sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Ninguém no Brasil pode achar que é normal, aceitável, esse conjunto de ações extremamente nefastas, perversas, que viraram rotina e se introduziram na máquina pública brasileira. Não é a oposição que está denunciando. É um diretor indicado por esse governo. Um doleiro que atuava dentro desse esquema. E que dizem que esse esquema alimentava diretamente o partido que está no governo. Em qualquer país do mundo, isso talvez seria o maior escândalo da história. O Brasil não pode se acostumar a esse tipo de coisa.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidente da República, ‘Corrupção está institucionalizada no governo Dilma’, O Globo, 10 de outubro de 2014

Delação detalha fatiamento de propinas dentro da Petrobras

Organograma da corrupção

• Delatores detalham como funcionava esquema que abasteceu campanhas de PT, PP e PMDB

Cleide Carvalho e Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO - O áudio dos depoimentos de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e do doleiro Alberto Youssef à Justiça Federal, ao qual o GLOBO teve acesso, revela em detalhes o loteamento político e a sangria de recursos impostos à estatal. O esquema de corrupção, disseram, era chefiado pelo PT, que arrecadava a maior parte das propinas. Segundo Youssef, o esquema vingou porque o presidente Luíz Inácio Lula da Silva cedeu à pressão de políticos para emplacar o nome de Costa, uma indicação do deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010, entre os diretores da estatal. Para forçar Lula a ceder, esses "agentes políticos", segundo Youssef, trancaram a pauta do Congresso por 90 dias, no primeiro semestre de 2004. O esquema de propina delatado por eles entrou em vigor em setembro de 2005, cerca de dois meses depois do então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciar o mensalão.

- Na época, o presidente Lula ficou louco (com a obstrução parlamentar) e teve de ceder e empossar Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento - disse Youssef.

O PT cedeu na Diretoria de Abastecimento, mas ficou sozinho com três das cinco diretorias que, segundo Costa, superfaturavam contratos da estatal em até 20% para retirar um percentual de 2% a 3% para os políticos. O ex-diretor afirmou que o PT comandava o esquema de propina nas diretorias de Serviços, Exploração e Produção e Petróleo e Gás, abocanhando sozinho a comissão. Na diretoria de Abastecimento, o PT ficava com 2%, e o PP e o PMDB dividiam o 1% restante. Já a Diretoria internacional era comandada pelo PMDB.

Graças à delação premiada de Costa, acompanhada por Youssef, a Justiça detalhou o funcionamento do esquema na Diretoria de Abastecimento. Costa era o negociador dos contratos, com poder de vetar qualquer um que ferisse o interesse dos políticos do PP. Na maioria das vezes, recebia pronta a lista das empresas que participariam das licitações e o nome da futura vencedora. Os valores da negociata e da propina eram discutidos em reuniões, com participação dos "agentes políticos" ou de seus representantes. Pelo PT, negociava João Vaccari Neto, tesoureiro do partido, e pelo PMDB, o lobista Fernando Soares, conhecido como "Fernando Baiano". Pelo PP, até 2010, o responsável era o deputado José Janene. Com sua morte, Youssef e Costa passaram a negociar em nome do partido.

O doleiro afirmou que as reuniões ocorriam geralmente em hotéis do Rio ou de São Paulo e, muitas vezes, na casa dos próprios políticos envolvidos. Os encontros eram formalizados em atas, uma forma de garantir que o compromisso das empresas fosse cumprido.

Para receber o dinheiro de pelo menos 13 empresas, entre elas algumas das maiores empreiteiras do país, Youssef criava firmas de fachada. O dinheiro saía do cofre das fornecedoras da Petrobras legalmente, com nota fiscal e contratos de prestação de serviços que nunca foram efetivamente prestados.

Era o doleiro quem repartia a propina. Os políticos recebiam sua parte em dinheiro vivo. Na lista de beneficiados em poder do Ministério Público Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF), devido ao foro privilegiado dos envolvidos, estão nomes de governadores, senadores e deputados federais. Na Diretoria de Abastecimento, 60% da comissão paga pelas empreiteiras e empresas parceiras se destinavam a políticos. Costa ficava com 30%, e os 10% restantes eram divididos por Youssef e por João Cláudio Genu, já condenado a cinco anos de prisão no julgamento do mensalão. Os políticos exerciam controle ferrenho. Youssef contou que se reunia quase diariamente com eles. Costa citou no depoimento a oração de São Francisco para explicar o esquema na estatal:

- É dando que se recebe.

Período de dura convivência

• Primeiro semestre de 2004 foi marcado por rebeliões contra o governo no Congresso

Chico de Gois – O Globo

A declaração do doleiro Alberto Youssef, de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva permaneceu três meses sob forte pressão, diante da rebelião da base aliada para nomear Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras, é corroborada em parte pelos acontecimentos da época. Costa foi nomeado em 24 de maio de 2004 para o cargo, embora sua escolha tenha sido sacramentada pelo Conselho de Administração da Petrobras em 14 de maio. Entre janeiro e maio daquele ano, vários eventos aconteceram no Congresso, demonstrando a insatisfação da base aliada, sobretudo de PMDB, PP, PL (atual PR) e PTB.

O Senado havia sido convocado extraordinariamente em janeiro de 2004 - geralmente, o ano legislativo tem início em fevereiro - para apreciar projetos como a emenda constitucional da reforma do Judiciário, a lei de falências e proteção à Mata Atlântica, entre outros. Os senadores, apesar da convocação, não votaram as matérias. No decorrer do mês, a medida provisória que transformava o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em autarquia acabou trancando a pauta.

Março foi um dos meses mais tensos para o governo. Os parlamentares se rebelaram contra o Palácio do Planalto, exigindo a liberação de emendas; no fim daquele mês, Lula prometeu a liberação imediata de R$ 300 milhões para tentar domar a base. Estava em pauta a votação da medida provisória que proibia os bingos. Setores de PMDB, PP, PTB e PL impediram a votação da MP, que acabou rejeitada depois.

Naquele período, outra dor de cabeça se abatia sobre o governo: Waldomiro Diniz, que trabalhava na Casa Civil, ao lado do então ministro José Dirceu, havia sido flagrado em fevereiro exigindo dinheiro do bicheiro Carlos Cachoeira para campanhas do PT. A oposição fazia força para a criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), que acabou instalada, com apoio de alguns parlamentares da base.

Quando achou que o assunto estava encerrado, e a rebelião contida, o governo foi, mais uma vez, pressionado pelo PMDB. Dessa vez, por conta de outra medida provisória, a que fazia mudanças na estrutura do Executivo e criava 2.800 cargos de confiança. Os peemedebistas achavam que o Palácio do Planalto queria ocupar as vagas apenas com petistas, e reivindicavam sua parte.

Na Câmara, PP e PTB também voltaram à carga: suas bancadas (106 deputados somados) se recusaram a registrar presença no plenário, forçando o encerramento da sessão por falta de quórum. As reclamações eram as mesmas: verbas não liberadas, indicações para cargos não efetivadas e insatisfação com o tratamento dado por ministros.

Externamente, os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), reclamavam do excesso de medidas provisórias enviadas pelo governo e diziam que isso dificultava a independência dos poderes. Em abril, mais uma demonstração de descontentamento pelos mesmos partidos: PMDB, PP, PTB e PL e, uma vez mais, pelas mesmas razões, a falta de nomeação de cargos e liberação de verbas.

Somente a partir de maio os ânimos se acalmaram. Naquele mês, não houve registro de rebelião desses partidos.

Depoimentos de Costa deixam Planalto em clima tenso

• Em conversas reservadas, integrantes da equipe da presidente dizem ter certeza de que áudios dos depoimentos serão um 'prato cheio' para os tucanos

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Débora Bergamasco - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Causaram muita preocupação no Planalto e no comando da campanha de Dilma Rousseff os depoimentos do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff à Justiça Federal. Em conversas reservadas, integrantes da equipe da presidente disseram ter certeza de que os áudios dos depoimentos serão um “prato cheio” para o candidato do PSDB, Aécio Neves, usar na propaganda da TV. Os petistas mostraram apreensão com o impacto das denúncias, principalmente porque agora se ouve a voz do delator, e acreditam que as acusações podem ter potencial tão explosivo como o mensalão.

Dilma estava em Aracaju quando soube dos vídeos e baixou a lei do silêncio. Na tarde desta quinta-feira, 9, nenhum coordenador da campanha nem ministros falaram sobre as denúncias de corrupção. O presidente do PT, Rui Falcão, e o tesoureiro do partido, João Vaccari, divulgaram notas repudiando com veemência as declarações de Costa.

A candidata do PT à reeleição foi aconselhada a reagir “à altura”, partindo para o confronto público com Aécio, que já chama o escândalo de “petrolão”, termo usado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A campanha do tucano, por sua vez, decidiu não abordar as novas denúncias na noite de ontem, no primeiro programa de TV do segundo turno, mas vai incluir o tema nas próximas propagandas de dez minutos e nos comerciais diários, a partir desta sexta. Dilma vai responder aos ataques no primeiro debate com Aécio, na próxima terça-feira, na TV Bandeirantes.

Costa fala em processo de ‘cartelização’ no País

• Ex-diretor da Petrobrás diz que existia no âmbito das grandes obras da Petrobrás "um acordo prévio" entre as empreiteiras

Ricardo Brand, Mateus Coutinho e Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo

O ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou à Justiça que os desvios de recursos na estatal ocorreram em um processo de “cartelização das grandes empresas do Brasil” desde 2006. Ele disse que existia no âmbito das grandes obras da Petrobrás “um acordo prévio” entre as empreiteiras.

“Na área de petróleo e gás, essas empresas, normalmente entre os custos indiretos e o seu lucro, o chamado BDI, elas colocam algo entre 10% a 20% dependendo da obra, dos riscos. O que acontecia especificamente nas obras da Petrobrás, o BDI era 15%, por exemplo, então se colocava 3% a mais alocado para agentes políticos”, disse.

Segundo ele, o dinheiro da propina “passava direto das empresas para os agentes políticos”. Questionado sobre quais empresas participavam do esquema, Costa citou sete gigantes da construção, pela ordem: “Odebrecht, Camargo Corrêa, UTC, Andrade Gutierrez, Iesa, Engevix, Mendes Júnior.”

‘Acordo prévio’. Costa também afirmou que existe uma cartelização entre as grandes empresas do País para fazer obras, não só na Petrobrás, mas também de “ferrovias, portos e aeroportos”. “O Brasil fica restrito a essas poucas empresas”, afirmou.

“Quando começou essa atividade (da refinaria de Abreu e Lima), ficou claro para mim a existência desse ‘acordo prévio’ entre as companhias em relação às obras. Ou seja, existia claramente, isso me foi dito por algumas empresas e presidentes de suas companhias de forma muito clara, que havia uma escolha de obras dentro da Petrobrás e fora da Petrobrás”, disse.

Tesoureiro recebia propina para o PT, dizem delatores

• Suborno na Petrobras, segundo Costa, correspondia a 3% do valor dos contratos

• Citado pelos depoentes, Vaccari refutou as acusações e disse que todas as doações ao PT são feitas dentro da lei

Mario Cesar Carvalho, Flávio Ferreira, Alexandre Ara e Samantha Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, RIO - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef apontaram em interrogatório na Justiça que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, recebia para o partido recursos desviados de obras da estatal.

"A ligação era diretamente com ele", disse Costa em interrogatório em Curitiba (PR), na quarta-feira (8).

Vaccari refutou as declarações e disse que todas doações ao PT são feitas dentro da lei.

Três partidos se beneficiaram desse esquema: PT, PMDB e PP, segundo os depoentes. O doleiro disse que o intermediário do PMDB era o lobista Fernando Soares e ele próprio cuidava do suborno destinado ao PP.

Para Costa, as empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras pagavam propina por receio de sofrer retaliação em concorrências do governo. "No meu tempo lá, eu não lembro de nenhuma empresa ter deixado de pagar."

Foi o primeiro interrogatório de Costa e Youssef após ambos terem feito um acordo de delação premiada para escapar de penas que podiam chegar a 50 e 100 anos, respectivamente. Eles foram presos em março, sob acusação de comandarem um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro no país.

O suborno na Petrobras, segundo Costa, correspondia a 3% do valor líquido dos contratos da Petrobras.

O ex-diretor disse que, desses 3%, 2% ficavam com o PT e 1% ia para o PP, partido que indicou Costa para o cargo na Petrobras em 2004. Ele ficou na estatal até 2012, quando foi demitido pela presidente Dilma Rousseff (PT).

Costa contou que o desvio dos 3% valia para contratos em todas as diretorias da Petrobras. Nas encabeçadas por indicados pelo PT --a de exploração e produção, a de gás e energia e a de serviços, segundo ele--, os 3% iam integralmente para o partido.

A atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, foi diretora de gás entre 2007 e 2012, cargo ocupado antes por Ildo Sauer.

Guilherme Estrella foi diretor de produção e exploração entre 2003 e 2012. Renato Duque foi diretor de serviços entre 2004 e 2012. Costa, no entanto, não citou nominalmente Graça, Estrella e Sauer.

Segundo ele, a diretoria internacional, em que trabalharam Nestor Cerveró (2003 a 2008) e Jorge Zelada (2008 a 2012), abastecia o PMDB com 1% do valor dos contratos.

Em seu depoimento, Youssef contou que num contrato da Camargo Corrêa para a refinaria Abreu e Lima, de R$ 3,48 bilhões, o suborno que ele tinha conhecimento chegou a 2%. De acordo com ele, PT e PP receberam R$ 34 milhões cada um. A refinaria, de R$ 40 bilhões, é a obra mais cara em curso no Brasil. O ex-diretor da Petrobras disse que o contrato foi superfaturado para que houvesse suborno.

O doleiro disse que os acertos sobre propina eram feitos em reuniões com políticos, Costa, executivos de empreiteiras e ele próprio. O encontro ocorria em hotéis ou na casa de políticos, segundo ele. Os acordos eram registrado em atas, de acordo com ele.

A ação penal em que Costa e Youssef são réus, sobre desvios na Petrobras, corre sem segredo de Justiça. Por isso, os depoimentos foram disponibilizados nesta quinta-feira (9) pela Justiça Federal.

Os dois, no entanto, foram alertados pelo juiz Sergio Moro que não poderiam citar o nome de políticos nos depoimentos, já que eles têm foro privilegiado e só podem ser processados pelo Supremo.

Auxiliares de Dilma querem que Vaccari deixe a tesouraria do partido. Também pressionam para que ele saia do conselho de administração de Itaipu. O PT, porém, resiste ao afastamento.

Colaboraram Natuza Nery, Andréia Sadi e Valdo Cruz, de Brasília

Corrupção está institucionalizada no governo Dilma, diz Aécio Neves

• Tucano repudia "ações extremamente nefastas, perversas, que viraram rotina"

Cássio Bruno – O Globo

O candidato do PSDB, Aécio Neves, afirmou ontem, com base no depoimento à Justiça do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que a corrupção está institucionalizada no governo Dilma.
- O que parece nas denúncias de hoje é que sim (está institucionalizada). Não segundo a oposição, mas, segundo alguém que fazia parte desse esquema, que pagava diretamente o tesoureiro de um partido político. Aquilo que era chamado pelo governo de malfeito, de desvio de conduta, de caráter, do quer que fosse, agora chega de forma institucional em um partido político - disse Aécio: - O ex-tesoureiro do PT (Delúbio Soares) foi condenado (no mensalão) e foi preso por usar dinheiro público em projetos individuais ou partidários. Foi sucedido por este tesoureiro, denunciado pelo próprio grupo, por integrantes da própria quadrilha.

Segundo Aécio, há um sentimento de indignação:

- O vazamento da delação premiada aponta na direção de algo institucionalizado, que envolve diretamente o tesoureiro do partido que governa o Brasil há 12 anos. Começa-se a compreender quais seriam aqueles belos serviços prestados que constavam na carta de afastamento do diretor Paulo Roberto em que ele recebe da diretoria os cumprimentos e agradecimentos pelos serviços prestados na empresa.

Aécio classificou as denúncias de corrupção na Petrobras como "nefastas e perversas":

- Ninguém no Brasil pode achar que é normal, aceitável, esse conjunto de ações extremamente nefastas, perversas, que viraram rotina e se introduziram na máquina pública brasileira. Não é a oposição que está denunciando. É um diretor indicado por esse governo. Um doleiro que atuava dentro desse esquema. E que dizem que esse esquema alimentava diretamente o partido que está no governo. Em qualquer país do mundo, isso talvez seria o maior escândalo da história. O Brasil não pode se acostumar a esse tipo de coisa.

Ibope e Datafolha: Aécio tem 46% e Dilma, 44%

• Pela primeira vez tucano ultrapassa a petista numericamente nas duas pesquisas

Pesquisas mostram Aécio na frente de Dilma

Renato Onofre, Sérgio Roxo, Silvia Amorim e Tatiana Farah - O Globo

SÃO PAULO - Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) estão empatados, com vantagem numérica do tucano dentro da margem de erro, na primeira rodada de pesquisas do Datafolha e do Ibope sobre o segundo turno da eleição presidencial. Se considerado o total de votos, tanto no Ibope como no Datafolha, Aécio tem 46% e Dilma, 44%. Já em votos válidos, Aécio tem 51% e Dilma, 49%.

O resultado indica uma continuidade da tendência de crescimento da arrancada de Aécio, que, por mais de um mês, ficou em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto do primeiro turno, atrás de Dilma e de Marina Silva (PSDB). O tucano só ultrapassou numericamente Marina e conquistou o segundo lugar nos levantamentos divulgados no último sábado, véspera do primeiro turno. A apuração do primeiro turno da eleição mostrou a petista em primeiro, com 42% dos votos válidos. Aécio ficou em segundo, com 34%, e Marina foi a terceira, com 21%.

Na contabilização dos votos válidos, que é a mesma utilizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na divulgação do resultado da eleição, são excluídos os eleitores que votam em branco ou nulo e os que estão indecisos.

Diferença entre votos em branco e nulos
Há diferença nos institutos apenas em relações aos eleitores sem candidato. Pelo Ibope, o percentual dos que votam em branco ou nulo é de 6%; e o índice dos que não sabem, de 4%. No Datafolha, o total de votos em branco e nulos é de 4%; e de indecisos, 6%.

A pesquisa do Ibope, contratada pela TV Globo e pelo jornal "O Estado de S.Paulo", foi realizada entre terça-feira e quarta-feira. Foram entrevistadas 3.010 pessoas. O nível de confiança estimado é de 95%; e a margem de erro, de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado na Justiça Eleitoral sob o número BR-01071/2014. A pesquisa Datafolha, contratada pela TV Globo e pelo jornal "Folha de S.Paulo", também tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento, realizado entre quarta-feira e ontem, foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral BR-01068/2014. Foram entrevistadas 2.884 pessoas.

O Ibope mostra que o melhor resultado de Aécio é alcançado na Região Sul, onde lidera com 61% dos votos totais contra 33% de Dilma. A petista, por sua vez, tem vantagem de 59% a 32% no Nordeste. Já o Sudeste dá vitória ao tucano por 48% a 38%. O agrupamento das regiões Norte e Centro-Oeste tem a disputa mais acirrada, com liderança do candidato do PSDB por 46% a 43%.

Na divisão por faixa de renda, Aécio chega a 63% das intenções de votos entre os ganham mais de cinco salários mínimos. No grupo entre os que possuem rendimento entre dois e cinco salários mínimos, 51% dizem votar no tucano, percentual que cai para 36% entre os que recebem entre um e dois salários mínimos. O pior desempenho de Aécio está entre os eleitores mais pobres, com renda de até um salário mínimo, com 33%. Já com Dilma acontece o contrário. Seu melhor resultado é entre os mais pobres, com 58%, e o pior entre os mais ricos, com 29%. No grupo entre os que ganham de dois a cinco salários mínimos, a atual presidente soma 52% das preferências. No grupo entre um e dois salários mínimos, ela é escolhida por 39%.

Entre os eleitores católicos, o resultado é o mesmo do total geral da pesquisa: vantagem numérica de 46% a 44% para Aécio sobre Dilma. Já entre os evangélicos, eleitorado identificado com a candidata derrotada Marina Silva, o tucano possui 49% contra 39% da petista.

O Ibope mostra ainda que apenas 11% dos eleitores admitem mudar o voto até o dia da eleição. Na pesquisa espontânea, o resultado é parecido com o levantamento estimulado: liderança por 44% a 42% para Aécio. A pesquisa mostra que a rejeição da petista é de 41%. Já o voto em Aécio é descartado por 33%. Outros 18% afirmam que podem votar nos dois candidatos.

Dilma também é apontada como favorita para vencer a eleição por 49%. Outros 40% dizem acreditar que o tucano será o eleito. O detalhamento da pesquisa do Datafolha não foi divulgado.

Os petistas não disfarçaram o alívio com o resultado das pesquisas. Em plenária com militantes em São Paulo, ao lado do ex-presidente Lula, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, falou que os institutos têm errado e disse para os militantes dos partidos não se abalarem com o resultado das pesquisas divulgadas hoje, que colocam Aécio à frente de Dilma:

- Não nos abalemos. A onda que se fez nesta semana era para colocar (Aécio) dez pontos à frente - disse Falcão, afirmando ainda que a campanha será decidida "no estado e na capital de São Paulo". - Nós não estamos bem na cidade de São Paulo. Não se trata de culpar ninguém.

Já Aécio comentou, em nota, o resultado dos levantamentos: "As pesquisas mostram que a eleição presidencial já virou, que a vontade de mudança é majoritária e vai crescer até o dia da votação. Esse resultado me anima ainda mais a continuar fazendo uma campanha limpa, séria, mostrando as melhores propostas para recolocar o Brasil no caminho do crescimento e do desenvolvimento".

Voto volátil entre 40% do eleitorado
Segundo analistas políticos, o resultado da pesquisa ainda está sob a influência da reta final do primeiro turno, e a presença de Aécio à frente de Dilma reflete um resquício da curva de crescimento dele na semana passada. Ainda de acordo com os especialistas, há uma reacomodação do eleitor que tende, no primeiro momento, a se posicionar contra o governo. Contudo, dizem que não há como fazer qualquer prognóstico seguro do processo.

- A pesquisa reflete o impacto da eleição de domingo. Aécio teve um crescimento vertiginoso na última semana e isso fica na memória do eleitor. Mas o processo eleitoral começou com a presidente Dilma como favorita, viu a ascensão e queda meteória de Marina Silva e, agora, vê Aécio à frente. Seria temerário qualquer prognóstico - afirma o cientista político e professor do Insper Carlos Melo.

Para Marco Antônio Carvalho Teixeira, coordenador da FGV, há uma reacomodação do eleitorado que não é definitiva. Os candidatos vão, segundo ele, disputar o voto daqueles que consideram o governo regular:

- O que a gente vê agora é a reacomodação do eleitor. Para além dos números, podemos ver um grupo pequeno de indecisos que pode influenciar numa eleição tão disputada. Mas onde está o voto mais volátil é entre aqueles que avaliam o governo como regular, que são 40%.

Lula nomeou Costa após pressão, diz doleiro

• Youssef relata reuniões diárias com agente político que comandava esquema de desvios e lavagem em obra da Petrobrás em Pernambuco

Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

O doleiro Alberto Youssef afirmou que os políticos envolvidos na nomeação de Paulo Roberto Costa para diretor de abastecimento da Petrobrás trancaram a pauta do Congresso por 90 dias, obrigando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nomeá-lo ao cargo. A assessoria de imprensa do ex-presidente informou que ele não vai se manifestar sobre “vazamentos parciais de um processo em andamento”.

“Tenho conhecimento que para que Paulo Roberto Costa assumisse a cadeira de diretor de Abastecimento esses agentes políticos trancaram a pauta no Congresso durante 90 dias. Na época era o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou louco, teve que ceder e realmente empossar o Paulo Roberto diretoria de Abastecimento”, revelou ele formalmente ao juiz Sérgio Moro, no processo de desvios e lavagem de dinheiro nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco – iniciada em 2008, com superfaturamento constatado e ainda não conclusa.

Segundo ele, eram feitas reuniões na casa de políticos onde eram feitas atas sobre o esquema de caixa-2 que irrigou campanhas de 2010 e partidos, entre eles o PT, o PMDB e o PP. “Fazíamos reuniões em hotéis, no Rio ou em São Paulo ou na própria casa dos agente político que primeiramente comandava esse assunto na área de Abastecimento. Nessas reuniões eram feitas atas de discusão”, revelou Youssef.

O doleiro afirmou que diariamente se reunia com Costa e com os agentes políticos. “Eu não fui o criador dessa organização. Eu apenas fui a engrenagem para que se pudesse haver o recebimento e os pagamentos ao agentes públicos”.

Pressão fez Lula indicar diretor, afirma doleiro

Alexandre Aragão – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em depoimento à Justiça Federal na quarta (8), o doleiro Alberto Youssef disse que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa foi empossado no cargo, em 2004, depois de o então presidente Lula (PT) ceder à pressão de "agentes políticos" ligados ao esquema.

Questionado sobre o motivo pelo qual um diretor que antecedeu Costa na área de Abastecimento havia sido retirado do cargo, Youssef afirmou: "Para que [Costa] assumisse a cadeira de diretor da Diretoria de Abastecimento, esses agentes políticos trancaram a pauta no Congresso durante 90 dias".

"Na época, o presidente Lula ficou louco. Teve que ceder e realmente empossar o Paulo Roberto", completou.

Nesta quinta (9) à noite, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do PT na Câmara na época da nomeação de Costa, disse que é "uma mentira" a pressão do Congresso sobre Lula.

Entre março e maio de 2004, as discussões no Congresso foram obstruídas por medidas provisórias --se não votadas em até 45 dias, elas trancam a pauta. Costa foi confirmado diretor de Abastecimento da Petrobras em 14 de maio daquele ano, no lugar de Rogério Manso, ligado a peemedebistas e tucanos do Rio.

Ainda durante o depoimento, o operador do esquema afirmou que havia reuniões entre ele, Costa, representantes de empreiteiras e "agentes políticos" --não citou nomes. Essas reuniões, segundo Youssef, eram registradas em atas.

"Participávamos de reuniões (...) em hotéis no Rio ou em São Paulo, ou na própria casa --vamos falar-- do agente político, que primeiramente comandava esse assunto através da área de Abastecimento", afirmou.

"Nessas reuniões eram feitas atas (...) de cada ponto que estava sendo discutido", continuou Youssef.

Os assuntos tratados nos encontros eram valores de contratos e combinação de resultados em licitações, sempre segundo o doleiro.
"[As reuniões eram] para discutir exatamente questão de valores, questão de quem ia participar do certame, esse tipo de situação."

Procurado, o Instituto Lula afirmou em nota que não iria se pronunciar sobre o assunto.

Colaborou José Marques, de São Paulo

Confirma-se a ‘organização criminosa’ na Petrobras: O Globo - Editorial

• Do mensalão, o escândalo guarda a semelhança do desvio de dinheiro público para financiar políticos. Mas, pela amplitude e cifras envolvidas, este caso deve ser maior

O termo "organização criminosa" foi usado formalmente a primeira vez, para designar um esquema de corrupção com o envolvimento de representantes do PT e legendas aliadas, pelo procurador-geral da República Antonio Fernando Souza, no texto da denúncia do mensalão ao Supremo Tribunal Federal. Sete anos depois, a denúncia seria confirmada por sentenças condenatórias no STF.

Há cinco meses, a expressão voltou a aparecer em documento oficial, desta vez num ofício do delegado da Polícia Federal Cairo Costa Duarte ao juiz federal do Paraná Sérgio Moro, do processo Lava-Jato, em que estão implicados o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ao investigar a compra esquisita da refinaria de Pasadena e outras denúncias em torno da Petrobras, o delegado pediu ao juiz acesso a documentos obtidos pela Lava-Jato, para facilitar seu trabalho de levantamento de uma "organização criminosa" na estatal.

Pois trechos divulgados dos depoimentos de Paulo Roberto e Youssef, sob o regime de delação premiada, confirmam a existência da tal organização, eles próprios dois de seus elos-chave — Costa, arrecadador de propinas junto a empreiteiras; Youssef, branqueador do dinheiro, por meio de firmas fantasmas e operações fajutas.

Relata Costa que PT, PMDB e PP eram os beneficiários da enxurrada de dinheiro "por fora" gerada por comissões sobre contratos bilionários superfaturados. Quase todos assinados com empreiteiras envolvidas com o projeto da refinaria Abreu e Lima, orçada em US$ 1,8 bilhão e que sairá por dez vezes mais. Obra convenientemente administrada pela diretoria de Abastecimento da estatal, ocupada de 2004 a 2012 por Paulo Roberto. Segundo Youssef, Paulo Roberto Costa, funcionário de carreira da estatal, foi nomeado para o cargo depois de pressão dos partidos sobre o presidente Lula. Ele cedeu e o esquema foi montado.

Mas, diz Paulo Roberto, outras diretorias também atuavam no paralelo: a de Serviços, de Jorge Renato Duque, indicado pelo PT; Nestor Cerveró, já conhecido, e Jorge Zelada, da diretoria Internacional, e também José Eduardo Dutra, ex-presidente da empresa, ex-senador sergipano pelo PT. Até a subsidiária Transpetro, de Sérgio Machado, ligado ao PMDB, consta das denúncias. Também não falta nos depoimentos o indefectível João Vaccari Neto, tesoureiro do PT.

Pelas cifras envolvidas — apenas Costa tinha US$ 23 milhões seus na Suíça — e dimensão do esquema, o caso deve ser maior que o mensalão petista, de Marcos Valério, José Dirceu, entre outros.

"Paulinho", como Lula chamava Paulo Roberto Costa, assumiu o cargo de diretor em 2004. Seis anos depois, "recursos não contabilizados" tirados da Petrobras já teriam financiado campanhas de petistas e aliados. Talvez, entre várias, a da própria Dilma. Aproximam-se emoções fortes.

Aécio vai a Recife para receber apoio de Renata Campos

Pedro Venceslau e Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

Enquanto negocia a entrada da ex-senadora Marina Silva (PSB-AC) no palanque no segundo turno da eleição presidencial, o candidato Aécio Neves (PSDB) vai a Recife nesse sábado, 11, para selar o apoio da ex-primeira-dama de Pernambuco Renata Campos, viúva do ex-presidenciável Eduardo Campos, que morreu em agosto, num acidente aéreo em Santos, no litoral de São Paulo.

Aécio cumprirá na capital pernambucana uma extensa agenda ao lado do governador eleito, Paulo Câmara (PSB), e do prefeito Geraldo Júlio (PSB). Câmara e Júlio já assumiram a coordenação da campanha dele no Estado e transferiram para o candidato a estrutura do comitê estadual do PSB.

Na sexta-feira, 10, Aécio tem compromissos em Salvador ao lado do prefeito Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), o ACM Neto. A cúpula da campanha do candidato do PSDB a presidente acredita na "transferência massiva" de votos de Marina para ele em Pernambuco (ela venceu no Estado).

Aécio vai se reunir com viúva de Campos em PE

• Apoio de Renata é tido como essencial para melhorar desempenho do tucano no estado e no Nordeste

Júnia Gama, Simone Iglesias e Catarina Alencastro – O Globo

BRASÍLIA – O PSB de Pernambuco faz amanhã o primeiro evento da campanha de segundo turno com Aécio Neves (PSDB) na terra do ex-governador do estado Eduardo Campos, falecido em acidente aéreo em agosto. O tucano será recebido na casa da viúva de Campos, Renata, um apoio visto como essencial para que amplie sua fraca votação no estado e diminua a diferença de votos que Dilma Rousseff (PT) tem no Nordeste. No primeiro turno, Aécio obteve menos de 6% dos votos em Pernambuco, contra 44% da petista e 48% de Marina Silva, a mais votada no estado.

Aécio desembarca na capital pernambucana e vai direto para a casa de Renata, que, até o momento, não definiu se irá gravar para o programa de TV do presidenciável. Após a foto com a viúva, Aécio participará de evento com as lideranças locais e segue para comício na Zona da Mata Sul pernambucana, no município de Sirinhaém, onde Marina Silva obteve uma das maiores votações, proporcionalmente, no Brasil, com mais de 74% dos votos. A campanha tucana espera que a vinculação da imagem de Aécio à da família de Campos sirva para alavancar os votos no estado.

O governador eleito de Pernambuco, Paulo Câmara, atua na organização do evento com Aécio. Câmara foi eleito no primeiro turno, com quase 70% dos votos, derrotando assim o candidato do ex-presidente Lula, Armando Monteiro (PTB). O governador eleito trabalhou internamente no PSB para que a Executiva do partido aprovasse a aliança com o tucano no segundo turno, apesar das pressões da cúpula petista para que a ala pernambucana socialista apoiasse Dilma.

Sobre a participação da viúva de Eduardo Campos, Renata, na campanha de Aécio, o pessebista disse que ocorrerá, mas com menos intensidade do que no primeiro turno. Reforçou, no entanto, que Renata participou da decisão de apoiá-lo.

Ontem, Câmara afirmou que, quando Dilma lhe telefonou parabenizando pela eleição, segunda-feira, pediu seu apoio e o do PSB de Pernambuco no 2º turno. O governador eleito disse, no entanto, que o apoio a Aécio foi uma decisão "unânime e conjunta" dos integrantes do diretório do partido no estado, além dos deputados federais e estaduais eleitos.

- Ela ligou me parabenizando pela vitória e disse que gostaria de contar com o apoio no segundo turno pelas relações históricas do PSB e do PT - contou.

Câmara disse, ainda, que o clima de ameaças e de "chantagens" que se estabeleceu na disputa eleitoral em Pernambuco pesou na decisão de migrar para a candidatura tucana. Segundo ele, o PT e Armando Monteiro insistiram na tese de que, se o candidato do PTB não fosse eleito, cessariam os recursos federais para Pernambuco.

- Há um sentimento em Pernambuco de que esse modelo se esgotou - disse Câmara.

Fernando Gabeira: A iluminação pelas urnas

- O Estado de S. Paulo

Pesquisas, análises, previsões, fizemos de tudo para entender o futuro. Mas ele nos escapou, inúmeras vezes, ao longo do caminho. Nunca tivemos uma dose tão cavalar do imprevisível como nesta disputa de 2014.

Alguns jornalistas chamaram o processo de montanha-russa. As emoções foram tantas que, às vezes, essas bruscas oscilações acabaram por ofuscar o conteúdo.

Marqueteiros, campanhas de desconstrução, tudo isso, para mim, foi apenas uma cortina de fumaça. Sem me arriscar a previsões, perplexo com os sobressaltos da campanha, eu a via, no entanto, com uma simplicidade meio tosca: a luta cristalina entre oposição e um governo amplamente rejeitado.

Esse era o fio da meada. Em termos numéricos, a oposição é maioria. Mas quem, dentre os desafiantes, poderia encarnar esse sentimento?

Não sei em que momento preciso, mas creio que Aécio Neves decidiu, no final da campanha, encarnar essa rejeição ao PT e a um governo que assalta a Petrobrás, entre outros bens públicos. Marina Silva não conseguiu, ou talvez nem tenha aspirado a assumir esse papel de "nós contra eles e vamos lá." Além dos vínculos emocionais com um passado no PT, a sua disposição de governar com os bons dos dois lados talvez não fosse a melhor ideia para o momento, embora inatacável de um ponto de vista abstrato.

Apesar das emoções, algumas escolhas racionais estavam em jogo. Uma delas, na economia. Não basta derrotar o governo, é preciso ter projeto e equipe que possam combinar o crescimento econômico e a política social.

Momento importante para a escolha foi o último debate entre os candidatos. No debate anterior, a intervenção de Levy Fidelix acabou roubando a cena, com o agora famoso "aparelho excretor". Compreendo a reação à frase de Levy. Eu o conheci cobrindo um dia de sua campanha e creio que um caminho pedagógico talvez fosse melhor.

Mostrar que as pessoas não são uma soma de aparelhos, senão estaríamos sendo vendidos na Casas Bahia.

Dizem que quem sai na frente no segundo turno termina na frente. É mais uma tentativa de controlar o futuro.

Como se os candidatos não tivessem diante de si toda uma nova etapa, com idênticos tempos de televisão e debates cara a cara.

Visto superficialmente, o mapa eleitoral do Brasil contrapõe o Nordeste a São Paulo. Parece que estão em jogo, num polo, a amplitude da político social e, no outro, a impaciência com a estagnação. A tarefa de cada candidato é unir esses polos da forma mais convincente.

Indo um pouco mais longe, lembrando-me das constantes viagens às metrópoles nordestinas Recife, Fortaleza e Salvador, creio que há nelas um fator comum a todas as capitais: a consciência de que a corrupção drena os recursos do País e zomba da pessoa que trabalha duro para sobreviver.

No momento, o escândalo na Petrobrás está em curso. Um ex-diretor da empresa já firmou acordo de delação premiada. Depois dele veio Alberto Youssef, o doleiro, que promete entregar todos os documentos das operações de suborno. É uma trama secundária que envolve estas eleições, prometendo sempre influenciar o enredo principal. É o que numa história os americanos chamam de pay back, deixar alguma coisa no ar, seguir com a narrativa e explicar depois, ligando os fatos.

Estamos todos esperando o pay back do escândalo da Petrobrás. Enquanto isso, o segundo turno vai seguindo o seu curso. E pela dimensão do problema, quando se esgotar o processo eleitoral, o escândalo da estatal petroleira ainda estará sendo discutido.

No Rio de Janeiro, 2 milhões de eleitores foram às urnas e votaram nulo ou em branco. Isso se deve, parcialmente, a uma atmosfera política local desoladora. Mas os números foram grandes também em São Paulo.

Considerável parcela dos brasileiros rejeita a escolha eleitoral: 38 milhões ficaram de fora, votando em branco, nulo ou faltando às urnas. Isso significa que, apesar de todas as peripécias emocionais, um problema de fundo ainda persiste: o descrédito no processo político.


Neste momento, o País precisa de um governo que, mantendo as conquistas sociais, retome investimentos, saiba gastar. E não considere a gratidão de uma parte do povo como um habeas corpus para saquear o Estado e financiar o partido dominante e seus aliados.

Não sei o que seria desta campanha sem um grande desastre e a montanha-russa em que se transformou, conforme descreveu o jornal El País. Mas à medida que os fatos se decantam, a grande encruzilhada econômica aparece e há uma chance de se debater o tema com mais clareza no segundo turno.

Vamos para um segundo turno. Se isso fosse teatro, diria que no segundo ato há uma crescente revelação dos personagens. No teatro, às vezes, é no segundo ato que as pessoas se revelam, o terceiro apenas lida com seus desdobramentos.

Como nessa peça enredos e subenredos se entrelaçam e se entrechocam, o melhor é sair para o saguão do teatro, tomar um café, conversar com outros da plateia e não perder o foco do enredo: o fim de uma época.

Tenho a esperança, como o pai de Fernando Sabino, de que no fim tudo terminará bem. Se não terminar, é porque ainda não chegou o fim.

Nessa peça está sendo jogado um pouco do nosso futuro. Um pouco, de certa maneira, nossa vida continua depois das eleições, como a vida dos foliões continua depois do carnaval.

No começo da campanha, escrevi um artigo intitulado Rumo às grandes emoções. Não sabia do que estava falando, a realidade nos reservava mais: um primeiro turno eletrizante. As pesquisas foram de surpresa em surpresa e a realidade, uma surpresa maior.

Um candidato chamado Sartori, no Rio Grande do Sul, tinha 29% na boca de urna e terminou com 42%. Se tiramos um r do Sartori, ficamos com Satori, um termo budista que significa iluminação. Com esse r a mais, as pesquisas foram tudo, menos iluminação.

* Fernando Gabeira é jornalista

Merval Pereira: Virada

- O Globo

A vitória momentânea do candidato Aécio Neves, pela primeira vez nesta corrida presidencial, tem um simbolismo importante, mas uma vantagem tão pequena que ajuda os tucanos a manter os pés no chão. O governo , ao contrário , deve ter ficado aliviado , pois pesquisas de institutos menores indicavam uma diferença de até 10 pontos para Aécio.

Alguns números, no entanto, têm significados importantes neste momento: é a primeira vez que um candidato passa do segundo para o primeiro lugar em uma disputa presidencial, e Aécio conseguiu levar a maioria dos votos de Marina Silva. De uma derrota de 8 pontos no primeiro turno, o tucano agora vence por 2 pontos. A levarmos em conta as pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas ontem, as primeiras do segundo turno, a candidata derrotada Marina Silva perderá o momento se demorar muito a se decidir a apoiar o representante da oposição na eleição presidencial.

Cerca de 80% dos seus eleitores já se decidiram por um dos dois candidatos que estão no segundo turno. Marina está tentando vender caro seu apoio, fazendo exigências que aumentam a cada dia, e isso está dificultando um acordo programático. Ela se debate entre ficar neutra, como em 2010, e perder o lugar no jogo político tradicional que se desenrola; ou entrar no jogo com cacife para influir no próximo governo, caso o candidato oposicionista vença a eleição. O candidato do PSDB, até o momento, está em vantagem no recolhimento de novos apoios, e com um detalhe interessante, que retira do PT um de seus trunfos: os partidos de esquerda, em sua maioria, escolheram ficar ao lado do PSDB. PSB, PPS e PV anunciaram o apoio, além dos setores "progressistas" do PMDB e do PDT.

Nem mesmo o PSOL ficou ao lado de Dilma. Da mesma maneira que a Rede sugeriu a seus seguidores o voto nulo, em branco, ou em Aécio, o PSOL sugeriu a mesma coisa, mas tendo como última opção a candidata do PT. Os resultados das pesquisas mostram, no entanto, a presidente com dificuldades de aumentar sua votação. No primeiro turno, teve 41%, e hoje estaria com 44%. Ao contrário, o candidato do PSDB cresceu 13 pontos entre o primeiro e o segundo turnos. O candidato tucano tem os melhores resultados na Região Sul, onde lidera por 61% a 33% dos votos totais.

No Sudeste, ele também está à frente, mas com vantagem menor: 48% a 38%. Na divisão das pesquisas, as regiões Norte e Centro-Oeste estão juntas, e por isso há um empate técnico em 46% a 43%, mas Aécio consegue neutralizar a enorme vantagem de Dilma no Norte. No Nordeste, a candidata do PT venceria por 59% a 32%, resultado que mantém a larga vantagem do PT na região, mas o candidato do PSDB conseguiu melhorar sua performance, que no primeiro turno foi abaixo de 20%. Para melhorar seu índice na região dominada pelo PT, Aécio Neves deve viajar a Pernambuco para fazer campanha já em companhia do governador eleito, Paulo Câmara, e, sobretudo, receber o apoio da família Campos.

A viúva Renata, que foi decisiva para que o PSB apoiasse o candidato do PSDB, deve ter um encontro com Aécio nos próximos dias, quando anunciará sua decisão. Só não fez antes porque esperava uma decisão de Marina, que acabou sendo adiada. As pesquisas mostram que a candidata do PT é identificada como a mais preocupada com os mais pobres, o que lhe dá a hegemonia na Região Nordeste. Esse fato vai dar consistência à campanha petista, que vai se basear na luta dos pobres contra os ricos, do Sudeste contra o Nordeste , que deve exacerbar a disputa e pode provocar um ambiente corrosivo nesta reta final.

O PSDB terá a seu favor o ambiente negativo para o governo provocado pela revelação dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Youssef, que descreveram um ambiente de corrupção institucionalizada na maior estatal brasileira e a regra de ouro da coalizão que apoia o governo Dilma: obras superfaturadas para sustentar o PT e alguns partidos que indicavam diretores da Petrobras. Uma vergonhosa repetição de falcatruas que já haviam sido denunciadas no escândalo do mensalão , com o tesoureiro que substituiu Delúbio Soares já envolvido em outras nebulosas transações.

Dora Kramer: A estrela desce

- O Estado de S. Paulo

De nada valeram os esforços do governo em conluio com os partidos de sua base aliada para impedir que as CPIs da Petrobrás investigassem se funcionava mesmo na maior estatal brasileira uma "organização criminosa" como apontou a Polícia Federal.

Pior, o bloqueio desesperado da tropa de choque só fez indicar que havia razão para tanto temor. A fumaça apareceu quando o ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa fez os primeiros depoimentos de seu acordo de delação premiada e dele transpiraram alguns trechos com a citação de partidos e políticos que teriam sido beneficiados por propinas, "sobras" de contratos da Petrobrás com grandes empreiteiras.

O governo saiu-se com a alegação de que não havia provas nem credibilidade no material publicado na imprensa. Pelo sim, pelo não, a presidente Dilma Rousseff alegou que se irregularidades tivessem ocorrido ela não ficara sabendo, mas, para todos os efeitos, garantiu, estavam todas sanadas.

O marqueteiro João Santana introduziu na campanha o tema corrupção - até então fora da cena - e Dilma passou a defender a tese de que os escândalos decorriam do combate férreo que seu governo dava aos "malfeitos".

Chegou a substituir-se à Constituição, dizendo que a PF e o Ministério Público atuavam com independência graças às ordens dela.

Faltando duas semanas para o fim do primeiro turno, o Planalto enviou para o Congresso um pacote de medidas anticorrupção com cinco propostas, três das quais repetiam outras já em tramitação.

Nem bem começou a campanha para o segundo turno e já se vê que por debaixo daquela fumaça dos depoimentos de Costa ainda em segredo de Justiça havia muito fogo. A ele na delação premiada juntou-se o doleiro Alberto Youssef. Ambos por medo de terem o destino de Marcos Valério, dos integrantes dos chamados núcleo financeiro e publicitário do processo do mensalão que vão ficar na cadeia enquanto os políticos estão indo para casa.

Agora já começam a aparecer evidências. Os áudios dos depoimentos de Costa e Youssef dizendo que repassavam as propinas ao PT, PP e PMDB. Eles apontaram ainda o tesoureiro do PT, João Vaccari, como o intermediário do partido. A ex-contadora do doleiro, Meire Poza, afirmou à CPI que o PT deu dinheiro a um dos réus do mensalão (Enivaldo Quadrado, dono da corretora Bônus-Banval) para pagar a multa imposta pelo Supremo Tribunal Federal.

O PT evidentemente reage afirmando que é alvo de calúnias. Deverá - se já não o fez - acrescentar que são eleitoreiras. O problema com essa versão é que Costa, Youssef e Meire só têm chance de se beneficiar daquilo que afirmam se puderem provar. Note-se que o ex-diretor da Petrobrás já foi autorizado pela Justiça a sair da cadeia.

E se o foi é porque o material por ele fornecido foi considerado útil para o desvendamento das autorias e da materialidade dos crimes.

O doleiro já descumpriu uma vez um acordo desse tipo. Reincidiu e agora, escaldado, dificilmente vai tentar driblar o Ministério Público e muito menos o juiz Sérgio Moro da Justiça Federal no Paraná. Ou se conduz de acordo conforme a regra, que implica confissão da verdade, ou fica na prisão queiram os advogados ou não até porque a assinatura do acordo implicou a dispensa de habeas corpus.

Na realidade o efeito eleitoral dessas denúncias é o menor dos problemas. Se com isso tudo a maioria ainda decidir que a presidente deve ter mais um mandato, está decidido. A discussão independe do período eleitoral.

Ainda que tudo isso viesse a público no ano passado e Dilma dissesse que não sabia de nada a questão seria a mesma: o partido do governo cuja antiga cúpula foi condenada por corrupção, pego de novo em traficâncias de natureza semelhante tendo apenas mudado de endereço.

Eliane Cantanhêde: Enxurrada de más notícias

- Folha de S. Paulo

Há um empate técnico, mas Aécio abrir o segundo turno numericamente à frente de Dilma dá gás aos tucanos e aumenta a agonia dos petistas, em meio à enxurrada de más notícias. Não é só o PSDB que está ganhando corpo, é o PT que está perdendo discurso.

A campanha de Aécio não tem nenhum fato extraordinário nem pulo do gato, mas se beneficia de uma confluência assombrosa: os escândalos envolvendo o PT e o desmanche da economia nos anos Dilma.

Segundo o ex-diretor Paulo Roberto Costa, "dos 3% [de roubo na Petrobras], 2% era para atender o PT". O doleiro Youssef acrescenta: quem "operava a área de serviços" era João Vaccari, tesoureiro do partido.

A Petrobras, portanto, foi privatizada pelo governo Lula para o PT, o PMDB e o PP. Sugaram tanto que a companhia símbolo do país perdeu credibilidade, perdeu valor de mercado, afundou em escândalos. Quantos anos demorará para se recuperar e voltar a ser pública? Sabe-se lá.

Na economia: a semanas da eleição, a inflação estoura a meta, a previsão de crescimento continua despencando e o FMI constata que os erros são internos, não externos, como alega o governo. Tudo isso num contexto adverso: inflação alta, PIB baixo; juros lá em cima, indústria sofrendo; contas públicas bagunçadas, contas externas desfavoráveis.

Indiferente a tudo isso que vem desmoronando sobre a sua campanha, Dilma investe nos palanques do camarada Nordeste e troca o bordão "ricos contra pobres" por "elites contra nordestinos", enquanto ataca a política econômica e os dados sociais do governo Fernando Henrique.

Parece pouco para enfrentar os escândalos da Petrobras e os dados da economia, numa conjuntura desfavorável para Dilma e favorável para Aécio. Pelo sim, pelo não, o PT põe Dilma cara a cara com o inimigo e protege Lula do desastre atrás das trincheiras. Se Dilma cair, Lula poderá subir em 2018. Mas só se escapar dos estilhaços da Petrobras.

Maria Cristina Fernandes: Quem toma partido

• Quem surpreendeu foi o candidato mais partidário

- Valor Econômico

A delação do diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa mostra que o estrago na bancada do PT poderia ter sido bem pior, mas a perda de 18 deputados, a maior entre os grandes partidos, interrompeu a escalada da bancada petista que só crescia desde 1998.

Com o PSDB aconteceu o inverso. De lá pra cá o partido só perdeu deputados. Nesta eleição, parou de cair.

Quando Marina Silva entrou na campanha, parecia que o mundo seria dos bons mas foi o candidato mais partidário que surpreendeu no primeiro turno.

Aécio Neves passou os últimos dois anos dedicados à unidade que tanto faltou à sua legenda nas três últimas disputas presidenciais. Deslocou os paulistas da presidência do PSDB, assumiu o cargo e centralizou as decisões sobre as alianças estaduais em 2014 de cujos palanques tanto se valeu no domingo.

Ainda não se esgotaram as explicações para a surpreendente votação do candidato tucano no primeiro turno, mas nenhuma delas pode passar por cima da evidência de que o volume de campanha da rede de vereadores, prefeitos, deputados e governadores do PSDB fizeram diferença na hora de mostrar ao eleitor quem teria mais condições de derrotar o PT.

O PSDB estancou a curva declinante que marcou o desempenho eleitoral do partido na Câmara dos Deputados e, das grandes legendas, foi a única a não perder cadeiras. Conseguiu, em São Paulo, a vantagem que esperava obter em Minas. Surfou no antipetismo paulista? É provável, mas foi por estar grudado no partido que mais representa a rejeição ao PT que arrecadou para si a fatura que nesta reta final parecia estar na conta de Marina.

Escolheu para vice Aloysio Nunes Ferreira, um senador com trânsito pelas muitas alas do PSDB e cuja base eleitoral está fincada no interior do Estado. Quando se via deixado para trás nos eventos de campanha com Geraldo Alckmin saía na cola sem descuidar da raia miúda da política municipal que tem no governador paulista seu mais bem sucedido representante.

Ainda terá que se mostrar capaz, no segundo turno, de manter ao seu lado tanto Alckmin quanto José Serra, os maiores interessados em que Aécio, se eleito, não prorrogue por oito anos sua permanência no poder.

Aécio ainda depende do empenho do governador no Estado, mas se essa dedicação passar por medidas mais duras para enfrentar a dramática situação dos reservatórios de São Paulo, é até preferível que Alckmin tire uns dias para descansar como o senador mineiro o fez depois do primeiro turno em 2002, 2006 e 2010.

O candidato tucano se diz a favor de um único mandato de cinco anos mas o fim da reeleição não depende dele e também pode enfrentar resistência dos eleitos. Talvez se atreva a tamanha evasiva porque já está no segundo turno e o PSDB - partido e eleitores - não tem alternativa.

O PT terá dificuldades de vencer a muralha que se ergue contra o partido em São Paulo. Espera ampliar a maioria dilmista no Nordeste, mas o quinhão de votos em disputa na região é menos da metade daquele que está em aberto em São Paulo com a saída de Marina.

Ao radicalizar no discurso de partido dos mais pobres, o PT mira as famílias de origem nordestina estabelecidas nas grandes cidades que deixaram parentes na região. Levantamento do Valor mostrou que é nas 200 cidades com mais de 100 mil eleitores, correspondentes a metade do país, que está concentrado o eleitorado de Marina.

As pesquisas divulgadas ontem mostram que nesta primeira rodada, a candidatura de Aécio atrai o voto de sete em cada dez eleitores de Marina. Para ameaçá-lo, Dilma Rousseff terá que conquistar pelo menos um desses eleitores marinistas que parecem migrar para o PSDB.

Com o fim das disputas proporcionais e de quase a metade das majoritárias, é natural que a capacidade de arregimentação partidária de Aécio e de Dilma se reduza. Vem daí o discurso mais ideológico de ambos os lados que já antagoniza os dois ex-presidentes da República.

A eficácia da radicalização do discurso de ambos os partidos na conquista de 22 milhões de votos ainda está por ser provada. Corre o risco de aumentar o absenteísmo que cresceu, neste primeiro turno, ainda que moderamente.

Marina ganha tempo para tomar partido neste segundo turno. A disputa acirrada valoriza seu passe. Pode mostrar que aprende com seus erros. Optou pela neutralidade em 2010 para preservar seu patrimônio eleitoral. Quatro anos depois, seu quinhão de votos cresceu apenas 7%, menos que o pibinho do governo Dilma Rousseff.

Nada garante que se fechar com Aécio neste segundo turno estará mais próxima da Presidência da República em 2018, tamanhas as evasivas tucanas sobre o fim da reeleição, mas a neutralidade lhe traria perdas para além da aritmética. Ao eleitor é facultado o voto em branco ou nulo. À liderança política, a omissão cobra um preço mais alto.

Em 2010, a neutralidade parecia rimar com seu intuito de pairar acima dos partidos. Desta vez, adere porque corre o risco de ser engolida por eles. Abrigou aliados seus no PSB para que buscassem vaga na Câmara e formassem a base do futuro Rede. Apenas um se elegeu.

Tivesse rumado para qualquer um dos lados em 2010 teria tido condições de negociar um maior grau de compromisso dos candidatos em disputa com a principal batalha da legislatura que estava para se iniciar, a do Código Florestal.

Ao anunciar os pontos em que condiciona seu apoio a Aécio, Marina cumpre o figurino de candidata programática. Aécio, se aceitá-los, o de que se amplia para abarcar o Brasil. O acordo não impede que, iniciada a legislatura todos os pontos acordados fiquem na dependência do Congresso.

Os mais antigos colaboradores de Marina torcem o nariz para a união com os tucanos, mas a Marina parece não restar alternativa para viabilizar sua legenda por dentro do jogo.

Seja quem for o eleito, haverá forte pressão para que se mitiguem os incentivos à criação de partidos e se promovam fusões na extraordinária miríade de 28 legendas. É esta a janela de oportunidade para o Rede. Não é nova, mas é política. E ainda não se inventou um jeito de ganhar eleição por fora dela.

Monica Baumgarten de Bolle: Mentira tem perna curta

• O PT diz que o Brasil quebrou três vezes na era FHC. O país quebrou nos anos 1980, na década anterior. O PT comete estelionato eleitoral ao mentir

- Folha de S. Paulo

Há quem ache que mentira repetida à exaustão torna-se verdade absoluta. Há quem subestime a capacidade de reflexão das pessoas repetindo refrões mentirosos como "o Brasil quebrou três vezes durante a época em que o PSDB esteve no poder", nos anos 90. Prefiro outro dito popular, o que diz que mentira em cima de mentira corre, corre, mas não chega a lugar algum com suas pernas desavantajadas. Igual ao Brasil de Dilma Rousseff.

O Brasil verdadeiro sabe pensar por si. Nos anos 1990, o país fez o Plano Real, que levou a inflação de mais de inacreditáveis 900% ao ano para um dígito.

Nos anos 1990, o Brasil instituiu os programas sociais que, junto da estabilização macroeconômica, começaram a tirar milhões de pessoas da miséria, trabalho árduo e longo, continuado pelo PT. O mesmo PT, que inicialmente se opunha e que não via mérito nesses programas, chamava-os de "esmola", como se algo de degradante fossem. Mentira tem perna curta, como eles próprios reconheceram, tacitamente, anos mais tarde.

E a história de o país ter quebrado três vezes? Bem, o Brasil, de fato, quebrou. Mas foi nos anos 1980, uma década antes do que acusa hoje o PT. E não foi só o Brasil. Quebraram também o México, a Argentina e o Uruguai. Foram anos difíceis para os países da América Latina nessa fase em que os regimes militares na região estrebuchavam e a democracia desabrochava.

Quando o Brasil pôde, finalmente, sair da situação de moratória que o impedia de ter acesso aos financiamentos do exterior? Foi nos anos 90, na época de Fernando Henrique Cardoso, o mesmo que o PT insinua ser fantasma do passado.

Foi árduo o trabalho de acabar com a inflação e criar as bases para que a classe média conseguisse se reerguer depois da catástrofe dos anos 1980 e que, assim, fosse ampliada com a inclusão social que melhoraria a vida de milhões de brasileiros. Quando o PT se refere ao país que "quebrou três vezes" fala, na verdade, dos empréstimos do Fundo Monetário Internacional que facilitaram a empreitada.

Primeiramente, em 1998-1999, quando houve a crise da transição para o regime de câmbio flutuante. Depois, em 2001, ano complicado, quando a Argentina quebrou, e quebrou de verdade. Teve de declarar aos quatro ventos e aos seus credores que não tinha mais dinheiro para saldar as suas dívidas.

Ficou sem pagar a dívida durante boa parte do início dos anos 2000. Será que o PT confunde o Brasil com a Argentina? Por fim, em 2002, o Brasil recorreu ao FMI para financiar a chegada de quem? De Luiz Inácio Lula da Silva. O então presidente Lula ficou com 80% dos recursos negociados com o FMI pela equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso. Mal-agradecidos os petistas? O leitor que os julgue.

Eis que a perna curta da mentira se cansa, os músculos se desgastam, as cabeças de milhões e milhões de brasileiros que têm de acalentá-la todos os dias ficam cada vez mais indignadas com a desfaçatez de pessoas que fazem troça da inteligência alheia. Da inteligência e do bolso do contribuinte. A mentira, afinal, é estelionato eleitoral.

Monica Baumgarten de Bolle, 42, economista, professora da PUC- Rio

Rogério Furquim Werneck: Embate em torno da corrupção e da economia

• A candidata Dilma Rousseff não terá como evitar dois temas muito espinhosos na disputa do segundo turno

- O Globo

Era o que PT mais temia. O embate do segundo turno da eleição presidencial deverá ser travado em torno de dois temas espinhosos, que o Planalto vinha tentando evitar a todo custo: a corrupção e o desempenho da economia. No domingo, mal finda a apuração, o ex-presidente Lula foi o primeiro a reconhecer que essa será a temática dominante do segundo turno. Quanto a isso, o PT já não alimenta ilusões.

Nas denúncias de corrupção, o foco da oposição deverá estar centrado nas irregularidades que vêm aflorando na Petrobras. Os primeiros resultados das investigações em curso já causaram sérios danos ao projeto da reeleição. Mas o pior é que tudo indica que ainda há muito mais por aflorar, na esteira dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, feitos no quadro de um acordo de delação premiada.

Ao asseverar que, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, jamais tomou conhecimento de qualquer irregularidade, durante a longa permanência de Paulo Roberto Costa na diretoria da empresa, a presidente Dilma teve de incorrer em grande desgaste adicional da sua já erodida imagem de administradora competente e diligente, tão habilmente vendida ao eleitorado na campanha de 2010.

A apreensão do governo com os depoimentos de Paulo Roberto Costa aumentou muito, desde que o ministro Teori Zavascki os considerou suficientemente plausíveis e promissores para que fosse homologado o acordo de delação premiada oferecido ao ex-diretor da empresa. Especialmente importante para a homologação foi o fato de tais depoimentos mencionarem nada menos que 32 parlamentares potencialmente envolvidos, com direito a foro especial no Supremo Tribunal Federal. Na quarta-feira, Paulo Roberto Costa revelou que parte dos recursos desviados bancou gastos de campanha em 2010.

Há indagações básicas sobre o faraônico projeto da Refinaria Abreu e Lima que, dificilmente, poderão continuar sem resposta no segundo turno. Uma questão crucial, que precisa ser elucidada, é como exatamente a decisão de ir em frente com o projeto da refinaria foi imposta pelo Planalto à Petrobras, mesmo depois de ter seu corpo técnico alertado que o estudo de viabilidade econômico-financeira indicava que a decisão seria lesiva à empresa, como mostra matéria publicada no GLOBO em 23 de junho.

Dilma tem plena consciência de que está fadada a enfrentar sérias dificuldades no embate em torno das irregularidades que afloraram na Petrobras. Mas também sabe que o outro tema que deverá dominar o segundo turno tampouco lhe será fácil.

No embate sobre o desastroso desempenho da economia nos últimos quatro anos, Dilma entra de mãos vazias. Afora o desemprego ainda baixo, tem pouco ou nada a mostrar, como bem ilustram os dados deste final de mandato: taxa de juros mais alta do que no início do governo, preços de energia represados, inflação de 6,75%, bem acima do teto de tolerância da meta, resultado primário tendendo a zero, contas externas seriamente desequilibradas e economia estagnada.

Diante dessa penúria de resultados apresentáveis, o melhor que a campanha de Dilma conseguiu urdir foi uma mistificação e um truque. De um lado, a candidata insiste em atribuir o fiasco a um suposto agravamento da crise econômica mundial. De outro, tenta camuflar o desastre dos últimos quatro anos, diluindo-o nos oito anos do período Lula. A ideia é vender ao eleitor um pacote fechado de "12 anos de governo petista", ainda que, da perspectiva da condução da política macroeconômica, esse "três em um" encerre mandatos presidenciais muito distintos.

No primeiro mandato, Lula seguiu de perto a política que vinha sendo adotada por FH. No segundo, coadjuvado por Dilma Rousseff, embarcou na aventura charlatanesca da "nova matriz macroeconômica", cujos frutos amargos estão sendo agora colhidos nesse terceiro mandato. Não obstante todo o esforço de camuflagem do desastroso desempenho da economia dos últimos quatro anos, é na denúncia dessa colheita amarga que a oposição deverá centrar fogo no segundo turno.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio

Eduardo Giannetti: A terceira onda

- Folha de S. Paulo

Imagine um montículo delgado de areia na praia. Se você deixar cair um único grão de areia em seu cume, explica o físico dinamarquês Per Bak, três coisas podem ocorrer: ele pode repousar no ponto onde caiu; deslizar suavemente pela encosta ou desencadear uma avalanche que provoca o colapso do montículo.

O exemplo ilustra como sistemas de aparência estável e robusta, tanto na natureza como nas relações humanas, podem revelar-se singularmente frágeis. Sob a placidez do equilíbrio, eles estão sujeitos à ocorrência de súbitas, inesperadas e, por vezes, explosivas mudanças.

A ruptura é o efeito da ação conjunta de duas coisas: caos e complexidade. O caos denota a alta sensibilidade do sistema a mínimas variações nas condições iniciais (como no conhecido "efeito borboleta"). A complexidade remete ao modo como as partes do sistema, uma vez fora do repouso, passam a interagir de forma caprichosa e cumulativa até um novo equilíbrio.

Tudo isso me faz pensar na política brasileira. Duas súbitas e inesperadas ondas de manifestação popular recentes --verdadeiras avalanches que varreram a cena e pegaram os mais argutos analistas de surpresa-- parecem sugerir que a solidez aparente do nosso atual sistema de poder, assentado na "velha política" fisiológica e corrupta, esconde na verdade enorme fragilidade.

A primeira onda foram as manifestações de junho. Na superfície, a calmaria política de uma sociedade civil anestesiada. Mas bastou um "grão de areia" --os 20 centavos-- para deflagrar um gigantesco movimento de âmbito nacional. O efeito foi uma explosão coletiva de insatisfação popular que colocou em xeque toda a política institucionalizada e deixou o nosso patronato político aturdido e acuado.

A segunda foi a ascensão meteórica de Marina. Quando tudo parecia indicar a sexta reprise do embate PT x PSDB no primeiro turno, o trágico acidente de Eduardo Campos foi o estopim de uma espantosa e imprevista reviravolta. Por algumas semanas, Marina encarnou a promessa de ruptura e a esperança de genuína mudança na ordem política.

A virulência dos ataques a ela é índice da ameaça que representou.

Faltou pouco. Assim como se ergueram as duas ondas refluíram sob o impacto de condutas violentas --a infiltração black bloc e o marketing selvagem-- deixando um halo de frustração e perplexidade.

Fatos isolados? Creio que não. Desconfio que algo oculto aos olhos humanos esteja em gestação nas entranhas da sociedade. Talvez o Brasil esteja grávido: no limiar de um parto temporão de cidadania. Depois de junho e do primeiro turno, quem ousará prever o grão de areia e a amplitude da terceira onda?

Míriam Leitão: Realidades paralelas

- O Globo

Há duas visões da economia, como realidades paralelas, disputando a eleição. Para o ministro Guido Mantega o mundo ainda está em crise, o que justifica o baixo crescimento do Brasil. Já para o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, a economia mundial foi derrubada em 2009 e vem se recuperando, embora haja casos específicos de fraqueza. A estagnação brasileira deste ano, portanto, teria explicações locais.

Reuni os dois ontem no meu programa na Globo News para um debate sobre a economia. O combate à inflação, segundo Mantega, cumpre sua meta desde 2011. O IPCA tem se mantido alto pelas commodities e também pela seca este ano. Armínio acha que a inflação é elevada demais para um país com a história do Brasil. A alta dos preços tem sido combatida indevidamente e isso explica o indicador estar sempre tão perto do teto da meta ou acima dele. Mantega lembra que o governo Fernando Henrique terminou com a inflação de 12%. Já Armínio diz que a alta de 2002, último ano de mandato de FHC, se deveu ao medo em relação ao futuro governo Lula. Fernando Henrique foi quem venceu a hiperinflação, registrou. Mantega acha que o Brasil foi um dos países que mais cresceu desde a crise financeira internacional, com o sexto melhor desempenho do G20, comparável à Coreia.

Ele prefere não se concentrar na previsão de crescimento para 2014, perto de zero, e usa a média de 2008 para cá. O resultado, assim, é inflado pelo dado de 2010, no governo Lula, quando o país cresceu 7,5%. Armínio ressalta o desempenho do governo Dilma, que vai completar quatro anos com uma taxa média de crescimento de 1,6% do PIB ao ano, caso se confirme a previsão atual de 0,3% de crescimento. Durante o segundo mandato de FHC, do qual foi presidente do Banco Central, o país cresceu 2,1%, destaca. O desempenho foi afetado, ressalva, por crises externas e internas.

Mas Armínio acha que o país não cresce agora porque há um problema de oferta decorrente da crise de confiança na economia. O ministro da Fazenda apresentou uma lista do que o governo tem feito para incentivar a atividade, como as medidas contracíclicas de expansão do crédito através dos bancos públicos para consumo e investimento. Mantega ressalta que, mesmo na crise, o Brasil manteve o desemprego em queda e a renda crescente. Armínio elogia a queda do desemprego. Mas se diz convicto da ineficácia do atual modelo, que não faz o país crescer. Acha que há pouca transparência nos gastos públicos, com destaque para o custo do juro subsidiado dos bancos estatais.

Como não está sendo eficaz para embalar o crescimento do país, a atuação deles precisa ser discutida. Armínio acredita que, depois de passada a fase aguda da crise, os bancos públicos deveriam ter se retraído . O que se gasta nos subsídios ao BNDES, destacou, equivale ao custo do Bolsa Família e do Minha Casa Minha Vida somados . Para o representante do governo, o país está em situação fiscal boa em to dos os indicadores. Ruim , ataca, foi o período de FHC, quando a dívida líquida subiu, movimento contrário ao atual. Armínio acha que a situação fiscal está mal e que, pior, há "pedaladas", ou seja, mudanças de critérios de contabilidade ou dívidas entre entes públicos, o que macula os indicadores.

O ministro acusa o governo anterior de deixar os bancos públicos quebrados. Armínio afirma que Caixa e BB foram entregues saneados em 2002. Mantega criticou o tripé macroeconômico (meta de inflação, superávit fiscal e câmbio flutuante), sem especificar quais pernas lhe incomodam. Disse que só os fundamentos não são suficientes em momentos de crise e lembrou o juro alto praticado pelo seu oponente quando esteve no BC. Armínio interpretou haver um "fetiche" do debatedor em relação ao governo FHC. Os dois acham que o país pode retomar o crescimento em breve.

Mantega pensa que as medidas contracíclicas deram certo e que as concessões de infraestrutura feitas pelo governo funcionaram. Programas para impulsionar investimentos têm tido destino semelhante, acredita. Armínio rebate. Mesmo com todo o dinheiro liberado pelo BNDES, o Brasil investe menos. Ele imagina o país crescendo não apenas 1%, mas 4% ou mais se for restaurada a credibilidade e os empresários voltar em a investir.

Celso Ming: Falhou

- O Estado de S. Paulo

O governo Dilma falhou na política econômica. Quem ainda vacila diante de uma conclusão assim tem apenas de conferir os resultados. Não os medidos pelos critérios do mercado financeiro, sempre suspeitos, como diria a presidente Dilma, mas pelos do próprio governo.

Entre os objetivos de todos estes anos estava o crescimento sustentável da atividade econômica em torno dos 3,0% ao ano. O que o governo está entregando é um avanço médio de apenas 1,6%. Nesse cálculo vai incluída a projeção de 2014 que não promete mais do que um crescimento de 0,3%, como acaba de apontar o Fundo Monetário Internacional (FMI).


A inflação na meta (de 4,5% a cada fim de ano) apresentou até agora um piso de 5,84% e o risco de estouro da meta de 6,5% neste ano – mesmo com o represamento do câmbio e dos preços administrados.

A cada começo de ano, o governo prometeu conseguir um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 2,1% a 3,1% do PIB, mas a única vez que entregou 3,1% foi em 2011 e, ainda assim, à custa dos truques contábeis conhecidos. Em 2014, as projeções indicam algo muito próximo de zero.

O investimento era para ser acelerado a partir do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas as Contas Nacionais apontaram todos estes anos para baixo. E não vamos colocar nesse balanço nem as incertezas no suprimento de energia elétrica, que paralisam a ampliação da atividade produtiva, nem a perda de competitividade da indústria.

Agora sobram essas desculpas inconsistentes sustentadas pela equipe econômica. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, por exemplo, sugere como recurso contra a erosão do poder aquisitivo do consumidor provocada pela inflação, não políticas de estabilização, mas a substituição da carne bovina por ovo e carne de frango. Que comam brioches.

Além de repisar que o crescimento raquítico do PIB se deve à crise externa, o ministro Guido Mantega aponta a desaceleração do crédito como explicação para a retração das vendas da indústria, como se a queda do crédito não fosse desejada pela política monetária do Banco Central ou, então, como se o Banco Central estivesse marcando gol contra.

O insatisfatório cacife eleitoral apresentado pela presidente Dilma no primeiro turno das eleições está diretamente relacionado às más escolhas de política econômica que desidrataram o orçamento do trabalhador. Desgastada pelos maus resultados, a equipe econômica do governo não exibe credibilidade para defesa do que está aí.

Não é o demitido Mantega nem o flexível Tombini que são designados para dar explicações, mas o agora licenciado ministro-chefe da Casa Civil, o economista Aloizio Mercadante, que Dilma manteve afastado das decisões econômicas nestes quatro anos. Ele vem com a revelação de que “um país não se reduz a uma moeda”, como se o contra-ataque à inflação fosse um objetivo pouco importante.

É olhar em torno e concluir que não há no governo gente mais qualificada para convencer o eleitor sobre as excelências da administração Dilma, créditos que sobram apenas nos discursos.