quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Há um movimento por mudança crescendo em todo país. Ali, na disputa de Tancredo no Colégio Eleitoral, também houve um grande movimento pela redemocratização. Por isso, o que estamos assistindo agora não é algo novo para mim. Agora, como naquele momento, está havendo uma junção de forças distintas que vem se somar a um projeto baseado nos anseios de mudança da sociedade brasileira.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidência da República, em discurso agradecendo apoios. Brasília, 8 de outubro de 2014.

Costa: desvio na Petrobras irrigou campanhas de PT, PMDB e PP

• Costa diz que campanhas de PT, PMDB e PP foram irrigadas com dinheiro de propina

Jailton de Carvalho, Leticia Paris e Germano Oliveira – O Globo

BRASÍLIA, CURITIBA e SÃO PAULO - No primeiro depoimento desde que obteve o direito de cumprir pena em casa, após acordo de delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse ontem que parte do dinheiro do esquema de corrupção na Petrobras teria abastecido campanhas do PT, do PMDB e do PP em 2010. Ao responder a uma pergunta de um dos advogados do doleiro Alberto Youssef, Costa confirmou que havia desvio de recursos na Diretoria de Abastecimento, chefiada por ele. O ex-diretor disse ainda que recebia das empreiteiras 3% dos valores dos contratos. O dinheiro era repartido entre ele, Youssef e o PP. Cada parte ficaria com 1%. Costa afirmou ainda que também havia irregularidades nas diretorias de Serviço e Internacional, vinculadas ao PT e ao PMDB.

- O Paulo deixou bem claro que esse esquema beneficiou a campanha de partidos em 2010. Três partidos grandes foram citados, e eles dividiam efetivamente o bolo da propina - disse Antônio Figueiredo Basto, advogado de Yousseff, que depôs com Costa ao juiz federal Sérgio Moro.

O advogado não revelou, porém, quais os "três grandes partidos" citados pelos presos na Operação Lava-Jato. A informação de que PT, PMDB e PP foram acusados é de investigadores da PF que participaram da força-tarefa.

- Eles (Costa e Yousseff) declinaram a versão deles sobre um grande esquema dentro da Petrobras com participação de pessoas jurídicas, agentes públicos e, principalmente, de agentes políticos - disse Basto.

De acordo com o advogado, os acusados não citaram nomes, mas deixaram claro a participação de políticos no esquema:

-Ficou muito claro a fortíssima influência de agentes públicos dentro desse sistema" - disse.

Outros diretores acusados
Perguntado quais seriam os partidos, Basto informou que um está disputando o segundo turno da eleição presidencial. Costa acusou cinco diretores da empresa de participação no desvio de recursos. Disse à Justiça que o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, entregou-lhe R$ 500 mil, quantia também desviada do esquema.

Em quase quatro horas de depoimento, o ex-diretor da Petrobras ainda acusou José Eduardo Dutra, atual diretor Corporativo e de Serviços da empresa, de participar do grupo responsável pelas fraudes. Não detalhou o que teria sido feito por Dutra. E ainda denunciou mais três ex-diretores. Segundo ele, fizeram parte do esquema: Nestor Cerveró e Jorge Zelada (ambos da área Internacional) e Jorge Renato Duque (Serviços).

- O depoimento do Paulo foi mais detalhado por ser uma pessoa dentro da empresa. Ficou muito claro que o meu cliente não era o chefe dessa quadrilha, não era chefe de nada, era o operador, uma peça da engrenagem. Ele não disse o nome do chefe porque o juiz não permitiu (que citasse os nomes dos políticos). Não haveria a possibilidade de isso funcionar não fossem os agentes políticos - disse Basto.

Costa disse que empreiteiras eram beneficiadas. Segundo Basto, ele teria afirmado que recebeu dinheiro da Odebrecht. Márcio Farias, executivo da empresa, seria o contato do ex-diretor da Petrobras . Costa confirmou que recebeu US$ 23 milhões. O dinheiro estaria depositado na Suíça. A empreiteira Camargo Corrêa, que nega participação, também teria sido citada, através do Consórcio Nacional Camargo Corrêa, formado pela empreiteira e Cnec. A empresa constrói a refinaria Abreu e Lima (PE). Orçada em R$ 2,5 bilhões, já custa R$ 20 bilhões.

- As empresas eram submetidas a isso. Quem não participasse disso, estava sujeita até a quebra de contrato - disse Basto.

A presidência do PMDB informou que "não tinha nada a declarar". Os presidentes do PT, Rui Falcão, e do PP, Ciro Nogueira, não foram localizados para comentar a acusação. A Transpetro negou "com veemência" as acusações contra Machado. Dutra não retornou aos recados do GLOBO. O advogado de Nestor Cerveró disse que as informações foram apresentadas sem provas. O Consórcio CNCC informou "que não teve acesso ao depoimento e repudia qualquer acusação de atuação irregular". A Odebrecht nega veementemente as alegações caluniosas feitas pelo ex-diretor da Petrobras. E o advogado de Duque disse que Costa será processos civil e criminalmente por suas acusações.

Esquema beneficiou PT, PP e PMDB em 2010, diz delator

• Em depoimento à Justiça Federal, Paulo Roberto Costa afirmou que PT, PMDB e PP receberam dinheiro da Petrobras na campanha de 2010

Mario Cesar Carvalho, Samantha Lima – Folha de S. Paulo

CURITIBA - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse à Justiça Federal nesta quarta-feira (8) que desvios de obras da Petrobras irrigaram as campanhas de três partidos nas eleições de 2010, segundo o advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto, que defende o doleiro Alberto Youssef e acompanhou a audiência nesta quarta, em Curitiba.

Segundo a Folha apurou, o executivo se referia ao PT, ao PMDB e ao PP.

O dinheiro do suborno, de acordo com o ex-diretor da estatal, correspondia a 3% dos valores líquidos dos contratos. Esse percentual era dividido entre o próprio Costa e partidos políticos, segundo advogados que acompanharam o interrogatório.

Costa foi nomeado para o cargo em 2004, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e demitido em 2012 por Dilma Rousseff. Ele foi indicado pelo PP, por sugestão do deputado José Janene (PP-PR), apontado pela PF como parceiro de Youssef. Depois conquistou o apoio do PT e do PMDB.

A acusação sobre as campanhas políticas foi feita no primeiro depoimento à Justiça após Costa ter feito acordo de delação premiada com procuradores da Operação Lava Jato, que investiga esquema de lavagem de dinheiro.

No acordo, ele prometeu revelar o que sabe em troca de uma pena menor. Costa deixou a carceragem da Polícia Federal no último dia 1º e está em prisão domiciliar em sua casa, no Rio de Janeiro.

No depoimento desta quarta, afirmou ter sido nomeado pelo cargo já sabendo que teria de levantar recursos ilícitos para os partidos, segundo o advogado Basto.

O executivo disse que o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, ligado ao PMDB, também teria participado de irregularidades --afirmou ter recebido R$ 500 mil de Machado.

Segundo o depoimento de Costa, três ex-diretores da Petrobras fizeram parte do esquema: Nestor Cerveró, Jorge Zelada e Renato Duque.

No interrogatório, ele relatou ter recebido dinheiro da Odebrecht no exterior e citou os nomes dos diretores Márcio Farias e Rogério de Araújo como seus contatos, mas não explicitou valores. A Folha revelou que a empreiteira pagou US$ 23 milhões ao executivo em contas na Suíça.

Costa citou o nome do ex-ministro José Dirceu ao afirmar que ele nomeou Duque para a diretoria de Serviços e Engenharia da Petrobras. Segundo ele, todas as diretorias eram indicadas por políticos.

Alberto Youssef, que também prestou depoimento nesta quarta, confirmou que planilhas apreendidas pela Polícia Federal em seu escritório se referiam a suborno na obra da Refinaria Abreu e Lima, segundo ele pago pelo CNCC, consórcio liderado pela Camargo Corrêa.

O doleiro também fez um acordo de delação premiada. O consórcio CNCC detém o maior contrato da obra da refinaria, de R$ 3,4 bilhões.

Costa e Youssef citaram mais de uma dezena de executivos de empreiteiras com quem mantinham contatos.

Youssef, ainda segundo Basto, disse que o grupo político que nomeou Costa era tão forte que segurou a pauta do Congresso por três meses, impedindo votações, até que ele ganhasse o cargo de diretor de abastecimento da estatal.

Youssef comentou que essa força no Congresso havia impressionado o presidente Lula. Basto afirmou que Youssef e Costa não eram os líderes do grupo, mas seguiam ordens de políticos.

Os dois depoimentos confirmaram a principal acusação da Polícia Federal, segundo advogados: a de que Costa e Youssef operaram um esquema de desvio de recursos em obras da estatal que alimentou partidos políticos.

Os citados no depoimento negaram com veemência as acusações feitas pelo ex-diretor.

Ex-diretor da Petrobrás diz que pagou propina a PT, PMDB e PP

• Paulo Robeto Costa declarou à Justiça Federal que esquema financiou campanhas das três siglas nas eleições de 2010

Fausto Macedo, Ricardo Brandt – O Estado de S. Paulo

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, revelou à Justiça Federal nesta quarta feira, 8, que pagou propinas a três partidos políticos “grandes” – o PT, o PMDB e o PP – para financiar a campanha eleitoral das siglas em 2010.

Costa disse que foi indicado para o cargo pelo ex-deputado José Janene (PP-PR), em 2004, com a missão de montar um esquema de pagamento de propinas para políticos. Ele afirmou que a propina para os partidos era dividida na base de 1% para um e 2% para outro – sobre valores superfaturados de contratos da Petrobrás com empreiteiras e fornecedores.

O ex-diretor, que fez delação premiada ao Ministério Público Federal, homologada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, declarou na audiência desta tarde que o esquema financiou a campanha eleitoral de 2010.

Ele não pôde dizer, em seu relato, os nomes de políticos que teriam recebido dinheiro de corrupção.“Muita gente”, ele disse. A competência para investigar ou processar parlamentares é exclusiva do Supremo Tribunal Federal, por isso ele não pode citar os nomes à Justiça Federal.

Costa depôs durante cerca de duas horas no processo da Operação Lava Jato em que é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro desviado das obras da refinaria Abreu e Lima. Costa já deixou a sede da Justiça Federal, em Curitiba, e está retornando ao Rio de Janeiro, onde cumpre prisão em regime domiciliar.

O ex-diretor apontou os nomes de outros três diretores da Petrobrás que, segundo ele, faziam parte do esquema. Afirmou que recebeu “pessoalmente de Sérgio Machado (presidente da Transpetro) a quantia de R$ 500 mil.”

Ele afirmou que em “outras diretorias” da Petrobrás também havia esquema de propinas. “Havia um esquema de grupos atuando na Petrobrás, cada um com seus interesses, cada um com seu operador.”

Sobre a participação de políticos, ele disse. “Os líderes estão fora desse processo, são agentes políticos, não são as empresas”.

Segundo Costa, as empreiteiras e fornecedores “estavam submetidas até à quebra se não pagassem propina”.

“Quem não pagava não participava”, declarou o ex-diretor.

Com a palavra, a Transpetro
“O presidente da Transpetro, Sergio Machado, nega com veemência as afirmações atribuídas ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Trata-se de uma afirmação absurda e falsa. Machado está indignado com a divulgação do suposto conteúdo de um depoimento dado a portas fechadas e sobre o qual não se tem nenhuma informação oficial. Tomará todas as providências cabíveis para restabelecer a verdade e defender sua honra, processando judicialmente quem quer que seja na defesa da Transpetro. Ressalta ainda a sua estranheza com o fato desse vazamento ter ocorrido no meio do processo eleitoral.

Sergio Machado jamais foi processado pelo Ministério Público ou por qualquer outra autoridade brasileira em decorrência de seus atos ao longo de 30 anos de vida pública.”

PSB, PV e PSC anunciam apoio a Aécio

PSB declara apoio a Aécio no segundo turno

• Ex-aliado histórico do PT, partido se decide antes de Marina; PSC e PV também se aliam ao tucano

Júnia Gama, Maria Lima, Simone Iglesias, Cristiane Jungblut e Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, conseguiu ontem o apoio formal de três dos quatro principais partidos derrotados no primeiro turno das eleições. O PSB, maior partido fora da disputa presidencial desde que sua candidata, Marina Silva, foi derrotada no último domingo, com mais de 21% dos votos, decidiu por maioria aliar-se a Aécio. A ex-senadora deve anunciar sua posição no segundo turno ainda hoje. O PV de Eduardo Jorge, com 630 mil votos, e o PSC do Pastor Everaldo, com 780 mil votos, também definiram ontem o apoio ao tucano e os próprios ex-candidatos saíram em sua defesa.

Com a bênção da ala do PSB de Pernambuco, que era liderada por Eduardo Campos, Aécio tenta agendar para hoje um evento em Recife, ao lado da família do ex-governador, que morreu em agosto em acidente aéreo. Segundo interlocutores, o ato simbólico reforçaria a imagem do tucano como o "candidato da mudança", slogan que vinha sendo utilizado pelo pernambucano. Em seu discurso de agradecimento na sede do PSB em Brasília, após o anúncio do apoio à sua candidatura, Aécio homenageou Campos e terminou sua fala repetindo a frase que o então candidato do PSB usou em sua última entrevista, ao Jornal Nacional: "Nós não vamos desistir do Brasil".

- Sou a partir desse instante, dessa histórica manifestação de apoio do PSB, o candidato das mudanças verdadeiras. Sinto-me honrado e emocionado porque passo a ter, no limite das minhas forças, a responsabilidade de levar o legado de Eduardo Campos pelo Brasil inteiro. Trago um grande companheiro de caminhada que honrou a política brasileira como poucos fizeram. Seus sonhos, Eduardo, passam a ser os meus sonhos - afirmou Aécio.

Alianças ficam liberadas nos estados
A vitória de Aécio pelo apoio do PSB se deu por 21 votos favoráveis, contra 1 a favor de Dilma Rousseff (PT) e 7 que defenderam a neutralidade do partido, o que, na prática, beneficiaria a presidente. Por outro lado, ficaram liberadas as alianças nos estados em que há segundo turno para governador, onde há casos de alianças com petistas, como na Paraíba, onde Ricardo Coutinho (PSB), que ontem recebeu Dilma e declarou seu apoio a ela, disputará o segundo turno contra o tucano Cássio Cunha Lima.

Mais cedo, em um encontro com aliados em Brasília, Aécio disse que enfrentará a "campanha da mentira" com "coragem e com a verdade". No evento, realizado no Memorial JK, onde estão os restos mortais do ex-presidente Juscelino Kubitschek, e com a presença de governadores eleitos, senadores, deputados e dirigentes partidários do PSDB, PMDB, DEM, PDT, PTB, PSC, PV e PP, o tucano voltou a pedir à presidente e candidata à reeleição que faça uma campanha "em alto nível" e propositiva. Os tucanos escolheram o memorial como uma referência histórica ao ex-presidente, mineiro.

- Estou pronto para fazer uma campanha à altura dos desafios do país, falando a verdade, não me acovardando com ataques menores. Responderei a cada ataque com uma proposta para melhorar a educação das pessoas, a saúde das pessoas, a segurança - declarou.

Durante seu discurso a antigos e novos aliados, como os ex-candidatos à Presidência Eduardo Jorge (PV) e Pastor Everaldo (PSC), Aécio disse que deixa de ser candidato do PSDB e dos partidos que integram sua coligação, para ser "o representante da esperança, da mudança, de valores e eficiência na máquina pública". O candidato do PV à Presidência, Eduardo Jorge, foi chamado ao palco por Aécio logo que chegou ao Memorial JK. Foi aplaudidíssimo pelos tucanos. Ele justificou a decisão do partido afirmando que, apesar das divergências, o programa da legenda se aproxima mais do programa dos tucanos, e criticou a falta de propostas de Dilma.

- Há um vazio de ideias de Dilma, que nem apresentou programa. No campo social, há uma certa confluência com Aécio e mesmo com Dilma. No caso do PT, no seu governo, teve praticamente uma aversão ao equilíbrio ambiental - disse o verde, que deu uma alfinetada em Aécio ao dizer que o tucano demorou a apresentar as propostas, mas que ao menos o fez.

Pastor Everaldo pediu a Aécio que não descuide dos pobres, que tire o Brasil das páginas policiais, e que dê atenção às Forças Armadas.

- Fomos enfáticos em dizer que a mudança que o Brasil precisa, que foi demonstrada nas pesquisas, e nós do PSC entendemos, é você quem encarna, para tirar o país do mar de lama de corrupção que estamos - disse o pastor.

Marina se encontra com FHC na véspera de anunciar apoio

• Encontro com ex-presidente aconteceu horas antes de Rede Sustentabilidade anunciar que ficará ao lado de tucanos no 2º turno

Isadora Peron e Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

Marina Silva esteve nesta quarte-feira em São Paulo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à véspera da data marcada para o anúncio de seu apoio à candidatura de Aécio Neves no 2.º turno da eleição presidencial.

O encontro ocorreu pela manhã, no apartamento do tucano, horas antes de o PSB, partido ao qual Marina está filiada, anunciar a adesão a Aécio. A expectativa é de que a ex-ministra, que ficou em terceiro na disputa, faça o mesmo nesta quinta-feira. Mas o anúncio poderá ser adiado, já que ela decidiu que não irá a Brasília participar da reunião da coligação dos partidos que a apoiou na campanha.

Na quarta-feira, porém, Marina recebeu o aval da Rede Sustentabilidade, partido que tentou criar no ano passado, para apoiar Aécio. Segundo o porta-voz da Rede, Walter Feldman, o grupo decidiu que não há como apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) e que é importante que haja alternância de poder.
"A síntese do que decidimos é que a mudança significa hoje o voto em Aécio, nulo ou branco. Essas seriam as três posições que a Rede considera adequadas", disse.

Feldman reforçou que a Rede quer destacar pontos programáticos para orientarem o posicionamento dos eleitores nesta segunda fase da campanha. Citou como exemplos, além da reforma política e do desenvolvimento sustentável, a reforma agrária e a demarcação das terras indígenas.

O grupo vinha demonstrando resistência a endossar o nome do tucano, mas cedeu aos apelos da ex-ministra. Segundo Feldman, muitos integrantes da Rede se mostraram desconfortáveis com a opção de apoiar Aécio e, por isso, optou-se por indicar também a opção de anular o voto. "Nós admitimos a existência daqueles que não querem votar na polarização", disse.

A ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon, que concorreu ao Senado na Bahia e é integrante da Rede, explicou que o grupo não vai assumir o programa de Aécio e que há muitos integrantes da Rede que não farão campanha a Aécio. Ela, porém, fez questão de colocar que tem um posicionamento pessoal mais "pragmático". "Se ele for a Bahia, eu subo no palanque", disse.

Marina recebeu 63% dos votos em grandes cidades

Fernando Torres – Valor Econômico

SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff (PT) e seu rival Aécio Neves (PSDB) deverão intensificar a campanha nas grandes cidades do país se quiserem ter eficiência nessas três semanas de busca pelos 22,2 milhões de votos obtidos por Marina Silva (PSB) no primeiro turno.

Levantamento feito pelo Valor com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aponta que 63% dos votos de Marina foram obtidos nos 200 maiores colégios eleitorais, que reúnem todas as cidades com mais de 100 mil eleitores e que concentraram 51% dos votos válidos no pleito do último domingo.

Considerando apenas esse grupo de municípios, Dilma teve 33% dos votos, Aécio obteve 35% e Marina contabilizou 27%.

Isso significa que nas demais 5,3 mil cidades, além da votação no exterior, a petista atraiu 50% do eleitorado, o tucano 33% e a pessebista apenas 16%.

Os dados mostram que Marina foi proporcionalmente melhor nas grandes cidades, enquanto a presidente Dilma teve destaque em cidades menores. Já Aécio Neves apresentou desempenho praticamente uniforme entre cidades grandes e pequenas.

Quando se analisam os dados dos 200 menores colégios eleitorais do país, com no máximo sete seções eleitorais, Marina teve desempenho ainda mais fraco, reunindo apenas 11% dos 296 mil votos, enquanto Dilma e Aécio ficaram praticamente empatados, com 44% e 43%, respectivamente.

O equilíbrio entre PT e PSDB nos números consolidados desses pequenos municípios, evidentemente, esconde variações regionais que ficam claras quando se analisam os dados por Estado ou região do país. Isso porque existe uma mistura de desempenho excepcionalmente bom da petista em municípios pequenos nordestinos, enquanto o tucano se destaca especialmente em São Paulo e no Centro-Oeste.

Em Estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, há tanto vitórias destacadas para um dos lados como disputa acirrada em alguns municípios pequenos.

Em Santo Antonio dos Milagres (PI) Dilma teve 80,92%, pouco abaixo dos 87,66% registrados em Água Nova (RS). Já Aécio teve 81,63% em Albertina (MG) e 72,56% em Protásio Alves (RS).

Nas grandes cidades também existe uma diferença regional importante. Aécio obteve apenas 26,5% dos votos nos grandes centros do Rio de Janeiro e de 20,7% na Bahia, ficando atrás de Marina em ambos os casos. Isso sem falar em Pernambuco, onde o tucano recebeu apoio de cerca de 6% dos eleitores, independentemente do tamanho da cidade.

Já Dilma, que se destacou fora dos grandes centros, ficou atrás de Aécio mesmo nas cidades pequenas de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Rede Sustentabilidade libera voto branco, nulo ou em Aécio

• Grupo, criado por Marina Silva e que tenta ser um partido político irá ficar ao lado de tucanos no segundo turno presidencial

Isadora Peron e Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

A Rede Sustentabilidade, projeto de partido de Marina Silva (PSB), decidiu se posicionar no segundo turno sugerindo aos seus eleitores a votar no tucano Aécio Neves ou a anular o voto. "Decidimos que sob hipótese nenhuma faremos o apoio à candidata Dilma Rousseff (PT). A síntese é que a mudança significa hoje o voto em Aécio, nulo ou branco. Essas seriam as três posições que a Rede considera adequadas no processo de mudança que o Brasil precisa realizar.", disse o porta-voz nacional da Rede, Walter Feldman, que coordenou a campanha de Marina no primeiro turno. Ele reforçou que a Rede quer destacar pontos programáticos para orientarem o posicionamento de segundo turno dos eleitores.

Segundo Walter, na reunião diversos integrantes do partido se mostraram desconfortáveis com a opção de apoiar Aécio e por isso optou-se por liberar a esses membros a opção de neutralidade. "Nós admitimos a existência daqueles que não querem votar na polarização."

A ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon, que concorreu ao Senado na Bahia e é integrante da Rede, explicou que o grupo não assume o programa de Aécio e que essa é a diferença essencial para o posicionamento do PSB, tomado na tarde de hoje em Brasília. Mas ela fez questão de colocar que tem um posicionamento pessoal mais "pragmático". "Eu subo, eu faço campanha", disse Eliana ao ser questionada se faria campanha por Aécio.

Romário: 'A chance de não apoiar Dilma é de 99,99%'

• Ex-craque critica o PSB, confirma que deve fechar com Aécio e promete rigor ao fiscalizar Olimpíadas

Miguel Caballero – O Globo

O PSB decidiu ontem, em reunião da Executiva Nacional em Brasília, apoiar Aécio Neves (PSDB) na eleição presidencial. Romário, que com sua expressiva votação ao Senado se tornará um dos principais nomes nacionais do partido, deve seguir o mesmo caminho, mas sua decisão, a ser sacramentada em encontro com o tucano nesta semana, será totalmente desvinculada da da legenda. Falando apenas por si mesmo, ele confirmou a conversa com Aécio e minimizou as chances de apoiar Dilma Rousseff (PT). Ainda sem definir se apoiará Pezão, Crivella ou se ficará neutro no 2º turno no Rio, Romário fala do ineditismo de um "político-celebridade" chegar ao Senado e temas como redução da maioridade penal e casamento gay.

Qual será sua posição no 2º turno para presidente?

A Dilma, é 99,99% (a chance de não apoiar), quase impossível. O Aécio me ligou, vamos conversar pessoalmente. Minha conversa com qualquer candidato vai passar sempre por pontos que considero fundamentais, assumir esses compromissos: o país precisa de centros de diagnóstico e tratamento para pessoas com deficiências e com doenças raras. Outra coisa que pesa na minha decisão é a atenção a crianças e jovens viciados em crack. E o esporte também, principalmente para os jovens. Se ele (Aécio) entender tudo isso, é bem possível (apoiá-lo).

E entre Pezão e Crivella?

Minha relação com os dois é boa. Sempre fui contra a forma como o (ex-governador Sérgio)Cabral estava governando, mas o Pezão é um cara bem objetivo, tem feito bom governo. Trabalho perto do Crivella, quase fui para o partido dele (PRB) no ano passado. Fui procurado pelos dois e não descarto até ficar neutro. Mas minha forma de fazer política é diferente: não vou conversar com os dois. Vou falar com um primeiro, levar os mesmos pontos que falei sobre o (apoio a) Aécio. Se aceitar o que defendo, não vou ao outro.

Políticos do Rio dizem que esse primeiro será o Pezão...

Olha, não sei, não. Não tem nada marcado ainda.

O senhor fez toda a campanha distante do PSB...

Minha relação com o partido é de ruim para péssima. Fui deputado, agora eleito senador com quase 4,7 milhões, e não faço parte da executiva nacional, estadual nem da municipal. Eu ajudei muito, gravei para vários candidatos e fico com o sentimento de que meu partido não é grato ao que faço, politicamente falando. Eles nunca me ajudam em nada, vou à luta sozinho. Mas não tenho pretensão de sair. Há coisas boas (no PSB), a relação com a liderança na Câmara é maravilhosa.

O senhor foi eleito deputado com o rótulo de ex-jogador, de "político-celebridade". E vai ser o primeiro deste grupo a chegar ao Senado.

Diziam: "Ah, mais uma personalidade que se aproveitou da fama na profissão anterior para entrar na política." Minha resposta foi meu trabalho. Cumpri um mandato transparente, honesto, combativo. Algo que está longe da maioria dos políticos hoje. Agora, cheguei ao Senado, a Casa dos Senhores, como dizem. Estarei ao lado de ex-ministros, ex-governadores, empresários muito ricos. Não vou mudar. Quero integrar a Comissão de Esporte e fiscalizar as Olimpíadas como já venho fazendo e como fiz com a Copa. Já em fevereiro eu vou me dedicar a isso.

O senhor se mostra muito independente do partido e até de ideologias. Há senadores em quem o senhor vai se inspirar para atuar na Casa?

Não que eu me inspire, mas posso citar senadores como Álvaro Dias (PSDB), Randolfe Rodrigues (PSOL), Rodrigo Rollemberg (PSB) e Cristovam Buarque (PDT). Respeito muito suas trajetórias e atuação.

O que pensa da redução da maioridade penal?

Uma pessoa com 16 anos, que tem condição de votar, assume responsabilidades, sabe exatamente o que está fazendo na hora de cometer um crime, principalmente o hediondo, que é onde defendo a redução. ( Depois, Romário telefonou pedindo para completar a resposta ). Defendo conceitualmente a redução da maioridade, mas quero deixar claro que tem de vir junto de políticas sérias para os jovens, principalmente de educação. Não pode servir para aumentar o massacre aos jovens pobres e negros das comunidades.

E sobre o casamento gay?

Penso como disse o Papa, cada um procura sua felicidade de uma maneira e deve ser respeitado. É tema polêmico, que vai chegar ao Senado. O que posso dizer é que você tenha a certeza de que, quando chegar, vou estar preparado para votar com consciência, sem me omitir.

Denunciar erros e fiscalizar as obras das Olimpíadas devem dar ao senhor uma exposição ainda maior no Rio. Será candidato a prefeito?

Sinceramente, hoje não me vejo candidato a prefeito, e nem ao governo (estadual) em 2018.

Tenho a responsabilidade de levar o legado de Campos, diz Aécio

• Tucano citou ex-governador de Pernambuco em breve discurso após o PSB oficializar apoio a sua candidatura

Daiene Cardoso, Nivaldo Souza e João Domingos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em um ato rápido nesta noite, o PSB formalizou o apoio neste segundo turno da sucessão presidencial ao candidato do PSDB, Aécio Neves. O tucano disse que agora caminhará junto com a sigla do ex-governador Eduardo Campos e ressaltou que os sonhos do presidenciável morto em agosto passam a ser os seus sonhos. "Tenho a responsabilidade, no limite das minhas forças, de levar ao País o legado de Eduardo Campos", afirmou o novo aliado do PSB.

Em um breve discurso, Aécio disse que o gesto de apoio do PSB demonstra respeito pelos brasileiros e afirmou que sua candidatura representa o sentimento defendido pelo PSB durante a campanha eleitoral. "Sou a partir deste instante o candidato das mudanças verdadeiras", disse.

O tucano alfinetou o governo de sua adversária, Dilma Rousseff (PT), e disse que seu otimismo "só não é maior" do que a determinação de pôr fim ao ciclo do atual governo. Ao final, Aécio repetiu a última frase de Eduardo Campos na entrevista dada ao Jornal Nacional no dia 12 de agosto, um dia antes do acidente que o vitimou. "Não vamos desistir do Brasil".

Por 21 votos a favor, a Executiva Nacional do PSB decidiu formalizar o apoio a Aécio. Dos 29 membros que votaram na reunião, sete optaram pela neutralidade e apenas um, o senador João Capiberibe (AP), defendeu o apoio a petista Dilma Rousseff.

O presidente da legenda, Roberto Amaral, destacou que a aliança é ressalvada pelas condições políticas de cada Estado e será baseada em "conteúdo programático". O senador eleito pelo Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), passará a integrar a equipe do programa de governo de Aécio e terá como missão buscar a convergência entre as propostas encampadas pelo PSB na campanha do primeiro turno e o plano de governo do PSDB.

Tucano lembra união de forças em torno de Tancredo

- O Globo

O dia de adesões e a formação de uma frente integrada por várias correntes políticas levaram o candidato do PSDB Aécio Neves a se referir ontem a um momento histórico que marcou sua trajetória política: o movimento em torno da candidatura do avô Tancredo Neves, em 1985, e que deu a ele a vitória sobre Paulo Maluf , candidato dos militares, no Colégio Eleitoral, por 480 votos a 180.

- Há um movimento por mudança crescendo em todo país. Ali, na disputa de Tancredo no Colégio Eleitoral, também houve um grande movimento pela redemocratização. Por isso, o que estamos assistindo agora não é algo novo para mim. Agora, como naquele momento, está havendo uma junção de forças distintas que vem se somar a um projeto baseado nos anseios de mudança da sociedade brasileira - comparou Aécio.

Perguntado sobre como enfrentar essas pouco mais de duas semanas até o dia 26 de outubro, ele respondeu sem pensar:

- Não posso errar nada até lá!

As referências de Aécio ao avô se intensificaram desde domingo, quando, ao chegar ao segundo turno, repetiu o avô pedindo para os aliados não se dispersarem.

Instituições estão arranhadas, critica Serra

Nivaldo Souza – O Estado de S. Paulo

O ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), defendeu na tarde desta quarta-feira a candidatura de Aécio Neves para recuperar as "instituições arranhadas". Serra disse que "a eleição de Aécio é possível, provável" e "acima de tudo, necessária". "A herança que nós temos (do governo do PT) são 12 anos de instituições arranhadas pelo estilo petista de governar", afirmou. "O PT nos deixa com uma economia estagnada e reprimida. Temos o dever não apenas de eleger o Aécio, mas de junto com ele reconstruir o Brasil. Vamos todos juntos nessa caminhada, é em nome do Brasil, do nosso povo, vamos em frente que vamos ganhar essa e reconstruir a nossa pátria", discursou.

Serra participou de ato tucano no Memorial Juscelino Kubitschek, em Brasília, onde o PSDB fez o lançamento formal da campanha de segundo turno com aliados. O candidato do PV, Eduardo Jorge, compareceu para formalizar o apoio de seu partido a Aécio. O verde justificou que seria "egoísmo partidário tentar preservar um volátil capital de votos do primeiro turno" com "neutralidade no segundo turno".

Jorge disse que comparou seu programa de governo com o de Aécio e, mesmo não encontrando as suas principais bandeiras, como a descriminalização das drogas e a legalização do aborto, seguia com o tucano por entender que ele é mais comprometido com a desenvolvimento e agricultura sustentável. "O PV defendeu sozinho (aborto e drogas) e temos certeza de que nem a campanha da Dilma e do Aécio nos acompanha nessa nova política", disse. Aécio também recebeu apoio do candidato derrotado do PSC, Pastor Everaldo. "Aécio representa a verdadeira mudança", segundo ele, contra o "falso terrorismo de que ele ia acabar com o Bolsa Família", afirmou.

'Lula só será ouvido em programas humorísticos', diz FHC

• Fernando Henrique responde a criticas feitas por Lula no início da semana sobre desempenho do PT no Nordeste

Luiz Guilherme Gerbelli e Roldão Arruda - O Estado DE S. Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta quarta-feira,7, que Lula "vive de pegadinhas". Por meio de nota, FHC rebateu o petista, que o havia criticado pelas declarações de que o PT cresceu nos grotões do País e com os votos dos menos informados. "O presidente Lula não se emenda, vive de pegadinhas. Ontem não só atribuiu aos outros frase sua - a de que o bolsa escola era esmola- como quer transformar uma categoria do IBGE, nível educacional, em insulto. Daqui a pouco ele só será ouvido em programas humorísticos", afirmou o tucano.

Na terça-feira, na sua página oficial do Facebook, Lula afirmou que "é um absurdo que o Nordeste e os nordestinos sejam caracterizados como ignorantes ou desinformados por seus votos". O petista afirmou que qualquer tipo de preconceito demonstra um desconhecimento da situação econômica do Nordeste. "Hoje, o nordestino anda de cabeça erguida porque não é mais tratado pelo governo como cidadão de segunda categoria", afirmou.

Na eleição do último domingo, a candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff, venceu a disputa em oito Estados do Nordeste. Perdeu apenas em Pernambuco para Marina Silva (PSB). Já Aécio Neves (PSDB) venceu em Estados do Sudeste, Sul em todo o Centro-Oeste, além do Distrito Federal. A divisão geográfica por votos tem servido de munição para petistas e tucanos trocarem ofensas pelas redes sociais.

Aécio 54% x Dilma 46%: primeira pesquisa sobre o segundo turno

• Em levantamento exclusivo para ÉPOCA, o instituto Paraná Pesquisas ouviu 2.080 eleitores em 152 municípios

Alberto Bombig - Época

Aécio Neves (PSDB) largou na frente da presidente Dilma Rousseff (PT) neste início da campanha de segundo turno nas eleições presidenciais deste ano. É o que mostra uma pesquisa feita com exclusividade para ÉPOCA, pelo instituto Paraná Pesquisas. Se a eleição fosse hoje, Aécio teria 49% das intenções de voto contra 41% de Dilma. Não sabe ou não responderam somam 10%. Em votos válidos, Aécio tem 54%, e Dilma, 46%. Na pesquisa espontânea, em que não são apresentados os candidatos, Aécio tem 45%, e Dilma, 39%.

O instituto Paraná Pesquisas entrevistou, entre a segunda-feira (6) e esta quarta-feira (8), 2.080 eleitores. Foram feitas entrevistas pessoais com eleitores maiores de 16 anos em 19 Estados e 152 municípios. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral, sob o número BR 01065/2014. O nível de confiança da pesquisa é de 95%, com uma margem de erro de 2,2% para mais ou para menos. Isso significa que a probabilidade de a realidade corresponder ao resultado dentro da margem de erro é de 95%. Se a eleição fosse hoje, a votação de Aécio variaria, portanto, de 52% a 56%; e a de Dilma, de 44% a 48% dos votos válidos.

“Podemos afirmar que Aécio Neves inicia o segundo turno com uma boa vantagem, porque herdou mais votos de Marina Silva (a terceira colocada). Vamos ver como o eleitor se comportará após o início do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão”, afirma o economista Murilo Hidalgo, presidente do Paraná Pesquisas.

A pesquisa também avaliou a rejeição dos candidatos. Dilma Rousseff é rejeitada por 41%. Outros 32% afirmaram que não votariam em Aécio “de jeito nenhum”. Apenas 16% disseram que não rejeitam nenhum dos candidatos, e 8% não souberam ou não quiseram responder. De acordo com Hidalgo, a rejeição é sempre um fator fundamental em eleições de segundo turno.

No quesito escolaridade, Dilma é a preferida dos eleitores com apenas o ensino fundamental. Ela tem 46% das intenções, ante 45% de Aécio. Entre os eleitores com ensino superior completo, Aécio lidera com 55% das intenções, e Dilma apresenta 34%. Aécio também está na frente no eleitorado feminino, com 50% das intenções de voto, ante 40% de Dilma. Entre os homens, Aécio tem 47% das preferências, para 43% de Dilma.

A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral, sob o número BR 01065/2014. Foram entrevistados 2.080 eleitores em 19 Estados e 152 municípios do dia 6 ao dia 8 de

Sérgio Abranches: A dinâmica do segundo turno no presidencialismo de coalizão

Começa hoje o mais disputado segundo turno em eleições presidenciais, desde 1989. Os resultados mostram o grau de competição no primeiro turno, com toda clareza e desenham o cenário de um segundo turno em aberto. Independentemente do que se vem dizendo, que 2o turno é outra eleição, uma coisa é certa: a dinâmica política desta rodada decisiva da disputa presidencial é, realmente, diferente. No primeiro turno, a primeira etapa de constituição das candidaturas envolve a negociação das coligações eleitorais que apoiarão cada uma delas. Essa negociação toma por referência a correlação passada de forças. As negociações do segundo turno não tratam de coligações. As coligações já estão dadas. Elas tratam da formação de uma coalizão para conquistar os votos dados a outros candidatos e que será a base inicial da coalizão de governo do vitorioso. São negociações que consideram a nova correlação de forças saída das urnas e o futuro Congresso. Óticas muito diferentes, portanto.

A negociação para formar coligações, em virtude da péssima regra de distribuição de tempo na televisão, que privilegia o status quo ao conferir fatias de tempo às bancadas eleitas quatro anos antes, acaba se tornando uma barganha rasteira. Troca tempo de TV por benefícios colaterais. Partidos pequenos, com baixa representatividade, adquirem valor de barganha por causa dessa regra política e eticamente deletéria. Toda a negociação se dá, portanto, com base nas bancadas da legislatura que termina e que serão submetidas ao voto. Essas bancadas tendem a mudar e essa mudança é conhecida no final do primeiro turno das eleições. Elas de fato mudaram, tanto na Câmara, como mostra o gráfico abaixo, quanto no Senado, como se vê no gráfico seguinte.

As negociações da coalizão de base levam em consideração a necessidade de promover a migração dos votos obtidos pelos outros candidatos para cada uma das duas candidaturas e as bancadas que tomarão posse em 2015. Portanto, se assentam não na correlação de forças da eleição de quatro anos atrás, mas na nova correlação de forças que saiu das urnas agora. Também influi nessa negociação o resultado das eleições para governador, porque os governadores eleitos no primeiro turno podem ter papel importante de liderança local nas negociações políticas do 2o turno e na campanha. Os que disputarão o segundo turno para os governos estaduais, definem localmente os limites para os acordos possíveis. Por exemplo, no Rio de Janeiro, disputam dois candidatos alinhados à candidatura governista, porém, na coligação de Pezão há divisão, porque seu vice, Dornelles, apóia Aécio Neves. No Rio Grande do Sul também disputam dois candidatos de partidos da coligação governista, porém o candidato do PMDB tem mais afinidades com a dissidência que apoiou Marina Silva.

O objetivo principal dessa negociação que se abre hoje é, evidentemente, conseguir apoio que aumente a probabilidade de conquistar o voto principalmente dos eleitores de Marina Silva para vencer o segundo turno. Mas, subsidiariamente, Aécio Neves terá que pensar, também, na formação de sua coalizão definitiva de governo, no caso de vencer as eleições. Ele começará a tentar obter o apoio de bancadas que não estão comprometidas com a candidatura oficial, para ampliar sua base de apoio parlamentar. A segurança da governabilidade será um tema que estará nas análises e discussões sobre os possíveis cenários pós-segundo turno. A fragmentação partidária aumentou, como previsto, com a diminuição do tamanho das maiores bancadas, o aumento de algumas bancadas médias e a entrada de pequenos partidos na Câmara dos Deputados e no Senado, como mostra o gráfico abaixo.
A coligação de Dilma Rousseff, apesar de ter perdido espaço na Câmara dos deputados, com os novos resultados teria uma base representando 53% das cadeiras, como se vê no gráfico.
Ocorre que há muitas dissidências no PMDB e em outros partidos de sua coligação. Aécio Neves, mesmo com a adesão de todos os parlamentares eleitos pela coligação de Marina Silva, ficaria com apenas 39% das cadeiras na Câmara. Isso significa que, se vencer o segundo turno, terá que buscar adesão de partidos que estiveram na coligação de Dilma Rousseff. Ele e Marina já têm o apoio de parlamentares eleitos por partidos que apóiam a candidatura oficial. Estes parlamentares, no caso de vitória da oposição, podem apoiar o governo como dissidentes, ou mudar para partidos da coalizão do novo governo, por divergência programática com seus partidos de origem.

No Senado, o quadro mudou menos porque só houve renovação de um terço. Ainda assim, houve mudanças importantes. O PSDB ganha uma liderança de muito peso com a entrada de José Serra, por exemplo. A coligação de Dilma ampliou sua representação no Senado e a de Aécio diminuiu. A de Marina dobrou. Mas mesmo somando as duas bancadas de oposição, somariam apenas 32% das cadeiras. Nenhuma das duas candidaturas, porém, tem a maioria no Senado.

A novidade deste segundo turno em relação aos demais, é que o apoio da coligação de Marina Silva a Aécio Neves, se ocorrer, terá como condicionante inarredável um acordo programático e não uma simples barganha de cargos e promessas orçamentárias como tem sido habitual. É uma novidade importante e que pode ter um efeito pedagógico fundamental para a mudança de qualidade do presidencialismo de coalizão no Brasil. Deve ter, também, impacto na campanha, uma vez que seria uma demonstração concreta do que poderia ser a transição para o que Marina Silva e Eduardo Campos chamavam de nova política. Um acordo negociado em torno de itens de programa, às claras, que seria apresentado formalmente aos eleitores por meio de um manifesto programático para formação de uma coalizão mais ampla de oposição. Há sinais de que a coligação de Marina Silva caminha para este acordo. Resta saber se Aécio Neves conduzirá essa negociação com a habilidade e a convicção necessárias. Em 2010, Marina Silva não apoiou José Serra, nem Dilma Rousseff, porque nenhum dos dois se dispôs a negociar pontos programáticos que ela considerava indispensáveis a um acordo. O primeiro sinal foi dado por Marina Silva e Beto Albuquerque, seu candidato a vice. Marina Silva disse que será uma decisão conjunta dos partidos de sua coligação, que levará em conta a urgência requerida pelo segundo turno e o fato de que a maioria dos eleitores mostrou que é contra o que “está aí”. Beto Albuquerque disse que, pessoalmente, não tem como apoiar a candidatura Dilma Rousseff que atacou de forma tão violenta a sua chapa. O segundo sinal é uma nota pedindo a união da oposição por quase 170 personalidades influentes junto às candidaturas de Aécio Neves e Marina Silva, entre elas, assessores de ponta dos dois candidatos.

O que ocorrerá nas próximas três semanas é imprevisível, como imprevisível foram as mudanças que marcaram o primeiro turno presidencial, desde o início da campanha. O que se pode dizer é que a disputa está em aberto. Dilma Rousseff buscará a reeleição tendo obtido 43,3 milhões de votos, representando 41,59% do total. Aécio Neves disputará a presidência com 34,9% milhões de votos, ou 33,55% do total no primeiro turno. Marina Silva terá papel decisivo no segundo turno, representando 22,1 milhões de eleitores, ou 21,32% do total. Com uma diferença de 8,4 milhões de votos, ou 8 pontos percentuais entre os dois, será um segundo turno muito competitivo. Seria muito bom para a democracia brasileira, que essa disputa se desse com base no confronto de ideias para o futuro do Brasil. Mas tudo indica que, por iniciativa do artífice da propaganda de Dilma Rousseff, ela será agressiva e de ataque, como no primeiro turno. O tempo de TV é igual. O período de campanha é curto. De um lado há a expectativa de um encontro programático entre as candidaturas centrais da oposição. De outro, sinais de uma campanha que tentará desconstruir a candidatura de Aécio Neves. Uma campanha negativa nem sempre é boa estratégia. Mas dependendo do tom e de seu impacto nas pesquisas iniciais, pode forçar Aécio Neves a jogar no ataque e o Brasil perderá a oportunidade de confrontar programas e ideias.

No caso de um entendimento entre Aécio Neves e Marina Silva, um ponto importante do acordo programático será o tema ambiental. A visão ambiental, climática e de política energética do PSDB é, ainda, bastante primária. A absorção das propostas nestes campos do programa de Marina Silva melhorariam significativamente o programa de governo de Aécio Neves. Na área econômica, os programas são bastante afins, mas o do PSDB é mais consistente e completo. Não haveria razões para grande divergência nesta área entre os dois.

Se Dilma Rousseff optasse por uma campanha de esclarecimento da população e confronto de ideias e programas, teria que rever, neste quadro de acordo entre Aécio Neves e Marina Silva, suas propostas para o meio ambiente, a mudança climática e a política energética. O governo Dilma Rousseff teve desempenho pífio nesses campos. Se escolhesse travar debate e confronto em torno dessas ideias precisaria rever radicalmente suas posições e convicções nessas áreas. Também na economia, o eleitor seria exposto a propostas polares. A qualidade das propostas econômicas da candidata à reeleição é baixa. Na verdade, ela não disse muito o que fará. Se optasse por debater ideias, teria que mobilizar imediatamente sua nova equipe econômica, para que pudesse expor com clareza como pretende enfrentar os desafios econômicos inegáveis que o Brasil terá que enfrentar nos próximos anos, o que não fez no primeiro turno.

José Arthur Giannotti: Aécio redesenhado

• Mais moderna, a imagem de Aécio passa a espelhar o anseio por mudança contra o lulopetismo, carimbado com a marca do passado

- Folha de S. Paulo

O roteiro estava escrito. PT e PSDB haveriam de terçar armas mais uma vez, pautando as eleições de 2014 e reforçando o bipartidarismo nascente entre nós. Como o PSDB foi incapaz de exercer uma oposição articulada nos últimos anos, este esquema de polarização vacilava, o que conferiu enormes vantagens ao PT. No entanto, sempre que a oposição enfraquece, ela renasce no próprio seio do governo; e assim se fez a dissidência Eduardo Campos/Marina Silva.

A tragédia em Santos projetou Marina para o primeiro plano. Ao salvar-se do desastre, assume a figura da salvadora da pátria, que desde Jânio Quadros assombra a política brasileira. Haveria de seguir o mesmo roteiro? Vitória e crise? O papel de salvadora, porém, não resistiu aos duros ataques do PT e às estocadas do PSDB. Mas a que se deve a recuperação de Aécio? Como entender que tenha uma vitória extraordinária em São Paulo, mas perdido em Minas Gerais?

Creio que a virada de Aécio sobre Marina aponta para um fenômeno novo. As ditas "classes médias" têm demandado maior racionalidade nas discussões e decisões políticas, e não mais se deixam enganar pelo espetáculo da salvação. Aécio passa a representar a esperança de retirar a economia da estagflação em que nos meteu a política econômica de Dilma, de reforçar a associação entre capital público e capital privado, sem cair nos desmandos do neoliberalismo.

No confronto com Marina, ele vê redesenhada sua imagem política, que escapa do roteiro escrito pelo marqueteiro e das linhas gerais de uma imagem cristalizada pelos chefes de campanha, traçada ainda no velho estilo burocrático. E, sobretudo, recupera as bandeiras social-democratas do Plano Real que muitos líderes do PSDB tinham engavetado.

Aécio ainda se perde, é certo, quando, por exemplo, entra no jogo de Dilma e passa a discutir o velho tema das privações feitas durante a administração de FHC. Não que elas deixaram de ser importantes, mas vistas de hoje, quando se reforça entre nós um capitalismo de conhecimento, pouco importa o estatuto jurídico de uma grande empresa, quando ela é posta em face de suas obrigações sociais.

Um Estado moderno --e o nosso ainda não o é plenamente-- tem condições de controlar sem sufoco qualquer empresa pública ou privada, impedindo-as tanto de forçar a exploração do trabalho quanto de se tornar fontes de corrupção. O caráter público da Petrobras não a salvou do maior achaque de sua história.

Em contrapartida, na medida em que a imagem de Aécio se torna mais moderna, mais prenhe de futuro, ela absorve facilmente as acusações de corrupção contra ele mesmo e seu partido, assim como reforça por contraste os pecados dos adversários. Ela passa a espelhar o anseio por mudança contra o lulopetismo, carimbado com a marca do passado. Não é assim que se explica a onda anti-PT que hoje varre o Sudeste?

Para reforçar nossa democracia creio ser preciso fincar os pés no real. Assumir a política como ela é, quando todos nós, aliados e adversários, possamos nos projetar uns nos outros, cada um reconhecendo no outro o espelho que tende a revelar nossas particularidades. Então, separados e juntos, tratar de ampliar os controles de nossos órgãos públicos, multiplicá-los, reforçando uma burocracia estatal competente e longe do aparelhamento político.

Cabe, pois, de um lado, retomar o sentido público das instituições do Estado, acostumá-las a prestar contas de seus afazeres e negócios. Por outro lado, e não menos importante, é necessário melhorar a qualidade de nossas instituições de ensino, assim como reforçar seu caráter democrático e plural, lutando para que sejam orientadas a criar homens e mulheres livres, em vez de "cidadãos" de uma "pátria" sem fissuras, ou das igrejas de consumo.

Não será possível até mesmo esperar que cada profissional se forme visando a melhoria de seu próprio desempenho nos quadros de uma forma de vida mais autêntica? Espero que a vitória de Aécio Neves nos dê um choque de realidade.

José Arthur Giannotti, 84, é professor de filosofia da USP e pesquisador do Cebrap. Acaba de lançar o e-book "A Política no Limite do Pensar" (Companhia das Letras)

Merval Pereira: A disputa no Rio

- O Globo

Pesquisa do Instituto GPP que circulou ontem entre os líderes políticos do Rio dá um empate técnico na eleição presidencial no estado, com a presidente Dilma Rousseff com 45% e Aécio Neves com 42%. A disputa pelos votos do Rio de Janeiro, o terceiro maior colégio eleitoral do país, é um dos pontos mais sensíveis deste segundo turno da campanha, com a presidente Dilma buscando recuperar os votos que perdeu no estado, e Aécio Neves tentando ampliar sua votação para reduzir a diferença nacional para a candidata do PT.

Em 2010, Dilma teve 43,8% dos votos no 1º turno, e agora recebeu 35%. A candidata do PSB, Marina Silva, ficou com 31% dos votos, a mesma votação da eleição presidencial anterior. E Aécio Neves, com 27%, aumentou a taxa de votos do PSDB, que foi de 22,5% na eleição de 2010. A reorganização das alianças políticas está fazendo com que o governador Pezão saia na frente, pois conseguiu a adesão de um grupo importante do PT regional, para dar apoio à presidente Dilma, ao mesmo tempo em que seu grupo no PMDB e nos partidos aliados aumenta a ação a favor do candidato Aécio Neves.

De um lado, o movimento Dilmão, de outro, o Aezão, e o governador procura se equilibrar entre os dois. A ala do PT liderada pelo prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, uniu-se ao grupo de líderes do PMDB que reúne o próprio governador; o prefeito do Rio, Eduardo Paes; o presidente da Alerj, Paulo Melo (PMDB); e o secretário-geral do PMDB no estado, Carlos Alberto Muniz, para neutralizar não apenas o Aezão, como também o apoio do senador Lindbergh Farias e seu grupo do PT ao candidato do PRB Marcelo Crivella, que disputará com Pezão o segundo turno.

A votação desta eleição foi muito mais equilibrada do que a anterior, quando a presidente Dilma Rousseff teve uma vitória com cerca de 1,8 milhão de votos à frente do PSDB. Hoje, sua diferença ficou em cerca de 700 mil votos, e estaria sendo reduzida. Uma análise da votação pelos municípios do Rio mostra bem a vantagem que o governador Pezão tem mantendo os pés nas duas canoas : ele venceu em 66 municípios, enquanto Garotinho venceu em 24, e Crivella, em apenas dois (Belford Roxo e Macaé). Esses números mostram também por que Crivella precisava fazer um acordo político com Garotinho, o terceiro colocado.

Apesar do alto índice de rejeição, Garotinho tem muito mais penetração no interior do estado que Crivella. Na eleição presidencial, Dilma venceu em 53 municípios, e Aécio em 25, enquanto Marina ganhou em 15, mas com grande eleitorado, como a capital e a Região dos Lagos, além de Volta Redonda. O grupo que apoia o Aezão tem dois coordenadores: Jorge Picciani, do PMDB, e Francisco Dornelles, do PP, candidato a vice de Pezão. Eles estão tentando localizar o eleitor típico de Marina, mas consideravam essencial para o trabalho de converter os votos dos "marineiros" para Aécio o apoio formal da candidata Marina Silva, que deve ser concretizado hoje.

Ontem, foi a vez de a maioria do PSB forçar um apoio a Aécio que estava sendo rejeitado pela direção do partido, controlada por Roberto Amaral, muito ligado ao PT. O ex-ministro de Lula perdeu a condição de presidir o PSB, e provavelmente será substituído por Geraldo Julio, o prefeito de Recife. O PSB pernambucano liderou a marcha do partido em favor de Aécio, e também hoje Renata, a viúva de Eduardo Campos, deve dar o apoio formal da família à candidatura oposicionista, depois de ter manobrado nos bastidores para conseguir a adesão do partido. Ontem, ao agradecer a decisão da direção do PSB, Aécio repetiu a frase de Eduardo Campos que se transformou em um lema depois de sua morte: "Não vamos desistir do Brasil", disse ele na sua última entrevista, ao "Jornal Nacional", um dia antes de morrer no desastre de avião em São Paulo.

Dora Kramer: Caixinha de surpresas

- O Estado de S. Paulo

Quem diria que um dia o PT reconheceria uma derrota sem jogar a culpa no colo do vizinho. A presidente Dilma Rousseff calçando as sandálias da humildade em público também é uma cena inédita.

O efeito do fracasso retumbante em São Paulo, a inesperada votação de Aécio Neves, o desempenho nacional de Dilma aquém do previsto e o custo da falta de escrúpulos exibida nos ataques contra Marina Silva pode ser que dure pouco e essa suavidade toda seja mera estratégia de João Santana, que anuncia uma campanha sem ataques para os próximos dias.

Dissimula ou exagera, até porque a altercação é inerente ao embate. Só não precisa ser desleal nem de baixo calão. Seja como for o desenrolar, o início deste segundo turno mostra um PT desprevenido e um PSDB revigorado. De maneira surpreendente para um partido que não se notabiliza pelo vigor na hora da luta e que teria jogado a toalha não fosse a persistência do candidato.

O resultado deu o primeiro lugar ao PT e, em tese, isso deveria dar gás ao partido uma vez que, historicamente, não se tem notícia de viradas no segundo turno; quem ganhou no primeiro até hoje levou a taça na final. Ocorre que esta eleição está desmentindo antigas escritas.

Uma delas: a vitória mais do que certa de Aécio Neves em Minas Gerais. Há várias explicações para o revés: o tucano descuidou da terra natal, achou que ganharia por gravidade, errou na escolha do candidato a governador e até mesmo houve confusão no eleitorado porque o petista Fernando Pimentel até outro dia mesmo era um aliado de Aécio.

Mas não interessa, perdeu. Para sorte dele, o PT perdeu tão feio em São Paulo, Pernambuco (terra de Lula) e teve baixas importantes no Congresso que essa derrota ficou em segundo plano. Os tucanos saíram em segundo lugar com jeito de vencedores e os petistas com ar de perdedores. Contribui para o ar triunfal da reestreia do PSDB o chamado "adensamento do entorno".

Rapidamente, já nos primeiros dias, ficou claro que a oposição conseguiria acrescentar novos apoios. Marina Silva sinalizou no domingo, seus aliados da Rede se manifestaram no mesmo sentido, a maior parte do PSB tomou o mesmo rumo, o PPS acompanhou, o grupo dos evangélicos manifestou tendência majoritária e Eduardo Jorge, sucesso entre a juventude, posicionou o PV no campo da oposição.

O governo contou com a declaração de voto de Luciana Genro do PSOL, assistiu ao PMDB reeditar a divisão, mas também terá ao seu lado um exército de 24 governadores eleitos ou candidatos ao segundo turno. Assim que despertar do nocaute, ninguém se iluda, sairá ao combate munido de punhos de aço e sem a pele de cordeiro que agora pode levar à ilusão de que vai se conformar em morrer na praia.

Vacina. Apesar de ter contado com todas as vantagens de ser governo e chegado ao segundo turno em primeiro lugar, o PT já tem pronta a alegação de que não concorre na etapa final em igualdade de condições com o PSDB.

Argumento: nunca, desde Getúlio Vargas, um governo enfrentou a oposição dos meios de comunicação como agora. Ou seja, em caso de derrota, não foi o eleitor quem decidiu, mas a chamada mídia que induziu. Equivale a dizer que houve a mesma indução quando o PT ganhou.

Os duelistas. Se quiser fazer um embate à altura com os tucanos no campo da economia, a campanha de Dilma vai precisar escolher melhor os debatedores. Até agora foram escalados os ministros Guido Mantega e Aloizio Mercadante para enfrentar a turma do Plano Real aliada a Aécio e liderada por Armínio Fraga.

Mantega passou os últimos quatro anos fazendo previsões otimistas reiteradamente desmentidas pelos fatos e está demitido. Mercadante foi quem aconselhou o PT, quando do lançamento do Plano, a apostar que o Real estava fadado o fracasso.

Jarbas de Holanda: Dilma radicalizará ainda mais ante onda de mudança com Aécio

Deixando de lado, ou ignorando, a necessidade de respostas à piora dos vários indicadores da economia com algum gesto crível destinado a conter ou ao menos reduzir o grande desgaste do governo junto ao mercado, interno e externo (como a “Carta aos Brasileiros”, que atenuou significativamente o re-ceio do empresariado com a candidatura de Lula em 2002), ao invés de uma inflexão nesse sentido a campanha reeleitoral da presidente Dilma Rousseff no 2º turno deverá reagir ao fortalecimento da do oposicionista Aécio Neves por meio de radicalização da retórica, ideológica “pobres contra ricos”’ ainda maior do que a utilizada ao longo do embate do 1º turno. Retórica que havia sido preparada para o enfrentamento do tucano mas foi reorientada para a “desconstrução” de Marina Silva, convertida em “neoliberal”, instrumento servil dos banqueiros, ame-aça ao Bolsa Família e demais programas assistencialistas. E retórica que, com grau de credibilidade diminuído pela troca de alvo, será intensificada contra Aécio. Com previsível associação, central na campanha governista no horário “gratuito”, a pesados ataques pessoais, voltados à desqualificação ética do adversário. Outro ingrediente da radicalização esquerdista - agressivas manifestações de rua de “movimentos sociais” como o MST e o MTST e de sindicalistas da CUT - deverá ser posto em prática, embora dificultado ou restringido pelo desgaste político e social do petismo nos grandes centros urbanos.

A radicalização social mais intensa será também a arma básica da candidata Dilma para contrapor-se a Aécio no debate, que agora de imporá, dos problemas da economia (inflação oficial já além do limite de tolerância da meta; PIB próximo de zero, com forte queda dos investimentos e do emprego industrial; aumento do déficit comercial do país; agudo descontrole das contas públicas), bem como dos escândalos de corrupção na Petrobras e em vários órgãos e empresas da União. Os quais ela tentará compensar, ou banalizar, com acusações do mesmo caráter ao governo FHC, ao “cartel do Metrô” de São Paulo, à construção e ao uso do aeroporto mineiro de Cláudio. Mas a atualidade, a frequência e a diferença de escala dos escândalos ligados ao petismo, a partir do mensalão, vão debilitar muito esse contra ataque, que poderá ser esvaziado inteiramente por possíveis revelações adicionais sobre a delação premiada de Paulo Roberto Costa e novas sobre a que está sendo feita por Alberto Yousseff.

Os entendimentos para o apoio de Marina Silva a Aécio, desencadeados pelo PSB pernambucano da família de Eduardo Campos e do governador eleito Paulo Câmara, serão concluídos formalmente ama-nhã numa entrevista coletiva da própria Marina Silva. À qual deverá seguir-se um encontro dela com o candidato tucano. Outro passo expressivo nesse sentido: a aliança formalizada ontem no Rio Grande do Sul entre as candidaturas de José Ivo Sartori (do PMDB local pró-Marina) ao governo do estado, e a presidencial de Aécio, para embate com os petistas Tarso Genro e Dilma Rousseff. Aliança que envolveu a adesão a Sartori de sua adversária no 1º turno, Ana Amélia, do PP, bem como do PSDB gaúcho. E um dos partidos da coligação de Marina, o PPS, já manifestou apoio a Aécio. O que também é esperado do PV de Eduardo Jorge.

Bolsa, dólar e o PIB. O mercado financeiro segue nesta quarta-feira apostando na mudança da política econômica. O que é reforçado pelas informações do conjunto da imprensa sobre o preparo do apoio de Marina Silva a Aécio Neves. E antecipa a expectativa de avanço do candidato oposicionista em pesquisas sobre o 2º turno com divulgação esperada para hoje à noite e amanhã. A Bovespa volta a se reaproximar dos 58 mil pontos, puxada pelo salto das ações das Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil, que recuperam parte dos enormes prejuízos sofridos nos últimos meses. De par com nova queda da cotação do dólar – outro indicador da aposta em tal mudança. Enquanto isso, com grande repercussão no conjunto da mídia, o Panorama Econômico Mundial, do FMI,, divulgado ontem, reduziu a previsão do PIB/2014 do Brasil de 1,3% para 0,3%. Na América do Sul, acima apenas das relativas à Venezuela, de -3,7%, e à Argentina, de -1,7%. Previsão que inclui a de aumento do desemprego em 2015 para 6,1%.

Jarbas de Holanda é jornalista

Eliane Cantanhêde: Humores da largada

- Folha de S. Paulo

Antes mesmo do Datafolha e do reinício da propaganda na TV, nesta quinta (9), uma constatação óbvia é que o tucano Aécio Neves sai na frente da petista Dilma Rousseff no segundo turno.

A campanha está só começando e tudo pode mudar, mas Aécio conquistou apoio do PSB, da futura Rede e do PPS (da coligação de Marina Silva), do PV de Eduardo Jorge e do PSC do Pastor Everaldo, enquanto deputados do PMDB ameaçam se rebelar contra o PT. Do outro lado, Dilma só colheu um terço do apoio de Luciana Genro (PSOL), que acenou com "nulo, branco ou Dilma".

Na expectativa dos tucanos, Marina vai apoiar Aécio hoje, levando o voto de Renata, João e Antônio Campos. Aécio e Dilma disputam particularmente Pernambuco, onde ela teve 44%, e ele, 6%, o seu menor percentual do primeiro turno, mas quem ganhou ali foi Marina Silva, com 48%, graças à força de Eduardo Campos.

Comparem-se também as primeiras reuniões dos dois polos. A de Dilma, na terça (7), foi a portas fechadas, em tom grave e cometeu a indelicadeza, ou o erro tático, de excluir os derrotados. Onde estavam Alexandre Padilha, Gleisi Hoffmann, Agnelo Queiroz? Onde estava Eduardo Suplicy, que dedicou a vida ao PT?

A de Aécio foi uma grande festa com os vitoriosos de São Paulo e do Paraná ao lado de vencidos do PSDB e de aliados de Minas, Bahia, Rio Grande do Sul. Não foi uma reunião de trabalho no Centro de Convenções, como a de Dilma. Foi um grande palanque no Memorial JK, que remete a um mineiro, como Aécio, e que ainda hoje é um dos presidentes mais populares do país, um símbolo de modernidade.

Para completar, houve um festival de notícias ruins para o PT nesta quarta: inflação fora da meta, metralhadora giratória na CPI da Petrobras, depoimentos de doleiro e do tal ex-diretor Paulo Roberto em Curitiba. Sem falar num avião esquisito, cheio de dinheiro e mistério. Bom para a candidata Dilma nada disso é.

Luiz Carlos Azedo: Aécio à frente de Dilma

• Hoje, serão divulgados os resultados de novas pesquisas, que deverão confirmar o avanço de Aécio. A expectativa é de que o horário eleitoral recomece com os candidatos evitando o confronto direto

Correio Braziliense

O candidato do PSDB, Aécio Neves, disparou na frente da presidente Dilma Rousseff (PT), na virada do primeiro para o segundo turno, confirmando a tendência de ascensão que havia registrado no dia da votação do primeiro turno, isto é, no domingo passado. Tanto os trackings das campanhas eleitorais como as pesquisas de opinião já registram essa tendência, na qual Aécio teria de 52% a 56%, e Dilma, de 44% a 48%. As pesquisas mostram também a elevação da rejeição a Dilma Rousseff, acima de 40%, enquanto o tucano estaria com pouco mais de 30%.

O resultado dessa nova correlação de forças foi a ampliação dos apoios ao tucano. Governadores eleitos do PMDB, como Paulo Hartung (ES), e do PDT, Pedro Taques (MT), embarcaram na campanha de Aécio. No Senado e na Câmara, a rebelião na base governista também não é pequena. O senador capixaba Ricardo Ferraço (PMDB), em debate no plenário do Senado, aparteou o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que ressaltava o apoio da legenda a Dilma Rousseff, para dizer que parte da bancada de senadores do partido está com o tucano. A bancada da Câmara também está muito dividida.

Os candidatos a presidente Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV) anunciaram a adesão à candidatura tucana ontem. O PSB também decidiu ir de Aécio, embora tenha liberado dois diretórios regionais para apoiarem Dilma Rousseff, casos da Paraíba, onde o socialista Ronaldo Coutinho enfrenta o tucano Cássio Cunha Lima, e do Amapá, onde o PT apoia a reeleição de Camilo Capiberibe (PSB).

A Rede, de Marina Silva, não vai se posicionar oficialmente porque está muito dividida, mas o apoio da candidata do PSB é esperado para hoje. Dilma tinha a expectativa de receber apoios do PSB, mas fracassou. A candidata do PSol à Presidência da República, Luciana Genro, também anunciou que a legenda não apoiará a presidente da República. “Vamos seguir lutando para mudar o Brasil: Dilma não nos representa. Nenhum voto em Aécio”, divulgou o PSol, no Twitter.

Trem fantasma
Enquanto as pesquisas parecem até uma montanha-russa para os candidatos, nos bastidores da campanha eleitoral também existe uma espécie de trem fantasma. O mercado financeiro repercutiu, na manhã de ontem, os comentários do marqueteiro de Dilma Rousseff, João Santana, durante a reunião com aliados, segundo os quais a campanha petista teria um arsenal guardado para usar contra Aécio. O boato de que haveria uma denúncia contra o tucano fez a bolsa cair.

Em contrapartida, o assunto mais badalado à tarde era o suposto envolvimento de aliados do governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel, com lavagem de dinheiro. A Polícia Federal apreendeu R$ 116 mil em um avião no começo da noite de terça-feira. O piloto e o copiloto se recusaram a falar sobre o proprietário do bimotor prefixo PRPEG que transportava três ex-integrantes da campanha eleitoral do petista e o dinheiro. A aeronave está registrada como propriedade de uma pequena empresa de táxi aéreo. Não se sabe também a origem da grana apreendida.

Hoje, serão divulgados os resultados de novas pesquisas, que devem confirmar o avanço de Aécio. A expectativa é de que o horário eleitoral recomece com os candidatos evitando o confronto direto. Mas o PT vai explorar a comparação de indicadores dos governos petistas com o governo tucano de FHC.

No encontro de ontem, com grande número de congressistas no Memorial JK, em Brasília, Aécio ensaiou o discurso que pretende adotar para evitar a pecha de elitista que pretendem lhe impor. Afirmou que, caso seja eleito, será o presidente dos “brasileiros mais pobres”.

O tucano criticou o que considera uma “visão perversa” dos governistas: “Eu não serei presidente de apenas um estado da Federação, serei o presidente de todos os brasileiros e, principalmente, daqueles que mais precisam da ação do Estado. Serei o presidente dos brasileiros mais pobres, por mais que a lideranças do governo, o marketing da campanha oficial, continuem com essa visão perversa de política de Brasil, querendo sempre dividir entre ‘nós’ e ‘eles’”, disse Aécio.

César Felício: A navegação no preconceito

• Denúncia do discurso xenófobo vira arma petista

- Valor Econômico

O nordestino é um venal, que busca o governismo para usufruir de maneira parasitária da estrutura do Estado, indiferente a questões morais. Isolado em sua ignorância, distante de fontes de informação, não consegue enxergar além da própria sobrevivência.

O paulista é um ser contaminado pelo ódio aos diferentes e pelo preconceito em todas as suas formas, que se sustenta em um sentimento de superioridade intelectual em relação ao resto do país. Defende a desigualdade como uma manifestação de darwinismo social. Entra em êxtase quando consegue estabelecer ambientes segregados.

A julgar pela discussão que se desenvolve nas redes sociais da Internet, a este deserto mental chegamos no início da disputa eleitoral do segundo turno. Há um esforço das militâncias de transferir a agressividade entre os candidatos para seus eleitores. Se Aécio Neves inexiste para o eleitor nordestino, a culpa é dos votantes. Se Dilma foi humilhada pelas urnas em São Paulo, o eleitor é que não presta.

Por enquanto, é o PT que tem sabido capitalizar esse ambiente de boçalidade eletrônica. O perfil de Dilma Rousseff no Facebook postou uma mensagem na rede social em que a presidente afirma: "Foi de um nordestino que recebi um Brasil menos desigual. Lula mudou o país para melhor".

Já o ex-presidente, na terça-feira, sentenciou no seu perfil: "Lamentável o preconceito que vem à tona depois de um processo democrático tão importante, como as eleições no último domingo. É um absurdo que o Nordeste e os nordestinos sejam caracterizados como ignorantes ou desinformados".

Lula e Dilma deixam em aberto se estão se referindo a internautas anônimos que atacaram o Nordeste e seus eleitores nos últimos dias ou se fazem referência velada à entrevista dada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao portal UOL, em que o tucano e sociólogo disse que o voto típico do PT é o dos menos informados, "que coincide de ser o dos mais pobres". Mas o movimento político tem propósito claro.

"O PT já percebeu que terá muita dificuldade de crescer sua votação em São Paulo no segundo turno e está mirando no eleitor de Marina Silva no Nordeste, sobretudo o de Pernambuco", opinou Gaudêncio Torquato, cientista político e potiguar radicado em São Paulo desde 1967. Não por acaso Dilma resgatou a origem nordestina de Lula, que chegou de Pernambuco a São Paulo aos sete anos de idade e só não morou no Estado durante os anos em que foi presidente. Do mesmo modo, Aécio dificilmente chegará onde pretende se não passar a existir na região.

Dentro dessa estratégia a vitimização interessa duplamente, não apenas para motivar um voto bairrista no Nordeste como para desqualificar como preconceito o antipetismo evidente nos eleitores das regiões Sul e Sudeste, sobretudo dos eleitores de São Paulo.

Ainda um fenômeno a ser estudado, o antipetismo parece ter sido vitaminado por uma desinibição do sentimento conservador nos grandes centros, já detectado no ano passado por especialistas, por ocasião das grandes manifestações de junho.

Ele mostrou toda a sua exuberância nas redes sociais nos dias que antecederam a eleição. Segundo o monitoramento feito pela empresa de consultoria A2C, no dia 1º de outubro foram feitas 106,5 mil menções nas redes sociais a Dilma, sendo 72% negativas e 3.850 delas eram com a "hashtag" "Fora PT". No dia 4, véspera da eleição, foram 185,4 mil menções, 80% negativas e 11,5 mil usando o "Fora PT".

"Nas redes sociais, o grande tema político do ano é o PT, mais que qualquer outro candidato. E as menções antipetistas são muito superiores em quantidade às favoráveis ao partido", disse o diretor da consultoria, Ricardo Almeida. Apesar da virulência contra o partido, poucas foram as menções desabonadoras à solidez nordestina da candidatura de Dilma. "Este tema apareceu na rede com força hoje [ontem] e há muito mais petistas reagindo aos ataques do que manifestações de preconceito sendo feitas, o que é um perfil típico de ações organizadas na rede", disse Almeida.

O antipetismo em São Paulo não surpreende, uma vez que a eleição presidencial de 2002 foi a única a colocar o partido no primeiro lugar no Estado que é o berço do PT. Deriva de um conservadorismo ancestral, que marcou em 1955 e 1960 vitórias acachapantes na eleição presidencial em São Paulo para Adhemar de Barros e Jânio Quadros. Algo que talvez tenha surgido de uma sociedade com baixa dependência do Estado e com a proeminência de uma classe média de pequenos empreendedores, que, no mundo inteiro, é avessa a mudanças sociais.

Não é de se estranhar que este caldo de cultura tenha feito o racismo e a xenofobia florescer. Como do mesmo modo já se tornou tradição usar a carta da vitimização.

Há quatro anos, uma estudante de direito de família no interior paulista, Mayara Petruso, pregou no Twitter o afogamento dos nordestinos. A moça, filha de um dono de supermercado, estava indignada com a vitória de Dilma no segundo turno da eleição presidencial. Foi processada, condenada a serviços comunitários e ao pagamento de uma multa de R$ 500.

Quatro anos antes, em comício no Farol da Barra em 6 de outubro de 2006, era o presidente Lula, então candidato à reeleição, que açulava o antagonismo em um dos atos inaugurais da campanha do segundo turno naquele ano contra o paulista Geraldo Alckmin: "Para os adversários, os nordestinos só servem para ser pedreiros. Alckmin quer conquistar os votos dos nordestinos que moram em São Paulo, mas lá eles só servem para servente de pedreiro. Ele não sabe que, além de pedreiros, os nordestinos querem ser engenheiros".

Se a manipulação que o PT faz sobre o tema funciona, é porque o preconceito realmente existe. E na hora de se lançar a carta do ressentimento sobre a mesa, sempre é possível mandar prender os suspeitos de sempre. No submundo da internet, não faltarão os que se prestam para este papel.