sábado, 18 de outubro de 2014

Opinião do dia – Aécio Neves

Chegamos aqui agora na reta final, praticamente uma semana das eleições, praticando aquilo que Eduardo pregava, Marina pregava e pratica. E é aquilo que eu também prego e pratico. A boa política. A construção de um projeto para o Brasil. Eu deixo de ser um candidato de uma Coligação ou mesmo de um partido político para ser hoje o representante de um grande movimento, de uma transformação que precisa ocorrer no Brasil, transformação de valores, de prioridades e de postura.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidente da República, discurso no encontro com Marina Silva. São Paulo, 17 de outubro de 2014.

Justiça Eleitoral tenta conter ‘baixo nível’ da campanha e já barra propaganda de TV

• Ministros do TSE dizem a advogados de Aécio e de Dilma que vão ser mais rigorosos na punição a ataques pessoais durante horário eleitoral

Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Tribunal Superior Eleitoral decidiu ser mais duro com as candidaturas presidenciais no 2.º turno a fim de evitar ataques pessoais. Ontem, liminar do tribunal já proibiu uma propaganda de TV.

A peça proibida foi da presidente Dilma Rousseff. A propaganda afirmava: “Compare. Enquanto Dilma modernizou aeroportos para o Brasil receber 203 milhões de passageiros ao ano, Aécio só fez dois em Minas. Um deles, na fazenda que era da própria família e a chave ficava nas mãos de seu tio. Na dúvida em quem votar, é melhor comparar”. Era uma referência à construção do aeroporto na cidade de Cláudio, interior de Minas, no qual o governo do Estado investiu R$ 13,9 milhões na pista quando Aécio Neves era governador. Para fazer o investimento, o governo desapropriou as terras do tio-avô de Aécio.

A defesa de Aécio sustenta que a propaganda adversária leva o eleitor a crer que o tucano “estaria fazendo uso de bem público para favorecer sua família”. Em sua decisão, o ministro Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, relator do processo, concorda com o PSDB e diz que a propaganda petista “denota ofensa de caráter pessoal que, potencializada, pode ensejar, em tese, até mesmo a caracterização de crime”. Até que o pleno do TSE julgue o caso, a propaganda de Dilma não poderá mais ir ao ar na campanha.

Mudança. No 1.º turno das eleições, o TSE adotou postura minimalista com pouca intervenção na campanha presidencial. A nova posição da corte foi firmada anteontem à noite diante da percepção de que a campanha presidencial ficou mais“ácida” no 2.º turno.

Após discussão de quase uma hora, os ministros deixaram claro aos advogados das campanhas de Dilma e de Aécio que o TSE vai atuar para garantir que o horário eleitoral seja usado para debater propostas e não para trazer acusações pessoais entre os candidatos. Até o 2.º turno há ainda oito programas de dez minutos cada, além das inserções durante a programação das TVs.

“A Justiça Eleitoral tem que admitir uma postura. Agora não dá mais para ficar só de minimalismo”, disse o ministro Luiz Fux. O presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, chegou a dizer que se não houver intervenção da corte, os eleitores iriam assistir a um “baile do risca-faca” e não a um debate presidencial. Nas palavras do presidente da corte, o TSE reformulou a “jurisprudência anterior permissiva em matéria de propaganda eleitoral gratuita” para estabelecer que as campanhas sejam mais “programáticas”. “O debate pode ser duro no que diz respeito a questões programáticas e de política pública”, disse.

A discussão foi levada ao plenário pelo ministro Admar Gonzaga, relator de representação proposta pela campanha de Aécio contra propaganda de Dilma. Gonzaga queria saber “qual o tom” para o novo período.

Toffoli apontou que o entendimento de eleições passadas era no sentido de que acusações ácidas seriam permitidas, se baseadas em publicações na imprensa, o que não será mais admitido. O presidente do TSE criticou o uso de terceiros – seja por meio de notícias de jornal ou utilização de figura alheia à campanha na propaganda – para fazer acusações contra os adversários.

Finalidade. Parte da corte apontou que os candidatos possuem o mesmo tempo de programa eleitoral, o que possibilita a defesa de acusações feitas pelo adversário, mas a maioria entendeu que o horário gratuito não pode se prestar a esse tipo de discussão. “O horário eleitoral não foi criado para ataques pessoais, mas sim para apresentação de programas de governo. Não podemos permitir que se gaste dinheiro público para esse tipo de baixo nível de ataque”, disse o ministro João Otávio de Noronha.

Candidatos mantêm ataques na TV, contrariando decisão do TSE

• Advogados das campanhas dizem que não haverá mudança nos programas

Carolina Brígido e André de Souza

BRASÍLIA — Um dia após a recomendação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que o horário eleitoral gratuito seja destinado à apresentação de propostas, e não a ataques entre os candidatos, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) voltaram a trocar acusações mútuas na propaganda de televisão exibida nesta sexta-feira. Os advogados das duas campanhas afirmaram que, mesmo com a decisão do tribunal, não haverá mudança no conteúdo dos programas apresentados no horário eleitoral gratuito. Segundo eles, as campanhas não fazem ataques a ninguém.

Nos programas transmitidos ontem na televisão, Dilma e Aécio reproduziram trechos do debate no SBT em que fizeram ataques ao adversário. Os trechos usados por cada um deles foram editados pelos comandas das campanhas e mostraram os ataques feitos pelos candidatos sem as respostas do adversário ou os comentários em réplicas ou tréplicas.

Dilma citou, por exemplo, a denúncia de que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, já falecido, recebeu propina para não investigar irregularidades na Petrobras, acrescentando que os corruptos dos escândalos tucanos estão todos soltos. Apontou problemas no governo de Minas Gerais — que, segundo ela, é pouco transparente e avesso às investigações de irregularidades.

Dilma também condenou a construção de um aeroporto na fazenda do tio de Aécio, dizendo que isso é errado e feio. E acusou o adversário de querer usar o desemprego, o arrocho salarial e a falta de investimento para combater a inflação. Dilma ainda mostrou no programa cenas de debates anteriores em que Aécio e a candidata Marina Silva (PSB) trocavam acusações. Fora do segundo turno, Marina agora é aliada de Aécio. Segundo a apresentadora do programa, Aécio muda de posição de acordo com as conveniências de momento.

Usando imagens do debate no SBT, Aécio lembrou a ligação com o PT do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. E voltou a dizer que o irmão da presidente, Igor Rousseff, ocupou cargo em comissão na prefeitura de Belo Horizonte durante a gestão de Fernando Pimentel, do PT. Segundo o tucano, Igor não aparecia para trabalhar.

O programa de Aécio também rebateu a acusação previamente feita pela campanha petista de que uma escola estadual de Minas estava fechada para obras, mas as construções estavam paralisadas. O programa tucano mostrou os depoimentos de um operário da obra e do porteiro da escola dizendo que a obra funciona de segunda a sábado. A campanha de Dilma teria feito imagens da obra no domingo, quando não tinha ninguém trabalhando.

— A campanha trata de trajetória política e projetos futuros sem ataques pessoais. A nossa campanha respeitará integralmente a decisão do TSE. Vai continuar igual, não muda nada. Nunca teve ataque, é apenas a comparação entre os dois — argumentou Flávio Caetano, advogado do PT.

O advogado Flávio Henrique Costa Pereira, que representa o PSDB, também disse que nada vai mudar na campanha de Aécio. Ele ressaltou que a decisão tomada pelo TSE foi para retirar uma ofensa feita pela campanha petista ao candidato tucano. Portanto, seria uma prova de que os excessos foram cometidos por Dilma, não por Aécio.

— Não muda nada na campanha. Temos uma conduta de acordo com aquilo que o TSE decidiu. Essa decisão do TSE é uma resposta à postura da campanha do PT de agressão contra nós neste segundo turno. Vamos manter nossa linha de propostas e críticas administrativas ao governo da candidata Dilma — alegou Pereira.

Na quinta-feira à noite, o presidente do TSE, Dias Toffoli, disse que a campanha eleitoral para presidente da República precisa ser mais propositiva e ter menos “pirotecnia”. Ele criticou os ataques mútuos entre os candidatos e disse que o tribunal não iria mais tolerar esse tipo de conduta no horário eleitoral gratuito. A declaração foi dada num julgamento em que o tribunal determinou que a campanha de Dilma não repetisse mais trecho em que acusou Aécio de perseguir jornalistas.

A recomendação foi genérica para não haver mais ofensas entre os candidatos. Não houve explicação específica sobre o que pode e o que não pode ser feito no horário eleitoral gratuito. Segundo Toffoli, o julgamento vai orientar a atuação do TSE em processos semelhantes, seja qual for o candidato.

— Esse julgamento muda a jurisprudência da Corte, sinaliza um novo tipo de propaganda eleitoral. Em programas eleitorais gratuitos, as propagandas devem ser programáticas e propositivas, mesmo com embates duros, em relação às candidaturas do segundo turno — afirmou Toffoli.

PT manterá ataques para tentar ampliar rejeição a Aécio

• O PT vai manter o tom beligerante da campanha, numa tentativa de tirar de Aécio votos dos eleitores de outros candidatos que migraram para o tucano

• Dos 22 filmes do PT na TV no 2º turno, 19 têm ataques a Aécio; do lado oposto, 8 dos 18 são mais críticos a Dilma

• Petistas dizem que tom beligerante será mantido; PSDB afirma que vai reagir na mesma linha se for preciso

- Folha de S. Paulo 

BRASÍLIA, SÃO PAULO, FLORIANÓPOLIS e CURITIBA - O PT vai manter o tom beligerante da campanha para tentar desidratar os votos de Aécio Neves, mesmo que eles não migrem necessariamente para Dilma Rousseff. Mas, na campanha, a defesa é que esta estratégia venha mesclada com propostas para diluir a imagem de que ela decidiu partir para o vale-tudo.

O presidenciável tucano instruiu sua equipe a reagir no mesmo tom, se preciso for, o que tende a conservar em fogo alto a temperatura da disputa nesta reta final.

Aliados e até mesmo petistas consideraram que Aécio se saiu melhor no debate do SBT, UOL e Rádio Jovem Pan realizado nesta quinta-feira (16), daí a decisão dos petistas de continuar no ataque.

A avaliação geral é que a presidente precisa melhorar sua performance nos dois últimos confrontos televisivos, razão pela qual cancelou sua agenda no Rio prevista para este sábado para se preparar melhor para o embate da Record, no domingo.

Para os tucanos, o objetivo do PT ao fazer ataques a Aécio é tirar dele os votos dos "neoaecistas" --eleitor que antes votava em outros candidatos e agora migrou para ele.

"A estratégia é tentar fazer com que o eleitor que ainda não conhece bem Aécio, mas que também rejeite Dilma, se descole do tucano e não vote em ninguém", afirmou o marqueteiro Nelson Biondi, que atuou na campanha de reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo.

Ele lembra que a expectativa de voto e a rejeição de Dilma são bastante consolidadas. Com isso, é baixa a probabilidade de ela perder votos, mesmo parecendo mais agressiva. É uma situação diferente da de Aécio.

Na campanha do PSDB, a ordem é iniciar o debate da Record no domingo transmitindo o recado de que o candidato tucano quer evitar "baixarias". Um assessor diz, porém, que Aécio está pronto para revidar qualquer ataque, seguindo a mesma linha do último confronto.

O PSDB quer colar em Dilma a imagem de que a petista está promovendo "a mais baixa campanha" desde a redemocratização, como ele disse no debate de quinta.

Nesta sexta (17), o PSDB passou a veicular anúncio em que relembra manchetes que ligam o PT e nomes-símbolo do partido, como o ex-ministro José Dirceu, à corrupção.

A partir deste sábado, duas novas propagandas vão associar a petista à corrupção. Elas mostram uma imagem de Dilma e dizem que ela deve explicações sobre os desvios na Petrobras, apontados pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Para analistas ouvidos pela Folha, como o repertório de ataques contra Dilma já foi muito explorado desde o primeiro turno (denúncias na Petrobras, mensalão, aparelhamento do Estado), a repetição desses temas por parte de Aécio não gera mais surpresa no eleitorado.

Já as acusações contra Aécio (reforma de um aeroporto para uso privado, nepotismo no governo de Minas, recusa de fazer um teste de bafômetro e favorecimento a rádios da família) são menos conhecidas. O potencial para sensibilizar eleitores pouco convictos, portanto, seria maior.

O caso do bafômetro, citado no debate da Bandeirantes, foi pesquisado pela campanha de Dilma antes da decisão de divulgar o assunto.

Boa briga
Cerca de 90% dos eleitores diziam desconhecer o fato de que Aécio foi barrado uma vez numa blitz e se recusou a fazer o teste para verificar se estava dirigindo alcoolizado.

Dos 22 filmes produzidos pela campanha de Dilma neste segundo turno, 19 contêm ataques a Aécio, mostra contagem feita pela Folha. No rádio, das 19 inserções, 13 são de ataque ao tucano. Dos 18 filmes para a TV do PSDB, 8 contêm ataques a Dilma. E, das 11 inserções de rádio, 5 trazem investidas contra a petista.

Nesta sexta (17), em evento em Florianópolis (SC), Dilma responsabilizou Aécio pelo aumento dos ataques pessoais. "Eu não estou tomando esse rumo, fui levada a esse rumo", disse.

Em outro evento, em Curitiba (PR), a petista afirmou: "Nós não somos da guerra, da briga. Mas, quando nos desafiam, a gente encara uma boa briga".

(Fernando Rodrigues, Natuza Nery, Valdo Cruz, Ricardo Mendonça, Daniela Lima, Rayanne Azevedo, José Marques, Diogenes Campanha e Estelita Hass Carazzai)

Aécio encontra Marina e compara união à aliança que elegeu Tancredo Neves

• Ex-candidata realizou primeiro encontro com tucano e afirma que presidenciável 'trabalha pela mudança'

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - No primeiro encontro público com Marina Silva - no qual a candidata derrotada surpreendeu ao aparecer sem o tradicional coque -, ocorrido na manhã desta sexta-feira, em São Paulo, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, afirmou viver o momento mais importante da campanha, e comparou a união com a ex-ministra à aliança que elegeu seu avô Tancredo Neves no colégio eleitoral, em 1985.

— Hoje nós temos um desafio que não é menor do que aquele (de Tancredo Neves), que é encerrar o ciclo deste governo que aí está, que perde condições de governar o Brasil, a meu ver, pelo fracasso da economia e descompromisso com a ética — declarou o tucano. — Deixo de ser um candidato de uma coligação e passo a ser o candidato de um movimento de mudança.

A declaração do tucano agradou à nova aliada:

— Ouço com alegria a sua manifestação de que trabalha por um movimento, o movimento de mudança.

O evento contou com participações de tucanos, como o candidato a vice-presidente Aloysio Nunes e o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, e aliados de Aécio, como o deputado federal reeleito Paulinho da Força (SD). Também estiveram presentes políticos do PSB, como Beto Albuquerque, candidato a vice nessas eleições, e Paulo Câmara, governador eleito de Pernambuco, além de pessoas próximas a Marina e a seu grupo político Rede Sustentabilidade como Guilherme Leal, candidato a vice-presidente em 2010, e Miro Teixeira.

O encontro foi filmado e deve ser aproveitado no programa eleitoral do candidato tucano.

Terceira colocada no primeiro turno, Marina anunciou apoio a Aécio no último domingo, depois que o tucano se comprometeu a assumir propostas defendidas por ela, como o fim da reeleição, a reforma agrária e questões ambientais.

Em Salvador, Aécio condena campanha agressiva de Dilma e propõe investimentos em infraestrutura

• Tucano cobrou providências sobre as denúncias de Paulo Roberto Costa

Maria Lima – O Globo

SALVADOR - Na tarde desta sexta-feira, o presidenciável Aécio Neves (PSDB) condenou os ataques feitos pela campanha da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), recebeu o apoio da ex-corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Eliana Calmon (PSB) e apresentou propostas de segurança e infraestrutura aos nordestinos. Em carreta pela capital baiana – da praça Castro Alves ao Pelourinho, no Centro Histórico – na tarde desta sexta-feira, o tucano convocou os eleitores para a reta final do pleito.

Um dia depois do tenso debate com Dilma, no SBT, Aécio diz que a petista tenta falar de passado. Ele reafirmou o compromisso de buscar um debate propositivo, e que é importante que ele aconteça para que os eleitores possam escolher um dos projetos.

— A minha adversária optou por discutir o passado e focar a campanha em ofensas e denúncias. É triste ver uma campanha em que se busca a desconstrução daqueles que ousem disputar com eles. Só que eu não me abato com isso. A cada infâmia, redobra em mim a disposição de debater o futuro.

Aécio reiterou o que respondeu nesta quinta a Dilma quando perguntado da suposta relação do ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra com desvios na Petrobras, segundo denunciou o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Ele se diz surpreso com a reação de Dilma, pois só agora a candidata deu credibilidade às denúncias, disse, e cobrou providências em relação aos partidos e personagens do esquema já citados por Costa.

— Eu defendo o mesmo tratamento para todos, que as investigações avancem e, se tenha alguém envolvido, deve responder pelos seus atos. Pela primeira vez a presidente agora parece crer nas denúncias do Paulo Roberto Costa, mas não vimos ainda nenhuma atitude dela em relação a pessoas próximas a ela que são citadas.

A ex-corregedora do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), e terceira colocada nas eleições para o Senado pela Bahia, Eliana Calmon (PSB) manifestou apoio público ao tucano, que se disse agradecido, e declarou que Calmon “representa o Brasil que quer justiça e quer reviver seus valores”. Aécio também agradeceu a ACM Neto (DEM), prefeito de Salvador.

Em um discurso muito voltado ao Nordeste, Aécio disse que a prioridade máxima de seu programa de governo é a educação, e defendeu mais competitividade à região, garantindo a transferência de renda aliada a investimentos de infraestrutura. Aécio Neves também propôs reduzir em 30% a taxa de crimes violentos em oito anos, principalmente os homicídios.

— Eu venho aqui reiterar as minhas propostas para o Nordeste e falar sobre os programas de transferência de renda com foco na infraestrutura, para que tenha o aumento da competitividade aqui na região.

Os nordestinos também receberam agradecimentos de Aécio pelos votos no primeiro turno, e pela compreensão das propostas. O tucano convocou todos para a reta final da campanha, que terá nove dias até as votações, no próximo dia 26.

Aécio diz que quer ser 'o presidente mais generoso com o Nordeste'

• Em Campina Grande (PB), candidato do PSDB reafirma compromisso de manter programas sociais como o Bolsa Família

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

O candidato à presidência pelo PSDB, Aécio Neves, desembarcou nesta sexta-feira à noite em Campina Grande dizendo que, se eleito, quer ser lembrado como o "presidente mais generoso com a região do Nordeste". Em uma rápida coletiva no saguão do aeroporto, onde abriu espaço para apenas duas perguntas de veículos locais, ele afirmou que pretende ampliar projetos sociais, como Bolsa Família. "Vamos lutar pela diminuição da violência e implementar um choque de infraestrutura".

Ao lado do candidato ao governo da Paraíba pelo PSDB, Cássio Cunha Lima, ele aproveitou para pedir um voto casado no dia de eleição. "É preciso ter, na Paraíba, o melhor amigo do presidente. Cássio Cunha Lima (que disputa o segundo turno), a sua vitória é a vitória da Paraíba", falou o presidenciável, que está com forte rouquidão. Ele se comprometeu a terminar as obras de transposição do rio São Francisco, caso vença a eleição no dia 26. "Vamos concluir todas as obras em andamento", disse.

Contra o PT. Já em discurso realizado no Parque do Povo, o tucano pediu ajuda dos militantes para encerrar o ciclo de governo do PT no comando do País. "Até o dia 26 de outubro, que cada um de vocês seja a minha voz, a minha determinação e a minha coragem para tirar o PT do governo", afirmou Aécio no Parque do Povo, no centro da cidade.

O comício durou cerca de meia hora, encerrando a agenda do candidato em Campina Grande. Aécio deve seguir na noite desta sexta-feira para João Pessoa, capital do Estado.

Obras do PAC 2 não saem do papel

• Em evento no Rio ano passado, Dilma anunciou repasse de R$ 2,6 bi a comunidades

Cássio Bruno – O Globo

RIO - Vitrine do governo Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está parado em favelas do Rio de Janeiro. As obras de infraestrutura do PAC 2 na Rocinha, na Zona Sul, e nos complexos do Jacarezinho e do Lins de Vasconcelos, na Zona Norte, foram anunciadas pela presidente em 14 de junho do ano passado, mas ainda não saíram do papel. Ao todo, o projeto tinha previsão de investimentos de R$ 2,66 bilhões, sendo R$ 800 milhões de contrapartida do governo do estado.

O prazo dado pelos governos federal e estadual era de que as obras do PAC 2 nessas comunidades tivessem início até o fim de 2013, com conclusão em três anos. O projeto previa implantação de rede de esgoto e drenagem, pavimentação de ruas, construção de casas populares do programa Minha Casa, Minha Vida para vítimas de enchentes, praças, passarelas, viadutos, centros esportivos, postos de saúde e creches, contenção de áreas de riscos, além de teleféricos, saneamento ambiental e outros serviços.

A Rocinha e os complexos do Jacarezinho e do Lins têm cerca de 300 mil pessoas e embora contem com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) ainda enfrentam a presença de traficantes. As comunidades estão ocupadas por cabos eleitorais de Dilma e do governador Luiz Fernando Pezão, que tenta a reeleição pelo PMDB. O grupo pago pelas duas campanhas distribui panfletos com propagandas dos candidatos.

— Não sei o que houve. O atraso das obras deixou os moradores chateados. A situação aqui é crítica, principalmente em relação ao saneamento básico. Não sei mais o que dizer para a comunidade — disse Antônio Marques, vice-presidente da Associação de Amigos bairro Barcellos (AMABB), uma das três entidades representativas da Rocinha.

Rocinha receberia r$ 1,6 bilhão
Do total de recursos, a Rocinha seria contemplada com R$ 1,6 bilhão do PAC 2. Marques explicou que, por conta do esgoto a céu aberto, muitos moradores sofrem com doenças:

— Há vários casos de tuberculose, de doenças de pele.

No Jacarezinho, a situação é parecida. A favela também aguarda as obras de R$ 609 milhões. O presidente da Associação de Moradores do local, Elias Rocha, disse que tem de conviver com as reclamações da comunidade. Já para o Complexo do Lins, seriam repassados mais R$ 446 milhões.

— Ninguém sabe o que vai acontecer. Os moradores estão esperando as obras e até hoje e nada foi feito. Há muita cobrança e insatisfação — afirmou Rocha.

O evento em que Dilma anunciou o pacote de obras ocorreu no Complexo Esportivo da Rocinha. Ao lado da presidente, estavam Pezão, o então governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, ambos do PMDB, além de ministros. Na ocasião, Dilma, no discurso, chamou Pezão de “pai do PAC", uma alusão ao ex-presidente Lula, que, em 2008, referiu-se a Dilma como “a mãe do PAC".

— O Rio é visto pelo Brasil como o estado em que a questão da violência foi mais bem tratada. As UPPs representam a volta pelo respeito às necessidades da população. Estamos lançando o PAC 2 para melhorar ainda mais a vida desses moradores. Investir em comunidades tem sido transformador — declarou Dilma, no palanque.

Burocracia emperra obras
Procurado pelo GLOBO, o Ministério das Cidades informou, por meio de nota, que os recursos já estão disponibilizados. Mas disse que “ainda aguarda o detalhamento e revisão dos projetos pelo governo do estado e a análise e aprovação pela Caixa Econômica Federal, mandatária da União”. E completa:

“Somente após esse procedimento pode ser formalmente autorizado o início dos objetos pactuados, para que se comece o repasse dos recursos financeiros e se inicie as intervenções. Normativamente, isso ocorrer em até 12 meses após a contratação”.

Responsável pela execução das obras, o governo do Rio afirmou que, até o fim deste ano, divulgará o edital de licitação e, após 15 dias da publicação, os trabalhos terão início. Sobre o atraso, a Secretaria estadual de Obras disse em nota:

“Até começar a obra, há um longo processo burocrático para percorrer com passos como a contratação de projetos executivos e aprovação deles pelo Tribunal de Contas. Há ainda estudos de campo — bastante complicados por se tratar de comunidades — e as próprias audiências públicas que acabam alterando os projetos, o que, às vezes, demanda um tempo maior do que o previsto inicialmente”.

Marqueteiros preferem briga pessoal, critica FHC

Luciana Nunes Leal – O Estado de S. Paulo

No dia seguinte do debate mais tenso da campanha presidencial, em que a petista Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves trocaram acusações pessoais, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou as equipes de comunicação das campanhas. "Parece que os marqueteiros preferem a briga pessoal. Os candidatos não gostam e eu também não", afirmou Fernando Henrique, que disse, no entanto, não ter visto o debate organizado por SBT, Uol e rádio Jovem Pan. "Os partidos têm programa, mas não conseguem mostrar".

Fernando Henrique comentou rapidamente o aumento da tensão entre os candidatos depois de fazer palestra para cooperativados da Unimed, em um hotel na zona oeste do Rio. Para a plateia, o ex-presidente fez uma referência explícita à eleição do dia 26. "Temos tudo para vencer, depende de nós e, sem querer exagerar, do que fizermos agora, semana que vem. Nós somos responsáveis", disse. "Chegou um ponto que não dá mais, esse momento de dizer ''basta'' chegou", insistiu.

Fernando Henrique afirmou que a corrupção tem "anuência" dos governantes. "Estamos diante de um quadro de corrupção sistêmica, você tem anuência tácita ou explícita de quem manda no governo, porque sabe, tem que saber. Não pode deixar de saber que existe uma organização nas estatais, nas obras públicas, para obter dinheiro", afirmou o tucano. Fernando Henrique disse que o PT, com exceção do senador Eduardo Suplicy (SP), foi contra a implementação de programas de transferência de renda no passado. "A reação contra isso era muito grande, principalmente do PT porque (o programa de bolsas) era ''neoliberal''. Em vez de o Estado fazer, dá o dinheiro, que vai para o mercado".

O ex-presidente lembrou que seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), unificou as diferentes bolsas de seu governo, o que "deu resultado". "O programa Fome Zero (do PT) nunca existiu, era só propaganda. Quando o presidente Lula percebeu que tinha que fazer algo, juntou tudo e fez o Bolsa Família. Deu resultado. Passou de cinco milhões para onze milhões de famílias", disse. Fernando Henrique voltou a ironizar o petista: "O presidente Lula teve a sagacidade de, tendo sido contra tudo o que foi feito, fazer tudo igual".

O tucano disse que, depois da Constituição de 1988 e com a redemocratização, "era preciso olhar mais para os pobres não só porque é obrigação moral, mas porque eles votam". "Nos anos 70, no governo militar, a economia cresce e o povo que se dane. Mas, quando tem democracia, tem que ter política social". O ex-presidente afirmou que o País vive uma "crise de valores".

'Eles já entram na fase final derrotados', diz Aécio

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

Com um posicionamento de que apenas tem se defendido dos ataques da campanha da presidente Dilma Rousseff, o candidato presidencial do PSDB, Aécio Neves, considera que o PT chega nessa reta final "derrotado".

De passagem por Campina Grande (PB) na noite de ontem Aécio Neves conversou com o Broadcast Político sobre o clima de "pancadaria" que passou a ser o foco central das campanhas na reta final das eleições presidenciais. "Eles acham que desconstruindo o adversário, eles ganham. Isso a meu ver reflete uma derrota prévia. Eles já entram na fase final derrotados, independente do resultado eleitoral, porque na campanha eleitoral você não pode pensar só no número de votos, mas na postura, na compostura", afirmou.

A ideia, segundo ele, será a de não deixar nenhum ataque sem resposta nos últimos dias da eleição que se encerra no próximo domingo (26). " Quem começou atacando, e não é de hoje, é ela. Veja a campanha que eles fazem. A nossa campanha não tem ataques pessoais. Agora não vamos ouvir calados. Vou tentar fazer uma campanha propositiva até o final, mas vamos rebater à altura todas as infâmias, calúnias e ofensas".

O tucano também falou sobre o último debate realizado pelo SBT em que predominou trocas de ataques entre ele e Dilma, passando até para familiares. "Eu não saio de um debate como o de ontem feliz. Acho que perdemos uma oportunidade extraordinária de dizer para a população o que vamos fazer para melhorar a vida deles. Não é bom, mas foi a tática que o PT buscou".

Nesta sexta-feira, Aécio se encontrou com a candidata derrotada no primeiro turno Marina Silva (PSB) em São Paulo. As imagens do encontro serão inseridas nos próximos programas eleitorais. Questionado sobre qual seria o papel de Marina nesta reta final, ele afirmou: "Ela fez uma gravação, estará no programa eleitoral e acho que não posso querer mais nada da Marina do que ela já deu. Não conversamos nada sobre ela participar de um ato de campanha. Mas ela veio não apenas formalmente, ela veio com o coração e emoção e nossas conversas têm sido com muita energia".

União entre PSB e PPS pode dar lugar a Partido Socialista

César Felício e Vandson Lima – Valor Econômico

BRASÍLIA - Um telefonema esta semana entre o novo presidente do PSB, Carlos Siqueira, e o presidente do PPS, deputado Roberto Freire, reabriu a negociação para a fusão dos dois partidos. Os dois dirigentes deverão discutir internamente o assunto logo após a eleição presidencial no segundo turno e o processo será levado adiante independente da vitória ou não do tucano Aécio Neves, apoiado por ambas as siglas. Em uma segunda etapa, as cúpulas dos dois partidos começariam a mapear as diferenças regionais e estabeleceriam um cronograma para a união.

A fusão do PSB com o PPS para a criação de um novo partido estava sendo negociada pelo falecido candidato presidencial do PSB, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, até sua morte em um acidente aéreo no dia 13 de agosto. O arranjo permitiria ao novo partido receber adesões de outros parlamentares sem que se ferisse a norma da fidelidade partidária, que pode levar à perda de mandato do parlamentar que trocar de sigla.

Mas os dirigentes reconheceram que há dúvidas jurídicas sobre o tema. O assunto é tratado pela lei 9096/95, que dispõe sobre a criação, fusão e incorporação dos partidos políticos, mas há uma miríade de resoluções que disciplinam trechos da lei.O TSE criou uma norma em que não reconhece um processo de fusão como o da criação de um novo partido. Se ocorrer uma fusão, o arranjo não permite que parlamentares de outras siglas, à exceção das duas, migrem para a nova legenda sem estar sob risco de perda de mandato. Pior que isso, políticos desses partidos que fiquem insatisfeitos com a fusão estarão liberados para ir para outras legendas mantendo seus cargos.

"O efeito prático da regra é equiparar a fusão com a incorporação. Este é um complicador, sobretudo se não permitir a soma do fundo partidário e do tempo de televisão", disse Freire.

De acordo com Siqueira, já há até a idéia de um nome para o novo partido, que poderia ser Partido Socialista (PS), sigla comum em partidos europeus. Também é possível que o nome partido mantenha a sigla PSB, trocando apenas o número de votação, que deixaria de ser o tradicional 40.

Neste caso o partido teria outro registro de pessoa jurídica e, para efeitos legais, seria uma nova sigla. Para isso, as siglas teriam que pedir a sua auto-extinção e cirar um novo partido, com outro CNPJ, outro estatuto e outro número na urna, mas com o mesmo nome. Segundo o jurista Torquato Jardim, especialista em direito eleitoral e ex-ministro do TSE, essa "é uma operação passível de discussão na Justiça".

No caso da fusão ser equiparada a incorporação, o que levaria à absorção do PPS pelo PSB, Siqueira afirma que o processo ainda assim pode ser vantajoso para os políticos de ambos os partidos. "Uma sigla com mais parlamentares terá mais influência em todas as instâncias políticas", disse. Tanto o PSB quanto o PPS têm interesse em participar de um eventual governo Aécio. Nas últimas eleições, o PSB elegeu uma bancada de sete senadores e de 34 deputados. O PPS não venceu para o Senado e ficou com uma bancada de dez parlamentares na Câmara. Unidos, formariam a quarta bancada no Congresso, atrás do PMDB, PT e PSDB.

Na incorporação, o PSB poderá manter a sigla e o número usado na urna, mas quem for do PPS e discordar da incorporação pode sair do partido sem perder mandato. Quem é do PSB não teria esse direito.

A especulação sobre fusões e incorporações está congelada no DEM e no PSD, partidos que perderam espaço nas eleições parlamentares este ano. Segundo o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), tudo dependerá da eleição ou não de Aécio Neves. "o papel do próximo presidente será fundamental na reorganização partidária que acontecerá no próximo ano". O partido elegeu apenas 22 deputados e ficou com uma bancada de cinco senadores.

Bovespa acelera ganhos no fechamento com divulgação de pesquisa

Téo Takar – Valor Econômico

SÃO PAULO - Uma onda de especulação eleitoral atingiu a Bovespa nos cinco minutos finais do pregão desta sexta-feira. A movimentação ocorreu devido à divulgação da pesquisa Sensus/IstoÉ ainda com o mercado aberto. Assim como na pesquisa da semana passada, o Sensus mostrou larga vantagem de Aécio Neves (PSDB) sobre Dilma Rousseff (PT), de 12,8 pontos percentuais. Porém, essa vantagem era ainda maior na pesquisa anterior, de 17,6 pontos.

A divulgação da pesquisa era aguardada para hoje, porém não é usual que os números saiam ainda com o mercado aberto, o que despertou a atenção dos operadores. “Alguém ganhou muito dinheiro com isso. Não faz sentido soltar pesquisa com mercado aberto e a pesquisa mostrar uma vantagem de votos desse tamanho”, disse a fonte, ao lembrar que os levantamentos feitos por Ibope e Datafolha nas duas últimas semanas apontam empate técnico na corrida ao Palácio do Planalto.

Apesar da euforia dos últimos minutos, a bolsa brasileira operou no azul durante todo o pregão desta sexta-feira, de carona nos mercados internacionais. Uma rodada de dados positivos nos Estados Unidos trouxe alívio aos investid ores, que passaram a semana tensos com sinais de fraqueza da economia mundial. Embora hoje seja véspera de vencimento de opções sobre ações, operadores relataram que os principais ativos da bolsa brasileira passaram a maior parte do tempo “comportados”.

A primeira prévia da confiança do consumidor americano, elaborada pela Universidade de Michigan, su biu para 86,4 pontos em outubro, acima dos 84,6 pontos de setembro. Outro dado positivo foi o de construção de casas novas nos Estados Unidos, que subiu 6,3% em setembro, após queda de 12,8% em agosto.

Aqui, investidores ainda comentavam a troca de farpas entre Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) no debate promovido no fim da tarde de ontem pelo SBT, quando os números do Sensus piscaram nas telas. A próxima semana já começa com três levantamentos no radar: Datafolha, MDA e Vox Populi, além do debate da TV Record, no domingo.

O Ibovespa subiu 2,63%, aos 55.723 pontos, com volume de R$ 9,348 bilhões. A bolsa brasileira terminou a semana com leve alta de 0,74% e acumula ganhos de 2,97% no mês e de 8,19% no ano.

“Os movimentos estão em linha com o esperado, em dia de cenário externo mais favorável para ativos de risco”, comentou a Guide Investimentos em nota. “Sem dados macro relevantes, investidores seguem atentos aos desdobramentos políticos.” A Guide destaca que Dilma cancelou compromissos no fim de semana para se preparar para o debate de domingo com Aécio, na TV Record.

Entre as ações do “kit eleição”, apenas Eletrobras ON (6,71%, a R$ 6,99) apresentou alta mais acentuada e liderou o Ibovespa. Os demais papéis ficaram em linha com o mercado, embora tenham ampliado ligeiramente os ganhos no fechamento com os números do Sensus: Petrobras PN (2,35%, a R$ 19,09), Itaú PN (2,91%, a R$ 36,70), Bradesco PN (3,86%, a R$ 37,60) e Banco do Brasil ON (2,66%, a R$ 31,99).

Além de Eletrobras ON, a lista de maiores altas trouxe Cielo ON (6,40%), TIM ON (5,66%) e Eletrobras PNB (4,94%). Na ponta oposta ficaram Eletropaulo PN (-2,72%), CSN ON (-2,41%) e Souza Cruz ON (-2,02%).

Luiz Werneck Vianna - O moderno, o atraso e a esquerda

- O Estado de S. Paulo

Desde Marx o tema das relações entre o moderno e o atraso é clássico na tradição da esquerda e raiz de fortes controvérsias. Não à toa, uma vez que em sua obra, especialmente em seus artigos políticos, Marx admitiu, respondendo a uma consulta feita por uma destacada liderança dos populistas revolucionários russos, a possibilidade de um salto revolucionário do atraso para o moderno - no caso, das comunas tradicionais (o mir) para o socialismo -, que assim poderia evitar "o cortejo de misérias do processo de acumulação primitiva do capitalismo" de que a Inglaterra seria paradigmática.

No caso, embora reconhecesse como legítima e plausível a questão que lhe era posta, o autor deixava claro que ela não encontraria fundamentação teórica em O Capital, sua opera magna dedicada à investigação do capitalismo em sua forma plenamente desenvolvida, reclamando estudos aprofundados sobre formações sociais de base agrária, como a russa, que ele então pesquisava.

Depois de sua morte, seu legado intelectual foi confiado, primeiro, a Engels, amigo e companheiro de toda a sua vida, e depois a Karl Kautsky, expoente da II Internacional e da social-democracia alemã, cenário bem distinto do russo, com a questão agrária já resolvida por meio de uma modernização pelo alto em favor da grande propriedade fundiária capitalista. Na interpretação de Kautsky, as chamadas forças sociais retardatárias, como o campesinato, não estariam destinadas ao desempenho de papéis ativos na revolução socialista em razão de seus vínculos de origem ao princípio da propriedade privada. Tais forças deveriam contar apenas como aliadas eventuais e temporárias. Caberia ao operariado, organizado em torno de sua vanguarda política, o enfrentamento com o capitalismo, que à medida que se aprofundava como modo de produção operaria como um simplificador da estrutura de classes, opondo em antagonismo radical as forças do capital às do trabalho, estas últimas tendencialmente majoritárias.

A transição para o socialismo seria, nessa versão, obra do moderno e dependente de uma plena maturação do capitalismo, construção teórica escorada em textos do próprio Marx, como no prefácio de 1859 à Contribuição à Crítica da Economia Política, quando sustentou que "nenhuma formação social desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela contém". Não importa, como vimos, que, mais tarde, ele tenha valorizado em vários textos o papel das forças retardatárias no processo da revolução socialista, pois seu enunciado de 59 foi elevado a cânon da II Internacional.

A crítica a esse postulado veio dos revolucionários russos, Trotsky e Lenin à frente, que romperam com essa visão linear ao defenderem a teoria de um desenvolvimento desigual e combinado, que implicaria uma nova leitura para as relações entre o moderno e o atraso. Segundo ela, o atraso, longe de se constituir em obstáculo para a revolução socialista, podia se apresentar como uma vantagem, caso de uma aliança operário-camponesa realizada sob a hegemonia do primeiro. Como notório, a criação do primeiro Estado socialista, em 1917, foi filha dessa teoria - um país majoritariamente agrário e de capitalismo inconcluso teria saltado etapas, aproveitando-se de forças da tradição como o campesinato.

O tema das vantagens do atraso correu mundo. O jovem Gramsci, em nome delas, num artigo sempre lembrado, vai saudar a vitória dos comunistas russos como "a revolução contra O Capital" (no caso, a obra de Marx), e as revoluções do século 20 nos países de capitalismo retardatário as tiveram como referência. Com a esquerda brasileira, em boa parte de sua história, não foi diferente, embora a partir de fins dos anos 50 tenha cedido em importância à questão nacional.

Nessa reviravolta, a esquerda, então sob majoritária influência do Partido Comunista Brasileiro, optou pelo caminho da modernização do País, que supunha, no contexto da época, uma aliança com o que então se caracterizava como burguesia nacional. Nessa nova equação, "as vantagens", para a esquerda, trocam de lugar: seu eixo passa a gravitar em torno da agenda do moderno, e não mais na do atraso.

O golpe de 1964 desmarcou essa topografia política. O regime militar assumiu como estratégia a captura da agenda da modernização, reeditando, no estilo, em temas e muitos dos antigos personagens, a que foi empreendida por Vargas sob a modelagem autoritária do regime do Estado Novo de 1937. Não por acaso, a questão agrária foi compreendida como central pelo regime militar. A derrota política desse regime, com a institucionalização da democracia pela Carta de 1988, sob roupas novas e em cenário radicalmente distinto, nos trouxe de volta a difícil relação entre o moderno e o atraso.

A barafunda ideológica em que se converteu a presente sucessão presidencial vem toldando a percepção dessa relevante questão, de que o constituinte não se descuidou e nada tem de anacrônica. Ela está aí no tema da Federação, tão pouco discutido, na questão agrária (ainda!), de que se tem passado ao largo, e das populações indígenas e quilombolas. Sobretudo na falta de vínculos dos partidos, notadamente os de esquerda, com os setores sociais ditos retardatários, confiados, no melhor dos casos, à ação tutelar do Estado. Vale notar igualmente, para não ficar sem registro, a distância que os sindicatos de trabalhadores mantêm com a vida popular, entregues a uma pauta meramente corporativa - o tema do sindicalismo tem sido outro ausente dos debates eleitorais.

Nada poderia testemunhar melhor a indigência atual da nossa discussão política do que a tentativa de traduzir essa questão capital numa grosseira oposição entre ricos e pobres, como se a política ora em curso fosse inocente quanto ao abismo social e político existente entre eles.

* Professor-pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio

Alberto Aggio - Sob o signo da mudança

- O Estado de S. Paulo

Fascinados pelo novo e por melhorias contínuas na vida material, nós, brasileiros, cultivamos um apreço mais do que vocabular ou momentâneo pela ideia de mudança. Essa ideia, que está no centro das representações acerca da trajetória do país, é parte integrante da nossa forma de ser. Não é sem razão que ela ocupa um lugar preferencial no discurso político, sendo ressignificada pelos atores conforme as encruzilhadas que se apresentam a cada conjuntura mais "quente", nas quais os embates invariavelmente acabam por opor personalidades, forças políticas, programas, estratégias e projetos, no mais das vezes entendidos como distintos e até mesmo antagônicos, mesmo que isso apenas revele a superfície das coisas.

Há quem entenda mudança como uma "ruptura no tempo histórico", identificando-a com a noção de revolução. Como se sabe, em nossa História, a revolução foi uma ideia mais vocalizada do que realizada. Nos dias que correm, essa vocalização é um eco tão distante quanto irreconhecível. Após o colapso do "comunismo histórico", a revolução deixou de governar o sentido de futuro da História. 

Por essa razão, no Brasil aqueles que vinculavam mudança à revolução, depois de conquistarem o governo, passaram a referir-se aos projetos que implementavam por meio da expressão "grande transformação" - uma espécie de colagem construída sem muito rigor e indecifrável em seu sentido estratégico. Não se sabe ao certo se a inspiração para tal expressão adviria das mudanças notavelmente registradas por Karl Polanyi a respeito do capitalismo europeu do final do século 19 ou da recente trajetória chinesa de abandono da modernidade anticapitalista - comunista, em suma - e sua adesão vigorosa à economia de mercado. Na incerteza, o que parece correto é que, nesse caso, a revolução cedeu lugar a orientações de renovação econômica, tão claudicantes quanto frágeis - como se vem comprovando -, combinadas com programas sociais extensivos e focalizados que jogaram para longe toda e qualquer noção de universalidade.

Em contraposição, fora do universo apenas discursivo, mudanças a partir da ordem são mais comuns do que se pensa. Elas podem ser positivas ou negativas, podem ser impostas violentamente ou ser adotadas por consenso. Por rudes e grosseiros, governantes sem qualidades, pouco afeitos ao mundo da política democrática, imaginam que duvidosas alterações na estratificação da renda e nas dinâmicas de consumo por eles promovidas podem ser qualificadas como "revoluções silenciosas". Ignoram o fato de que a História pode mudar molecularmente, pressionada pela potência que vem dos subterrâneos da terra e que, no mais das vezes, é imperceptível. Iludem-se com realizações que não são suas. Por isso esse tipo de mudança nem sempre é adequadamente compreendido e assimilado pelo universo da política, uma vez que a natureza dos fatos pede umavirtù geralmente escassa nos políticos. Destes, os mais prepotentes imaginam que surfar na onda mudancista pode garantir-lhes a eternização no poder. Contudo uma dinâmica de tal natureza, mais comum do que se pensa, emerge hoje de forma combinada com a complexidade que definitivamente se instalou na sociedade do hipermodernismo, exigindo a ultrapassagem do velho paradigma mudancista expresso na frase "plus ça change, plus c'est la même chose", no qual, como nos ensinou Gramsci, a conservação dirige e condiciona a mudança.

O Brasil esteve sob o signo da mudança em diversos momentos da sua História recente. Na conclusão da longa travessia em que se processou o trânsito do autoritarismo para a democracia, o brado de "muda Brasil", proferido por Ulysses Guimarães ao saudar a Constituição cidadã de 1988, deu o sentido preciso da mudança para os anos que se seguiram: a conquista e ampliação dos direitos de cidadania. Essa tarefa deveria ser executada pelo Estado e por uma sociedade que gozasse cada vez mais de autonomia para livremente buscar realizá-la em ambiente democrático crescente. A partir daí, a ideia de mudança conectou-se com a de democracia política, promovendo um movimento de ascensão sem precedentes da cidadania no País, sancionado até mesmo por uma Constituição - também ela - aberta à mudança.

A vitória eleitoral do PT para a Presidência da República em 2002 impôs outro rumo àquele processo de democratização. A despeito de reconhecidos avanços, a partir daí o governo Lula engoliu e bloqueou a livre movimentação da sociedade, estatizando os movimentos sociais. Isso interrompeu a trajetória ascendente do processo de mudança que havia começado com a conquista da transição e com a elaboração da Constituição de 1988. Esse redirecionamento, muito bem qualificado por Luiz Werneck Vianna como "o Estado Novo do PT", deu roupagem nova à longeva "revolução passiva" à brasileira. Ao invés de se alçar como representação de toda a sociedade e adentrar o universo estatal com autonomia e com uma pauta própria de avanço da democracia em termos sistêmicos e civilizatórios, a política dos subalternos seria substituída, pelo alto e como dádiva, pelas benesses do Estado. Capturada, a política dos subalternos passaria a estar enredada - como comprovado está - nos anéis da corrupção.

Hoje estamos outra vez às voltas com a ideia de mudança. Se, em seu tempo, ela se chamou "Diretas Já", para logo em seguida ganhar o nome de Constituição cidadã, nos dias que correm a mudança parece construir seu imaginário na reafirmação do sentido público das instituições do Estado e no desejo de revivescer na sociedade espaços que fortaleçam ou façam surgir autonomamente novos sujeitos democráticos. O que significaria uma ultrapassagem dos termos colocados pela rude hegemonia que se estabeleceu nos últimos anos.

* Historiador, é professor titular da Unesp

Merval Pereira - Vitimização de Dilma

- O Globo

O truque já foi usado uma vez, recentemente, e não funcionou, ao tentarem fazer da presidente Dilma uma coitadinha quando foi vaiada na abertura da Copa do Mundo no Itaquerão. Nada indica que funcionará desta vez. Transformar a presidente Dilma em uma senhora delicada que foi tratada com grosseria por seu adversário Aécio Neves no debate do SBT na quinta-feira, não é um relato fiel do que aconteceu, nem faz jus à história da presidente e do PT. Beira o ridículo.

O mal-estar da presidente a final do debate pode ter sido provocado pelo calor da discussão e do estúdio de televisão, e prenuncia uma fragilidade emocional dela, conhecida por seu vigor verbal, digamos assim. Ontem, Dilma, antes de adiar uma vinda ao Rio " a conselho médico" que depois foi desmentido, disse algo como “o PT não é de briga, mas sabe enfrentar desafios”. Nada menos verdadeiro.

Ao contrário, o PT só sabe fazer política na base do confronto, precisa de um inimigo para mobilizar seus militantes, que andam meio desanimados ultimamente. Esse clima de guerra permanente foi instalado pelo PT no país, que não sabe fazer política sem radicalizar. A prática do “nós contra eles”, aprofundada nesta campanha com uma tentativa de jogar o PSDB contra os nordestinos, acaba levando a exacerbações.

Na ocasião da abertura da Copa escrevi que a grosseria é um problema nosso, de uma sociedade que precisa encontrar novamente o caminho da civilidade e da convivência pacífica entre os contrários. A vaia é um problema da presidente Dilma e do PT. Naquela ocasião, a presidente Dilma passou a ser tratada como uma senhora frágil e desacostumada a essa linguagem, quando ela própria já demonstrou, em reuniões com ministros e empresários, que sabe lidar com esse tipo de problema. Que o digam os ministros que já saíram chorando de seu gabinete depois de uma boa espinafração, muitas vezes com uso de palavras nada convencionais.

O ex-presidente Lula voltou a tentar o truque depois do debate da Bandeirantes, dizendo que “quando eu vejo um homem na televisão ser ignorante com uma mulher, como ele tem sido nos debates, eu fico pensando: se esse cidadão é capaz de gritar com a presidenta, fico imaginando o dia que ele encontrar um pobre na frente: é capaz dele pisar ou não enxergar”.

Lula evidentemente está fazendo baixa política, sem muita chance de dar certo. A própria presidente Dilma não dá razão para esse tratamento condescendente com ela, pois quando soube que a ex-candidata Marina Silva havia chorado ao ser atacada pela propaganda petista, saiu-se com esse comentário: “um presidente da República tem de resistir à pressão”.

Em discurso dirigido a movimentos negros em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, Dilma afirmou que quem não quer ser criticado "não pode ser presidente".

— Um presidente da República sofre pressão 24 horas por dia. Se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República. Acho que, (para) ser presidente, a gente tem que aguentar a barra — disse Dilma.

Se a vitimização de Marina não teve sucesso, e ela só reagiu à altura dos ataques muito tempo depois, quando sua votação já se esvaía, agora o candidato do PSDB Aécio Neves está enfrentando de frente os mesmos ataques, o que coloca um dado novo na disputa presidencial. Na verdade, Aécio é o primeiro candidato tucano que enfrenta o PT sem receios, resgatando o legado de Fernando Henrique Cardoso e exorcizando de vez a demonização que o PT vem fazendo dos governos tucanos pelos últimos 12 anos.

Tanto Serra quanto Alckmin entraram na disputa contra o PT com receio de se indispor com Lula e seus seguidores, e tiveram dificuldades para defender as políticas do PSDB, quando não evitaram simplesmente temas polêmicos como as privatizações. A postura de Aécio Neves já mostrou que há um projeto político para enfrentar o lulismo, e defendê-lo não tira votos.

Fernando Rodrigues - Cabeado para dar errado

- Folha de S. Paulo

O nível de ataques nesta eleição presidencial é o mais elevado desde a volta do Brasil à democracia. Alguns acham que em 1989 foi ainda pior. Pode ser, mas há um problema nessa comparação: aquela eleição era disputada com regras menos rígidas como as atuais e nenhum dos dois candidatos (Collor e Lula) concorria à reeleição.

Hoje, as normas esdrúxulas de campanha são quase um incentivo para os políticos se atacarem. Nada mais. Os programas de TV e de rádio e os debates entre os candidatos são todos cabeados para dar errado. Parecem aquele imóvel antigo cuja fiação não tem mais jeito: todos os cabos precisam ser trocados e realinhados para evitar um curto-circuito.

Os programas de rádio e de TV são uma inutilidade completa quando se trata de permitir que os candidatos apresentem, de maneira alentada e inteligente, alguma proposta real sobre como governar o país. No caso dos que concorrem a deputado, a coisa piora --o eleitor assiste a um desfile de personagens que parecem saídos de um trem fantasma. Só gritam seus nomes na tela.

Os debates poderiam oferecer um pouco de oxigênio, mas o engessamento imposto pelos candidatos impede que isso ocorra. Por que duas pessoas que pretendem ocupar a cadeira de presidente da República são incapazes de se sentarem por uma hora para conversar, sem que cada pergunta tenha de durar um minuto? Resposta: porque os marqueteiros treinam os políticos para falar nesse tempo bem definido. Se a conversa for livre, eles ficam perdidos.

A Folha ouviu essa explicação das campanhas de Dilma Rousseff e de Aécio Neves. Ambos se recusaram a fazer um encontro com regras livres e abertas, num debate mais adulto e com alguma inteligência.

O que sobra então numa campanha tão disputada, cujas regras são feitas para impedir o debate? Ocupar os espaços que restam com aspersão de lama para destruir o adversário.

Cláudio Couto - A estratégia de Aécio

- O Estado de S. Paulo

Retomo aqui um ponto que desenvolvi inicialmente em minha coluna do domingo de 1.º turno. Nos últimos anos, sobretudo nos últimos dois pleitos, o PSDB seguiu equivocadamente a estratégia de combater os governos petistas no plano federal buscando o antipetista mediano, mais que o eleitor mediano - aquele que decide a disputa, já que divide o eleitorado ao meio.

Essa estratégia malsã ficou clara na insistência do partido em bater na tecla da corrupção, quando já havia se evidenciado que isso significava "chover no molhado", pois o discurso acerca da corrupção do PT só sensibilizava significativamente os eleitores antipetistas, cujos votos os tucanos já tinham.

Para complicar ainda mais, o PSDB enfrentava a dura realidade do sucesso dos governos de Lula nos campos social e do crescimento econômico, ficando difícil para o partido viabilizar uma estratégia vencedora, formulando um discurso que persuadisse o eleitor mediano. As coisas ficaram mais fáceis com o governo Dilma, já que a estagnação da melhora social dos anos Lula (perceptível na desaceleração da queda da desigualdade), a estagnação do crescimento (perceptível no baixo crescimento do PIB) e o mau humor com o governo de um modo geral (expressado com as manifestações de junho e a subsequente queda de popularidade da presidente) fizeram com que se abrisse uma oportunidade para a formulação de uma mensagem mais eficaz.

Para ter sucesso, tal mensagem precisa contra-arrestar o discurso do medo feito pela campanha governista, atingindo seu contrapé. A importância disso evidencia-se ainda mais diante da aversão ao risco manifestada pelo eleitor brasileiro de um modo geral, que em diversos pleitos estaduais optou por não trocar o certo pelo duvidoso, mesmo clamando por mudança.

A estratégia governista tem sido a de colocar Aécio e o PSDB como os arautos do retrocesso, que podem pôr a perder todos os ganhos sociais obtidos nos anos de Lula (e, em bem menor medida, Dilma). Os oposicionistas tentam demonstrar que o verdadeiro retrocesso viria da manutenção de um governo que se mostrou inepto para manter as conquistas que ele próprio gerou, em função da desastrada política econômica. Noutros termos, o PSDB tenta mostrar-se mais capaz de preservar (e ampliar) as conquistas do PT do que o próprio PT.

De certa forma, isso já foi tentado em 2010 por José Serra, quando se apresentou como o "Zé", "homem do povo", mais lulista do que a candidata de Lula. O "Zé" ainda cobriu a própria aposta, oferecendo ao eleitor pobre um aumento do salário mínimo mais generoso do que os proporcionados pela arrojada política de recuperação salarial do governo. O problema é que - seguindo o adágio popular - quando a esmola é muita, o santo desconfia. Ainda mais quando o oferente não passa credibilidade. Ao tentar mimetizar Lula, o candidato tucano tornou-se patético, tão mal-ajambrado em suas vestes popularescas quanto aqueles barbados de pernas peludas que se vestem de mulher no carnaval. A consequência desse desarranjo foi uma radical guinada, pouco tempo após o início da campanha, com Serra assumindo outra persona - a do candidato direitista que invocou a temática conservadora dos valores religiosos. Deu errado do mesmo jeito.

Para ter sucesso, Aécio não pode simular ser o que não é. Precisa mostrar-se confiável ao eleitorado lulista, sem fingir ser Lula. Ao apostar na polarização esquerda-direita, o PT tenta novamente fazer o PSDB cair na arapuca de aparecer diante do eleitorado mais pobre como a encarnação do elitismo, do tecnocratismo e da insensibilidade social - agradáveis apenas ao já cativo antipetista mediano, sobretudo o dos estratos mais ricos. Pelo tom adotado e pelos resultados das pesquisas, Aécio parece ter encontrado um equilíbrio na mensagem, produzindo uma estratégia mais promissora que a de seus antecessores. Isso explica a disputa tão apertada.

Demétrio Magnoli - A bolsa e a vida

• Já é tempo de avançar além da receita do Banco Mundial, rumo à qualificação dos direitos sociais

- Folha de S. Paulo

Conceitualmente, O Bolsa Família não nasceu com Lula, nem com FHC, mas no laboratório político do Banco Mundial. O "objetivo abrangente" de redução da pobreza, proclamado em 1991 por Lewis Preston, presidente do banco, seria alcançado por meio de políticas focadas de transferência de renda. Era uma resposta estratégica ao pensamento de esquerda, concentrado em reformas sociais, e um programa de ação para o ciclo aberto pela queda do Muro de Berlim. FHC a adotou sem o entusiasmo dos conservadores, encarando-a como um emplastro civilizatório que não substituiria iniciativas fortes do Estado nas esferas da educação e da saúde. Lula não só a abraçou como serviu-se dela para ancorar eleitoralmente seu sistema de poder.

Quando Lula fulminou o Bolsa Escola com o epíteto de "bolsa esmola", operava no registro tradicional do pensamento de esquerda. Na hora da chegada ao poder, sob a inspiração de José Graziano da Silva, perseverou naquele registro e lançou o Fome Zero, que não era um programa de transferência de renda. Graziano analisara de modo realista os rumos da formação do complexo capitalista do agronegócio, em duas obras significativas, publicadas na década de 1980, mas sonhava com o florescimento de uma agricultura familiar autônoma. No esquema do Fome Zero, sob o amparo estatal, pequenos produtores locais forneceriam os alimentos para a mesa dos pobres. O Bolsa Família surgiu dos escombros do Fome Zero.

O experimento utópico do Fome Zero nem decolou. No início, seus escassos críticos sofreram o bombardeio ideológico de acadêmicos de esquerda encantados com o lulismo. Contudo, depois de 388 dias de inércia, Lula demitiu Graziano do Ministério Extraordinário e promoveu o giro pragmático que conduziria à unificação dos programas de transferência de renda de FHC (a "bolsa esmola") no Bolsa Família. Naquele momento, cessaram as resistências de esquerda à estratégia conservadora de combate à pobreza e, no lugar delas, emergiu o coro dos contentes, a proclamar a aurora de uma nova era.

Lula descobriu uma virtude político-eleitoral da expansão das transferências diretas de renda: o impulso ao consumo popular (de material de construção, eletrodomésticos e celulares) propiciava-lhe a chance de congelar a agenda de reformas na educação e na saúde públicas. O Bolsa Família tornou-se o núcleo de um conjunto de políticas focadas que abrangem, notadamente, o crédito consignado e as bolsas do ProUni. Nas eleições, o espectro da supressão dos benefícios monetários passaria a figurar como linha de ataque permanente do PT contra qualquer adversário. Simplificado ao extremo, o tema tão decisivo do combate à pobreza convertia-se em monopólio de um partido.

Os tucanos sentiram o golpe, girando em círculos à procura de uma resposta. Desorientados, chegaram a ensaiar, nos piores momentos, a reprodução da primitiva réplica original de Lula. O prumo começou a ser reencontrado por Aécio Neves, que anunciou o compromisso de entalhar o programa na pedra da lei, fazendo-o "política de Estado, não de governo". Transferir o Bolsa Família do campo minado da disputa partidária para o das políticas públicas nacionais será um passo adiante, do ponto de vista da disputa eleitoral democrática. Mas, do ponto de vista conceitual, ainda estaríamos atrás do patamar atingido no governo FHC.

"Vemos as filhas do Bolsa Família transformarem-se nas mães do Bolsa Família", alertou Eduardo Campos meses antes de sua morte trágica, para indagar: "Queremos vê-las transformando-se em avós do Bolsa Família?". O círculo da pobreza e da dependência não pode atravessar gerações, sob pena de darmos razão ao Lula ancestral que clamava contra o "bolsa esmola". Já é tempo de avançar além da receita do Banco Mundial, rumo à qualificação dos direitos sociais universais. A bolsa não é a vida.

Cristovam Buarque - O futuro ausente

• Não se discutiu como será a Educação

- O Globo

O debate na TV Globo é o ponto alto do processo eleitoral. Ali, cada candidato tem a última chance para dizer por que os eleitores devem optar por ele ou por ela. Em 2014, o eleitor que buscou o melhor candidato no primeiro turno ficou frustrado pela ausência do tema educação. Educação foi jogada na vala comum, e o tema não foi sorteado. Pior, apesar de a educação permear todos os temas que foram sorteados, nenhum dos candidatos aproveitou cada questão para apresentar suas propostas de como fazer a revolução educacional que o Brasil precisa iniciar urgentemente.

A verdadeira razão da ausência do tema educação está na ausência do tema futuro.

Das muitas dezenas de horas de entrevistas, discursos, debates e manifestações, os temas debatidos estiveram sempre vinculados aos problemas do presente, não foram sobre o destino que o candidato sonha para o país e quais as reformas estruturais que levem ao destino que defende.

Mesmo quando o tema da educação apareceu, os candidatos se limitaram a sugerir horário integral nas escolas, sem dizer como fazê-lo a partir do governo federal, sendo a educação de base uma questão municipal e estadual; nem se discutiu como será a educação nas próximas décadas. 

Tampouco como fazer a educação ser igual para todas as crianças, independentemente da cidade onde mora e da renda dos pais. Comemora-se que alguns filhos de pedreiros já entram em alguns cursos superiores, sem propor como fazer para que todos os filhos de todos os pedreiros tenham a mesma oportunidade para disputar o ingresso nas melhores universidades.

Debateu-se a manutenção do Bolsa Família, mas não se debateu como e em quanto tempo nenhuma família brasileira necessitará de auxílio para garantir sua sobrevivência.

Em um mundo que se globaliza em todos os aspectos, inclusive por epidemias, como se vê agora com o caso do ebola, o problema da segurança nacional não foi debatido.

Debateu-se a baixa taxa de crescimento do Produto Interno Bruto no presente, sem debater que tipo de PIB é desejável para o Brasil no futuro: se vamos continuar basicamente com bens primários ou concorrer mundialmente com bens de alta tecnologia. Ninguém propôs e nenhum entrevistador perguntou como abrir as portas para o Brasil ingressar no mundo dos países inovadores.

Debateu-se como ampliar o sistema de segurança, mas não se debateu como fazer as cidades serem tão pacíficas que não se necessite do Estado policial que estamos construindo.

Nenhum tema foi debatido na perspectiva do longo prazo. O debate ficou prisioneiro do imediato, como se estivéssemos escolhendo um gestor para apenas administrar a crise e não um estadista para reorientar os destinos nacionais.

Felizmente, ainda temos uma semana antes do segundo turno, além do que, a cada quatro anos, a democracia oferece novas oportunidades ao país e seu futuro ausente.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

João Bosco Rabello - A política de guerrilha

- O Estado de S. Paulo

Candidatos à reeleição estão mais expostos que seus desafiantes porque ambos – situação e oposição – discorrem sobre a chamada “obra feita”, expressão utilizada habitualmente como síntese da gestão que está submetida à avaliação do eleitor.

Parte significativa do êxito de um candidato à reeleição está na razão direta de suas realizações, e vice-versa, em uma relação que determina o índice de aprovação de seu governo. No caso da presidente Dilma Rousseff, esse índice é baixo – de 37% -, historicamente adverso para um candidato a novo mandato no exercício do cargo.

A candidata governista já esteve em patamar bem mais favorável antes das manifestações de junho de 2013, quando esse índice de aprovação de governo despencou da casa dos 70% para abaixo de 40%, oscilando para menos na sequencia do crescimento da inflação, que despertou o contribuinte para a situação da economia, antes encoberta pela estratégia de crédito fácil e consumo alto, aplicada para deter a cirse internacional de 2009.

Nesse tipo de cenário, a estratégia em campanha combina programas eleitorais que apresentam imagens e números cinematográficos, que superdimensionam o pouco que deu certo e minimizam, quando não ocultam, o que der margem às críticas de analistas, formadores de opinião e imprensa, na tentativa de manter o eleitor distante da realidade dos resultrados.

Não é tarefa das mais fáceis, mas pode até dar certo quando o vilão da história não é a economia – e quando esta se faz sentir no cotidiano do cidadão. Ou seja, com a economia em céu de brigadeiro, defeitos tendem a ser tolerados, falhas ganham menos peso na decisão do eleitor e pode-se alcançar a vitória eleitoral mesmo que a gestão, em uma avaliação sóbria, seja ruim.

O PT desfrutou de , pelo menos, 10 dos 12 anos em que está no poder de condições econômicas amplamente favoráveis para desenvolver uma gestão de excelência, mas contentou-se com a ampliação dos programas sociais, combinada com farta distribuição de direitos civis, quase todos já previstos na Constituição ou em legislação comum.

Satisfez-se com aquilo que sustentava uma administração populista até ser surpreendido pela insatisfação com os serviços públicos, decorrente da falta de realizações nas áreas de infraestrutura (causa do desconforto com a mobilidade urbana) , segurança, saúde e educação.

Para agravar a situação, a presidente Dilma decidiu mudar o modelo econômico aprofundando a crise e estabelecendo daí em diante uma adminsitração errática da economia, ampliando o fosso com o mercado e perdendo investimentos, chegando à chamada recessão técnica, com previsão de crescimento abaixo de 1%.

Isso explica, em parte, a reprodução, na campanha, dos governos do PT com os do PSDB, muito embora os 12 anos que os separem produzam dados ilusórios como o de que Fernando Henrique Cardoso entregou a economia com uma inflação de 12%, omitindo o dado fundamental de como a recebeu – na casa dos 1000%.

Para o eleitor, em um debate essa discussão torna-se complexa e monótona, não lhe acrescenta nada, mas consegue obter o resultado desejado de levar o adversário a desmentir as afirmações e, assim, ficar prisioneiro de um debate inútil.

O problema é que é a terceira vez que o PT concorre com a mesma estratégia e ela não tem se mostrado eficiente diante do desgaste da má gestão, do mensalão e de novos escânalos que correm na esfera judicial.

A perda de eficiência dessa estratégia permitiu a Aécio Neves enfrentar em condições favoráveis o que seus antecessores na disputa presidencial pelo PSDB não conseguiram. Restou ao PT a alternativa já aplicada a Marina Silva de desconstruir o adversário, fiel ao estilo político de guerrilha que caracteriza a legenda: qualquer opositor não deve ser apenas enfrentado, mas eliminado, método autoritário que se complementa com o regime de cooptação de aliados para a formação de uma base de apoio político tão grande quanto cara, desembocando nos escândalos de corrupção que irrigam esse sistema.

Esse processo , como era de se prever, encontrou seu estágio de esgotamento. A desconstrução de Aécio não se mostra fácil como ocorreu com Marina, mais frágil como candidata sem uma estrutura partidária como a do PSDB, sem interlocução suficiente no quadro partidário para construir alianças que a desse vigor para o embate e de biografia política saudável, porém curta.

É de se esperar, como apontam as reportagens dos jornais e revistas, que o PT insista nesse caminho que não permite ao opositor manter-se permanentemente na defesa de uma pauta mais construtiva, sob pena de com a indiferença aos ataques deixar passar como verdades versões construídas para destruir sua imagem.

Nesse contexto, serve ao governo a ausência de um debate melhor nivelado porque fica poupado de debater maus resultados, protege-o da discussão sobre a alternância de poder, e evita abordagens que exporiam as mazelas de uma administração partidária que não sabe – ou não diz – que rumo pretende dar a um eventual quarto mandato.

Miriam Leitão - Sentido das palavras

- O Globo

A transição para a economia de baixo carbono é difícil, exige muita mudança, mas vários países estão fazendo esse esforço. Desmatamento zero não é “cortar zero árvore”, é um conceito bem mais sofisticado. As duas expressões estavam na carta que selou o apoio de Marina Silva a Aécio Neves, e não são conceitos vazios. Seja qual for o resultado da eleição, o futuro exigirá isso dos países e governos.

Quem colocou esses itens na agenda não foram partidos, foi a realidade. Há líderes que os viram, outros não. As mudanças climáticas exigem que a economia inverta sua atitude. Empresas, famílias e governos terão de rever hábitos, rotinas e processos produtivos.

A ação é em várias frentes. É inevitável combater o desmatamento e aumentar a conservação. O objetivo é o desmatamento líquido zero. Foco em “líquido”. Alguma supressão sempre haverá, e reconstituição, também. O Brasil não assinou o acordo internacional de proteção das florestas porque queria que o combate fosse só ao desmatamento “ilegal”. Como existem leis flexíveis demais, o governo está errado. Alguns países na Europa, América do Norte e até na Ásia estão buscando o desmatamento líquido zero. O Brasil aumentou o desmatamento em 2013. Andar para trás a esta altura é burrice.

Na agropecuária, é preciso mudar o manejo das pastagens, aumentar a produtividade, usar técnicas que mitiguem as emissões de todos os gases. Há muito produtor no Brasil aplicando novos métodos, seja grande, médio ou pequeno. Os líderes mais modernos do agronegócio já entenderam isso.

Os processos industriais têm que neutralizar e compensar a sua área mais crítica. Certa vez perguntei ao presidente mundial de uma grande multinacional de bebida como neutralizaria o carbono emitido pelos caminhões de entrega. Ele disse que até 2020 reutilizaria toda a água usada no processo produtivo.

Por falar em água, não há ano melhor para levar a sério a recuperação de rios e nascentes, e incentivar a reutilização da água. Se algum governante não entendeu o problema é porque nunca ouviu falar da cidade de São Paulo, não sabe que os reservatórios de Ilha Solteira e Três Irmãos, na Bacia do Rio Paraná, estão no nível zero. Três Marias está com 4%. Na média, Sudeste e Centro-Oeste estão com 19,9% neste outubro da nossa secura. Se alguém ainda acha que basta transpor o rio São Francisco, que está pedindo socorro, é porque não entendeu a urgência da hora e não ouviu o grito das águas.

O Brasil adiou para 2018 o cumprimento da Lei dos Resíduos Sólidos. Demorou para aprová-la, deu um prazo longo para que a cumprissem, e agora adia. A lei é fundamental para empurrar administradores públicos na direção certa porque exige o fim dos lixões e o aproveitamento como energia dos novos aterros sanitários. E nem é preciso falar que esta nova agenda exige investimento em saneamento básico.

A energia é hoje a maior fonte de emissões no mundo. Está ligada à produção, ao consumo e aos transportes. No Brasil, as emissões cresceram pelo uso das térmicas e a demora no uso de fontes de menor emissão. No transporte será preciso repensar a mobilidade urbana. Uma economia de baixo carbono jamais subsidia o combustível fóssil. Os governos têm que pensar na “geração distribuída”, outra expressão que não é sem sentido. As perdas na transmissão chegam a 4,5%; as perdas na distribuição, 8,2%. Essa nova forma de geração incentiva a energia solar, com prédios e casas virando unidades geradoras para entrar numa rede inteligente em que o consumidor vende e compra energia.

Seja qual for o resultado das eleições de 26 de outubro, a pessoa eleita terá duas opções: ignorar tudo isso e andar no sentido contrário do mundo; ou entender e aplicar os conceitos de uma nova, e inevitável, ordem na economia.