à sua sucessão.

Só que a presidente estará mais livre para tocar seu projeto de governo. Ela, que no primeiro mandato não deu muito ouvidos a Lula, porque mudaria agora? Talvez queira deixar exatamente sua marca.

O problema é que a segunda fase dilmista está a exigir ajustes na economia, ao contrário do que aconteceu com seu padrinho político. Lula montou um primeiro mandato ao estilo do mercado, mas fez uma segunda administração à sua cara.

Já Dilma imprimiu sua marca na primeira fase de governo. Deu no que deu. Inflação alta e crescimento fraco. Agora, começa o segundo mandato tendo de fazer ajustes para evitar pôr em risco suas conquistas, como desemprego baixo. A conferir.

Dora Kramer - Em alto e bom som

- O Estado de S. Paulo

Sacramentada a reeleição da presidente Dilma Rousseff, vamos ter pela frente pelo menos uma semana de análises sobre as "lições das urnas". Isso e mais as listas de perdedores e vencedores junto com os repetidos (e já um pouco enjoativos) apelos à mão estendida da reconciliação.

Fiquemos na mensagem mais retumbante transmitida pela população por intermédio das urnas eletrônicas. Serve para as duas forças que disputaram literalmente voto a voto a preferência do eleitorado: a sociedade brasileira não pode ser dividida entre nanicos e gigantes. Estamos todos, independentemente de como pensamos ou do que queremos para o País, mais ou menos do mesmo tamanho.

Na verdade, a lição cabe mais aos vitoriosos. Seus líderes talvez sejam, entre todos os brasileiros, os que tenham ficado mais surpresos com as novidades dessa eleição. Pensaram construir uma hegemonia política, cultural e social que estaria com bases bem plantadas e espalhadas num prazo de mais ou menos dez anos.

Imaginaram, pelo sucesso inicial de crítica e por longo tempo também com grande bilheteria, que seria possível o Brasil ter só um lado, ficando os discordantes no lugar reservado aos restos. Não obstante a expressiva votação dos oposicionistas nas três últimas eleições vencidas pelo PT, aquela opinião do público não era levada em conta pelo governo.

Talvez por falta de lideranças que a representasse nos fóruns adequados (Parlamento, universidades, sindicatos, movimentos sociais), talvez por ausência de sustentação popular a uma atuação mais contundente da oposição. A razão nessa altura já não importa.

Depois dessa campanha e de uma eleição com um resultado como o de domingo, duas providências são indispensáveis. Do lado do governo, é urgente qualificar o diálogo. Com todos, inclusive com seus apoiadores deixando de tratá-los como clientela fidelizada por programas sociais ou aliados submissos.

Do lado da oposição, é corresponder à confiança do contingente que, além de mais de 50 milhões de votos, lhe deu o patrimônio do respaldo social.

José Casado - Uma chance para mudar

- O Globo

Foi uma proeza política. Nunca antes um partido obteve quatro mandatos sucessivos nas urnas, pelo voto direto e universal. A garantia de 16 anos no poder, assegurada ontem por uma aguerrida Dilma Rousseff, terá como efeito inicial a pacificação do Partido dos Trabalhadores. No curto prazo, a vitória ajuda a cicatrizar feridas internas e até abre espaço para reconciliações — a começar pela presidente reeleita e seu antecessor, Lula, principal crítico dos gestos de "independência" na condução do governo. Um indicador dos limites de Dilma nas relações com Lula, PT e aliados estará visível no processo de escolha do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central.

Ontem, ao celebrar a vitória, ela anunciou "grandes mudanças". E acenou ao PT com o resgate de um "plebiscito" para balizar o rumo de uma reforma política — ideia rejeitada pelo Congresso no ano passado. A vitória apertada (51,6% a 48,3%) indica limitações na margem de manobra da presidente no Congresso. E, ali, é previsível que aumente o nível de dificuldades do governo, pois a fragmentação partidária chegou ao ápice, com 28 organizações. Será reflexo do comportamento da maioria do eleitorado das regiões responsáveis por mais da metade do Produto Interno Bruto.

Esses eleitores repetiram nas urnas, ontem, a mensagem enviada no primeiro turno: uma oposição unida e re vigorada, em especial no Senado. São Paulo, por exemplo, entregou 64,3% dos votos ao adversário da presidente. A partir de hoje, o governo Dilma tem prazo de validade (1º de janeiro de 2019). Pode representar uma oportunidade para iniciativas como o fim do loteamento de ministérios e de empresas estatais. Esse tipo de política produziu, entre outras coisas, o caso Petrobras, cujos desdobramentos no governo e no Congresso devem pautar sua agenda a cada dia, durante os próximos 48 meses.

Rubens Ricupero - Quem perdeu a eleição

• A última coisa de que precisávamos era de uma sociedade rachada ao meio, polarizada e radicalizada

- Folha de S. Paulo

Escrevendo dois dias antes da eleição, não sei quem ganhou, mas sei quem perdeu. Da campanha mais sórdida em 70 anos, a democracia sai degradada pela manipulação dos marqueteiros. O Brasil já perdera crescimento, estabilidade da moeda, responsabilidade fiscal, saldo das exportações, dinamismo da indústria, admiração do mundo. Está agora ameaçado de perder a unidade e a concórdia civil.

Lula, Dilma e seu partido escolheram o confronto e a violência verbal como tática para ganhar. Se vencer, a presidente não poderá repetir o que disse Obama em sua posse: "estamos juntos porque escolhemos a esperança em vez do medo, a unidade de propósitos em lugar do conflito e da discórdia".

A democracia deve encarar a alternância no governo como o único antídoto contra a inevitável corrupção do poder perpétuo. Não se trata de esperar, por absurdo, que o governo cometa suicídio em nome da alternância. O que se tem o direito de exigir é que nenhum partido, muito menos o que goza da vantagem da situação, se comporte como aquele coronel do interior para o qual só havia em política um crime imperdoável: perder eleição.

Justificar a sordidez dos meios pelo desejo de manter os inegáveis avanços sociais em favor dos pobres equivale à definição que Sartre deu dos estalinistas: "homens injustos que lutam pela justiça".

Não cabe colocar no mesmo plano a mentira oficializada como método de campanha com a divulgação de depoimentos do mais espantoso escândalo de corrupção de que se tem memória na Petrobras e no país. Os juízes terão de decidir se o governo teve responsabilidade criminal. O que não padece dúvida é a responsabilidade política pelo descalabro de presidentes e governos que nomearam e mantiveram nos cargos os diretores indicados por partidos que mais se parecem a famílias mafiosas.

Deixou-se que os problemas brasileiros adquirissem dimensões quase sobre-humanas. Do lado econômico, inflação em alta, estagnação do crescimento, déficits assustadores no orçamento e nas contas externas, risco de perder o grau de investimento numa conjuntura internacional adversa. Do lado político, um congresso ainda mais fragmentado em partidos fisiológicos combinado com instituições públicas desmoralizadas por escândalos.

A última coisa de que precisávamos era de uma sociedade rachada ao meio, polarizada e radicalizada. Como tivemos nos dois anos e meio de paralisia antes do golpe militar.

A fim de enfrentar os desafios que o esperam, o governo precisará de um mínimo de unidade e consenso, inclusive das oposições. Os que põem fogo em paixões sectárias para ganhar a eleição vão logo descobrir que vitórias geradoras de ressentimento e rancor inviabilizam tais condições.

Para quem age dessa forma irresponsável, a política não passa de um moinho que deve ser usado para triturar vidas exemplares como a de Marina. Ou para reduzir a pó as ilusões dos que sonharam com uma vida pública renovada e mais pura.

O sábio Cartola já nos antecipou o destino que os aguarda: herdarão somente o cinismo e resvalarão no abismo que cavaram com seus pés.

Carlos Melo - Reeleita, presidente precisa se reinventar

• Dilma de 2014 terá grandes desafios econômicos e obstáculos políticos maiores

O Estado de S. Paulo

Que não haja ilusão: a eleição não somou, dividiu - se não fragmentou. Qualquer que fosse o resultado, seria assim. Agora, o desafio para reunir os cacos do diálogo e de algum consenso que a intemperança dos últimos tempos estraçalhou. A oposição poderia ter sinal trocado, mas o mesmo dedo em riste e faca nos dentes, ressentida, esperando a volta. Que não haja ilusão: o pleito definiu o vencedor ao estilo Machado - “ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”. Esta eleição não termina com a votação: segue hoje e amanhã, com temperatura e pressão elevadas.

A presidente reeleita não é a Dilma de 2010, cercada de boa vontade e esperança. As expectativas a respeito de seu novo governo são defensivas: defender o emprego, a inclusão, o partido; defender o governo. Terá a desconfiança de setores econômicos que não se limitam aos demonizados “banqueiros”. Há a classe média, a mídia, os críticos melindrados. E, claro, um Congresso mais fisiológico e fracionado por interesses diversos, divergentes, difusos, e um governo com menor margem fiscal para saciar apetites fisiológicos.

Atender e recompor a credibilidade demandará morder a língua, desdizer o que se disse, capitular ao inimigo que venceu. Há pouco espaço político para isso, pois a base social, criada e cevada na crença de soluções simples, não compreenderá a complexidade da política, obliterada pelo debate. Dilma não é Sarney, para, no dia seguinte, praticar estelionato e passar o resto do mandato com cara de paisagem. Seus custos e princípios são maiores. Ao mesmo tempo, fazer suavemente o ajuste não contornará os espíritos mais sectários. “Crise” é o nome dessa sinuca.

Os desafios econômicos são grandes, mas os obstáculos políticos são maiores - a política mal manejada pode pôr a perder avanços econômicos. Limitar o necessário ao medíocre possível não é saída. O País pressionará por mudança logo. O desafio requer uma presidente que de modo algum divida a galera em duas torcidas, mas que recomponha a unidade do cristal trincado. Que não haja ilusão, o País carecerá de liderança política de altíssimo nível. A presidente terá de se reinventar.

Elio Gaspari - Um mandato inédito

- O Globo

Os eleitores deram ao PT um mandato inédito na história nacional. Um mesmo par tido ficará no poder nacional por 16 anos sucessivos. A doutora Dilma re elegeu-se num cenário de dificuldades econômicas e políticas igualmente inéditas. Lula recebeu de Fernando Henrique Cardoso um país onde se restabelecera o valor da moeda. Ela recebe dela mesma uma economia travada. Tendo percebido o tamanho da encrenca, em setembro anunciou a substituição do ministro Guido Mantega. Por quem, não disse. Para quê, muito menos. A dificuldade política será maior. As petrorroubalheiras devolveram o PT ao pesadelo do mensalão. Em 2005, o comissariado se blindou e, desde então, fabrica teorias mistificadoras, como a do caixa dois, ou propostas diversionistas como a da necessidade de uma reforma política. Pode-se precisar de todas as reformas do mundo, mas o que resolve mesmo é a remessa dos ladrões para a cadeia.

O Supremo Tribunal Federal deu esse passo, formando a bancada da Papuda. Foi a presença de Marcos Valério na prisão que levou o "" amigo Paulinho"" a preferir a colaboração à omertà mafiosa. Dilma teve uma atitude dissonante em relação às condenações do mensalão. Protegeu-se sob o manto do respeito constitucional às decisões do Judiciário. No debate da TV Globo, quando Aécio Neves perguntou-lhe se achou ""adequada"" a pena imposta ao comissário José Dirceu, tergiversou. Poderia ter seguido na mesma linha: decisão da Justiça não deve ser discutida. Emitiu um péssimo sinal par a quem sabe que as petrorroubalheiras tomarão conta da agenda política por muito tempo. Será muito difícil, e sobretudo arriscado, tentar jogar o que vem por aí para baixo do tapete. Ou a doutora parte para a faxina, cortando na carne, ou seu governo vai se transformar num amestrador de pulgas, de crise em crise, de vazamento em vazamento, até desembocar nas inevitáveis condenações.

O comissariado acreditou na mágica e tolerou o contubérnio do PT com o PP paranaense do deputado José Janene. A proteção dada aos mensaleiros amparou o doutor e ele patrocinou a indicação do ""amigo Paulinho"" para uma diretoria da Petrobras. Ligando-se ao operador Alberto Youssef, herdeiro dos contatos de Janene depois que ele morreu, juntaram-se aos petropetistas e a grandes empresas. O resultado está aí. Em 2002, depois do debate da TV Globo, Lula foi para um restaurante do Rio e comemorou seu desempenho tomando de uma garrafa de vinho Romanée Conti que custava R$ 9.600.

A conta ficou para Duda Mendonça, o marqueteiro da ocasião. Quem achou a cena esquisita pareceu um elitista que não quer ia dar a um ex-metalúrgico emergente o direito de tomar vinho caro. Duda confessou que fazia suas mágicas com o ervanário do mensalão. Passaram-se 12 anos e os repórteres Cleo Guimarães e Marco Grillo mostraram que, na semana passada, Lula esteve no município de São Gonçalo, onde disse que "" a elite brasileira não queria que pobre estudasse"". Seguiu da Baixada Fluminense para a Avenida Atlântica e hospedou-se no Copacabana Palace, subindo para a suíte 601, de 300 metros quadrados, com direito a mordomo. Outros sete apartamentos do hotel estavam reservados para sua comitiva.

Renato Janine Ribeiro - O PT chega ao quarto governo

• Que medidas econômicas Dilma tomará?

- Valor Econômico

Foi duro, exigiu nervos de aço, mas o PT ganhou sua quarta eleição presidencial. Mas fica o risco de ter sido uma vitória de Pirro, para lembrar o rei do Épiro que vencia os romanos, porém a tal custo que alguém lhe disse: "Mais três vitórias como esta, e estamos perdidos"... Examinemos o que pode acontecer de agora em diante. Não será fácil para a vitoriosa.

Sua primeira dificuldade é com a mídia e a opinião pública. Uma comentarista de televisão teria dito há um tempo que a população (ou o povo) vai de um lado, e a opinião pública de outro. A "opinião pública" é contrária ao PT, mas o povo deu vitória a este partido em seguidas eleições. A mídia, o empresariado, a classe média sobretudo paulista, mas não só, destoam do que a maioria de pobres quer. A sociedade está dividida, com os mais vocais na oposição, os silenciosos (ou silenciados, como dizia Fernando Morais) a favor do governo. Não tivemos conflito dessa magnitude desde 1989, quando Collor venceu Lula com golpes baixos, mas na ocasião a mídia não fechou tanto assim com o vencedor. Pode Dilma vencer o ódio? A forma usual - que é chamar alguém da oposição para integrar o ministério - soa improvável.

Somem-se as dificuldades da presidenta com a política. Ela foi escolhida por Lula, dentre outros nomes possíveis, porque mostrou qualidades como gestora, além de ser a pessoa mais simpática no primeiro escalão à produção e aos empresários. Hoje é criticada pela gestão, a produção cresce pouco e o patronato não gosta dela. Um de seus problemas seria que não dialoga, manda.

Isso afeta as relações com os empresários, mas também com os políticos e com o próprio povo. São três dimensões autônomas nas quais é preciso fazer política, isto é, não dar ordens, mas escutar e dialogar. A dimensão dos empresários não é bem democrática, porque o peso econômico deles depende do capital - mas negociar com eles é uma imposição da realidade. Depois, temos os políticos eleitos que, por mais que se desconfie deles, representam o povo e nesta condição tomam parte nas decisões.

Já a conversa com o povo, que deixei em terceiro lugar, é a mais importante no plano democrático, mas foi desconsiderada pelo PT fora do período eleitoral. Aqui está o eixo das dificuldades de comunicação de Dilma. O problema não é gaguejar, não está na construção das frases. Está na capacidade de conquistar o povo. FHC ganhou a classe média, Lula arrasava no povão. Dilma ficou atrás de ambos. Para um governo popular, a comunicação não é mera técnica, é da essência das coisas. Mas o PT desistiu dela. Não tanto por falta de uma hipotética "lei de meios de comunicação", mas porque renunciou a disputar a hegemonia das consciências. Preferiu ganhar votos pelo aumento (necessário, justo) do consumo, em vez de dar nova vida ao ponto que fez sua glória na oposição: o do caráter ético da luta contra a miséria.

Dilma precisaria do beneplácito pelo menos do patronato e do Congresso, e de um apoio decidido - e organizado, senão orgânico - do eleitorado. Com nenhum deles, porém, priorizou o diálogo durante o primeiro mandato. Quererá mudar? Conseguirá?

Há também o ministério. Ao contrário da equipe de Lula, que brilhava, temos um grupo discreto, em que até as estrelas do governo precedente - como Celso Amorim - empalideceram. A presidente se disporá a delegar mais, a confiar mais? Parará de corrigir os auxiliares em público? Esta não é só uma questão de método. É essencial para que o governo funcione. Se os ministros não tiverem senso de iniciativa, pouco farão e isso repercutirá em todo o sistema.

Vamos ao espectro político.

Por um lado, temos uma oposição que, mesmo perdendo, sai das urnas reforçada. Nem que seja sobretudo pelo ódio. Cada lado armazena um estoque enorme de insultos ao outro. Parei de ver programas políticos porque me sentia diante de uma briga infantil. Os dois lados reclamavam do clima de ódio, mas cada um acusava o outro de ter começado. Parecia coisa de criança:

"Ele puxou o meu cabelo!"

"Mas ela deu primeiro um chute na canela!"

Foi um espetáculo triste - e infelizmente pode continuar.

Então, suponhamos que Dilma faça um gesto de grandeza na direção do outro lado. Será aceito? Em que consistirá? Hoje, a simples boa educação não basta. Não dá mais para desejar feliz aniversário a FHC ou levar todos os ex-presidentes no avião oficial para o enterro de Mandela. Será preciso efetuar concessões. Mas quais? O melhor seria comprar o que puder da agenda econômica da oposição. Não o aumento de juros, a redução de gastos públicos, com arrocho salarial e social - mas pelo menos uma desburocratização intensa, regras claras e estáveis para o investimento privado, fim de qualquer criatividade contábil. Mais que isso é difícil, porque seria renunciar aos fundamentos mesmos da divergência com o PSDB.

E há outro problema. Nossos governos de centro-esquerda se elegem com votos decisivos da esquerda, mas depois governam com os deputados necessários da direita. Em São Paulo, duas vezes o PT apoiou Mario Covas no segundo turno, para depois ele governar com o então PFL, que nas eleições apoiara a direita. Em sua campanha, Dilma contou com o apoio decidido de quem defende a liberdade gay - mas no primeiro mandato ela vetou o kit anti-homofobia. Para que lado irá? Uma possibilidade seria uma agenda avançada na questão dos costumes, abrindo-se para a esquerda, e um gesto de conciliação para a direita empresarial, que está mais interessada na economia do que em questões comportamentais. Mas isso exigirá mais habilidade e gosto políticos.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.