quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Opinião do dia: Roberto: Roberto Freire

Além do reencontro histórico com a esquerda democrática e os projetos comuns, um dos argumentos fundamentais para o PPS apoiar a candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva foi que isso ajudaria a viabilizar o segundo turno das eleições. E, evidentemente, que, se nós é que fôssemos para o segundo turno, Aécio nos apoiaria. O fundamental é derrotar o governo do PT para o bem do país. Lutamos para que a nossa candidata fosse para o segundo turno. Não chegando, e o outro candidato sendo Aécio, com a maior naturalidade apoiamos a candidatura. Não teve nenhuma voz dissonante. A sociedade deu um recado claro nas urnas contra o governo. Defendemos a união das oposições para derrotar o lulopetismo.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, em entrevista logo após a reunião da Executiva nacional do PPS. O Globo, 8 de outubro de 2014.

Mantega usa tática do medo contra PSDB na economia

• Mantega falta à reunião do FMI e, ao lado de Dilma, diz que programa tucano causará desemprego

Fernanda Krakovics, André Coelho, Martha Beck, Simone Iglesias e Luiza Damé – O Globo

BRASÍLIA - Depois de desconstruir Marina Silva (PSB) no primeiro turno, a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff investe agora em uma campanha do medo contra seu atual adversário Aécio Neves (PSDB). O ministro Guido Mantega (Fazenda), que cancelou viagem a Washington e deixou de participar da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), a pedido da presidente, afirmou que a política econômica defendida pela oposição causará desemprego e cortes em programas sociais, além de poder provocar uma recessão. Já a presidente, classificou ontem como "fantasmagórica" a situação do Brasil no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

- O que nós temos é a possibilidade de uma política conservadora neoliberal. É uma volta ao passado. A oposição só pensa em política monetária e fiscal austera. Aumentar o superávit primário (economia feita para o pagamento de juros da dívida pública), se for muito forte, será cortar os programas sociais. Eu desconfio que tem gente que gostaria de cortar os programas sociais. Isso vai aumentar desemprego. Política tradicional. Vai ter desemprego alto (&) É a volta ao passado que eu acredito que a população brasileira não vai querer - afirmou Mantega.

Os repórteres pediram que o ministro explicasse qual a diferença entre a política fiscal mais austera defendida pela oposição e a prometida pela atual equipe econômica para 2015, que projeta uma elevação do superávit primário para 2% a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Mantega disse que o discurso da oposição se tornou mais suave depois que ele próprio começou a apontar que haveria choque na economia:

- A oposição tinha um discurso de ajuste fiscal forte, e depois eu vi que houve uma mudança sutil. Eu tenho certeza que a nossa política fiscal é diferente da defendida pela oposição.

Programas sociais sem escala
Numa referência a Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, escolhido por Aécio como seu futuro ministro da Fazenda, se eleito, Mantega disse temer que a tentativa de derrubar a inflação no país seja feita com um choque de juros, o que prejudicaria o crescimento.

- Me preocupa muito que o mesmo gestor da política monetária possa voltar e vá querer derrubar a inflação com um choque monetário como foi feito no passado. Uma taxa de juros dessa magnitude acabaria com o mercado imobiliário porque ninguém vai querer investir em imóveis, pois vai ter um lucro tranquilo aplicando em títulos públicos. Vai ser uma maravilha. Ninguém vai querer trabalhar. Ninguém que tem dinheiro, naturalmente. Você vai provocar uma recessão da economia - disse o ministro.

A presidente reforçou a artilharia econômica:

- Do governo anterior, do Itamar (Franco), até o final do deles (tucanos), dobraram a dívida. As reservas deles eram de US$ 37,8 bi. Desses, US$ 20 bi eram empréstimos, portanto US$ 17,8 bi eram reservas mesmo. A situação do Brasil era fantasmagórica, não é retórica. A situação social também era ruim - disse Dilma, em reunião com governadores e senadores da base aliada eleitos domingo.

A presidente, que também comparou taxa de desemprego e poder de compra do salário mínimo, disse que as políticas sociais dos tucanos têm dimensão de "projeto piloto", porque, segundo ela, o Bolsa Escola atendia 5 milhões de pessoas e o Bolsa Família atinge 50 milhões. Dilma afirmou que "a escala faz toda a diferença".
- O mais dramático disso tudo é que o outro projeto simplesmente não fez políticas sociais e quando fez, fez em pequena escala, não compatível com a dimensão do país - argumentou Dilma, na reunião, que foi fechada à imprensa.

Após o encontro, Dilma ainda ironizou Aécio, em entrevista coletiva, pela derrota em Minas, seu reduto eleitoral, onde foi governador duas vezes. A presidente disse quem a conhece votou nela.

- Fiquei muito feliz por ter ganhado no meu estado natal (Minas). E no Rio Grande do Sul (onde fez sua carreira política) eu também tive boa votação. Então quem me conhece votou em mim - disse a presidente.

Sobre sua derrota em São Paulo, inclusive no ABC paulista, berço do PT, a petista não quis arriscar um diagnóstico ao ser perguntada:

- Minha querida, meu diagnóstico é assim simples: eu não tive voto. Não tem diagnóstico mais simples e humilde.

Ainda na ofensiva contra a oposição, a presidente classificou como "lamentável e elitista" a declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) de que o PT cresceu nos grotões e que tem os votos dos "menos informados":

- Eu acho lamentável, porque é uma visão elitista do país. (&) Escutei ao longo da minha vida que o povo não sabia votar. Quando achavam que o povo não sabia votar, não tinha eleição. Essa história de que o povo não sabe votar porque não estudou em uma universidade é uma falácia.

Durante a reunião, o marqueteiro João Santana fez uma exposição sobre as estratégias da campanha para o segundo turno. Ele considerou como ponto negativo o desempenho da candidata à reeleição em São Paulo. Santana reconheceu que a diferença grande de votos entre ela e Aécio não era esperada. O marqueteiro pediu aos aliados que demarquem bem a diferença entre PT e PSDB.

- Aécio é candidato da elite - disse Santana de acordo com participantes do encontro.

Ele também avaliou que o tucano precisa tirar uma diferença muito grande de Dilma para vencer a eleição.

- Um candidato que sai com oito milhões de votos atrás do primeiro colocado tem forte dificuldade de buscar a liderança, e somos um governo com muitas e grandes realizações. Só conseguiria se fosse um fenômeno e Aécio não é um fenômeno - afirmou Santana na palestra aos participantes.

Conquistar votos de Aécio
O marqueteiro também acha possível conquistar votos dados a Aécio no primeiro turno, porque entende que muitos eleitores decidiram migrar de Marina para o tucano, sem muita convicção, na reta final da disputa.

De acordo com participantes da reunião, ele tentou injetar ânimo, dizendo que não é verdade a versão corrente de que quem vai para o segundo turno de virada, como Aécio, vence a eleição. Depois da reunião, Santana disse aos jornalistas que fará uma campanha demarcando claramente as diferenças entre os governos petistas e tucanos:

- Será uma campanha mais propositiva, uma campanha a favor de Dilma e não contra Aécio.

Questionado se terá muita pancadaria contra o tucano, respondeu:

- Pra que? Não precisa.

FMI reduz de 1,3% para 0,3% previsão para o PIB do Brasil este ano

FMI piora projeções para Brasil em 2015

• Brasil amarga maior corte nas previsões de crescimento. Fundo aponta fatores internos

Flávia Barbosa – O Globo

WASHINGTON, RIO e BRASÍLIA - Estagnado, sob a incômoda nuvem da recessão técnica do primeiro semestre de 2014, o Brasil enfrentará em 2015 um período pós-eleitoral repleto de desafios econômicos. Considerando "relativamente fraca" a perspectiva de crescimento do país, que caminha "abaixo da capacidade potencial de médio prazo" devido à crise de confiança de empresários e consumidores, ao aperto dos juros para combater a inflação e aos gargalos estruturais que afetam a competitividade, o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou ontem a estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem, de 2% para 1,4%, revisão de maior magnitude entre as principais economias do planeta.

A projeção consta do último relatório trimestral Panorama da Economia Mundial, divulgado ontem, às vésperas do encontro anual do FMI, na sexta-feira e no sábado. Para este ano, o Fundo ceifou a previsão de expansão brasileira em 1 ponto percentual, para 0,3%, também a maior redução registrada. O mercado financeiro, segundo o boletim semanal Focus, do Banco Central (BC), prevê 0,24% em 2014 e 1% no ano que vem. Embora muito cauteloso, o vice-diretor de Pesquisas do Fundo, Gian Maria Milesi Ferretti, não descartou a possibilidade de o Brasil viver uma recessão no conjunto de 2014.

A recuperação em 2015 dependerá muito da resolução da incerteza política associada à eleição presidencial. O conjunto de ações a serem implementadas pelo novo governo será determinante para reanimar os investimentos, a geração de empregos, o crédito e o consumo das famílias, que movem o PIB. O FMI acredita que os juros altos, que elevam o custo de financiamentos e empréstimos, continuarão a travar o crescimento por algum tempo, dada a persistência das pressões inflacionárias.

- É um panorama de crescimento modesto, claramente abaixo da capacidade potencial de crescimento do Brasil a médio prazo - afirmou Ferretti. - Queremos focar, em vez de se o crescimento é de mais ou menos 0,1%, na perspectiva geral de crescimento, e esta permanece relativamente fraca para o Brasil. Esperamos que a resolução da incerteza política e uma inflação mais controlada pela política monetária ajudem na recuperação da confiança, favorecendo a retomada da atividade econômica.

Para o diretor do Centro de Economia Mundial da FGV e ex-presidente do BC, Carlos Langoni, a projeção de expansão de 1,4% da economia brasileira em 2015 pode ser considerada até otimista:

- O próximo governo terá que enfrentar o desafio da estagflação, que é uma situação de baixo crescimento com inflação elevada.

Ferretti advertiu que o cenário externo - com, entre outros fatores, menor demanda global por Commodities - já não é tão favorável ao Brasil. Mas ele frisou que não se pode culpar o cenário internacional pelo desempenho desapontador do país:

- Os termos de troca ainda continuam fortes. Nós achamos que as principais fraquezas realmente vêm de fatores domésticos.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou ontem a imprensa para rebater as projeções do FMI, que considerou pessimistas. Ele, que cancelou a ida à reunião do Fundo por causa do segundo turno das eleições, ressaltou que o mundo inteiro enfrenta baixo crescimento, já que o relatório reduziu a estimativa para a expansão global de 3,7% para 3,3%:

- A estimativa de 0,3% me parece um pouco pessimista por parte do Fundo. Daqui a um mês, quando tivermos a reunião do G-20, eles podem alterar essas previsões. No Brasil, tivemos um primeiro semestre mais fraco, mas, no segundo, estamos observando um crescimento maior.

Mantega atribuiu o fraco desempenho da economia à política monetária contracionista do BC para conter a inflação. Ele manteve em 0,9% a projeção de crescimento para este ano, afirmando que as recentes ações para incentivar o crédito, como a redução do compulsório, estão surtindo efeito.

O ministro admitiu que existe hoje um problema de confiança no Brasil, mas ressaltou que isso se repete no resto do mundo em função do baixo crescimento. Segundo Mantega, aqui o cenário se agrava em função das eleições:

- No fim do ano haverá retomada da confiança.

Recessão na Argentina e na Venezuela
Há ainda o risco global da alta dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o BC americano), esperada para meados de 2015. Se mal comunicada, pode-se repetir a turbulência registrada no ano passado.

- Com o cenário internacional, nosso crescimento dependerá do ambiente interno. E o cenário de 2015 será muito desafiador: será preciso administrar uma economia com alguma desvalorização cambial, que afeta a inflação, ao mesmo tempo em que se estimulam investimentos. Seja qual for o governo, terá um abacaxi pela frente - afirmou o professor do Instituto de Economia da UFRJ Luiz Carlos Prado.

O professor do Instituto de Economia da Unicamp Pedro Rossi, por sua vez, afirmou ser possível crescer acima de 2% em 2015, desde que o ajuste fiscal não seja tão grande:

- Com a economia ainda desaquecida, não é o momento de um grande ajuste fiscal. O indicado seria mais uma arrumação das contas públicas, via transparência.

Seja qual for a mudança na política econômica, o país deve enfrentar pelo menos dois anos de crescimento baixo, segundo o economista Joaquim Elói Cirne de Toledo:

- Não se pode fazer ajustes muito bruscos, já que a economia brasileira é um transatlântico. É um processo gradual para aumentar paulatinamente a taxa de investimento.

A forte revisão dos números brasileiros teve impacto significativo na projeção para a América Latina, que caiu de 2% para 1,3% este ano e de 2,6% para 2,2% em 2015. Dois países terão recessão neste ano e em 2015: para a Argentina, projeta-se retração de 1,7% e 1,5%, e, para a Venezuela, de 3% e 1%.

Inflação oficial em 12 meses sobe a 6,75%, a maior desde outubro de 2011

• Puxado por alimentos, que ficaram mais caros após três meses em queda, IPCA subiu 0,57% em setembro

Clarice Spitz – O Globo

RIO - A inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrou alta de 0,57% em setembro, informou o IBGE nesta quarta-feira. Em agosto, o avanço havia sido de 0,25%. No acumulado em 12 meses terminados em setembro, o indicador avança 6,75%, o maior neste tipo de comparação desde outubro de 2011, quando subira 6,97%. No ano (entre janeiro e setembro), o índice já avança 4,61%.

A forte aceleração no acumulado em 12 meses, que havia ficado em 6,51% em agosto, veio acima do esperado pelo mercado. Segundo a Reuters, a mediana das projeções de analistas estava em 6,64%. Com o aumento, o IPCA se distancia muito do teto da meta do governo para a inflação, que é de 6,5%.

O avanço de setembro foi puxado pelo grupo alimentação e bebidas, que, após três meses em queda, registrou alta de 0,78% A categoria teve o maior impacto sobre o resultado, respondendo por 0,19 ponto percentual do índice. Entre as maiores altas, destacam-se a cebola, que subiu 10,17% e a farinha de mandioca, que avançou 2,52%. Já o tomate recuou 9,42%. Os alimentos são responsáveis pela maior parcela das despesas de consumidores.

Carnes têm o maior impacto
A alta na categoria foi influenciada pelo avanço no preço das carnes, de 3,17%. O resultado teve peso de 0,08 ponto percentual sobre o IPCA, o maior impacto individual sobre o índice. É a maior alta das carnes desde outubro de 2013, quando o grupo também avançou 3,17%. Eulina afirma que há uma combinação de razões para a alta do produto:

— Os pecuaristas argumentam que os pastos ainda estão secos por conta da seca do início do ano. Além disso, esse período do segundo semestre é de entressafra. O Brasil é o principal exportador de carne, a arroba do boi vem subindo desde o início do ano e os mercados estão favoráveis ao mercado brasileiro. Há ainda quem diga que há especulação.

Ela explica que não se pode dizer que a alta de alimentos é generalizada, já que produtos como tomate, batata e feijão carioca têm queda.

Passagens aéreas sobem mais de 17%
O segundo maior peso veio do grupo de transportes, que acelerou a alta de 0,33%, em agosto, para 0,63%, em setembro. O grupo teve impacto de 0,12 ponto percentual sobre o índice. O resultado foi influenciado pelos preços das passagens aéreas, que subiram 17,85% no mês, com uma contribuição de 0,07 ponto percentual. Já os combustíveis caíram 0,05%. O preço do litro da gasolina recuou 0,07% e o do etanol, -0,01%. A maioria das regiões teve queda nos preços de combustíveis. A exceção ficou por conta de Salvador, onde a gasolina ficou 10,98% mais cara e o etanol subiu 12,12%.

— Foi uma alta considerável, mais que dobrou o IPCA de agosto para setembro — afirma Eulina Nunes dos Santos, da Coordenação de Índice de Preços do IBGE.

No Rio, o grupo alimentação e bebidas sobe 9,86%. Segundo o IBGE, o cenário ainda é impactado por um prolongamento do efeito Copa do Mundo.

— Rio e São Paulo vêm sendo pressionados por alimentação fora de casa. Esse movimento de Copa propiciou aumentos — afirma Eulina.

Serviços aceleram
Os serviços aceleraram os preços em setembro. Em agosto tinham subido 0,59% e agora avançam 0,77%. A alimentação fora de casa acelerou de 0,71% para 0,81%. Já aluguel residencial passou de 0,66% em agosto para 0,57% em setembro. Nos últimos 12 meses, os serviços sobem 8,58%.

Já os itens administrados passaram de 0,50% em agosto para 0,40% em setembro. Nos últimos 12 meses, avançam 5,32%.

FMI alertou sobre inflação alta
Na terça-feira, o relatório trimestral “Panorama da Economia Mundial”, divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), mostrou que o Brasil foi a economia, entre as principais do planeta, com o maior corte na previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014. A expansão, projetada até então em 1,3%, caiu 1 ponto percentual, para apenas 0,3%, o que configura estagnação. O Japão teve revisão de 0,7 ponto, de 1,6% para 0,9%.

Segundo o organismo, a inflação continuará próxima do teto da meta em 2014 e 2015, “refletindo persistência inflacionária, constrangimentos de oferta e pressão reprimida de preços administrados”. Agora o FMI projeta a inflação ao consumidor em 6,3% em 2014 e em 5,9% em 2015, contra 5,9% e 5,5% respectivamente no relatório anterior.

Rede descarta apoiar Dilma, mas não se decide por Aécio

• Grupo de Marina Silva faz reunião para definir posicionamento no segundo turno; alas mais jovens resistem em aliança com o PSDB

Ana Fernandes e Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Marina Silva, que ficou em terceiro na disputa presidencial, encontra dificuldades de convencer a Rede Sustentabilidade de apoiar a candidatura do tucano Aécio Neves. Apesar da cúpula do seu projeto de partido já ter decidido que esse seria melhor caminho, dado o cenário atual, a base da Rede, em grande parte formada por pessoas mais jovens, ainda resiste em se aliar ao PSDB.

Em reunião da Executiva Nacional da Rede na noite dessa terça-feira, 7, que durou mais de quatro horas, o único consenso a que conseguiram chegar é que não há como apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). "A posição é pela não continuidade do atual governo. Nós queremos uma mudança, mas uma mudança qualificada, com conteúdo, com substância", disse o deputado licenciado Walter Feldman, que coordenou a campanha e é porta-voz nacional da Rede.

Feldman disse também que neutralidade não é uma opção, pois o grupo entende que a alternância de poder é algo fundamental à democracia e que o PT deu golpes muito duros ao atacar Marina durante a campanha e ao evitar a criação formal da Rede Sustentabilidade, no ano passado. "Não podemos deixar em aberto também, como se querer o PT fosse uma opção. Temos que tirar uma posição", afirmou.

Feldman admitiu que ainda há uma resistência forte à menção direta do nome do tucano, tanto que não foi possível colocar o nome de Aécio no documento indicativo que será levado da Executiva, composta por 24 membros, para o Diretório Nacional da Rede, de 120 membros, na reunião de hoje à noite. "A decisão não está madura para isso", avaliou Feldman. Além da Rede, os demais partidos que compuseram a coligação de Marina no primeiro turno também tiram suas posições individuais hoje para levar a uma reunião das lideranças da coligação nesta quinta-feira, 9.

Os principais argumentos de resistência ao tucano são a consideração de que o partido não sinaliza avanços na área social e o argumento de que os tucanos, assim como os petistas, trabalharam para desconstruir a imagem de Marina durante a campanha. Além da questão central de a coligação de Marina e a própria Rede terem se fundado no conceito de terceira via, contra a polarização tradicional de PT e PSDB.

Nos bastidores, membros da Rede ligados à cúpula marineira admitem que a demora em haver uma definição mais clara se deve aos processos internos de decisão - o grupo trabalha com o conceito de consenso progressivo, em que se chega às decisões por convencimento em torno de ideias e não por votação tradicional, mas que a tendência é a Rede acabar seguindo Marina no apoio ao tucano. "Há toda uma 'ritualística', mas é apenas uma questão de tempo o apoio ao Aécio", disse um membro da Executiva. Outros integrantes consultados pela reportagem indicaram que o objetivo é também conseguir sinais mais claros da candidatura do tucano de compromisso com os pontos centrais defendidos pelo programa de Marina - reforma política e propostas ligadas à sustentabilidade, educação e saúde.

Grupo de deputados do PMDB defende apoio a Aécio Neves

• Cerca de 40% do partido defendeu rompimento com o PT durante convenção da legenda

Fábio Brandt – O Estado de S. Paulo

Após Aécio Neves (PSDB) terminar o 1.º turno com mais votos do que esperado até por seus aliados, parte dos deputados reeleitos pelo PMDB tenta convencer a bancada do partido na Câmara, em reunião marcada para esta quarta-feira, 8 em Brasília, a declarar apoio ao tucano.

Esse grupo vai apresentar dois argumentos. O primeiro é de que ficou longe da unanimidade a entrada do PMDB na coligação da candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff. O outro é que, em seu primeiro mandato, a petista deu pouco espaço para os deputados do PMDB participarem do governo.

"A gente vai operar pesado pela mudança", afirmou Darcísio Perondi (PMDB-RS), que apoiou Marina Silva (PSB) no 1.º turno e já embarcou na candidatura tucana.

Michel Temer, atual vice-presidente da República, foi indicado em junho pelo PMDB para continuar como companheiro de chapa de Dilma neste ano com apoio de 60% da convenção da legenda, porcentual abaixo do esperado pela própria cúpula partidária. Os outros 40% defenderam o rompimento com o PT.

A ideia do grupo anti-PT é pelo menos equilibrar a divisão e já preparar a bancada para o caso de uma eventual vitória de Aécio. Para isso, esses rebeldes contam com o apoio de representantes dos Estados em que PMDB e PT foram adversários na eleição para governador, como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Goiás, entre outros. Nesta campanha, houve menos acordos regionais entre as duas siglas, na comparação com 2010.

Para os peemedebistas descontentes com Dilma, Aécio seria um presidente com melhor diálogo com o partido, já que tem experiência como deputado e exerce desde 2011 o mandato de senador por Minas. "Ele, inclusive, já presidiu a Câmara dos Deputados. Convive bem com o Senado. E terá mais facilidade para aprovar as reformas de que o País precisa", afirmou o deputado Danilo Forte (PMDB-CE).

O PMDB, assim como em 2010, elegeu neste ano a segunda maior bancada da Câmara. Ficou com 66 deputados. O PT, com 70. Nesse sentido, a articulação também é considerada uma "reserva de segurança" para a próxima legislatura. Isso porque o líder da bancada, Eduardo Cunha (RJ), tem interesse em se candidatar a presidente da Câmara em 2015. No entanto, ele ainda não se posicionou sobre esse debate interno da sua bancada.

Aparte
Ontem, no Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES) também manifestou seu desacordo com o apoio de sua legenda à reeleição de Dilma. O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez um discurso em que exaltou o desempenho da sigla no 1.º turno das eleições e disse que o partido "acertou" ao apoiar o projeto dos petistas que, segundo ele, "está mudando o Brasil".

O senador capixaba, que apoia Aécio, pediu a palavra e disse a Renan que o PMDB não está unido em torno da reeleição de Dilma. "Estive ao lado da mudança no 1.º turno e manifesto minha confiança de que o Brasil votou pela mudança", disse.

PSB de Campos e PPS vão apoiar Aécio

• Posição nacional deve sair hoje, levando em conta opinião da viúva Renata Campos

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - O grupo do PSB de Pernambuco, que reúne os herdeiros políticos do ex-governador Eduardo Campos, deverá apresentar hoje, na reunião do partido em Brasília, posição favorável ao apoio da legenda a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da disputa presidencial. Integrantes da cúpula socialista no estado debatem desde o domingo como será o posicionamento da sigla, e a avaliação geral é de que é improvável estar com Dilma Rousseff (PT). Mas, o grupo ressalta que a decisão final dependerá da Executiva Nacional do partido.

O presidente do PSB, Roberto Amaral, diz que a posição de Pernambuco não tem papel decisivo na decisão nacional, mas admite que uma manifestação da viúva de Campos, Renata Campos, terá peso sobre a escolha do PSB em Brasília.

- Em princípio, essas coisas não pesam. A Executiva tem uma composição anterior, eleita em agosto, e não há essa tradição de Pernambuco influenciar. Mas a posição de Renata pesa. Ela é muito respeitada e querida no partido.

O grupo pernambucano passou a segunda-feira reunido na casa de Renata Campos, no Recife, debatendo o apoio do partido no segundo turno. Aécio teria ligado e conversado com Renata, com o governador eleito Paulo Câmara (PSB) e com o prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), para parabenizá-los pela ampla vitória de seu partido no estado. Os dois últimos foram ontem a São Paulo acompanhados do senador eleito, Fernando Bezerra Coelho, do presidente estadual, Sileno Guedes, e do governador João Lyra, que já declarou apoio a Aécio, para conversar com Marina Silva.

O governador João Lyra, que logo no domingo divulgou nota defendendo o apoio à candidatura de Aécio no segundo turno, está tentando organizar um evento de apoio ao tucano em Pernambuco para o fim desta semana. Mas, o andamento da organização vai depender da decisão do PSB nacional. O irmão de Eduardo Campos, o advogado Antonio Campos, também defendeu publicamente apoio a Aécio.

A primeira reunião de avaliação sobre o quadro eleitoral de integrantes do PSB com Marina ocorreu no domingo, antes mesmo do resultado das urnas. Quando ficou claro que a candidata não iria para o segundo turno, a cúpula dos partidos da coligação passou a defender a possibilidade de ter um acordo conjunto para o segundo turno, que dê sobrevida à aliança.

Após a decisão da Executiva Nacional do PSB hoje, a direção do partido deve se encontrar na manhã de quinta-feira com os presidentes dos partidos da Coligação Unidos pelo Brasil que, além do PSB e dos integrantes da Rede, tem PHS, PRP, PPS, PPL e PSL, para tentar fechar uma posição unitária de toda a coligação. O PPS já declarou ontem formalmente apoio a Aécio.

Maioria do PSB já é favorável a apoiar Aécio Neves no 2º turno

• Apenas quatro diretórios regionais ainda não haviam tomado decisão de estar ao lado de tucanos: Acre, Amapá, Bahia e Paraíba

João Domingos - O Estado de S. Paulo

A Executiva nacional do PSB deverá aprovar nesta quarta-feira o apoio do partido à candidatura do tucano Aécio Neves no 2.º turno da eleição presidencial. Dos 27 diretórios regionais do partido, só quatro ainda não haviam se decidido até esta terça-feira por esta opção: Acre, Amapá, Bahia e Paraíba.

Entretanto, desses quatro, é provável a mudança de posição em três deles, todos a favor da aliança com Aécio. A exceção deve ser a Paraíba, onde PSB, com o governador Ricardo Coutinho, e PSDB, com o senador Cássio Cunha Lima, disputam o 2.º turno da eleição para governador.

“Teremos uma posição. Não vamos ficar em cima do muro”, disse ao Estado o deputado Júlio Delgado, presidente do partido em Minas Gerais. Delgado acredita que a tendência é o partido mostrar unidade de todos os diretórios regionais, ressalvando que, na Paraíba, há uma questão excepcional.

Resistências. Próximo a Aécio, Delgado está em contato com diretórios que ainda não se decidiram pelo apoio ao tucano. “Estou pessoalmente conversando com Davi Alcolumbre (DEM), senador eleito no Amapá. É possível que apoie a reeleição do governador Camilo Capiberibe (PSB) e, nesse caso, resolveremos logo a situação no Estado”, afirmou o deputado.

Os dirigentes do PSB também consideram vencida a resistência do presidente interino do partido, Roberto Amaral, ao apoio a Aécio Neves.

A princípio, por se dizer amigo da presidente Dilma Rousseff (PT), adversária de Aécio no 2.º turno, Amaral chegou a defender a neutralidade do partido. Mas cedeu porque poderia ver aumentar as resistências à eleição dele para a presidência do PSB, o que só será decidido em reunião do diretório do partido marcada para o dia 13.
“Nós queremos manter nossa aliança partidária em torno do nosso programa de governo, que passará a ser o projeto de contribuição para o 2.º turno da eleição”, disse Amaral.

Segundo ele, a pedido da ex-ministra Marina Silva - que ficou em terceiro lugar na disputa à Presidência -, os seis partidos que fizeram parte da aliança que a apoiou no 1.º turno (PSB, PPS, PSL, PPL, PHS, PRP, além de representantes da Rede, com funcionamento ainda informal) também vão se reunir hoje para tentar chegar a uma posição comum em relação ao apoio neste 2.º turno.

A própria Marina já fez consultas aos presidentes de todos os partidos sobre o que pretendem fazer. Eles deixaram claro que preferem Aécio a Dilma na segunda rodada das eleições.

O PPS, legenda que integrou a coligação de Marina, decidiu nesta terça-feira pela aliança com o candidato tucano. Para Roberto Amaral, isso não atrapalha o desejo de que a decisão seja tomada pelo bloco partidário.
“O PPS já havia nos comunicado que ficaria com o Aécio. Não há problema nenhum. Vamos nos reunir e tomar a decisão conjunta na quinta-feira (amanhã)”, afirmou Amaral. / Colaborou Daiene Cardoso

À espera do anúncio do apoio de Marina, Aécio diz que representa a ‘nova política’

• Em claro gesto para sensibilizar os eleitores da ex-ministra, candidato do PSDB adota discurso ‘marinês’

Pedro Venceslau e Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Aécio Neves, incorporou nesta terça-feira o “marinês” em seu discurso para sensibilizar os eleitores da ex-ministra Marina Silva, que ficou de fora do 2.º turno. Em seu primeiro evento de campanha nesta fase final da eleição, Aécio disse em São Paulo que pretende liderar uma “nova política” no País.

O candidato do PSDB visitou operários de uma obra da construção civil na capital paulista ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do senador eleito José Serra (PSDB). “Estou pronto para liderar um projeto em favor do Brasil, em favor de uma nova política, em favor de uma construção coletiva. Nossa proposta de governo é sempre aberta a novas contribuições. É uma obra que não termina. Uma construção permanente”, afirmou.

Marina adotou o conceito de “nova política” como peça-chave do seu discurso no 1.º turno e disse reiteradas vezes que o programa de governo é uma construção plural e permanente. O afago de Aécio foi feito depois de a ex-ministra ter decidido pelo apoio ao candidato em troca de um “acordo programático”. A ideia de Marina é criar convergências das propostas dela com as do tucano, pedindo pequenas alterações no plano de governo de Aécio. A declaração de Aécio sobre a “nova política” se encaixa nessa tentativa de convergência.

A ex-ministra do Meio Ambiente, que é ex-petista, deve anunciar o apoio ao tucano em evento marcado para amanhã.

Marina e Aécio tem programas de governo parecidos, principalmente na economia. A principal divergência está na questão da maioridade penal. O tucano é a favor da redução em casos de crimes gravíssimos. A ex-ministra ainda não falou sobre isso.

Em sua fala de na terça-feira, o tucano destacou “convergências importantes” nos programas . Ambos defendem no papel, por exemplo, o fim da reeleição.

O tucano, porém, desconversou na terça-feira ao ser questionado se colocará a proposta em prática já para as eleições de 2018. “É uma questão para ser discutida. Não morro de amores pela reeleição, mas estamos falando em teses”, disse Aécio.

Vice. Enquanto visitava a obra ao lado de correligionários na terça-feira na capital, Aécio recebeu um celular das mãos do deputado Paulinho da Força (SDD), presidente licenciado da Força Sindical e membro da coordenação política da campanha tucana. Do outro lado da linha estava Beto Albuquerque (PSB), candidato a vice na chapa de Marina.

Os dois conversaram brevemente. Em outro momento na mesma caminhada, foi o presidente do PPS, Roberto Freire, que apoiou Marina no 1.º turno, quem telefonou para o tucano.

Depois da atividade com os operários, Aécio reuniu-se com o presidente do PSB paulista e vice-governador eleito na chapa de Alckmin, Márcio França, que já defendeu publicamente que os pessebistas subam oficialmente no palanque do tucano.

Em outra frente, Aécio escalou o ex-deputado Fábio Feldman, que apoiou Marina na eleição presidencial de 2010, para entrar em contato com os “marineiros”. Coordenador de meio ambiente no programa de governo tucano, Feldman procurou Sérgio Xavier - ex-secretário de Meio Ambiente de Pernambuco e ativista histórico da causa ambiental. Ele é muito próximo de Marina e passou a terça-feira o dia em São Paulo reunido com a ex-ministra e o grupo dela.

Segundo integrantes do núcleo político da campanha aecista, o movimento de aproximação com Marina está sendo intenso, mas tem sido feito com cautela.

O PSDB e as siglas que apoiam Aécio realizarão hoje, em Brasília, um ato político em defesa do tucano. Estarão reunidos todos os candidatos a deputado, senador e governador eleitos e não eleitos no 1.º turno. O local escolhido foi o Memorial JK. / COLABOROU LUIZ GUILHERME GERBELLI

Marina ouve aliados e amanhã anuncia posição neste 2º turno

• Interlocutores da ex-senadora negociam as condições para apoiar Aécio

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO e RIO - Embora já tenha dado declarações sinalizando que deve apoiar Aécio Neves (PSDB) no segundo turno, e seus aliados tenham reconhecido que esse é o caminho natural, a terceira colocada no primeiro turno das eleições presidenciais, Marina Silva (PSB), procurou mostrar ontem que a aliança com o tucano ainda não está sacramentada. Ela informou que a sua posição só sairá amanhã.

Em nota divulgada ontem, a assessoria da coligação da candidatura diz que "as opiniões individuais de cada partido, dirigentes e lideranças políticas das agremiações neste momento de construção devem ser respeitadas mas não refletem em nenhuma hipótese a opinião da ex-candidata". A coligação frisou que os partidos promoverão até hoje "reuniões de suas instâncias deliberativas para definirem os pontos que consideram relevantes para a formulação de posicionamento conjunto das legendas aliadas".

"Na quinta-feira, dia 9, Marina Silva e as demais lideranças dos partidos aliados participarão de encontro para construir um posicionamento comum da coligação sobre a continuidade da disputa pela Presidência da República", diz o texto.

Em plenária virtual, neutralidade vence
Na nota divulgada pela Rede, o partido que Marina tentou criar ano passado, mas teve o registro negado pela Justiça Eleitoral, também é reafirmado que a definição do futuro da candidata derrotada não está certo. "Ao contrário do que tem sido afirmado no noticiário nacional, nem a Rede Sustentabilidade, nem Marina Silva definiram seu posicionamento político sobre o segundo turno das eleições presidenciais".

A Rede informou que, no momento, a prioridade são as conversas. "Tanto a Rede quanto Marina, neste momento, estão dedicados a ouvir e dialogar com seus pares para que, juntos, possam chegar a um consenso sobre qual posição tomar diante do cenário nacional. Portanto, as notícias divulgadas até o momento não passam de especulações."

Ontem à noite, Marina participou de uma conferência virtual com dirigentes nacionais da Rede em todo o país. Numa consulta informal sobre a posição a ser adotada no segundo turno, 30 integrantes da cúpula do movimento votaram a favor da neutralidade, postura adotada por Marina em 2010. Outros 17 votaram favoravelmente a um apoio formal a Aécio e só um dirigente apoiou a aliança com a presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT).

Hoje, Marina vai se reunir com dirigentes dos partidos que fizeram parte de sua coligação. A decisão oficial sobre a posição no segundo turno vai ser divulgada amanhã.

Domingo à noite, após divulgado o resultado da eleição, Marina afirmou que o resultado das urnas indicam que "o Brasil sinalizou claramente que não concorda com o que está aí" e que "não dá para tergiversar com o sentimento do eleitor". Também deu indícios de que não deve ficar neutra, como fez no segundo turno da eleição de 2010, entre Dilma e José Serra (PSDB).

Ao chegar ontem à casa de Marina, Sérgio Xavier, um dos principais interlocutores da ex-senadora, disse que um acordo com Dilma é muito difícil devido aos ataques duros que a petista fez à candidata do PSB no primeiro turno.

- A campanha (de Dilma) foi muito dura, muito grosseira, com muitas mentiras, que não foi bom para a democracia. Isso gerou um certo afastamento - afirmou Xavier.

Interlocutores de Marina deram sequência ontem às negociações com tucanos para a adesão de Aécio a pontos do programa de governo do PSB. O grupo da candidata derrotada exige que o presidenciável do PSDB se comprometa com pontos como o fim da reeleição, a agenda da sustentabilidade e a antecipação da meta de investimento de 10% do PIB em Educação.

Executiva do PPS formaliza apoio a Aécio no segundo turno

Aguirre Talento – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A executiva nacional do PPS formalizou nesta terça-feira (7), após reunião em Brasília, o apoio à candidatura de Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições presidenciais, que será disputada pelo tucano e pela presidente Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição.

No primeiro turno, o PPS fez parte da coligação da candidata Marina Silva (PSB), terceira colocada no pleito com 21,3% dos votos. Com a definição do apoio a Aécio, os integrantes da cúpula da legenda dizem esperar que Marina e os demais partidos da coligação sigam o mesmo caminho.

"O que o PT fez é algo que macha toda história das eleições brasileiras, da forma suja e virulenta que atuou contra Marina. O que tentaram contra ela foi destruí-la", afirmou o presidente do PPS, Roberto Freire.

Ele afirmou existir uma identidade entre propostas de Marina e de Aécio, como o fim da reeleição e as ideias econômicas, que facilitam o apoio ao tucano.

"A decisão do apoio foi consensual entre a executiva", relatou o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), líder da legenda na Câmara.

A candidata do PSB, porém, já afirmou em nota que só definirá posição sobre o segundo turno após uma reunião na quinta-feira (9) com os líderes dos partidos aliados. Ela deve discutir a exigência da inclusão de pontos programáticos na campanha de Aécio para apoiá-lo. Por parte do PPS, porém, o apoio já foi definido sem a necessidade dessas exigências.

Ao fim da reunião, o partido formalizou uma resolução, que será encaminhada a Aécio e a Marina. Leia abaixo a íntegra:
                               *
Resolução Política do PPS
A Comissão Executiva do Partido Popular Socialista, reunida em Brasília, no dia 7 de outubro de 2014, em defesa dos compromissos do partido com a democracia, os valores republicanos, o desenvolvimento sustentável, a inclusão social, a reforma política e a retomada do crescimento, conclama todas as forças favoráveis à mudança, em especial aquelas que apoiaram, no primeiro turno, Marina Silva (PSB), à unidade em torno da candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República.

PPS formaliza apoio a Aécio Neves no segundo turno

• "Mais de 60% da população deseja derrotar o PT", disse líder da bancada do PPS na Câmara, o deputado Rubens Bueno (PR).

Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Por unanimidade, o PPS formalizou na tarde desta terça-feira o apoio à candidatura do tucano Aécio Neves à Presidência da República. O partido integrou a coligação que, no primeiro turno, era representada pela então candidata Marina Silva (PSB). Após reunião que durou quase duas horas, a Comissão Executiva da sigla defendeu a unidade dos partidos de oposição ao governo Dilma Rousseff em torno do candidato do PSDB e conclamou Marina a seguir a mesma orientação. "Mais de 60% da população deseja derrotar o PT", argumentou o líder da bancada do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), ao deixar o encontro.

No início da reunião na sede do partido em Brasília, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire, lembrou que Aécio já poderia ter contado com o apoio da sigla no primeiro turno. Durante a formação das chapas presidenciais, a legenda argumentou que o apoio dado ao ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) ajudaria a viabilizar um segundo turno.

No domingo, após a divulgação do resultado do primeiro turno, Freire já havia defendido abertamente o apoio a Aécio.

Hoje, o dirigente enfatizou que a posição do partido independe da decisão da coligação liderada por Marina, mas que acredita que os outros cinco partidos caminham para fechar um acordo com o tucano. Freire destacou que a negociação com os tucanos se baseia em questões programáticas e não meramente eleitorais. Segundo ele, pontos do programa de Marina, como o fim da reeleição e escola em tempo integral, podem ser facilmente incorporados ao plano de governo tucano.

O presidente da sigla considerou que Marina sofreu ataques "sujos" e "virulentos" do PT no primeiro turno e que o objetivo do adversário não era "desconstruí-la" e sim "destruí-la". Ele rechaçou qualquer possibilidade de apoio à candidata petista. "O PPS não admite discutir neutralidade ou apoio a Dilma", declarou Freire.

Agora, o partido encaminhará um comunicado à coligação de Marina e ao candidato do PSDB informando sobre a decisão. Em nota divulgada após a reunião, o PPS defende o desenvolvimento sustentável, a inclusão social, a reforma política, a retomada do crescimento e convoca as "forças favoráveis à mudança" à unidade em torno de Aécio.

PPS anuncia apoio a tucano para a presidência

• Presidente da sigla diz que decisão foi unânime e que o fundamental é derrotar o PT

Isabel Braga e Eduardo Barretto – O Globo

BRASÍLIA - O PPS, que integrava a coligação da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, decidiu ontem apoiar o presidenciável Aécio Neves (PSDB) no segundo turno do pleito. Após reunião em Brasília, o partido divulgou uma nota na qual afirma que a aliança de segundo turno se daria "em defesa dos compromissos do partido com a democracia, os valores republicanos, o desenvolvimento sustentável, a inclusão social, a reforma política e a retomada do crescimento".

No texto, assinado pelo presidente nacional da legenda, Roberto Freire, o PPS "conclama todas as forças favoráveis à mudança, em especial aquelas que apoiaram, no primeiro turno, Marina Silva (PSB), à unidade em torno da candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República".

Ao GLOBO, Freire disse que a opção por apoiar Aécio foi "natural" e teve apoio unânime. Segundo Freire, uma das condições para apoiar a candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva foi a de que isso viabilizaria o segundo turno na eleição presidencial e poderia contribuir para a derrota da presidente Dilma Rousseff (PT).

- Além do reencontro histórico com a esquerda democrática e os projetos comuns, um dos argumentos fundamentais para o PPS apoiar a candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva foi que isso ajudaria a viabilizar o segundo turno das eleições. E, evidentemente, que, se nós é que fôssemos para o segundo turno, Aécio nos apoiaria. O fundamental é derrotar o governo do PT para o bem do país - disse Freire, acrescentando: - Lutamos para que a nossa candidata fosse para o segundo turno. Não chegando, e o outro candidato sendo Aécio, com a maior naturalidade apoiamos a candidatura. Não teve nenhuma voz dissonante. A sociedade deu um recado claro nas urnas contra o governo. Defendemos a união das oposições para derrotar o lulopetismo.

Propostas de Marina incorporadas
Segundo Freire, alguns políticos do PPS queriam, inclusive, que o partido anunciasse a decisão assim que ficou matematicamente constatado que Aécio iria para o segundo turno com Dilma. Freire, no entanto, ponderou que conversaria primeiro com Marina.

- Muitos queriam anunciar logo depois do resultado da eleição. Eu quis primeiro conversar com a Marina. Apoiamos qualquer candidatura que possa derrotar o governo do PT e já fizemos isso em outras oportunidades. Não vejo problema em Aécio incorporar propostas que fazem parte do programa da Marina, o consenso entre os dois é claramente possível - explicou Freire.

Movimento 'Aezão' continua no 2º turno, afirma Pezão

• Governador carioca, candidato à reeleição, mantém apoio à candidatura tucana para Presidência

Wilson Tosta - O Estado de S. Paulo

RIO - O candidato do PMDB ao governo do Rio, governador Luiz Fernando Pezão, afirmou nesta terça-feira, 7, a certeza de que o movimento "Aezão", promovido por apoiadores de sua candidatura em favor do candidato à presidência Aécio Neves, vai continuar no segundo turno das eleições.

"Não tem como (evitar). Aliás, o meu vice (senador Francisco Dornelles, do PP) é um dos coordenadores da campanha. Isso não ocasionou nenhum problema", disse o candidato antes de iniciar visita ao conjunto residencial construído no local onde existia a antiga fábrica da CCPL, em Manguinhos, zona norte do Rio. Nacionalmente, o PMDB é aliado do PT e apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff .

Pezão lembrou que muitos partidos que o apoiaram também apoiam Aécio. O peemedebista ressaltou que apoiou a candidatura de presidente Dilma Rousseff (PT) a reeleição. "Sempre falei que obedeço ao que meu partido que decidiu, em nível nacional, apoiar a presidente Dilma e o vice-presidente Michel Temer".

Pezão relatou que, durante conversa na noite dessa segunda-feira, 6, Temer, que também é presidente nacional do PMDB, se colocou à disposição para ajudar nas alianças para o segundo turno.

"(O Rio de Janeiro) é um Estado importante no Sudeste e o único Estado em que o PMDB está disputando o governo. (O partido) já ganhou no Espírito Santo (Paulo Hartung), São Paulo é PSDB (Geraldo Alckmin) e Minas é PT (Fernando Pimentel)", afirmou Pezão.

O governador e candidato à reeleição disse esperar que a partir desta quarta-feira, 8 comece a anunciar apoios de outros partidos à sua candidatura.

Paes, Cabral, Pezão e aliados se reúnem e tentam turbinar Aezão

• Presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Melo, definiu os papéis dos coordenadores de cada região do estado

Maiá Menezes – O Globo

RIO — Um café da manhã, na segunda-feira, traçou os primeiros ajustes da nova fase do Aezão, movimento criado como dissidência no PMDB ao apoio nacional à presidente Dilma Roussseff (PT). Marcado para traçar a estratégia para o segundo turno das eleições do candidato do PMDB ao governo do Rio, Luiz Fernando Pezão, o encontro, que reuniu o governador, o prefeito Eduardo Paes, Jorge Picciani, o ex-governador Sérgio Cabral, o candidato a vice de Pezão, Francisco Dornelles (PP) e o presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Melo, definiu os papéis dos coordenadores de cada região do estado.

Picciani ficará com a Baixada Fluminense. Hoje, o presidente regional do PMDB fará uma reunião com os prefeitos aliados, em busca de mais adesões ao Aezão. O movimento, que surgiu como dissidência, ganhou fôlego com a passagem de Aécio para o segundo turno. A resistência mais explícita a um palanque único para o tucano no Rio é do próprio governador Pezão, amigo da presidente. Pezão seguiu na posição que manteve no primeiro turno: quer continuar se apresentando como aliado fiel de Dilma. O próprio candidato a vice-governador, Francisco Dornelles (PP), defendeu que Pezão mantenha a posição, para evitar a pecha de incoerente. Na avaliação dos defensores do apoio ao tucano, o palanque quádruplo para Dilma no Rio não trouxe dividendos para a petista.

Com a polarização explícita do segundo turno, a expectativa do PMDB aecista é que fique claro que o palanque de Dilma no estado é o do senador Marcelo Crivella (PRB), também da base aliada da presidente, que disputará o segundo turno com Pezão.

Picciani sustenta que, mesmo com a posição pessoal de Pezão, “ele respeita o partido, que apoia em grande número o Aécio”. Além disso, diz ele, os partidos aliados do governador são, em sua maioria, pró-Aécio.

Picciani, que conversou ontem com Aécio por telefone, diz que o tucano virá ao Rio “com certeza”. Mas que a visibilidade do Aezão se dará no material de campanha.

À noite, no Rio, o vice-presidente, Michel Temer(PMDB) diz que o PT tem amparo no Rio:

— Temos respeito por essa posição, do Aezão, mas a figura central é do candidato a governador. E na medida que o governador está com a Dilma e conosco nos temos amparo aqui no Rio. (Colaborou Carolina Oliveira Castro)

Uma aliança em construção: O Estado de S. Paulo - Editorial

Até onde a vista alcança, os entendimentos políticos entre os grupos de Aécio Neves e de Marina Silva para a formação de uma frente oposicionista neste segundo turno da eleição presidencial evoluem com naturalidade e de acordo com padrões republicanos. Trata-se de um admirável avanço no que diz respeito à formação de alianças político-eleitorais, especialmente na história recente. Uma novidade que abre perspectivas alvissareiras para a concretização do desejo de mudança claramente expresso nas urnas de 5 de outubro por ampla maioria de brasileiros.

Mudança, neste caso, significa não apenas a substituição dos mandatários de turno - a alternância no poder inerente ao sistema democrático. É imprescindível também mudar, radicalmente, a prática política nefasta que tem viabilizado as alianças necessárias à conquista do poder e à governabilidade.

Em 12 anos de poder, o PT conseguiu desmoralizar completamente o conceito de aliança política e a ideia de governabilidade, ao transformar essas práticas inerentes ao sistema democrático em meros instrumentos do fisiologismo a serviço de um projeto de poder. É a percepção cada vez mais clara dos efeitos dessa realidade sobre o cotidiano dos cidadãos que impulsiona e faz crescer a insatisfação difusa com o desempenho do governo e o consequente desejo de mudança.

Aécio Neves e Marina Silva, cada um a seu modo, ambos com ampla vivência da atividade política, sabem que, para fazerem jus à genuína condição de oposicionistas, precisam sinalizar claramente a disposição de mudar as práticas políticas em vigor e implementar programas de governo que Dilma Rousseff tem sido incapaz de conceber ou levar a cabo. E que devem começar pela definição das bases de um entendimento mútuo de caráter programático para a aliança eleitoral no segundo turno.

Essa aliança, no entanto, embora pareça decidida no que depender da vontade já manifestada tanto por Aécio como por Marina, terá ainda que superar dificuldades pontuais, algumas delas decorrentes do fato de que o PSB e a Rede Sustentabilidade, até agora unidos na legenda do primeiro, são, na verdade, grupos diferentes, quando não divergentes. Nada garante, portanto, que o apoio de Marina a Aécio acabará se formalizando em nome do partido que bancou a candidatura dela.

De qualquer modo, desde logo, Aécio e Marina manifestam o desejo de construir propostas de governo de comum acordo. E será, ao que tudo indica e a boa prática política recomenda, com base na explicitação de propostas convergentes que os dois candidatos - que no primeiro turno conseguiram reunir os votos de mais de 57 milhões (56,8%) dos brasileiros - deverão selar sua aliança na luta contra o lulopetismo no turno decisivo da eleição presidencial.

Mas além da questão programática, que agora terá a possibilidade de ser debatida em maior profundidade pelos candidatos, a campanha do segundo turno certamente será marcada pela intensificação dos ataques e das denúncias recíprocos.

Como ficou tristemente demonstrado no primeiro turno, a falta de escrúpulos dos propagandistas petistas poderá colocar Aécio em dificuldades, até o ponto em que a baixaria pode ser uma arma eficiente na disputa eleitoral. Para a campanha oposicionista, será um desafio difícil encontrar o desejável ponto de equilíbrio entre a necessidade de manter a disputa em nível civilizado e ao mesmo tempo dar resposta eficiente aos ataques de quem já demonstrou que, em eleição, faz-se "o diabo".

No cenário da disputa do segundo turno, alguma influência terá ainda a vulnerabilidade a que Lula se expôs ao ficar demonstrado que sua decantada infalibilidade como estrategista político está gravemente comprometida. Considerado um especialista em levar à consagração eleitoral verdadeiros "postes" que tira da manga a seu exclusivo critério, Lula amarga o vexaminoso fracasso dos três candidatos a governador que escolheu para três Estados importantes: Alexandre Padilha, terceiro colocado em São Paulo; Lindbergh Farias, quarto no Rio de Janeiro; e Gleisi Hoffman, terceira no Paraná. Pode ser um presságio do que virá no dia 26.

Merval Pereira: PE e SP derrubam PT

- O Globo

A aliança tácita firmada lá atrás na campanha entre o ex-governador Eduardo Campos e o senador Aécio Neves deve ser referendada agora neste segundo turno, por meio da posição da família Campos, que anunciará até quinta-feira — quando recomeça a propaganda eleitoral — o apoio à candidatura de Aécio. Significativamente, São Paulo e Pernambuco se transformaram nesta eleição no túmulo do PT.

Em Pernambuco, a terra de Lula (mas também de Arraes), o PT perdeu a eleição para o governo e para o Senado, e não elegeu nenhum deputado federal. Em São Paulo, berço do PT, Aécio Neves conseguiu a façanha de ficar mais de 4 milhões de votos à frente de Dilma, e o PSDB elegeu o governador no primeiro turno e o senador , e não há deputados do PT entre os federais mais votados. Até mesmo no ABC, berço do movimento sindicalista e governado por petistas, o PSDB saiu vitorioso. Deveria ser Minas o túmulo do PT, representando a união de Aécio com Campos, mas agora a disputa será para recuperar a liderança do estado, perdida para a também mineira Dilma — que saiu vitoriosa tanto na disputa direta com Aécio no território político dele, como o PT de Dilma fez o governador depois de 16 anos de predomínio tucano.

Se a presidente precisa desesperadamente de uma política de redução de danos em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, também em Minas o grupo de Aécio Neves necessita dar uma virada no jogo no segundo maior colégio eleitoral. Mas, de qualquer maneira, esse acordo entre São Paulo e Pernambuco tende a superar as pressões internas do PSB do grupo de Roberto Amaral, reforçado pela ex-prefeita Luiza Erundina, que queriam o PSB, que tradicionalmente sempre apoiou o PT, de volta ao seu ninho. Mas Eduardo Campos já havia decidido que o ninho do PSB seria independente, e sua família tende a seguir por esse caminho. Marina, como sucessora de Eduardo Campos, também está indo por essa trilha, e fará um acordo programático com o PSDB.

A tendência é que as alianças do primeiro turno se projetem no segundo. No entanto, ainda que Marina apoie Aécio, o PSB não irá unido para a oposição. Mas os partidos da aliança, como o PPS, devem se filiar à campanha tucana. Eventual apoio de Marina a Aécio definirá o Rio, e o movimento Aezão se fortalecerá. O Rio, onde tradicionalmente o PT tem vencido as eleições presidenciais, poderá definir a eleição para a oposição, pois Marina e Aécio juntos tiveram mais votos que Dilma. Vai ser muito difícil para a presidente ficar dividida entre as candidaturas do PMDB e do PRB, ambos de sua base aliada.

Quem se sentir prejudicado irá para os braços do candidato do PSDB, sendo que o PMDB já está em boa parte no Rio em dissidência. A estratégia para Aécio seria "fechar" o Sul-Sudeste, abrindo vantagem sobre Dilma suficiente para compensar a vantagem dela no Nordeste. E escolher muito criteriosamente, com base nos números, alguns lugares do Nordeste onde pode crescer, reduzindo a vantagem regional de Dilma. Ele tem que buscar os votos viáveis de Marina no Nordeste, como em Pernambuco, um dos poucos estados da região em que a presidente Dilma perdeu a eleição. O apoio do governador eleito Flávio Dino no Maranhão será também importante para Aécio melhorar sua votação no Nordeste.

No Rio Grande do Sul, onde a presidente Dilma Rousseff ganhou a eleição presidencial, o apoio de Ana Amélia, a terceira colocada, a Sartori, do PMDB, isolou a candidatura do petista Tarso Genro, que ficou em segundo lugar, e pode alavancar a candidatura tucana, pois ele é da ala peemedebista que apoiou Marina Silva e se transferirá para Aécio Neves. Este será, sem dúvida, o segundo turno mais disputado desde o de 1989, quando Fernando Collor derrotou Lula por 5% dos votos.

Dora Kramer: Com os pés no chão

- O Estado de S. Paulo

Desde a noite de domingo Marina Silva e seus aliados vêm dando sinais de que desta vez não haverá neutralidade. Ela vai se posicionar e o fará em nome de movimento tático que dê consistência ao seu capital político na representação do desejo de mudança expresso pela maioria no resultado do primeiro turno em que ela e Aécio Neves tiveram 57% dos votos.

A aliança não tem o caráter de adesão ao PSDB. Esse acordo por ora não se estende à coalizão de governo em caso de vitória da oposição. Marca a transição de Marina de uma condição passiva para uma posição ativa na direção da "nova política" defendida por ela e a uma nova forma de fazer política exigida pela sociedade. Aos gritos desde junho de 2013.

Ficasse parada, dogmática, imperial, estaria refém de uma contradição: prega a mudança, mas não se alia aos que tentam mudar apenas porque ela perdeu o mando do campo adversário. Esse entendimento já estava claramente desenhado quando da decisão de Marina de se aliar a Eduardo Campos para não ficar fora do jogo eleitoral.

Seguisse ela ainda mesma linha de raciocínio de 2010, teria tido outro comportamento. No discurso de domingo, Marina lembrou o fato ao responder sobre a possibilidade de ficar neutra: "Minha postura quando não foi feito o registro da Rede, de não me recolher numa anticandidatura, pode ser uma tendência". Ou seja, entrou na chuva desta vez entendendo que é impossível não se molhar.

Mas faz a coisa ao seu jeito. Com uma razão de ser. Explicando também qual a razão de não ser a decisão para o lado oposto. O apoio ao PT depois de tudo o que foi dito de parte a parte na campanha do primeiro turno imprimiria a Marina a marca do cinismo. Se aceitasse se juntar a quem a acusa de pretender entregar o País aos banqueiros para que eles tirem a comida do povo teria dificuldade em se justificar.

O acerto passa longe do gasto e nefasto termo "governabilidade", hoje sinônimo de fisiologismo. Marina alega que quatro anos atrás mandou aos candidatos Dilma Rousseff e José Serra uma lista de dez itens de seu programa, mas não obteve resposta. Agora, ao apresentar a Aécio Neves um acordo com alguns pontos de compromisso mais que depressa obteve a concordância. Inclusive porque nenhum deles implica alterações de fundo no programa do tucano e apresentam mais semelhanças que diferenças.

Acertado o apoio a ser anunciado até quinta-feira, ficam em aberto as questões do "day after". As posições dos respectivos partidos aliados a Marina é a menor delas. Tanto faz se o PSB ou os representantes da Rede irão unidos ou divididos para essa empreitada.

O peso desse apoio é pessoal. Em Pernambuco, da família de Eduardo Campos e no âmbito nacional, a voz de Marina. Não se sabe, porém, qual é grau de influência que ela terá sobre o voto do eleitorado. Tampouco está claro se aos olhos do público ela hoje é a mesma que era antes de passar pelo crivo da "desconstrução". Pode ser que seu prestígio tenha sido abalado.

Mas, ainda assim, o PT que tanto a massacrou adoraria tê-la a seu lado.

Picado indigesto. Os defeitos do sistema político não se resumem, não começam nem terminam no grande número de partidos. Mas a fragmentação passa a ser um problema quando ultrapassa o direito de pessoas com ideias em comum criarem uma legenda e invade o terreno do oportunismo.

Nos últimos 20 anos a quantidade de agremiações com representação no Congresso quase que dobrou. Eram 16 em 1994, serão 28 em 2015. Significa que terão acesso ao fundo partidário e ao tempo de televisão.

Se cada um desses partidos resolver lançar candidato a presidente da República em 2018, a lei lhes confere o direito de participar dos debates de televisão, o que tornaria os programas inviáveis.

Luiz Carlos Azedo: Marina e Aécio

• Aécio se esforça para seduzir os aliados de Marina, que ainda discutem o que fazer no segundo turno, com exceção do PPS, cuja executiva decidiu ontem apoiar o tucano sem grandes exigências

Correio Braziliense

O candidato da Coligação Muda Brasil à Presidência da República, Aécio Neves, reafirmou ontem seu compromisso com a proposta de um mandato de cinco anos para todos os cargos públicos e fim da reeleição para presidente, governador e prefeito. A proposta é uma das três exigências da candidata do PSB, Marina Silva. As outras duas também não são nenhum problema: a educação integral e o desenvolvimento sustentável. Isso significa que o apoio da terceira colocada está quase garantido. Falta combinar com o PSB e a Rede, que se reunirão hoje.

“Não estamos falando do fim da reeleição para presidente da República apenas, em que a decisão unilateral do candidato resolveria o problema. Estamos falando de reeleição de governadores e de prefeitos. Precisa haver um entendimento no Congresso Nacional em relação a isso”, explica Aécio. Segundo o tucano, a atuação de Dilma na Presidência da República acabou degradando o conceito de reeleição, graças à “mistura sem limites entre o público, o privado e o partidário”.

Aécio se esforça para seduzir os aliados de Marina, que ainda discutem o que fazer no segundo turno, com exceção do PPS, cuja executiva decidiu ontem apoiar o tucano sem fazer grandes exigências, apenas destacando o que há de comum entre a legenda e o PSDB. O posicionamento da coligação — que, além de PSB e PPS, inclui PHS, PPL, PRP e PSL — somente será anunciado amanhã. Segundo Roberto Freire, o fato de o PPS apoiar Aécio antes da coligação é normal. “Temos autonomia para decidir o que deve fazer da sua vida”, disse.

Na cúpula do PSB, que deve se reunir hoje, instalou-se uma disputa entre o atual presidente Roberto Amaral, que defende uma posição de independência, e o deputado Beto Alguquerque, vice de Marina, que apoia Aécio. Na Rede Solidariedade, o círculo mais próximo de Marina também defende o apoio a Aécio, mas há lideranças que desejam a independência. Um dos coordenadores de campanha da candidata do PSB, Walter Feldman, antecipou que Marina não assumirá uma posição de neutralidade. Pretende ser protagonista no segundo turno.

O PT sentiu o golpe e o presidente da sigla, Rui Falcão, reiterou a disposição da legenda de buscar uma reaproximação da ex-senadora acriana com Dilma, o que é praticamente impossível a essa altura do campeonato, por causa dos duros ataques dos petistas à candidata do PSB. O discurso do dirigente partidário, porém, mira os eleitores de Marina.

Dilma e aliados
O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, deixou o cargo para reforçar a campanha eleitoral petista. Uma de suas tarefas será fazer interlocução com setores empresariais, nos quais Armínio Fraga, responsável pelo programa econômico de Aécio, nada de braçada. A presidente Dilma Rousseff comunicou a decisão num encontro com 35 senadores e governadores eleitos, presidentes de partidos da base, além de atuais governadores e senadores. Apesar disso, a petista minimizou o peso desses apoios na decisão de voto dos eleitores. “Fico feliz quando me apoiam. Sei perfeitamente, pela experiência política, que ninguém é dono de eleitor.”

O problema crucial de Dilma é a baixa votação que obteve em São Paulo. “Achamos São Paulo um estado muito importante. Eu pretendo dar toda atenção, olhar com muito cuidado, inclusive propostas específicas para São Paulo, e abrir o debate, a discussão e a comunicação em todos os setores de São Paulo.” A primeira medida quanto a isso foi escalar o candidato petista derrotado Alexandre Padilha para coordenar a campanha no estado.

A campanha de Dilma Rousseff será reiniciada pelo Nordeste, com a ajuda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois o comando da campanha teme um avanço do tucano na região, principalmente depois que os governadores eleitos de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e do Maranhão, Flávio Dino (PcdoB), manifestaram a intenção de apoiar Aécio.

Durante a reunião com os aliados, Dilma voltou a elogiar os governos do PT, dizendo que com a expansão da classe média foi possível modificar a pirâmide social do país, onde havia mais pobres do que membros das demais classes sociais. “Isso que transformou o Brasil de forma pacífica e silenciosa, a modificação na distribuição de renda que levou a esse perfil diferenciado.” Dilma defendeu que os próximos governos devem “melhorar a qualidade do emprego para a classe média brasileira”, sem deixar de olhar para os pobres. Essa é a principal aposta da estratégia governista.

Fernando Rodrigues: Ideias fora do lugar

- Folha de S. Paulo

Para cada problema complexo existe uma solução simples. Em geral, errada. Essa é a lógica por trás de uma ideia que tem sido muito propagada: acabar com a reeleição para cargos executivos (prefeitos, governadores e presidente da República).

No início da campanha, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) defenderam a proposta. Em seguida, Marina Silva abraçou a ideia. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa fez defesa enfática da tese: "A reeleição funciona como a mãe de todas as corrupções".

Aécio e Marina acham que a reeleição deve ser eliminada e todos os mandatos então seriam aumentados de quatro para cinco anos. Todas as eleições passariam a ser coincidentes ""de vereador a presidente da República.

É curioso Marina "nova política" Silva estar de acordo com uma alteração que afastará os eleitores dos políticos. Isso mesmo. Hoje, os brasileiros votam a cada dois anos. Se vingar o que ela e Aécio sugerem, as eleições se darão apenas a cada cinco anos.

No mais, há um senso comum (equivocado) sobre a reeleição ser sinônimo de uso da máquina estatal, com recondução automática do governante. A vida real é bem diferente. Primeiro, basta observar o calor pelo qual passa Dilma Rousseff para tentar ficar outros quatro anos no Palácio do Planalto.

Há uma estatística contundente nos Estados. Desde 1998, quando a reeleição passou a ser possível, 77 governadores tentaram ficar no cargo para um segundo mandato (até 2010). Desses, só 50 tiveram sucesso. Ou seja, 35% dos que tentam a reeleição são rejeitados pela urnas.

Tudo considerado, o fim da reeleição não redimirá a política. Pior. Acabar com esse instituto vai privar bons políticos --do PT, do PSDB ou de qualquer partido-- de ficar mais um mandato quando estiverem fazendo uma administração correta.

Rosângela Bittar: No escurinho da eleição

• Um novo tipo de pressão sobre os ministros da Corte

- Valor Econômico

Estava o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), juiz, advogado e ministro Joaquim Barbosa, falando a alunos do curso de Direito do Centro Universitário de Brasília, numa de suas raras aparições na cidade após deixar o STF, quando foi atingido, gratuitamente, por um petardo advocatício. Faltavam seis dias para as eleições e o relator do mensalão, a Ação Penal 470 que lhe deu, por anos, árduo trabalho e revigorada popularidade, declarava-se, didaticamente, chocado com a "deficiência constitucional" dos candidatos à Presidência da República. Tinha ouvido trecho de um debate no qual a presidente candidata à reeleição confessava ter instruído a Polícia Federal a investigar as denúncias de corrupção na Petrobras.

"Nenhum dos candidatos no debate reagiu para dizer que não é a presidente quem manda investigar e prender", ensinou aos alunos. "A deficiência constitucional é generalizada", lamentou, para não dizer ignorância, termo que seria mais condizente com sua conhecida franqueza.

Perto dali, preparava-se contra o ex-presidente do Supremo uma ação discricionária, desta vez em um ambiente, teoricamente, repleto de doutos nas leis e na Constituição. Na seccional brasiliense da Ordem dos Advogados do Brasil, o presidente Ibaneis Rocha Barros Júnior apresentou impugnação ao pedido do ex-presidente do Supremo de reativar sua inscrição na entidade, já que a antiga remonta aos anos 80. Com a atenção nacional voltada para a disputa eleitoral, o ato, chocante e gratuito, perdeu audiência em dois dias.

No documento, ele alega que Barbosa não teria "idoneidade moral" para pertencer aos quadros da OAB. Faz uma relação de casos em que os advogados teriam sido destratados pelo juiz quando no exercício da presidência da Suprema Corte.

A impugnação que, se aprovada, impedirá Joaquim Barbosa de exercer sua profissão, cita sete episódios em que teria desrespeitado a classe. Por exemplo: a declaração, durante uma sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), da existência de "conluio" entre advogados e juízes. Outro foi sobre o posicionamento do ministro contra a criação de novos tribunais regionais federais, apoiada institucionalmente pela OAB, uma divergência de pontos de vista quanto à estrutura do sistema judiciário amplamente debatida pelo Congresso Nacional.

Mais um caso de lesa-classe: Barbosa teria dito que "a maioria dos advogados acorda às 11h", brincadeira que a OAB arrolou entre os maus tratos sofridos. O documento também relembra o dia em que Barbosa chamou seguranças para retirar da tribuna do STF um advogado que, com o comportamento alterado, insistia do púlpito em mudar a agenda do dia para incluir em plenário o caso do seu cliente.

Se há um rito, uma liturgia em sessões de julgamentos, eles estão ainda impregnados no Supremo. Os juízes usam até hoje vestes anacrônicas, e as mulheres só mais recentemente puderam entrar no prédio do tribunal de calças compridas. É uma evidência de como o tribunal preza a simbologia, do que se pode discordar reivindicando um projeto de modernização dos meios e modos de funcionamento dos tribunais. É difícil compreender como superar esses problemas impedindo os juízes de trabalhar depois de aposentados.

Os ministros do Supremo e de outros tribunais menos solenes têm uma relação com advogados pautada por seu temperamento, não há regras. Alguns os recebem no gabinete e ouvem silenciosos seus argumentos, mas são uma esfinge quanto à decisão ou o voto que irão preferir; outros não recebem; outros só os encontram com testemunhas; e outros até participam de agendas sociais e jantares. O comportamento do ministro Joaquim Barbosa, talvez até por estar relatando à época um caso de magnitude conhecida, foi distanciamento de tudo e de todos.

O requerimento de reinscrição será analisado pela comissão de seleção da OAB junto com o pedido de impugnação, e já foi dada a largada ao processo com pedido ao ministro para se manifestar. Iluminados podem imaginar que a vingança é didática, e comemorar terem ido à forra contra Joaquim Barbosa, cuja notória e dolorida coluna jamais acreditaram poder vergar ao peso da descompostura pública que estão lhe impingindo agora.

Na verdade, porém, o ato da OAB representa uma pressão exagerada sobre a conduta do Supremo em seus julgamentos. Funciona como alerta: Se não dosarem bem seus argumentos e suas observações a respeito dos circunstantes, também serão julgados ao saírem e punidos com o ócio.

O que terá sido feito das velhas garantias de integridade dos juízes, da preservação de sua independência, da certeza de que, após a toga, não haverá represália por suas decisões? "Lá na frente te pego", é o que se pode traduzir do caso OAB-DF contra Joaquim.

A tentativa de constranger pode imobilizar os tribunais em um momento em que os juízes, nomeados muito jovens, estão se aposentando ainda com capacidade vital. Longevidade que só aumenta a capacidade de se manterem ativos após a toga, se a OAB-DF deixar.

Surge, no segundo turno da disputa eleitoral, o coeficiente Beto. Em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, maior especialista brasileiro em análise de dados eleitorais, disse que a propaganda negativa deve continuar destruindo reputações no segundo turno porque foi eficiente no primeiro. Ficou claro, também, que não é um recurso de marketing subdesenvolvido, pois amplamente usado, com resultados, nas campanhas americanas.

Há expectativa, porém, que o Brasil inove. Vale observar, esta semana, a intensidade da incidência do coeficiente Beto Albuquerque sobre as definições de apoios no segundo turno. Candidato a vice do PSB na chapa de Marina Silva, que foi retirada da disputa pela propaganda adversária, Beto foi convidado a comentar se voltaria a fazer política com o PT. Disse que tem dificuldades de votar em Dilma, de quem foi aliado em dois governos. "Como gaúcho, não esqueço desaforo, vilania e calúnia". Prova de que o ataque foi profundo e politicamente irreversível.

Míriam Leitão: Elegante Marina

- O Globo

Democracia exige elegância de quem per deu. Parece natural um telefonem a como os de Marina para a presidente Dilma e ao senador Aécio Neves , mas exigem de quem o faz pôr o ritual da democracia acima de sentimentos pessoais . Qualquer movimento de Marina tem um custo, mas ficar ao lado do governo seria o preço impagável. A exigência de um acordo programático é uma chance para o Brasil.

Há campanhas que deseducam o país, que está construindo sua democracia. Há muito do que nos orgulhar dos últimos trinta anos de construção democrática, mas o marketing usado por Fernando Collor contra Lula e por Dilma contra Marina são os pontos mais feios das nossas campanhas presidenciais. Um dos assessores de Dilma diz que campanha "não é um chá das cinco". Mas não precisa ser um ringue. Pode ser um confronto de ideias e propostas. A mesma fábrica de horrores que produziu as peças que acusavam Marina de estar preparando um programa para sumir comida no prato dos pobres e livros das mãos dos estudantes — justo Marina que sabe o que é ficar sem comida e livros — começa agora a preparar o arsenal contra Aécio Neves.

O gesto de que o derrotado reconheça a derrota e tome a iniciativa de ligar para seus vencedores, acima dos sentimentos pessoais, com os parabéns pelos votos consolida o respeito às urnas. É simples mas fundamental. Gestos assim o PT jamais fez quando perdeu eleições presidenciais. Nas duas vezes que Fernando Henrique venceu, falaram em fraude, o que enfraquece a democracia. E após a segunda vitória começaram logo no início do mandato, aproveitando a queda de popularidade com a crise cambial, o "Fora FHC". Qualquer movimento de Marina exige um preço: declarar apoio a Aécio, apoiar Dilma ou ficar neutra. A política é dolorosa, às vezes, e a ex-ministra tem estado frequentemente diante de dilemas difíceis de resolver sem perdas e danos.

Mas o preço de ficar com o governo é mais alto. Não apenas o custo pessoal de estar ao lado da candidata cujo marketing lhe desferiu golpes in aceitáveis, mas do ponto de vista do programa. Ninguém é dono do voto, o eleitor é soberano e a forma como toma sua decisão é muito difícil de ser traduzida em simplificações feitas frequentemente pelos analistas. Então haverá eleitores de Marina indo para os dois lados em disputa. Ela, no entanto, é um dos raros políticos hoje que tem liderança pessoal. Os que a seguem, o fazem pelo que ela representa. Por isso seu apoio tem um valor grande traduzido em votos.

E ela pode ser o fiel da balança. Marina e Aécio fizeram programas econômicos com ideias coincidentes, com a defesa da estabilidade econômica. Defendê-la dos riscos concretos de hoje é uma tarefa inicial importante para qualquer governo. Se a presidente Dilma for reeleita e se descuidar dessa luta econômica de reforçar os pilares da estabilidade, ela terá um segundo mandato de crise. Marina e Dilma são muito distantes na questão da sustentabilidade. Quando estavam na mesma administração, tiveram vários confrontos em alguns momentos importantes.

Na atual gestão o desmatamento voltou a subir, aumentou a carbonização da economia, áreas de proteção foram reduzidas, os subsídios aos combustíveis fósseis provocaram problemas econômicos e ambientais. Houve um retrocesso perigoso na área ambiental e climática e, também, nenhum sinal de que a presidente tenha entendido a natureza dos seus erros nesse setor. Menos por eventuais mágoas pessoais de Marina e mais pelas questões programáticas, as duas estão, hoje, em campos opostos. Têm contradições antagônicas.