quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

Não tínhamos dúvida de que ela (Marina Silva) optaria por Aécio. Demorou um pouco, mas essa demora em se pronunciar oficialmente acreditamos que dará mais consistência à campanha. Essa declaração é muito positiva para as oposições”

O PPS se regozija com a decisão de Marina em se manifestar pelo senador do PSDB. Desde o início das articulações em torno da candidatura de Eduardo Campos o objetivo era unir as oposições para derrotar Dilma Rousseff, a candidata do PT à reeleição . Esta união está acontecendo de forma transparente e programática. Agora, é arregaçar as mangas para levar Aécio à vitória.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, no Portal do PPS

Aécio chama Dilma de leviana e é acusado de nepotismo em debate na TV

• Troca de acusações sobre corrupção e improbidade administrativa marcou o primeiro embate do segundo turno

- O Globo

SÃO PAULO - O primeiro debate presidencial do segundo turno foi marcado por troca de acusações entre a presidente Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves, principalmente quando o tema corrupção foi abordado no final do segundo bloco do encontro promovido pela emissora Band, nesta terça-feira. Em um dos momentos mais tensos, Aécio acusou sua adversária de “estar sendo leviana” ao dizer que o tucano entregou a um tio as chaves do aeroporto de Cláudio (MG), construído pelo governo de Minas Gerais. Em seguida, Aécio afirmou que o governo atual “virou um mar de lama”, em referência às denúncias de pagamento de propinas em obras realizadas pela Petrobras, investigação feita pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato. Dilma reagiu e acusou o tucano de praticar o nepotismo ao nomear parentes para cargos públicos, sem citar quais.

A temperatura começou a subir quando, no início desse bloco, Aécio disse que o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, preso na Lava-Jato, recebeu elogios em em ata de reunião da empresa pelos “bons serviços prestados”, ao se demitir do cargo. O tucano perguntou a Dilma que “bons serviços” eram esses. Em resposta, Dilma disse que sua indignação em relação ao que foi descoberto pela PF “era a mesma de todos os brasileiros”. E passou a enumerar casos de corrupção durante os governos tucanos que, segundo ela, não levaram ninguém à prisão, como o mensalão em Minas e as denúncias de cartel nas licitações do serviço de transporte sob trilhos em São Paulo. Em seguida,citou o Aeroporto de Cláudio:

— Como o senhor explica ter construído um aeroporto que na época custava R$ 13,9 milhões e agora custa R$ 18 milhões. E foi construído em terreno de sua família, no terreno de seu tio e chave fica em poder dele? Eu não acho isso nada moral e nem ético.


Aécio reagiu irritado:

— Eu quero responder à candidata Dilma olhando nos seus olhos. A senhora está sendo leviana. O Ministério Público Federal atestou a regularidade dessa obra. Fiz milhares de obras no meu governo. Todas elas atestadas como obras corretas. A obra de Cláudio, que a senhora insiste em repetir e também de forma leviana no seu horário eleitoral, tanto que o TSE retirou do ar, foi uma obra feita em área desapropriada em desfavor de um tio avô meu para beneficiar uma região próspera, onde estão mais de 150 indústrias. O Ministério Público Federal disse que a obra é correta.

Paternidade de programas em foco
Na sequência de acusações, Dilma disse que, ao contrário do que Aécio afirmara, o Ministério Público não aceitou a ação penal, mas está apurando se houve improbidade administrativa, frisando que isso significa “mau uso dos recursos públicos”. Na esteira de acusações, Dilma disse que o tucano empregara “um irmã, um tio, três primos e três primas” no governo.

— A senhora tem obrigação de dizer onde minha irmã trabalha. Não pode fazer campanha com tantas inverdades — reagiu Aécio, encerrando esse bloco.

No início do terceiro bloco, logo após essa discussão, Dilma não respondeu a Aécio, mas disse que leviano era ele.

A paternidade dos programas sociais também foi um tema recorrente. Dilma acusou o tucano de ter propostas que são somente continuidade de projetos implantadas por petistas durante os 12 anos em que estão no poder.

—As únicas propostas que a senhora apresenta são a continuidade dos meus projetos. Pode entrar no Tribunal de Contas do Estado que o governo de Minas Gerais foi obrigado a assinar um termo de ajustamento de gestão. No Samu, vocês têm o terceiro pior desempenho. Vocês só têm (a cobertura do Samu) em 28% dos municípios e 45% da população não tem Samu. Como posso acreditar que o senhor vai fazer o Mais especialidades?

Nesse ponto, Aécio afirmou que “ninguém é dono de bons projetos” e que programas bem-sucedidos do atual governo como Bolsa Família, são continuação de iniciativas da gestão de Fernando Henrique Cardoso, como Bolsa Escola e o Bolsa Alimentação.

Já no início do debate, Dilma e Aécio trocaram acusações sobre suas gestões à frente da Presidência da petista e do governo de Minas, respectivamente. A petista citou números sobre o governo mineiro, principalmente na área da Saúde, e o tucano respondeu dizendo que Dilma faltava com a verdade.

Ainda no primeiro bloco, Aécio disse que os dois candidatos pareciam de oposição, porque “quem vê a sua campanha acha que a senhora não governou”. Já Dilma respondeu, afirmando que parecia que o senador parecia candidato da situação porque insistia em falar na continuidade de seus projetos.

Logo na primeira pergunta, Dilma disse que os tucanos votaram contra a CPMF e acusou Aécio de não investir na Saúde o que determina a Constituição, quando estava à frente do governo mineiro. Aécio respondeu que todas as contas de sua gestão foram aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado.

Ao responder a Dilma sobre o Mais Especialidades, promessa da petista para a Saúde, Aécio disse que a ideia é copiada do PSDB e provocou a adversária ao dizer que Dilma parece uma candidata de oposição.

— A sua proposta do Mais Especialidades é a nossa. Lamento que a senhora só tenha se preocupado com isso quando seu governo termina. A impressão que tenho é que temos dois candidatos de oposição. Não temos um candidato de continuidade. Quem vê a sua campanha acha que a senhora não governou o Brasil ao longo de todos esses anos — atacou Aécio.

Dilma reagiu com um jogo de palavras:

— E quem vê agora as suas propostas pensa que o senhor é candidato da situação, porque as únicas propostas socais que apresenta é a continuidade dos meus projetos — disse Dilma.

Quando Dilma disse que Aécio, no governo de Minas, não repassava o mínimo determinado pela Constituição à Saúde, o tucano retrucou:

— O governo da senhora chegou num determinado momento em que os investimentos do Bolsa Família eram contados como investimentos em Saúde. Minas é reconhecido pelo Ministério da Saúde como o que tem a melhor Saúde da Região Sudeste.

Em debate na TV, Aécio fala em 'mar de lama' e Dilma ataca gestão de rival

Frente a frente, candidatos travam guerra de gestões

• Aécio ataca governo e afirma que gestão petista é ‘um mar de lama’, enquanto Dilma explora escândalos ligados aos tucanos

Carla Araújo, Débora Bergamasco, Elizabeth Lopes, Isadora Peron, Pedro Venceslau, Ricardo Galhardo, Vera rosa, Eduardo Kattah e Iuri Pitta - O Estado de S. Paulo

O primeiro confronto direto entre os dois candidatos à Presidência da República no 2.º turno, nesta terça-feira à noite na TV Bandeirantes, mostrou em rede nacional a tentativa de Dilma Rousseff (PT) de expor falhas da gestão de Aécio Neves (PSDB) no governo de Minas Gerais, enquanto o tucano procurou classificar a petista de “leviana” e de usar “mentiras” para atacá-lo sem reconhecer as “falhas” da administração do País. Com praticamente todo o programa dedicado às perguntas e respostas entre os candidatos, sem questionamentos de jornalistas, Aécio e Dilma trocaram uma série de afirmações ríspidas e acusações de distorções sobre as respectivas gestões – ele em Minas e ela no Palácio do Planalto.

Já no primeiro bloco do encontro, Aécio e Dilma procuraram marcar de forma contundente as diferenças. Dilma abriu o debate falando em “dois projetos e visões de País” e destacando o processo de inclusão social durante os governos do PT. A petista falou também em “combate sem tréguas” à corrupção, tema que dominaria o bloco seguinte. Aécio reconheceu avanços sociais importantes a partir das gestões de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas mirou na gestão federal da adversária ao afirmar que nos últimos quatro anos o País “parou de melhorar”. O tucano se apresentou como “mudança segura”.

A saúde, a partir de uma pergunta de Dilma, pautou o primeiro embate entre os candidatos e voltaria a ser citada ao longo do programa. A presidente questionou a oposição do PSDB à prorrogação da CPMF – criada na gestão FHC, mas cuja prorrogação foi vetada pelo Senado em 2007, no segundo mandato de Lula – e disse que, quando Aécio foi governador, o Estado não cumpria a Emenda Constitucional 29, aprovada em 2000 e que define porcentuais mínimos de investimento em saúde por União, Estados e municípios.

Durante a gestão do tucano, a administração estadual, com base numa instrução normativa do Tribunal de Contas do Estado (TCE) – que considerava outras despesas com ações e serviços públicos de saúde – afirmava que investia mais 12% do orçamento na área. A Emenda 29 só foi regulamentada no Congresso no fim de 2011 – Aécio deixou o governo em 2010.

“A senhora é tão desinformada. Nossas contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado, antes da regulamentação da Emenda 29, que seu governo demorou e cada Estado definia com muita clareza. Seu governo chegou a considerar Bolsa Família como investimento em saúde”, reagiu Aécio.
Dilma ainda acusou o adversário de, como governador, ter deixado de investir R$ 7,6 bilhões em recursos públicos que deveriam ter sido aplicados na saúde. Aécio diz que a campanha da adversária tem sido marcada pelos ataques e mentiras.

Verdades e mentiras. Ainda no bloco inicial, Aécio disse que a campanha da adversária se baseou em “ofensas e mentiras”. “A senhora não se arrepende de ter feito ataques tão cruéis no 1.º turno?”

Dilma havia afirmado que Aécio acabaria com o papel dos bancos públicos e justificou dizendo que a informação veio de Arminio Fraga – já anunciado pelo tucano como seu ministro da Fazenda caso seja eleito. A presidente defendeu a participação dos bancos públicos na economia, citando o BNDES como banco de subsídio à infraestrutura, o Banco do Brasil como financiador do setor agrícola e a Caixa Econômica Federal, do setor habitacional. “Vocês querem diminuir o papel da Caixa no setor habitacional. Sem a Caixa, não tem o Minha Casa Minha Vida”, argumentou Dilma. “Vocês nunca fizeram programas sociais quando puderam, sempre deixaram a desejar.”

Aécio repetiu que a petista “falta com a verdade” e afirmou: “O maior programa de transferência de renda da história contemporânea do Brasil não foi o Bolsa Família, foi o Plano Real, que vocês combateram com todas as forças”.

O tucano disse que Arminio tem defendido não o fim dos bancos públicos, mas a gestão dessas instituições com transparência. Sobre o programa Minha Casa Minha Vida, disse que pretende ampliá-lo, em especial no acesso da faixa da população que recebe até três salários mínimos.

‘Fabulações’. Mais à frente, Dilma chamou de “fabulação” a afirmação de Aécio de que o programa Bolsa Família foi iniciado no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tese que repetiu em outras oportunidades.

O próprio resultado das urnas no 1.º turno em Minas tornou-se motivo de embate entre Dilma e Aécio. Como tem insistido a campanha petista – com o mote de quem conhece, não vota em Aécio –, Dilma destacou o fato de o adversário ter perdido a eleição no segundo colégio eleitoral do País, que governou por dois mandatos.

No 1.º turno, a petista obteve 43% dos votos válidos no Estado, ante 40% de Aécio. O tucano chegou a dizer que os levantamentos internos de sua campanha mostram que ele está mais de dez pontos porcentuais acima da rival e incluiu a votação de sua nova aliada, Marina Silva (PSB), que obteve 14% dos votos válidos, para dizer que Minas deu vitória à oposição. “O senhor não pode usar pesquisas para contrariar um fato. É fato que o senhor perdeu em Minas”, reagiu Dilma.

Ações e corrupção. A exemplo do 1.º turno, os casos de corrupção envolvendo a Petrobrás voltaram a ser usados por Aécio para criticar as gestões petistas. O tucano afirmou que os brasileiros “acordam estarrecidos” com as notícias sobre desvios na estatal. Dilma afirmou que tem “determinação de punir todos os investigados, corruptos e corruptores” e voltou a defender o acesso a “tudo sobre esse processo da Lava Jato”.

A petista citou uma lista de casos relacionados ao PSDB, como o cartel de trens e metrô em São Paulo e a suspeita de compra de votos na aprovação da emenda da reeleição, alegando que “todos os envolvidos estão soltos”. Na tréplica, Dilma questionou o adversário sobre a construção do aeroporto de Cláudio, feita pelo governo de Minas, em um terreno desapropriado que pertencia a um tio-avô de Aécio e que fica a 6 km de uma fazenda de sua família.

Dilma ainda foi para o ataque contra Aécio ao acusar o adversário de praticar nepotismo. Citou parentes do tucano, entre eles a irmã do candidato, Andrea Neves, que participaram de seu governo, mas dando a entender, involuntariamente, que eles permaneciam nos cargos.

“Quero responder olhando nos seus olhos. A senhora está sendo leviana”, começou Aécio na resposta. O tucano afirmou que o Ministério Público Federal reconheceu a legalidade da obra. Aécio ainda disse que Dilma tinha “a obrigação de dizer onde minha irmã trabalha”. “É mentira atrás de mentira. A senhora mente para ficar no governo”, afirmou o candidato do PSDB. “Eu terminei meu mandato sem qualquer denúncia. Não respondo a nenhum processo. A senhora deixou o governo num mar de lama”, disse, citando expressão que os opositores usavam contra Getúlio Vargas.

A inflação e o ovo. O desempenho da economia do País – que tem apresentado baixo crescimento e, na última contagem dos últimos 12 meses acumulados, inflação acima do teto da meta de 4,5% – foi uma das armas de Aécio para atacar a adversária. O tucano lembrou em uma das perguntas a frase chamada de “infeliz” por Dilma dada pelo secretário de Política Econômica, Marcio Holland, de que os brasileiros deveriam recorrer a ovos no lugar da carne, caso o preço da carne estivesse muito alto.

Nas considerações finais, Aécio citou os novos aliados do PSB, além de Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, e Marina. Dilma disse ao espectador que é preciso se perguntar quem é capaz de manter as atuais conquistas em áreas sociais. Acabado o debate, ambos se cumprimentaram.

Acusações de corrupção e nepotismo acirram debate

• No primeiro embate no segundo turno da eleição, Aécio cobra Dilma sobre denúncias na Petrobras e petista acusa tucano de empregar familiares em MG

• Em intensa troca de farpas, Aécio chamou Dilma de leviana, e ela o acusou de 'fabular' sobre Bolsa Família

Andréia Sadi, Catia Seabra, Daniela Lima, Gustavo Uribe, Lígia Mesquita e Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - No primeiro debate do segundo turno das eleições presidenciais, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) trocaram pesados ataques na noite desta terça-feira (14), relacionando um ao outro a atos de corrupção, nepotismo e patrocínio de interesses privados.

No evento promovido pela TV Bandeirantes --o primeiro dos quatro debates previstos para o segundo turno--, o tucano e a petista também acusaram um ao outro de serem levianos e de liderarem uma campanha de mentiras.

O clima reflete a acirrada disputa pelo Palácio do Planalto. De acordo com pesquisa do Datafolha divulgada na sexta-feira (10), Aécio tinha 51% das intenções de voto, ante 49% de Dilma.

Logo no segundo bloco do debate, o tema corrupção veio à tona, por iniciativa do tucano, que chamou de "absolutamente inacreditável" denúncia envolvendo a Petrobras.

Revelado na esteira da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, o escândalo da Petrobras ganhou projeção com a divulgação, na semana passada, de depoimentos do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa (1) e do doleiro Alberto Youssef. Segundo os dois, recursos desviados da estatal abasteceram campanhas de PT, PMDB e PP.

A petista respondeu dizendo que sua indignação é a mesma de todos os brasileiros, mas partiu para o ataque. Citou casos relacionados aos tucanos, como o mensalão mineiro, o cartel de trens de São Paulo e a compra de votos para a aprovação da reeleição durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-98).

"Aonde estão todos os envolvidos no caso da compra de reeleição? Todos soltos. [...] O que eu não quero é isso, candidato. Eu quero todos aqueles culpados presos."

"A senhora busca comparar coisas muito diferentes. O que acontece na Petrobras é algo extremamente grave", respondeu Aécio.

A petista seguiu na ofensiva, lembrando a revelação, feita pela Folha, de que o adversário, durante sua gestão no governo de Minas (2003-2010), construiu um aeroporto numa área desapropriada na fazenda de um tio-avô, em Cláudio. Além disso, acusou o tucano de nepotismo.

"Eu quero dizer que o nepotismo é crime. O senhor teve uma irmã, três tios e três primos no seu governo."

Aécio mostrou indignação. "Eu quero responder olhando nos seus olhos. A senhora está sendo leviana, candidata. O Ministério Público Federal atestou a regularidade dessa obra", disse.

Sobre a irmã (2) Andrea Neves, uma de suas principais auxiliares, também mostrou-se exaltado. "A senhora tem a obrigação agora de dizer onde minha irmã trabalha. Sua propaganda é uma mentira. A senhora mente aos brasileiros para ficar no governo. [...] A senhora deixou o governo num mar de lama."

"Leviano, neste caso que estamos discutindo, foi o senhor", rebateu Dilma.

O clima acirrado permeou todo o debate, com alfinetadas veladas. A presidente, que é mineira, disse que não saiu de Minas "a passeio", em referência ao fato de Aécio se dividir entre Minas e o Rio. Ao rebater Aécio, Dilma acusou o tucano de "fabular" em citação ao Bolsa Família.

Só nas considerações finais Aécio citou Marina Silva (PSB), terceira colocada na eleição, que declarou apoio ao tucano. Apesar do duro embate, os dois se cumprimentaram no final.

(1) Dilma presidiu o Conselho de Administra-ção da Petrobras no governo Lula e só mandou demitir Paulo Roberto Costa no segundo ano de seu mandato como presidente

(2) No governo Aécio, sua irmã Andrea Neves presidiu o Serviço Voluntário de Assistência Social do Estado e chefiou um grupo de assessoramento na área de comunicação

Aécio defende 'paternidade' de FHC sobre Bolsa Família

Ana Fernandes e Daniel Galvão – O Estado de S. Paulo

O candidato Aécio Neves (PSDB) reforçou o argumento de que o PT de Dilma Rousseff não sabe reconhecer méritos de governos anteriores e afirmou, durante o debate, que o verdadeiro pai do Bolsa Família é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seu correligionário, e a ex-primeira-dama Ruth Cardoso seria a verdadeira mãe. "Se fizermos um raio-x do DNA do Bolsa Família, o pai será o presidente Fernando Henrique e a mãe, Ruth Cardoso. O programa do seu governo era o Fome Zero, mas vocês aproveitaram e avançaram no cadastramento único. Parabéns, o presidente Lula tem esse mérito", afirmou Aécio.

Dilma reagiu com indignação, afirmou não ter cabimento o tucano defender que um programa com a dimensão do Bolsa Família, que atende a 50 milhões de pessoas, ser relacionado a um programa como o Bolsa Escola, que segundo a petista atendia a 5 milhões. "Aí passou de todos os limites, já estamos na fabulação", disse a presidente. "Vocês jamais aplicaram recursos em grandes programas sociais", afirmou ao acusar o governo do PSDB, que antecedeu a gestão petista, de "proibir" o governo federal de investir em escolas técnicas. Dilma também aproveitou para engatar a crítica ao ajuste fiscal prometido pelo adversário, argumentando que poderia impactar os programas sociais que são vitrine do governo do PT, como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e o Pronatec, de acesso a ensino técnico. "Não condicionamos nossos programas a medidas impopulares, como ajustes fiscais e choque de gestão", disse Dilma.

Aécio reafirmou que não pretende acabar com programas sociais nem com bancos públicos, como vem sendo colocado pelo PT. E questionou se, além do Bolsa Família, o Brasil não poderia ter outros programas para combater a pobreza. Aécio disse que sua proposta é de sanear os bancos públicos, ao que Dilma respondeu dizendo acreditar sim que o tucano queira reduzir o papel dessas instituições. "Eu acredito que transparência virou sinônimo de redução do papel dos bancos públicos. Eu não concordo. E acho que é exatamente isso que o senhor quer fazer, diminuir o papel dos bancos públicos."

Pouco antes a esse embate, Aécio havia questionado o motivo do sigilo de empréstimos do BNDES a um porto em Cuba. Dilma não respondeu diretamente sobre a questão do sigilo, mas disse que o Brasil está disputando financiamentos na área de serviços, porque é uma "área estratégica no mundo". A presidente argumentou que o processo gera empregos no País. Aécio chegou a pedir explicações de por que esses investimentos não se destinaram a portos brasileiros, ao que Dilma respondeu: "o financiamento não foi feito a Cuba, porque não pode ser feito a Cuba. Fizemos investimentos a empresas brasileiras".

Propaganda de Dilma é criticada em reunião do PMDB

• Parlamentares se queixam de trecho em que apresentadores dizem que 304 dos 513 deputados eleitos 'estão com Dilma'

Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A primeira propaganda do horário eleitoral da presidente Dilma Rousseff (PT) no segundo turno, veiculada na quinta-feira passada, 9, jogou mais combustível no racha da bancada do PMDB na Câmara. Em reunião nesta tarde, parlamentares se queixaram de um trecho da publicidade em que apresentadores dizem que 304 dos 513 deputados eleitos "estão com Dilma".

Para chegar ao número, a campanha da petista somou o número de eleitos pelos nove partidos que fazem parte da coligação Com a Força do Povo (PT, PMDB, PR, PRB, PROS, PDT, PCdoB, PP e PSD). Desconsiderou, no entanto, que a bancada do PMDB está dividida e que, segundo o líder Eduardo Cunha (RJ), ao menos metade de seus integrantes estão fechados com o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves.

"É uma informação que não bate com a realidade", disse o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), reeleito no dia 5 de outubro. "Mais uma vez demonstra a postura do PT de fazer do PMDB sempre uma barriga de aluguel", acrescenta.

O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), outro integrante do grupo favorável a Aécio, também atacou o programa de Dilma. "Ela não pode dizer isso. Só quem pode dizer isso é o líder", diz o peemedebista, para quem a aliança do PMDB nacional com o PT envolve apenas a indicação da vice-presidência e o tempo de televisão. "A bancada do PMDB na Câmara não tem nenhum compromisso em apoiar Dilma (em um eventual segundo mandato)."

Cabeças do voto 'Aezão' querem dobrar votação no Rio

Luciana Nunes Leal – O Estado de S. Paulo

Para alcançar a meta de dobrar a votação do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, no Rio de Janeiro, os coordenadores do movimento "Aezão", dissidência do PMDB-RJ que prega o voto no tucano e no governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), tentam mobilizar deputados e prefeitos e evitar que eles se dispersem no segundo turno.

Dez milhões de panfletos confeccionados para a segunda etapa da disputa, com as imagens de Aécio e Pezão, começaram ontem a ser enviados da capital para a região metropolitana e o interior. No próximo domingo, os integrantes do "Aezão" vão testar a mobilização do movimento durante atividade de rua do tucano, provavelmente uma caminhada na Praia de Copacabana (zona sul).

"Estou preocupado em botar a tropa na rua, para não esfriar", diz o criador do "Aezão" e presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani. Um deputado do PMDB diz que, de fato, os candidatos ao Legislativo, responsáveis pela confecção e distribuição de grande parte do material impresso no primeiro turno, tendem a reduzir o ritmo depois de vencerem ou perderem a disputa. "Está nas mãos dos candidatos a governador e a presidente. Eu tinha mil pessoas trabalhando para mim. Agora, não consigo mobilizar tanta gente. Os deputados estão pensando em como pagar as dívidas da campanha", diz o parlamentar.

Embora Pezão seja aliado da presidente Dilma Rousseff e tenha atividade de campanha com a petista no próximo sábado, na zona oeste, o "Aezão" é a maior sustentação de Aécio no Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral do País, com 12 milhões de votantes. O material do segundo turno tenta combinar a ideia de mudança no plano nacional e continuidade no Estado. "Para o Brasil mudar e o Rio continuar mudando", diz o slogan da dupla Aécio-Pezão.

Aécio teve 2,246 milhões de votos (26,9%) no Rio e ficou em terceiro lugar. Marina Silva (PSB) chegou a 31%, com 2,590 milhões de votos e a presidente Dilma teve o melhor desempenho, com 2,970 milhões (35,6%).

Dilmão
Criado em reação ao "Aezão", o movimento "Dilmão" (que prega o voto em Dilma e Pezão) - liderado pelos prefeitos do Rio, Eduardo Paes (PMDB), de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso (sem partido), e de Niterói, Rodrigo Neves (PT) - deve ter pronto o material do segundo turno até amanhã. A propaganda impressa trará uma versão com imagens de Dilma e Pezão e, na capital, terá também a foto de Paes com os aliados. Obras que são resultados da parceria entre União e Estado (e município, em alguns casos), com o corredor exclusivo de ônibus Transoeste e expansão do metrô e programas como Minha Casa Minha Vida e PAC serão explorados na propaganda elaborada especialmente para o segundo turno.

"Teremos o material pronto para as atividades de Dilma no Rio, no próximo sábado", diz o coordenador da campanha presidencial petista no Estado, Adilson Pires. A presidente vai se dividir entre Pezão e o adversário do governador, Marcelo Crivella (PRB), com quem fará campanha em São Gonçalo (região metropolitana). Por enquanto, a campanha de Crivella vai repetir o material do senador com Dilma usado no primeiro turno.

Marina diz que ataques por apoio a Aécio vêm da 'política atrasada'

• Em encontro, ex-senadora disse a tucano que gravará programa de TV

Sérgio Roxo e Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO - A terceira colocada na eleição presidencial, Marina Silva (PSB), usou ontem o Twitter para se defender das críticas que vêm recebendo por ter declarado apoio ao candidato do PSDB, Aécio Neves, no segundo turno, contra Dilma Rousseff (PT).

Marina se reuniu ontem com Aécio, em São Paulo, segundo beto Albuquerque. No encontro, ela teria se colocado à disposição para gravar participação no programa de TV.

O candidato do PSDB ligou para Marina na noite de domingo para agradecer o apoio anunciado naquele dia. Na conversa, o tucano sugeriu o encontro, que foi aceito por Marina.

No Twitter, a presidenciável derrotada classificou os que a atacam de oriundos de uma "política atrasada". Marina também afirmou que a sua adesão ao tucano não é incompatível com a nova política, bandeira de sua campanha presidencial. "Sofrendo ataques de uma política atrasada, movida por projetos de poder pelo poder, mantivemos o rumo e fizemos a nova política na prática", escreveu.

De acordo com Marina, a política "não pode ser a arte de fazer as mesmas coisas". Ela pediu ainda para que o debate eleitoral leve em conta os temas importantes para o país: "Faço um apelo para que saiamos do território da política destrutiva para ver os temas estratégicos para o desenvolvimento do país e debatê-los."

Depois da reunião com Aécio, a ex-senadora deve encerrar a sua participação no processo eleitoral deste ano e tirar uns dias para descansar. Uma semana depois do primeiro turno, Marina anunciou o apoio a Aécio no último domingo, justificando que a carta apresentada pelo tucano um dia antes no Recife tinha compromissos consistentes com as conquistas sociais e com a sustentabilidade.

Líder do PSB na Câmara diz que Roberto Amaral ‘busca desculpa’ para abraçar o PT

• Para Beto Albuquerque, ex-presidente da legenda força situação para deixar a sigla; Rollemberg fala em posição ‘de quem não respeita as instituições partidárias’

Chico de Gois, Evandor Éboli e Isabel Braga

BRASÍLIA — O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), candidato a vice na chapa de Marina Silva (PSB), afirmou na manhã desta terça-feira que o ex-presidente da legenda Roberto Amaral, com suas críticas na mídia às decisões do partido e manifestações nas redes sociais, dificulta sua permanência na sigla. Outro líder da legenda, o candidato ao governo do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, eleito nesta segunda-feira vice-presidente de Relações Institucionais na Executiva socialista, também criticou o posicionamento de Amaral.

Para Albuquerque, a atitude do ex-presidente do PSB, ao se rebelar contra o apoio a Aécio Neves (PSDB), é um artifício para cavar sua saída da legenda e se transferir para o PT.

— Está se tornando insustentável (a situação de Amaral). O PSB não está dando razões. Ele que está construindo motivos para ele mesmo encontrar a desculpa para abraçar o PT — disse Albuquerque, quando perguntado se a direção do PSB pode abrir algum procedimento disciplinar contra Amaral.

Rollemberg também criticou o posicionamento do ex-presidente:

— A decisão de Roberto Amaral é absolutamente isolada, de quem não respeita as instituições partidárias. O partido se reuniu e decidiu, por ampla maioria, apoiar Aécio Neves por entender que, neste momento, para o fortalecimento da democracia, o melhor caminho é apoiar Aécio para que tenhamos uma gestão eficiente, que garanta a retomada do desenvolvimento econômico e a distribuição de renda no Brasil, com serviços de qualidade.

Num artigo publicado nesta terça-feira no jornal “Folha de S. Paulo”, Amaral afirma que “a recém-revelada disputa interna no PSB não tem como cerne a disputa pela presidência do partido. O que está — e sempre esteve — em jogo é a definição do modelo de Brasil que queremos e, por consequência, do partido que queremos. É nesse ponto que as divergências são insuperáveis, pois entra em jogo uma categoria de valores incompatível com a pequena política”.

Para Amaral, ao se associar a Aécio, o PSB “renega compromissos programáticos e estatutários” e “joga no lixo da história a oposição que moveu ao governo FHC”. O ex-dirigente argumenta que esse posicionamento político gerou “uma divisão praticamente definitiva no partido e revogou a luta de Eduardo Campos”. E conclui dizendo que o PSB renunciou ao seu futuro e “está cometendo um suicídio político-ideológico”.

Albuquerque afirma que a decisão de apoiar Aécio foi tomada pela maioria da bancada eleita do partido, que assume mandato a partir de 2015, e também pela maioria da Executiva. São 34 parlamentares na nova composição do PSB na Câmara:

— Dos 34 deputados, eu consultei 33. Deles, 28 foram a favor de fechar com Aécio. Na Executiva foram 21 votos favor. Se alguém quer prestar serviço ao país, tem que respeitar a vontade da maioria.

Apesar da decisão de apoio ao tucano, Albuquerque afirmou que a legenda deixou à vontade os quatro candidatos socialistas que disputam o segundo turno.

— O Ricardo Coutinho (candidato do PSB ao governo da Paraíba) disputa, afinal, contra o PSDB. Ele está autorizado a apoiar a Dilma.

Futuro de Marina
Sobre o futuro de Marina Silva, o líder do PSB disse que ela poderá permanecer no partido até quando ela desejar. Ele afirmou que o PSB a recebeu tendo noção de que seu projeto era criar a Rede. Albuquerque afirmou ainda que o mal-estar entre o novo presidente do PSB, Carlos Siqueira, com Marina Silva está superado. Logo após a morte de Eduardo Campos, incomodado com atitudes da ex-ministra em relação à condução da coligação, Siqueira deixou a campanha com críticas a ela.

Fusão
Beto Albuquerque confirmou a possibilidade de fusão com outros partidos, mas disse que não é proposta a curto prazo. Segundo ele, a discussão de possível fusão com o PPS tem que ser feita, e que essa conversa começou ainda com Eduardo Campos vivo, após o apoio da legenda de Roberto Freire à sua candidatura:

— É importante discutir a fusão. Podemos criar uma grande janela, mas tem que ser partidos com identidade histórica. O PPS é o antigo PCB, nossa identidade vem lá de trás. Nossa porta é uma porta que se abre, mas que não pode ser escancarada. Tem que ser uma fusão com critérios.

O líder reuniu os novos eleitos do PSB nesta terça-feira para uma conversa e, no seu discurso, falou do rompimento como PT. Segundo ele, ao lançar candidatura própria, a legenda escolheu “um caminho de protagonismo político”, e, que se fosse desejo de apoiar Dilma, não o teria feito. Em caso de vitória da petista, Albuquerque prevê dificuldade na relação e na reaproximação com o PT.

— É muito difícil, quem se divorcia, casar com a mesma mulher de novo — afirmou Albuquerque.

PSB e PPS estão em ritmo adiantado de fusão

• Caso união seja concretizada, novo partido terá a quarta maior bancada da Câmara, atrás de PT, PMDB e PSDB

João Domingos – O Estado de S. Paulo

O PSB e o PPS estão em ritmo adiantado de fusão. As conversas sobre a união dos dois partidos começaram antes mesmo de Eduardo Campos lançar sua candidatura a presidente da República, mas foram suspensas depois da morte do ex-governador, em agosto. As discussões sobre essa ideia foram retomadas depois da derrota da ex-ministra Marina Silva no primeiro turno da eleição presidencial. Caso venham mesmo a se fundir, PSB e PPS formarão a quarta maior bancada da Câmara que toma posse em fevereiro do ano que vem, com 45 deputados, atrás apenas de PT, PMDB e PSDB.

À frente de um grupo de cinco colegas de partido, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), tem reunião marcada para essa quarta-feira, 15, com o presidente do PSB paulista, deputado Márcio França, e outros quatro socialistas, para dar continuidade às negociações para a fusão. A intenção dos dirigentes das duas legendas é esperar o segundo turno da eleição para depois fechar as negociações. O novo partido poderá manter o nome de PSB ou passar a se chamar PS40, que é o número de registro do partido do ex-governador Eduardo Campos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"Nós decidimos esperar a decisão final para depois da eleição para não atrapalhar a campanha de Aécio Neves, que é candidato apoiado tanto do PSB quanto do PPS", disse Roberto Freire. Ele foi procurado hoje de manhã por Márcio França, pelo prefeito do Recife, Geraldo Júlio, eleito primeiro secretário do PSB, e por Fernando Bezerra Coelho, senador eleito por Pernambuco. Conversaram sobre a necessidade de avançar nas negociações, para que o novo partido possa se consolidar o mais rapidamente possível.

"O PSB e o PPS têm uma identidade muito forte. A fusão será programática, devido à semelhança dos programas. Terá também um pouco de pragmatismo porque nos dará uma bancada grande e forte, a quarta da Câmara", disse Freire. Ele afirmou ainda que a fusão, por enquanto, é negociada apenas entre os dois partidos. Mas existem informações de que o PEN, que elegeu dois deputados, e o PHS, com cinco, também podem entrar nas negociações. Este último fez parte da coligação que apoiou a candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva ao Planalto.

O PPS foi o primeiro partido a oferecer legenda à ex-ministra Marina Silva logo depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negar registro ao partido dela, o Rede Sustentabilidade. Mas Marina optou por entrar no PSB, ser a candidata a vice de Eduardo Campos e assumir o lugar deste logo depois da morte do ex-governador. O PPS fez aliança com o PSB, apoiou Campos e depois Marina. Depois do primeiro turno, foi um dos primeiros partidos a se aliar a Aécio Neves, caminho que foi seguido pelo PSB.

Aécio lança 'mentirômetro' para rebater acusações de Dilma

• Estratégia é a mesma utilizada pela campanha de Marina Silva no primeiro turno, quando foi criado em seu site o 'Boatos x Verdades'

Elizabeth Lopes, Pedro Venceslau e Débora Bergamasco - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, afirmou nesta terça-feira, 14, que o governo de sua adversária Dilma Rousseff (PT) está "assustadíssimo em perder as eleições", por isso está colocando em prática o que classifica de campanha de mentiras, calúnias e difamações. "Estou inaugurando um mentirômetro no meu site para rebater tanta mentira, seja no twitter da presidente, seja de seus parceiros. Esta é a campanha com maior número de mentiras, é um vale tudo, parece que eles não podem deixar o poder", disse o tucano, em entrevista concedida na produtora onde grava seus programas do horário eleitoral gratuito. A estratégia do "mentirômetro" é a mesma utilizada por Marina Silva (PSB), no primeiro turno das eleições, quando sua campanha criou Boatos x Verdades, em que rebatia as supostas afirmações falsas feitas contra sua campanha.

Nas críticas, Aécio disse que o desrespeito deste governo não tem limites porque a mudança chegou. "Estou preparado para o debate olho no olho com minha adversária. Estamos a 15 dias da libertação, vamos tirar o jugo do PT das costas dos brasileiros", emendou.

O tucano rebateu também as críticas feitas por Dilma sobre a derrota de seu candidato, Pimenta da Veiga, na eleição estadual em Minas Gerais, vencida pelo petista Fernando Pimentel e sobre o fato de ter obtido cerca de 500 mil votos a mais do que o tucano, que governou o Estado por dois mandatos consecutivos. "Houve disputa local em Minas entre dois candidatos, trabalhei pelo meu e ele perdeu, isto é um fato, mas respeito o resultado porque sou um democrata e vamos em frente porque ainda há uma disputa presidencial em curso."

Ao falar sobre o pleito em Minas Gerais, Aécio partiu para o ataque ao PT, citando a apreensão no aeroporto de Brasília de R$ 116 mil em dinheiro vivo com um colaborador da campanha petista que atuou em Minas. "Nunca vimos tanto dinheiro usado em uma campanha pública, em Minas Gerais, sobrou tanto que acabou parte dele sendo apreendido em mala de dinheiro em um jatinho saindo de Belo Horizonte com assessores da campanha do PT." E voltou às críticas com o PT, destacando que o atual governo petista "está nos seus estertores e caminha para o final, para o bem do Brasil".

Marina. Com relação aos próximos passos da ex-senadora Marina Silva, sobre o apoio que recebeu neste segundo turno, Aécio ponderou: "Outras etapas provavelmente virão, mas não cabe a mim cobrar absolutamente nada, só me cabe agradecer." O presidenciável tucano reiterou que ficou muito feliz com o apoio de Marina e disse que não deve ter sido fácil para ela tomar tal decisão, porque representa uma outra corrente política. "Mas ela tomou essa decisão em favor do Brasil", disse, destacando que é o candidato da mudança.

A entrevista coletiva foi concedida por Aécio, antes de participar do primeiro debate deste segundo turno, na TV Bandeirantes. Ele disse que "está de alma leve" e é assim que vai participar do embate com a adversária do PT, Dilma Rousseff. Mas alertou: "Estou pronto para rebater as calúnias e difamações que estão ocorrendo porque este governo já percebeu que o atual ciclo (de poder) está acabando." Na saída da produtora, o governador de Pernambuco, João Lyra, falou que a campanha do tucano em seu Estado está crescendo.

Arminio Fraga: ‘O ataque do PT demonstra uma fraqueza incrível’

• Para economista, comparar as gestões tucana e petista é tirar o foco do fracasso econômico da presidente

Alexandre Rodrigues / Clarice Spitz – O Globo

RIO - Amuleto de Aécio no primeiro turno, o ex-presidente do Banco Central não esconde o desconforto de ser apresentado como vilão por Dilma Rousseff (PT) no segundo turno. Em entrevista ao GLOBO, ele admite ter sido pego de surpresa sem uma estratégia para deslocar o debate econômico do passado, como insistem os petistas, para o presente, como querem os tucanos. Para encarnar o antagonista de Arminio, o PT escalou o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Procurado pelo GLOBO na semana passada, o ministro ainda não abriu espaço em sua agenda para uma entrevista.

Como vê a estratégia do PT de comparar indicadores econômicos dos governos Lula e Dilma com os de FH?
Quem está concorrendo não é o Lula, do (ex-ministro da Fazenda) Antonio Palocci. É a Dilma, com esse modelo, essa equipe e esses resultados que estão aí. Lula já foi. As perspectivas são tão ruins, que tentam jogar a discussão para o que aconteceu há 15 anos, em outras circunstâncias.

Como o PSDB vai responder?
Não temos outra estratégia para contrapor que não seja a de discutir o que se pretende fazer com o Brasil de hoje, já que não temos máquina do tempo para voltar atrás. Tenho a impressão de que, com o tempo, as pessoas vão entender que aquilo era outra situação, gravíssima, herdada da década de 1980. Eu não sou daqueles que acha que está tudo errado hoje, mas tem muita coisa errada. Temos que insistir no que é bom e mudar o que é ruim. O tema para mim é mudança.

A comparação não faz sentido?
Espera-se que cada governo seja melhor do que o outro. Quando se constrói uma parede, colocando um tijolo sobre o outro, dizer que o quarto tijolo é mais baixo que o décimo é óbvio. Claro que é. Ninguém constrói uma parede para baixo. O ponto hoje é o país estar vivendo uma crise de incerteza enorme. Todos os índices de confiança estão lá embaixo. O investimento vem caindo, apesar de todos os programas do governo. Isso mostra que tem coisa errada no modelo.

Sente-se no alvo do PT?
E não é para se sentir? O ataque que o PT está fazendo demonstra uma fraqueza incrível. Eu não me tenho em tão alta conta, como eles aparentemente têm. Claramente estão querendo desviar o foco do que está acontecendo hoje.

Sua proposta de revisão do papel dos bancos públicos é das mais criticadas pelo PT. Como seria o BNDES de Aécio?
Não vamos acabar com o BNDES, que é um instrumento importante. A resposta à crise em 2009, anticíclica, foi adequada. Só que a crise passou. As coisas estão dando errado por outras razões, e eles continuam com o mesmo remédio. O BNDES tem que ter critério social, por ter recursos subsidiados hoje maiores do que o que se gasta com o Bolsa Família. Tem que ter transparência para permitir avaliação. E os subsídios têm que estar no orçamento. Hoje, não há meta para o tamanho do banco, mas, com critério, sem emprestar para Petrobras e grandes empresas que têm acesso a crédito privado, o volume dos desembolsos deve diminuir aos poucos.

Seu plano de trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% e reduzi-la para 3% é juro alto, como diz Dilma?
O que temos dito é que vamos fazer isso em dois ou três anos, com uma combinação muito melhor das ferramentas de política econômica, que não são só juros, para liberar o lado da oferta da economia. A oferta está travada porque não tem investimento. Vamos trabalhar para destravar a oferta também.

Esses outros componentes faltaram na política econômica de FH?
Não, de jeito nenhum. É o oposto. Vocês estão acreditando muito no que eles (do PT) contam. Fernando Henrique fez mudanças de grande importância, como o papel do Estado. Era preciso passar uma série de coisas para o setor privado, sob supervisão do Estado. Começou lá o foco maior em Educação e Saúde. Se olharmos os gastos sociais, o crescimento foi mais ou menos igual nos governos Itamar, FH, Lula e Dilma: cerca de 1,5% do PIB. Só estou mostrando que as coisas fora de seu contexto têm pouco significado. É um debate pobre.

A política econômica de FH foi irrepreensível? O que faria de diferente num governo Aécio?
FH pegou um país com hiperinflação, moratória, sistema bancário parasita, buraco fiscal, crise das finanças estaduais. De um quadro desolador, fez um excelente trabalho. Temos que olhar o conjunto da obra sob as circunstâncias em que aconteceu. Qualquer um que olhe para trás com um mínimo de bom senso faria algo diferente, mas isso é engenharia de obra feita. Hoje, as circunstâncias são totalmente diferentes. Não dá para fazer essa comparação. Se há um paciente com apendicite e outro com enxaqueca, vamos abrir a barriga dos dois? Não faz sentido. O eleitor precisa ver as propostas e as credenciais das pessoas hoje e definir se têm competência ou não.

A cartada do 'golpe'- O Estado de S. Paulo / Editorial

Decerto preocupada com a possibilidade real de derrota no segundo turno, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, parece ter definitivamente perdido a compostura. Em comício em Canoas (RS), na semana passada, a petista deixou toda a prudência de lado e acusou a oposição de tramar um "golpe".

Que não se considere menor essa gravíssima denúncia apenas pelo fato de que ela foi feita em meio ao natural improviso palanqueiro. Dilma sabia muito bem o que estava dizendo e a quem se dirigia quando declarou, em outras palavras, que seus adversários estariam em pleno curso de uma ruptura institucional com o propósito de apear o PT da Presidência.

A acusação de Dilma foi uma reação à repercussão dos depoimentos prestados à Justiça Federal pelos principais operadores do gigantesco escândalo de corrupção na Petrobrás, o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Ambos relataram, em detalhes, como o PT recebia parte da propina cobrada de empresas que tinham contratos com a estatal.

"Eles jamais investigaram, jamais puniram, jamais procuraram acabar com esse crime horrível, que é o crime da corrupção", discursou Dilma, referindo-se, como sempre de forma genérica e leviana, aos governos tucanos. "Agora, na véspera eleitoral, sempre querem dar um golpe. Estão dando um golpe. Esse golpe, nós não podemos concordar."

Ao usar três vezes a palavra "golpe" na mesma declaração, Dilma ultrapassou os limites da civilidade. Embora ela própria já tenha dito que, em época de eleição, se pode "fazer o diabo", uma presidente da República deve saber que não pode destruir pontes com nenhuma parte da sociedade, pois ela governa para todos, e não somente para seus simpatizantes. Quando diz, com todas as letras, que a oposição é "golpista", Dilma liquida qualquer possibilidade de diálogo, num eventual segundo mandato, com aqueles que representam cerca de metade dos eleitores do País.

A acusação de que a oposição ao PT e os críticos do governo são "golpistas" é recorrente entre os militantes petistas. Na visão dessa turma, que se baseia na mitologia lulista, opor-se a um governo que descobriu o Brasil em 2003 só pode ser sedição. Enquanto era verbalizada apenas pela virulenta claque petista, essa diatribe não causava danos significativos. Mas, quando é a própria presidente da República que decide vocalizar tamanha sandice, que não encontra nenhum respaldo na realidade, isso significa que o Brasil, sob o PT, entrou de vez no clube dos bolivarianos - aqueles países governados por líderes autoritários que dividem a sociedade em "nós" e "eles" e que denunciam "golpes" a todo momento para justificar seus apuros.

Para sustentar sua teoria da conspiração, Dilma sugeriu que os depoimentos dos envolvidos no escândalo da Petrobrás foram deliberadamente vazados para servir à "manipulação política" por parte da oposição. "Eu acho muito estranho e muito estarrecedor que, no meio de uma campanha, façam esse tipo de divulgação", disse a presidente.

No entanto, os depoimentos a que ela se referiu não foram "vazados". A ação na qual eles foram colhidos não corre em segredo de Justiça - e, nesses casos, a Constituição manda dar publicidade ao processo. Pelo cargo que ocupa, Dilma deveria saber disso, especialmente antes de fazer acusações tão graves. Mas o comitê de campanha da presidente não parece se importar com o que determina a lei, pois pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria-Geral Eleitoral, sabe-se lá com que argumentos, para impedir que esses depoimentos continuem a ser publicados.

Assim, preocupa observar que, ademais de sua incapacidade como presidente, Dilma agora flerta com o autoritarismo daqueles que não conseguem aceitar o contraditório e a alternância no poder. Ela incorporou a seu discurso as teses de uma militância rastaquera - que pode falar o que bem entende porque não tem responsabilidades institucionais. Se atribui a seus adversários intenções golpistas, segue-se que Dilma deslegitimará o resultado das urnas, se este lhe for desfavorável. Definitivamente, não é uma atitude digna de alguém que preze a democracia.

Merval Pereira - Votos cristalizados

- O Globo

Analisando as recentes pesquisas do Datafolha e do Ibope (hoje, o Ibope divulga uma nova pesquisa), o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, diretor do Iuperj, diz que, do ponto de vista dos estratos socioeconômicos, a eleição parece estar sendo jogada nos 43% de eleitores que o Datafolha classifica como de "renda média intermediária" e "média baixa" ou nos 51% que têm renda mensal entre dois e 10 salários mínimos.

Isto porque, salienta, os setores de renda mais baixa já estão ganhos para a candidatura de Dilma: entre os "excluídos", ela tem 57% (contra 31% de Aécio) e entre os que ganham até 2 salários mínimos, Dilma tem 52% (contra 37% de Aécio). Nos estratos de "classe alta", Aécio tem 68% das preferências contra 24% de Dilma e, nos que ganham mais de 10 salários mínimos, Aécio tem 69% contra 24% de Dilma. Nos estratos médios, há um "empate técnico" com ligeira vantagem para Aécio (50% contra 41%). No critério PEA (População Economicamente Ativa) x Não PEA, Aécio tem ligeira vantagem entre as ocupações PEA (49% x 43% de Dilma), mas perde na população Não Economicamente Ativa (47% para Dilma x 41% de Aécio). Pelo lado da "oferta política", Geraldo Tadeu considera que "certamente serão os 22 milhões de eleitores de Marina Silva que decidirão as eleições". Nas pesquisas anteriores ao 1º turno, 59% dos marineiros declaravam voto em Aécio no 2º turno contra 24% que pretendiam votar em Dilma.

Após o 2º turno, os aecistas são 66% entre os eleitores de Marina enquanto os dilmistas são 18%. Por esse cálculo, Aécio deve herdar cerca de 14,636 milhões de votos de Marina enquanto Dilma receberá perto de 3,991 milhões. O saldo líquido pró- Aécio pode ser de cerca de 10,644 milhões de votos , suficientes para compensar a vantagem de 8,341 milhões de votos que Dilma teve no primeiro turno. Neste quadro, compute- se ainda que 28% dos eleitores que, no 1º turno, votaram em branco ou nulo, declaram voto em Aécio, ao passo que 11% declaram voto em Dilma. Essa conta também é favorável para Aécio em mais 1,886 milhão . Do ponto de vista regional, a eleição se decidirá nos três principais colégios eleitorais (São Paulo, Minas e Rio). As pesquisas mais recentes indicam que Aécio ultrapassou Dilma em Minas, aumentou a vantagem em São Paulo e está empatando com Dilma no Rio.

No Nordeste, Dilma tem ampla vantagem: teve 16,4 milhões de votos contra 4,22 de Aécio. A transferência de votos de Marina para Aécio e Dilma deve representar um acréscimo de 4,127 milhões de votos para Aécio , o que reduzirá a vantagem de Dilma para 9,177 milhões de votos . Essa vantagem deverá ser compensada por Aécio no Sudeste, analisa Geraldo Tadeu, onde deverá obter uma vantagem de cerca de 10,990 milhões de votos. O Nordeste e o Norte são solidamente pró-Dilma, o Centro-Oeste solidamente pró-Aécio. Outro ponto favorável ao tucano é o fato de ele vencer nas regiões metropolitanas (onde tem 47% contra 39% de Dilma) e nos municípios de maior porte (48% para Aécio e 38% para Dilma nos municípios com mais de 200 mil eleitores).

No interior, há empate (46% x 46%), Dilma vencendo nos municípios com menos de 50 mil habitantes (51 x 42%). Em uma eleição apertada como essa, que deve ser vencida por margem bastante reduzida, é preciso analisar os detalhes das pesquisas. Ressalto que a mais recente do Datafolha — a próxima será divulgada na quinta-feira — mostra que os eleitores estão com votos cristalizados. No caso do Aécio, há 91% dos seus eleitores que dizem que votariam de novo nele "com certeza" no 2º turno. No caso da Dilma, um número quase igual: 88% dos seus eleitores repetiriam o voto "com certeza". O destaque fica por conta daqueles que declararam voto em Dilma e que votariam "com certeza " ou "talvez votassem" em Aécio Neves , que são 35%. No caso contrário, os que dizem que poderiam votar na Dilma tendo votado em Aécio, são 17%.

Dilma tem potencial bem menor de roubar votos que Aécio nesta reta final. Dentre os que votaram na Dilma, 63% dizem que não votariam em Aécio "de jeito nenhum", mas dentre os que votaram em Aécio, não votariam na Dilma 82%. A rejeição a Dilma entre os eleitores do Aécio é bem maior, portanto. O potencial de eleitores do Aécio entre os que votaram na Marina é de 80%, e da Dilma, 34%, mas com 65% de rejeição. Dos eleitores que optaram por voto branco, nulo ou nenhum, 55% poderiam votar em Aécio. No caso da Dilma, apenas 34%, com uma rejeição de 73%, o que mostra que Dilma tem um grau de rejeição elevadíssimo entre os que não votaram nela.

Dora Kramer - Na bacia das almas

- O Estado de S. Paulo

O PT se ressente da atitude crítica da imprensa na campanha eleitoral. Mas o partido não se ajuda na medida em que à autocrítica prefere a persistência no erro e não cria situação alguma em que seja permitido lhe atribuir algum acerto.

Não há racionalidade, maturidade, transparência nem respeito pelo discernimento alheio no trato das questões que mereceriam uma abordagem mais cuidadosa. Tudo é reduzido a uma simplificação infantilizada, embrulhada em invólucro de propaganda enganosa recheada de contradições que não resistem à luz da realidade.

Com todo respeito que a presidente Dilma Rousseff não demonstra pelo público a que se dirige, se alguém está pretendendo dar um golpe nesse caso das denúncias da Petrobrás é o PT quando recorre ao velho truque do João sem braço. Aquele que se faz de desentendido diante de uma situação difícil à espera de tirar alguma vantagem da adversidade.

O partido já se fez de sonso uma vez, no mensalão. Do ponto de vista eleitoral, colou. Mas ficou o resquício que virou passivo quando os dirigentes resolveram não dar ouvidos ao grupo que aconselhava a "refundação" (leia-se, enfrentamento real do problema e mudança de conduta) e optaram por dobrar a aposta na defesa dos condenados e na condenação dos juízes.

Agora os depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef alcançam o PT em plena campanha do segundo turno. O partido alega uso eleitoral, acusa manipulação e aponta vazamento parcial de informações.

Em primeiro lugar, quem se antecipou a informar que autorizara a compra da refinaria de Pasadena com base de relatório "falho" foi a presidente Dilma no início do ano porque tinha informações de que detalhes sobre os negócios da estatal viriam a público durante a campanha. A ideia era se precaver. Foi ela quem levou o assunto ao Planalto e consequentemente ao campo político.

Em segundo lugar, é de se observar a independência entre os poderes. O Legislativo não preza o princípio e, por isso, rendeu-se às exigências do Executivo contra as CPIs da Petrobrás. Mas o Judiciário não atrela seu calendário às conveniências desse ou daquele governo. Se o juiz Sérgio Moro e os procuradores responsáveis pelas investigações da Operação Lava Jato resolvessem esconder depoimentos que pela lei são públicos, aí sim deveriam ser acusados de manipulação eleitoral.

Já está devidamente esclarecido que o segredo de Justiça não inclui os depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef que estão sendo divulgados. Estes dizem respeito a uma ação penal cujo conteúdo pode ser requisitado por qualquer pessoa e já foi enviado à CPI da Petrobrás e à Corregedoria-Geral da União. O governo, portanto, tem acesso. Não faz sentido falar em "vazamentos seletivos".

Menos sentido ainda faz o PT processar o ex-diretor da estatal por difamação e a presidente da República cogitar a demissão do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, citado no depoimento alegadamente mentiroso. A demissão foi barrada pelo PMDB, responsável pela indicação de Machado, lembrando que o tesoureiro do PT, João Vaccari, também havia sido citado. Ou seja, combate-se a corrupção "doa a quem doer" desde que doa no vizinho.

É de se perguntar qual a parte da ineficácia do truque de se fazer de desentendido o PT ainda não entendeu. O partido surpreende-se por ter sido impregnado com a pecha de corrupto, quando foi ele mesmo que por longo tempo menosprezou o tema.

Desqualificava os partidários da ética chamando-os de "udenistas", alimentou a tese de que as "mãos sujas" são inerentes ao exercício da política, a fim de amenizar o efeito do escândalo do mensalão argumentou que fazia o que "todo mundo faz", posicionou-se na contramão da opinião pública na defesa dos réus e no ataque ao Supremo Tribunal Federal, enfim, caiu na própria armação. E paga o preço do excesso de esperteza.

Luiz Carlos Azedo - Escolhas do acaso

• Qualidades pessoais e as propriedades de qualquer situação ou ambiente não levam direta e inequivocamente a consequências precisas. O mundo onde tudo pode ser previsto não existe

Correio Braziliense

Um dos novos campos de investigação acadêmica é o modo como as pessoas fazem julgamentos e tomam decisões quando defrontadas com informações imperfeitas ou incompletas. Em situações que envolvem o acaso, o cérebro é deficiente. Para entender o que acontece, os especialistas recorrem à chamada nova ciência, que mistura física, matemática, psicologia cognitiva, economia comportamental e até neurociência.

O livro O andar do bêbado: como o acaso determina nossa vida (Rio de Janeiro, Jorge Zahar) é uma tentativa de tornar mais amigável esses estudos sobre aleatoriedade, ou seja, os princípios do acaso na política, nos negócios e outras áreas de atividade humana, como a medicina, o esporte e as artes. Seu autor, Leonard Mlodinow ensina Teorias da Aleatoriedade no Instituto de Tecnologia da Califórnia. Escreveu, com Stephen Hawking, o livro Uma nova história do tempo. É um cara de sorte: estava no World Trade Center na hora dos ataques terroristas do 11 de setembro de 2001; também por acaso, sobreviveu.

O livro parte de uma tese do economista Richard Thaler, especialista em finanças comportamentais, pela qual “um bêbado andando em um campo pode criar um caminho aleatório, embora ninguém possa chamar sua escolha de direção racional. Se os preços dos ativos dependem do trajeto que o bêbado adotou, seria boa ideia estudar como bêbados se orientam”. Trata-se do “caminho aleatório” da Hipótese do Mercado Eficiente: os investidores não adivinham se o conteúdo da nova notícia será positivo, isto é, favorável à alta; ou negativo, levando à baixa das cotações. Esse “caminho aleatório” recomenda que a melhor atitude é acompanhar o mercado e não tentar superá-lo.

É o que está acontecendo com a Bolsa de Valores, em função das eleições presidenciais. Grandes bancos de investimento fazem o que chamam de “pesquisas clones” sobre o cenário eleitoral, às vésperas das sondagens registradas na Justiça Eleitoral. Se vai sair um Datafolha, fazem uma pesquisa com a mesma metodologia; se é o Ibope, idem. O resultado serve para orientar o movimento de compra e venda de ações, principalmente das empresas estatais, como a Petrobras, e – ou quase -, como a Vale, que é controlada pela Previ. As ações das empresas com tarifas reguladas pelo governo, como companhias de energia, por exemplo, também sofrem impacto. O mercado acompanha por “efeito manada”.

Os grandes bancos avaliam que a atual política econômica, que consideram um fracasso, será mantida se a presidente Dilma Rousseff (PT) for reeleita, pois ela não fez nenhuma autocrítica até agora. Por isso, quando a pesquisa é favorável à petista, as ações são vendidas, e a cotação da Bolsa cai; quando o resultado mostra Aécio Neves (PSDB) na frente, o movimento é de compra, e a Bolsa tem forte alta, como aconteceu na segunda-feira passada. Ontem, foi um dia esquizofrênico: a Bolsa abriu em forte queda por causa da pesquisa Vox Populi e virou à tarde, entrando em alta, por causa de dois levantamentos do mercado financeiro, um clone do Ibope, outro do Datafolha – institutos que divulgarão pesquisas hoje.

A sorte pede passagem
O livro de Mlodinow também vem a calhar porque o acaso fez das eleições presidenciais de 2014 um capitulo à parte na história recente. Pela primeira vez, desde a instituição da reeleição, um presidente da República corre sério risco de perder. Fernando Henrique Cardoso se reelegeu no primeiro turno, embora depois tenha sido atropelado por uma crise cambial; Lula teve que suar a camisa por causa do escândalo de mensalão, mas fez um passeio no segundo turno. Dilma, porém, está comendo o pão amassado por ela própria e pelo diabo.

Tudo parecia caminhar para a reeleição dela, até que o candidato do PSB, o ex-governador Eduardo Campos, terceiro colocado nas pesquisas, morreu num desastre aéreo em Santos (SP). Marina Silva, que havia sido impedida de concorrer, assumiu o lugar de Eduardo, de quem era vice, e disparou nas pesquisas, deixando Dilma e Aécio para trás. Graças a um acaso, liderou a disputa até duas semanas antes do primeiro turno, quando foi ultrapassada por Aécio, cuja caminhada para o segundo turno seguiu a lógica do andar descrito acima.

Mlodinow critica a ideia de que o momento presente determina precisamente a maneira como o futuro se desenrolará. Qualidades pessoais e as propriedades de qualquer situação ou ambiente não levam direta e inequivocamente a consequências precisas. O mundo ordenado, onde tudo pode ser antecipado, computado e previsto não existe. Entretanto, essa era a aposta da presidente Dilma Rousseff e do PT. É a ilusão de inevitabilidade. Na política, como já dizia Maquiavel, o sucesso não depende apenas das contingências. Depende da sorte (fortú), mas o felizardo precisa ser bom jogador. (virtú). Aécio provou que é do ramo.

Fernando Rodrigues - O tino e a hora de Marina

- Folha de S. Paulo

Errei feio a respeito da trajetória de Marina Silva após a eleição de 2010. Ela submergiu. Começou a formalizar a sua Rede Sustentabilidade muito tarde, só em 2013. Fracassou. Ficou sem partido.

Achei que Marina seria mais uma terceira colocada logo fadada a murchar. Foi assim com outros que ficaram nessa posição e encolheram em eleições subsequentes, seja como candidatos ou apoiando alguém.

Já ocuparam o terceiro lugar Leonel Brizola (1989), Enéas Carneiro (1994), Ciro Gomes (1998), Anthony Garotinho (2002) e Heloísa Helena (2006). Todos tiveram trajetórias declinantes nos anos seguintes.

Em 2010, coube a Marina Silva incorporar a possível terceira via. Por que ela, que nem partido tinha, haveria de voltar com força em 2014? Se política obedecesse a alguma lógica, o normal seria a ex-senadora ter recebido agora menos votos do que há quatro anos. Mas ocorreu o oposto.

No último dia 5, Marina teve 21,3% dos votos válidos, contra 19,3% em 2010. Aliás, vale registrar: ela foi a primeira a ficar em terceiro lugar numa eleição e aumentar seus apoios nas urnas na disputa seguinte.

Nos últimos dias, algumas análises dão conta que Marina teria perdido relevância ao demorar para anunciar o apoio a Aécio Neves. Outros enxergaram um erro crasso na posição pró-PSDB. Talvez essas interpretações sejam com a régua da lógica tradicional da velha política.

Até agora, Marina demonstrou estar construindo um caminho sólido para vocalizar a insatisfação geral dos eleitores. Ela não ganhou, é verdade. Só que seus votos foram a seu favor. Já o sucesso do eventual vencedor será com votos "do contra". Afinal, muitos apoios a Dilma são apenas por aversão a Aécio. E vice-versa. Quantos estão indo às urnas felizes, em festa e a favor de algo?

Nesse cenário, não era a vez de Marina. Mas evitarei dizer, como em 2010, que ela tenderá a sumir do mapa como outros terceiros colocados.

Rosângela Bittar - Marina, ainda um enigma

• O Rede nem nasceu e já caiu no racha da velha política

- Valor Econômico

Dois ou três desconhecidos integrantes da cúpula do Rede, partido que eles mesmos não conseguiram criar mas já estão dele produzindo dissidência, como os demais da política velha de guerra quando contrariados em seus interesses individuais, declararam independência de Marina Silva por ela haver feito opção no segundo turno da disputa presidencial. Queriam que ficasse neutra entre PT e PSDB, como ficou em 2010, uma decisão que, lá atrás, poderia ter-lhe custado alguns anos de percurso eleitoral interrompido se não tivesse tomado o atalho de Eduardo Campos, com o PSB.

Essa visão de curto prazo dos redistas em confronto com o gesto de médio e longo prazos da candidata e ex-senadora, que não se mostrou abalada pelas críticas, é um sinal, o primeiro mais concreto, da natureza do projeto político de Marina Silva. Ela vai continuar no jogo.

Marina participou de sua segunda eleição para presidente da República - nas duas teve 20 milhões de votos - e dela saiu, como saiu da primeira, sem conseguir deixar no eleitorado o sentimento do que mesmo está ele perdendo ao não elegê-la. Marina é a sua figura, um símbolo, não um projeto claro de país.

O que se vê em 2014, como se via em 2010, é que há a candidatura de uma personalidade em busca de uma realização pessoal, com um séquito de pessoas de diferentes atuações e desejos que se armam à sua volta, e de expectativas tentando sobrepor seu próprio projeto ao dela e evitar que se desgarre de todos em direção a algo mais amplo. Querem ficar restritos.

Já se disse, sobre o modelo de operação de Marina, que ela ouve a todos, amadurece sua decisão, e faz suas opções. A reação de uma parte dos integrantes do futuro Rede está provando que há nuances nessa escrita. Desta vez, não gostaram da sua decisão e deram-lhe uma rabanada. E Marina seguiu seu rumo, como queria, sem as amarras do ecologismo, do fundamentalismo religioso e outras plataformas reducionistas.

Sinal de amadurecimento político de Marina, o segundo nesta eleição. Primeiro, ao se ver sem partido e com a capacidade eleitoral contida pelos adversários, optou por seguir com a candidatura Eduardo Campos, inserindo-se no cenário. Com a morte dele, assumiu seu lugar e quase foi levada à Presidência da República em uma eleição da qual sua sina era não participar.

Chegado o momento do segundo turno, viu-se novamente diante de obstáculos à continuidade de sua trajetória e à montagem de condições para que pudesse estar no cenário de 2018. Seus aliados temáticos e aliados petistas não gostaram de sua opção por Aécio, mas ela seguiu em frente, numa decisão difícil porém objetiva.

Marina é um fenômeno político, ninguém pode deixar de considerá-la desta forma. E voltará na próxima eleição a disputar a Presidência, com um retorno ainda maior, já mais vivida e conhecida, e tendo visto e sofrido na pele a dura realidade da disputa.

Ela entrou nas duas campanhas como afirmação de uma ideia, como uma bandeira desfraldada, e saiu, agora, como antes, como um enigma. Quem é Marina? O que ela quer fazer na política sem partido, equilibrando-se nas regras do jogo, intimidada por adversários e mais ainda por aliados?

Sua história é dramática, do ponto de vista humano, uma biografia que desafia a compreensão e causa fascínio no eleitorado, traduz uma singularidade com que ninguém pode se comparar. Marina é o épico, a mulher da floresta, a alfabetização aos 16 anos, um desafio à imaginação. Os demais são políticos com biografias também peculiares, mas comuns.

Por haver percebido isso, e tentar levar-se avante, sem partido, sem respaldo, sem estrutura, sem experiência, já se pode dizer que Marina deu certo na política. Vinte milhões de votos, em duas campanhas, não dá para discutir. É óbvio que um contingente grande de eleitores, de todas as origens, ricos, pobres, importantes, desconhecidos, encantam-se com ela. A classe média e os jovens a adotam sem pedir explicações sobre de quem e do que se trata.

Está claro, porém, que é preciso acertar as contas com o seu grupo próximo. Quando aderiu a Eduardo Campos, era uma joint venture em que a maior parte do peso da responsabilidade ficava com ele. Uma aliança de conveniência, mais favorável a ela do que a ele. Com sua própria candidatura, em seguida à morte de Eduardo, já precisou assumir mais compromissos e firmeza. Já aí despertou a reação irada dos grupos petistas e ecológicos que a cercam e bebem no seu prestígio, sobretudo internacional.

O que Marina armou agora foi seu caminho do futuro, fez por onde transitar. Desenhou o cenário para si em 2010, tomou a iniciativa da aliança com Campos, controlou a definição de sua chapa quando virou candidata, e, agora, abandonou a inútil neutralidade para se posicionar. Fatos que apontam para 2018 o seu horizonte.

Até agora, ficava-se a favor ou contra ela pelo modelo fechado do ambientalismo ou fundamentalismo religioso. É inegável que está abrindo o leque.

Com um pouco mais de visibilidade, é verdade, mas Marina ainda sai de sua segunda eleição presidencial como enigma. Se tivesse ido para o segundo turno, nem essas elucubrações seriam feitas. Como o PT de tantas facções que se unem na hora H, ou o PSB, que só vive a dissidência hoje porque um grupo jamais se conformou com a candidatura própria em detrimento da aliança com o PT, o Rede está tendo um dos piores xiliques da velha política, responsável pela explosão do quadro partidário, a saída para outra porque o comando não faz o que a minoria quer.

A hora da verdade, entretanto, chegou, e Marina respondeu a ela, com um sinal ao eleitorado de que continua em cena.

Cercada de pessoas ligadas a ONGs internacionais, ao PT e à religião, Marina Silva não tem na sua entourage nenhum segmento com vocação para colocar a mão na massa dos problemas econômicos e sociais, por isso segue sem projeto conhecido para o país. Querem salvar o planeta, mas não conhecem os meios para salvar o brasileiro da sua circunstância. Os partidos ecológicos, no mundo, são minoritários, mas têm uma força extrema que deriva da moral e da densidade eleitoral. Aqui ainda creem que Chico Mendes era estritamente um verde. Antes de ser ecologista, Chico Mendes, modelo da nação marinista, era essencialmente socialista.

O projeto terá que se comover com os problemas econômicos, sociais e filosóficos do país, que transcendem a causa ecológica. Marina só avança por essa travessia.

Elio Gaspari - O PT carregou "Paulinho" porque quis

• Assim como ocorreu com o "mensalão", o comissariado achou que levaria o caso com a barriga, errou duas vezes

- O Globo

A doutora Dilma chamou de "golpe" a exposição dos depoimentos de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e do operador financeiro Alberto Youssef. Pode-se achar que tenha sido meio girafa a escolha da ocasião, entre os dois turnos eleitorais. Mesmo assim, o juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, ouviu-os no desempenho de suas atribuições e tinha obrigação tornar públicas as informações que recebeu. "Golpe" houve quando a dupla e seus comparsas delinquiram.

Como aconteceu no caso do mensalão, o comissariado fez várias apostas e perdeu todas. Houve um dia em que o governo poderia ter saído da crise, tomando o caminho da moralidade: 19 de março de 2014. Na véspera, respondendo a uma indagação da repórter Andreza Matais, a doutora Dilma redigiu uma nota dizendo que, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, aprovara a compra da Refinaria de Pasadena baseada em "informações incompletas" de um parecer "técnica e juridicamente falho". Era só continuar nessa linha.

No dia 20 de março a Polícia Federal prendeu Paulo Roberto Costa. Tratava-se de uma investigação relacionada com suas transações com Youssef, um notório operador de ilegalidades, que já passara por dois escândalos.

Se o comportamento do Planalto e a ação da Polícia Federal tivessem andado na mesma direção, teria sido possível abrir a caixa-preta da Petrobras. Doeria, mas seria uma boa marca para o governo. Como no caso do mensalão, os sábios resolveram fazer o contrário. Deram marcha a ré e criou-se um "gabinete de crise" para lidar com o problema provocado pela nota de Dilma. Erro, a nota não era a origem de um problema, mas de uma solução.

Youssef e o "amigo Paulinho" (diminutivo carinhoso usado por Lula) continuavam na cadeia. O comissariado sabia que empreiteiras, fundos de pensão, fornecedores e políticos haviam caído na rede da investigação. Temia-se que Paulo Roberto Costa virasse um "homem-bomba". O comissariado operou e "Paulinho" passou com louvor por uma CPI. Disse que tinha R$ 1,2 milhão em casa para fazer pagamentos e o líder do PT considerou sua fala "satisfatória". Não se tratava mais de fingir que não se sabia, mas de encobrir o óbvio. Apostaram que o "amigo" ficaria calado e levaram a bomba para dentro do governo.

Parecia possível empurrar o caso com a barriga, pedindo-se até mesmo a anulação das provas já conseguidas. Em junho, o governo suíço bloqueou US$ 23 milhões que o "amigo" guardava no ultramar. Ele voltou a ser preso e dois meses depois começou a colaborar com a Viúva. Youssef acompanhou-o. Deu no que deu e no muito que dará.

O governo apostou no efeito barriga. A blindagem chegou ao absurdo quando a doutora Dilma disse que demitira o "amigo Paulinho". A ata da Petrobras informa que ele pediu demissão, mas ela acrescentou que esse é um "direito" dos servidores. Errado, não existe esse direito. Na ata onde está o registro de sua saída lê-se que o presidente do conselho da Petrobras, ministro Guido Mantega, "determinou o registro do agradecimento do colegiado ao diretor que deixa o cargo, pelos relevantes serviços prestados à companhia". Falta definir "relevantes serviços".

Elio Gaspari é jornalista

Almir Pazzianotto Pinto - Sob o comando dos mortos

- O Estado de S. Paulo

Augusto Comte, criador da doutrina positivista, afirmou que "os vivos são sempre, e cada vez mais, governados pelos mortos; tal é a lei fundamental da ordem humana". Se vivesse na América Latina, Comte veria confirmadas as suas palavras. Getúlio Vargas (1882-1954), Juan Domingo Perón (1895-1974) são casos clássicos da submissão dos vivos à influência dos finados: o primeiro sobrevive nos textos da legislação trabalhista brasileira e o segundo, por meio da política peronista na Argentina.

O envelhecimento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi confessado por Arnaldo Sussekind na vigência da Constituição de 1946, quando assinalou, nos Comentários (Ed. Freitas Bastos, 1959), que "as disposições consolidadas sobre a organização sindical, objetivando motivar a instituição de entidades necessárias ao funcionamento do regime de índole corporativa previsto na Carta Básica de 1937, tornaram-se, em alguns casos, incompatíveis com a filosofia jurídico-político da nova Constituição". Credite-se o eufemismo "em alguns casos" ao fato de Sussekind haver sido corresponsável pela Consolidação. Jamais viria ele a admitir o caráter corporativo-fascista da organização sindical.

Revela o Dicionário Histórico Biográfico, editado pela FGV-Cepedoc, que em 1962, ainda no governo João Goulart, Mozart Russomano redigiu anteprojeto de Código Judiciário do Trabalho e que, em 1963, Evaristo de Moraes Filho preparou projeto de Código do Trabalho, ambos esquecidos logo depois. Em 1975, atendendo a sugestão dos ministros da Justiça e do Trabalho, o presidente Ernesto Geisel instituiu comissão interministerial integrada por 11 especialistas em Direito do Trabalho, cuja presidência foi dada ao mesmo ministro Sussekind.

O anteprojeto, já no governo João Figueiredo, teve vida breve. A revista Veja de 9 de maio de 1979 estampou matéria com o título Grande por fora. Ouvido, Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, registrou: "Não adianta remendar a CLT, o que se necessita é de uma lei básica com garantias mínimas, como o máximo da jornada de trabalho, por exemplo, deixando o resto para ser discutido em convenção coletiva".

A prolixidade do anteprojeto, com 922 artigos e 24 anexos, decretou-lhe a morte, ficando adiada a revisão trabalhista.

Passaram-se anos até Lula ser eleito presidente da República. Com ele o País voltou a acreditar em nova era nas relações de trabalho. As esperanças robusteceram-se após a convocação do Fórum Nacional do Trabalho, instalado em cerimônia realizada no Palácio do Planalto, no dia 25 de julho de 2007. Diante de centenas de convidados - entre os quais me encontrava - o presidente teceu duras críticas à legislação vigente. Entre outras coisas, disse: "Só me notabilizei como dirigente sindical lutando contra uma estrutura que considerávamos, na época, fascista e que era cópia fiel da Carta del Lavoro de Mussolini".

Ano e meio depois, desse fórum resultaram a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 369/05 e o Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais. Na exposição de motivos da PEC ressaltou o então ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini: "A Reforma da Legislação Sindical é um dos mais caros compromissos de mudança desta gestão, em função do atraso estrutural das normas vigentes.

Permitir uma organização sindical realmente livre e autônoma em relação ao Estado, além de fomentar a negociação coletiva como instrumento fundamental para solução de conflitos são objetivos essenciais para o fortalecimento da democracia e estímulo à representatividade autêntica".

Prosseguiu dizendo: "A superação dos obstáculos constitucionais à modernização do sistema de relações sindicais é a base para a constituição de uma atmosfera de ampla liberdade e autonomia sindicais, sem a qual persistiremos prisioneiros de um sistema sindical estigmatizado pelo artificialismo em seus mecanismos representativos".

Diante, porém, de manifestações de resistência, não às reformas, mas à orientação imprimida aos projetos, o governo bateu em retirada. Tanto a PEC quanto o projeto de lei foram relegados a esquecimento. Se as iniciativas tinham defeitos, disso não se seguia que a proposta de reforma estivesse equivocada. Caberia ao Poder Legislativo dar-lhes redação final, o que deixou de ser feito diante da passividade do Poder Executivo.

Durante a campanha eleitoral, alguns candidatos omitiram-se, outros, como a presidente Dilma Rousseff, tomaram posição contra qualquer alteração na CLT. Declarou Sua Excelência, entre outras coisas, que, reeleita, não revogaria o direito às férias e ao 13.º salário. Apenas algum cérebro retardado investiria contra direitos básicos como salário mínimo, direito de greve, Fundo de Garantia, descanso semanal remunerado, limitação da jornada, proteção à saúde, medidas de segurança no trabalho, estabilidade da gestante, seguro-desemprego, proteção à mulher e ao menor e outros do mesmo jaez, conquistados ao longo do tempo. Não o faria Aécio Neves, neto de Tancredo Neves, de quem herdou a sensibilidade para as questões sociais.

Reforma trabalhista significa, como pregava Lula quando sindicalista, democratizar a estrutura sindical, estimular negociações, valorizar contratos.

A avalanche de feitos na Justiça do Trabalho reflete o grau de incerteza que prevalece nas relações entre patrões e empregados. São visíveis a fuga de investimentos, a desindustrialização e o aumento do nível de desemprego, sobretudo entre jovens de famílias de baixa renda.

Lula até que tentou, porém retraiu-se e abandonou a reforma trabalhista. Diante do insucesso do PT, nessa e em outras esferas, a tarefa caberá ao próximo governo - que o bom senso indica seja entregue à oposição.

*Almir Pazzianotto Pinto é advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST)