quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Opinião do dia: Alberto Aggio

Se por crise se deve entender a perda de critério que orienta a normatividade de nossas condutas, a que emerge atualmente nas democracias contemporâneas, inclusive na brasileira, é uma crise específica, e não uma crise orgânica ou histórica que estaria a demandar a construção de um novo Estado, como nos ensinou Gramsci. As jornadas de junho e o que se seguiu expressaram uma crise específica de legitimação dos mecanismos do sistema político, uma crise na democracia, e não uma crise da democracia. Guardada a particularidade das experiências históricas, a democracia brasileira pode ser considerada "tão democrática" quanto as outras democracias hodiernamente em vigência.

Formalmente, a consigna "democratização da democracia", evocada de maneira mais organizada pelos manifestantes, expressaria um diagnóstico similar. Outro significado guardaria a mobilização da noção de democracia direta, que se fundamenta numa hipersimplificação do político, um ilusionismo que visa a traduzir o ato de governo como algo simples e direto, sem delegação, no qual o envolvimento dos cidadãos com a coisa pública seria contínuo e permanente.

Alberto Aggio, historiador, é professor titular da Unesp-Franca. A democracia e suas crises. O Estado de S. Paulo, 17 de setembro de 2014.

Ibope: Dilma tem 38%, Marina, 29%, e Aécio, 19%; candidatas do PT e do PSB empatam no 2º turno

• Candidata à reeleição oscila 2 pontos para cima e adversária, 1 para baixo; Aécio mantém os 19% da pesquisa anterior

Daniel Bramatti, José Roberto de Toledo - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A mais recente pesquisa Ibope/Estado/Rede Globo mostra que, com 19% de taxa de intenção de votos, Aécio Neves (PSDB) parou de crescer, enquanto Marina Silva (PSB) oscilou de 30% para 29% e Dilma Rousseff (PT) passou de 36% para 38%, abrindo nove pontos porcentuais de vantagem sobre sua principal adversária. Na simulação de segundo turno, as duas estão empatadas em 41%.

O resultado frustra as expectativas do candidato tucano, que havia crescido quatro pontos na pesquisa Ibope da semana passada e contava com a retomada de eleitores que havia perdido após a entrada de Marina na corrida presidencial. Ao se estabilizar na faixa dos 19%, Aécio vê diminuírem suas chances de chegar ao segundo turno.

Dilma, que havia perdido três pontos porcentuais na pesquisa anterior, agora recuperou dois. Ela tem agora quatro pontos mais do que no levantamento do Ibope feito logo após a morte de Eduardo Campos (PSB) em um acidente aéreo, em agosto.

Pastor Everaldo (PSC) teve 1% das menções. Outros candidatos, somados, obtiveram 2%. Ainda há 5% de eleitores indecisos, e 7% pretendem votar nulo ou em branco.

Segundo turno. No segundo turno, persiste o empate técnico – a diferença é que, no levantamento anterior, Marina estava numericamente à frente (43% a 40%). Na eventualidade de conseguir chegar à segunda rodada da eleição, Aécio ficaria 11 pontos porcentuais atrás da atual presidente (35% a 46%).

A avaliação positiva do governo oscilou de 37% para 39%. Não houve alteração nas taxas dos que consideram a administração regular (33%) e ruim ou péssima (28%).

O Ibope ouviu 3.010 eleitores de 296 municípios entre os dias 20 e 22 de setembro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. Isso significa que, em 100 pesquisas feitas com a mesma metodologia, 95 terão resultados dentro da margem de erro prevista. O registro no Tribunal Superior Eleitoral foi feito sob o protocolo BR-00755/2014.

Polarização e equilíbrio

• Dilma abre 9 pontos no Ibope e tem 38% contra 29% de Marina; no 2º turno, ambas estão com 41%

Julianna Granjeia e Júnia Gama – O Globo

SÃO PAULO, BRASÍLIA E PORTO ALEGRE - A pouco menos de duas semanas das eleições, pesquisa Ibope encomendada pela Rede Globo e o jornal "O Estado de S.Paulo", divulgada ontem, reforça a polarização e um provável segundo turno entre a presidente Dilma Rousseff (PT), que disputa a reeleição, e a candidata do PSB, Marina Silva (PSB). Dilma oscilou dois pontos positivamente e aumentou para nove sua vantagem sobre Marina: tem 38% contra 29% da adversária, que oscilou um ponto para baixo, em relação ao levantamento anterior. A pesquisa indica que a sucessão de críticas do PT a Marina surtiu efeito: a rejeição à ex-senadora passou de 14% para 17%, acima da margem de erro de dois pontos. Ainda assim, Dilma continua sendo a mais rejeitada, com índice de 31%, um a menos do que na última sondagem, feita de 13 a 15 deste mês.

A pesquisa mostra ainda a estagnação na campanha do candidato do PSDB, Aécio Neves. Num intervalo de uma semana, o tucano manteve 19% de intenção de votos. O seu índice de rejeição (19%) também não mudou.

Na simulação para segundo turno, Marina perdeu dois pontos percentuais e viu Dilma empatar com ela numericamente. As duas estão com 41%. No levantamento anterior, havia um empate técnico: Marina com 43% e a presidente com 40% . Caso o tucano chegue ao segundo turno, ficaria 11 pontos atrás da atual presidente (35% a 46%). Na simulação com Marina, perderia de 44% a 31%.

Em relação às menções para presidente da República ainda no primeiro turno, Pastor Everaldo (PSC) manteve 1%; outros candidatos, somados, obtiveram 2%. Os eleitores indecisos somam 5%, enquanto 7% pretendem votar nulo ou em branco.

A soma de todas as intenções de voto totaliza 101%. Segundo o Ibope, nessa rodada alguns candidatos tiveram índices terminados em 0,5% e que foram arredondados para o número inteiro superior mais próximo, sendo comum a soma total variar entre 99% e 101%.

O número de eleitores que avaliaram o governo petista positivamente oscilou de 37% para 39%. Não houve alteração nas taxas dos que consideram a administração regular (33%) e ruim ou péssima (28%).

O Ibope ouviu 3.010 eleitores de 296 municípios entre 20 e 22 de setembro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-00755/2014.

A vantagem que Dilma abriu sobre Marina animou o comando petista. Havia um temor no comitê de reeleição da presidente que Marina voltasse a crescer na reta final das pesquisas, mas o resultado foi visto como motivo de comemoração pelo PT. O líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE), destacou o fato de Dilma estar agora empatada com Marina na simulação de segundo turno.

- Fiquei muito satisfeito porque demonstra a força que candidatura da presidente Dilma tem. Enquanto isso, vemos que a curva descendente de Marina é uma coisa real, confirmada em todas as pesquisas. E a vantagem que ela tinha no segundo turno também está desaparecendo - avaliou Costa.

O senador destacou que o PT deverá continuar investindo nas críticas a Marina, embora de forma "mais leve":

- Marina começou bem porque representava uma novidade, não era conhecida, suas posições não eram claras. Por essa razão, não havia rejeição a ela. Acho que agora, no final da campanha, Dilma deve mostrar o que fez, suas propostas, e muita rua. Essa coisa de bater na Marina vai ser mais leve - disse o petista.

Ontem em Porto Alegre, Marina se disse "tranquila e feliz" com o desempenho de sua candidatura e atribuiu a queda registrada no Ibope ao "momento eleitoral":

- Estamos tranquilos em relação a tudo isso, porque enfrentar não sei quantos mil vereadores, deputados, senadores, 20 mil cargos de confiança, 11 minutos de televisão contra dois, uma aliança que não se explica com Sarney, com Collor, com Renan, com Maluf, com Jader Barbalho, e, mesmo assim, estarmos onde estamos, olha, é para comemorar. É por isso que, mesmo com esse ponto a menos, vocês podem notar que estou tranquila, estou feliz - disse a candidata.

Em nota, a coligação Muda Brasil, de Aécio, disse que a campanha "está otimista com a reta final da campanha" e que os números divulgados nas pesquisas "apontam para crescimento das intenções de voto em seu nome". O deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP), da coordenação da campanha de Aécio, afirmou que o PSDB recebeu positivamente a variação negativa de Marina, o que, em sua opinião, aumenta as chances de Aécio.

- O que houve foi uma variação de Dilma em cima da margem de erro. Aécio vai continuar fazendo uma campanha propositiva. A queda da Marina acentua a possibilidade de Aécio ir para o segundo turno e vencer a Dilma. As grandes viradas sempre acontecem no final - disse Duarte. (Colaborou Flavio Ilha)

Empate tende a agravar campanha negativa

Jose Roberto de Toledo – O Estado de S. Paulo

Com Dilma Rousseff (PT) empatando com ela em 41% na simulação de segundo turno e com a sua taxa no primeiro turno indo abaixo de 30%, a única boa notícia para Marina Silva (PSB) na mais recente pesquisa Ibope é que Aécio Neves (PSDB) parou de crescer. A distância que ainda a separa do tucano é confortável para Marina ir ao segundo turno, mas não é garantia de vitória contra Dilma.

De todos os números divulgados pelo Ibope, o mais preocupante para Marina é a aparente tendência de queda da candidata do PSB na simulação de segundo turno. Ela chegou a 46% no mano a mano contra Dilma no começo de setembro. Oscilou para 43% na semana seguinte, ficou nesse patamar na semana passada, e foi agora para 41%. Entre o começo e o fim do mês ela caiu 5 pontos.

Com números diferentes, a tendência foi igual na intenção de voto de Marina no primeiro turno: foi de 33% em 2 de setembro para 31%, 30 % e, agora, para 29%.

Se serve de consolo para o PSB, Dilma só se apropriou de 2 dos 5 pontos que Marina perdeu na simulação de segundo turno – um sinal de que o teto eleitoral da presidente continua baixo. Dilma tem 31% de rejeição (ela chegou a ter 38% em junho). A de Marina subiu de 10% para 17% desde o fim de agosto.

Na simulação de segundo turno, aumentaram os que pretendem votar em branco ou anular, de 8% para 12%, entre o começo e o fim de setembro. Em outras palavras, a maioria dos eleitores que votariam em Marina no segundo turno e mudaram de ideia não foi para Dilma, mas está agora sem candidato.

A taxa de branco e nulo não costuma chegar a dois dígitos no segundo turno presidencial. Foi de 9% em 2010, e de 8% em 2006. Portanto, é provável que parte dos que estão sem candidato agora acabem optando por um dos dois nomes que forem ao segundo turno. E esse escolha, como sempre, será na base do “menos pior”.

Logo, se Dilma e Marina passarem ao turno final, nem uma nem outra precisará necessariamente mostrar que é “boa” candidata, apenas que não é tão “ruim” quanto a adversária. É o cenário ideal para uma campanha agressiva e negativa. Ou seja, a confusão está só começando.

Marina sai da defensiva para estancar queda

Cristiane Agostine, Sandra Hahn Renata Batista, Ricardo Gozzi* e Dauro Veras - Valor Econômico

SÃO PAULO, PORTO ALEGRE, RIO, CURITIBA e FLORIANÓPOLIS - A equipe da campanha de Marina Silva (PSB) à Presidência viu com preocupação o aumento da avaliação positiva do governo e teme perder mais pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto, depois que levantamentos divulgados ontem mostraram a queda de Marina e o crescimento da candidatura da presidente Dilma Rousseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB). Diante desse cenário, a campanha intensificará os ataques contra Dilma. Além de enfrentar dificuldades na reta final da campanha, Marina terá de mediar a briga dentro do PSB sobre a sucessão partidária, em plena campanha presidencial.

Segundo pesquisa Ibope divulgada ontem, a soma de "ótimo" e "bom" passou de 37% para 39%. O índice está próximo de 40%, que, segundo analistas da campanha, tornaria a reeleição de Dilma mais fácil. A diferença da avaliação positiva em relação aos que consideram "ruim" ou "péssimo" (28%) é de 11 pontos percentuais. Antes do início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, a diferença era de apenas um ponto percentual.

A campanha de Marina preocupa-se com o chamado voto útil e já estima perder pelo menos mais dois pontos percentuais para as campanhas de Dilma e de Aécio.

Segundo Ibope, Dilma passou de 36% para 38% e Marina caiu de 30% para 29%. Aécio manteve-se com 19%. No segundo turno, as duas candidatas estão empatadas. No Vox Populi, Dilma e Aécio cresceram e Marina diminuiu nas intenções de voto. A diferença para Dilma, que era de nove pontos percentuais (36% a 27%) dobrou para 18 pontos (40% a 22%) em apenas uma semana. Agora, Marina estaria mais perto de um empate técnico com Aécio Neves (PSDB), que tem 17%, do que com a petista.

Para tentar reverter a desvantagem em relação a Dilma, a candidatura quer "desconstruir" a petista. Segundo o marqueteiro da campanha, Diego Brandy, Marina deve sair da postura defensiva e partir para o ataque. "O que a campanha menos precisa agora é de se defender", disse Brandy.

Os aliados da candidata do PSB, no entanto, ainda estudam como deve ser a crítica à candidatura de Aécio. A subida do tucano pode fazer com que os votos anti-PT que estavam com Marina migrem para Aécio. No entanto, a campanha do PSB aposta no bom desempenho para levar a disputa ao segundo turno entre Marina e Dilma.

A campanha do PSB vai reforçar a associação da imagem do governo Dilma à corrupção. No programa de televisão exibido ontem à noite, Marina disse que a presidente precisa reconhecer os problemas e que deve apresentar um programa de governo "na forma de desculpas" pelo o que fez no país. A candidata prometeu acabar com a "corrupção na Petrobras" e "recuperar a Eletrobras ". Em uma inserção, a campanha ataca a gestão da Petrobras e diz que o governo fez com que a estatal perdesse metade do seu valor e ficasse com uma dívida quatro vezes maior do que tinha, além de estar envolvida em escândalos de corrupção.

A estratégia de vitimização que havia sido adotada pela campanha não se mostrou eficiente. Segundo pesquisa Ibope, a rejeição de Marina foi de 14% para 17%, enquanto a de Dilma caiu de 34% para 31%.

Em entrevistas e comícios, Marina atacou Dilma. Ontem, em Curitiba, criticou o governo por usar recursos do fundo soberano para socorrer as contas públicas e disse que isso demonstra que o governo coloca em risco a estabilidade e o crescimento do país.

Em Florianópolis, Marina criticou a atuação da presidente, ontem, na 69ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. "[Dilma] falou na ONU apenas sobre conquistas passadas, sem sinalizar mudanças futuras", disse, acrescentando que as "políticas erráticas" do governo em relação ao meio ambiente são um retrocesso e comprometem o futuro. A candidata prometeu revisar o fator previdenciário para corrigir distorções. Em comício, criticou Dilma e Aécio. "Votar no PSDB é andar para trás, votar em Dilma é ficar patinando no mesmo lugar; agora é hora de andar para a frente".

Em meio a uma disputa presidencial cada vez mais acirrada, o PSB marcou para a próxima semana a eleição que definirá o novo presidente e a nova executiva nacional. A eleição foi convocada pelo atual presidente, Roberto Amaral, que assumiu o cargo após a morte de Eduardo Campos.

Composta por 35 pessoas, a nova executiva será escolhida na segunda-feira pelos 135 integrantes do diretório nacional, eleitos no congresso do partido, realizado em junho, ainda sob a liderança de Campos. Amaral tem até dezembro para convocar a eleição interna. Segundo fontes do PSB, Amaral teme a "captura" do comando do partido pelo grupo de Marina, que já manifestou a possibilidade de permanecer no PSB, caso seja eleita.

O candidato a vice na chapa de Marina, Beto Albuquerque (PSB), disse ontem que não há consenso em seu partido sobre a possível antecipação da escolha de nova executiva para dirigir a legenda. Albuquerque ressaltou que está conversando com o presidente do PSB para "priorizar a eleição" neste momento e não a sucessão partidária que poderia aguardar o término da campanha. O vice de Marina é um dos cotados a assumir o comando da legenda no lugar de Amaral.

"Iniciamos uma conversa ainda ontem (segunda-feira) e vamos seguir nesta conversa para que a prioridade não seja o partido, mas o processo eleitoral", reforçou Albuquerque, ao lado de Marina, em entrevista coletiva antes de participar de comício em Porto Alegre. "É uma perda de tempo neste momento", avaliou, sobre a eventual antecipação.

Apesar da resistência do grupo de Marina, Amaral tem articulado sua manutenção no cargo. Ontem, passou o dia em São Paulo, em reunião com dirigentes.

No Rio, Estado onde Amaral tem mais força, a sinergia entre o grupo de Marina e do PSB local foi limitada. A opção local por uma coligação com o PT não teve o apoio da agora candidata a presidente, que preferia apoiar a candidatura de Miro Teixeira. Além disso, seus aliados estão dispersos em vários partidos. Miro é candidato a deputado federal pelo Pros. O deputado federal Alfredo Sirkis acompanhou Marina quando ela saiu do PV, está no projeto de criação do Rede Sustentabilidade e se filiou com ela ao PSB, mas optou por não se candidatar. Já o vereador Jefferson Moura permanece no PSOL, embora esteja diretamente engajado na campanha de Marina.

Eleitor do Centro-Oeste descola-se do agronegócio e adere a Marina

César Felício – Valor Econômico

BRASÍLIA - Nem o combate ao plantio transgênico, nem a oposição ao agronegócio em relação ao novo Código Florestal travaram a candidatura presidencial da ex-senadora Marina Silva (PSB) nos Estados com base econômica rural relevante. De acordo com pesquisas locais de intenção de voto divulgadas na última semana, Marina está liderando em Goiás e no Mato Grosso do Sul e fica empatada com Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) no Paraná.

A ex-senadora fica em desvantagem nos estados rurais com economia menos expressiva, como Rondônia e Tocantins, onde Dilma tem folgada dianteira.

O resultado é ainda mais expressivo pela falta de estrutura política da candidata nestes Estados. No Paraná e em Goiás, os governadores tucanos Beto Richa e Marconi Perillo lideram as pesquisas para governador, seguidos por aliados de Dilma. Em Rondônia a liderança está com o tucano Expedito Júnior e em Tocantins com o pemedebista Marcelo Miranda.

Majoritariamente fechados com Aécio, empresários do agronegócio e políticos têm dificuldade de explicar o fenômeno. Atribuem os altos percentuais de Marina ao voto útil da parcela antipetista do eleitorado, que consideraria a candidata do PSB mais competitiva em um segundo turno contra Aécio, à comoção provocada pela tragédia que matou o candidato anterior do PSB, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e a presença forte do eleitorado evangélico no entorno das grandes cidades.

"É falso achar que a base do eleitorado vota de acordo com a base da economia local. Quem produz no campo está com Aécio, mas muita gente na periferia acha que leite e amendoim vêm de fábricas e dos supermercados, e não das fazendas", exagera Antenor Nogueira, pecuarista e presidente da Agência Goiana de Defesa Agropecuária, um órgão do governo estadual tucano. Em Goiás, de acordo com pesquisa do instituto Serpes divulgada no fim de semana pelo jornal "O Popular", Marina está com 35%, ante 31% de Dilma e apenas 18% de Aécio.

Segundo a pesquisa, Marina consegue sua maior dianteira em Goiânia, onde ganharia a eleição por maioria absoluta: 45% de intenções de voto, ante 43% da soma dos concorrentes. A capital corresponde a 20% do eleitorado do Estado.

"Em nenhum lugar do País o voto estadual e o nacional está sendo coerente. Marina preocupa o setor rural, mas o que predomina é o voto emocional", disse o deputado federal Abelardo Lupion (DEM-PR), com investimentos em pecuária e no setor madeireiro. De acordo com levantamento do Ibope divulgado dia 18, Marina e Dilma tem 29% e Aécio 28% entre os paranaenses. Já Richa conta com 44% de intenção de voto.

De acordo com Lupion, que não disputa a reeleição, a intenção de voto de Marina é diretamente proporcional ao tamanho do município. "No Paraná, Marina ganha na região metropolitana de Curitiba, que é 30% do eleitorado, mas quanto menor a cidade, maior a intenção de voto de Aécio e menor a dela, porque aí pesa o interesse do campo, que se assusta com a posição dela em relação ao uso de defensivos agrícolas, por exemplo. Aqui (no Paraná) não tem o Bolsa Família, que desequilibra o jogo nas cidades pequenas para a Dilma", disse.

O Programa Bolsa Família beneficia somente 11,2% das famílias no Paraná. Em estados de base rural com mais população beneficiada, a votação de Dilma tende a subir. É o caso do Tocantins, onde 30,7% das famílias recebem o benefício e a presidente conseguiu 43% de intenção de voto em um levantamento do instituto Serpes, ante 33% de Marina e 11% de Aécio. Entre os tocantinenses, Marina só ganha em Palmas, que corresponde a 15% do eleitorado local. Também é o que ocorre em Rondônia, com 22% das famílias dentro do Benefício. Dilma teve 35% na última pesquisa Ibope, enquanto Dilma e Marina ficaram com 24%.

A dianteira de Marina pode se reforçar nos estados de base rural em um segundo turno, alimentado pelo pragmatismo antipetista. " Ela não assusta mais o empresariado de forma alguma. Todo mundo sabe que para governar ela terá que compor", comentou o ex-deputado Saulo Queiroz (MS), secretário-geral do PSD e com investimentos em soja, gado e reflorestamento no Maranhão.

No Mato Grosso do Sul, Marina conseguiu 37%, ante 34% de Dilma e 15% de Aécio em uma pesquisa do Ibrape encomendada pela Federação de Indústrias local.

Marina critica adversários

- Zero Hora (RS)

Em visita a Porto Alegre ontem, Marina Silva (PSB) acusou os candidatos Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) de fazerem uma aliança para tentar desconstituir seu programa de governo.

Ao lado do candidato a vice, Beto Albuquerque (PSB), a ex-senadora concedeu entrevista antes de participar de um comício na Casa do Gaúcho, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, com a presença dos peemedebistas José Ivo Sartori, que concorre ao Piratini, e Pedro Simon, que disputa o Senado. Marina disse que PT e PSDB estão usando um "marketing selvagem":

– Não têm programa e fizeram aliança para tentar desconstituir quem apresentou um programa para mudar o Brasil.

'Governo atual é retrocesso', diz Marina

Isadora Peron -  O Estado de S. Paulo

Antes de participar de um ato político em Florianópolis, a candidata do PSB ao Palácio do Planalto, Marina Silva, rebateu ontem as críticas da presidente Dilma Rousseff à sua gestão no Ministério do Meio Ambiente. Sem precisar ser questionada pelos jornalistas que participavam da entrevista coletiva, a ex-titular da pasta no governo Luiz Inácio Lula da Silva lamentou os ataques da adversária e o fato de a petista não ter assinado um dos protocolos em discussão no evento promovido pela Organização das Nações Unidas em Nova York.

"A presidente Dilma fez uma fala se reportando tão somente ao passado. Não sinalizou nenhum compromisso para o futuro e ainda não assinou o acordo sobre proteção das florestas", criticou Marina. "Dos países relevantes que têm florestas o Brasil é um dos maiores e foi um dos únicos que não assinou a carta. O que é lamentável. O Brasil não precisa dar uma sinalização trocada como essa."

Para Marina, o governo adota "políticas erráticas" na proteção ao meio ambiente. "Quando o governo retrocede em relação a processos que vêm sendo encaminhados de muito tempo para que se tenha uma agenda de desmatamento zero, isso é um grande retrocesso", disse. "São retrocessos sobre retrocessos."

Brasil não assina acordo contra desmatamento

• Documento de metas voluntárias prevê o fim do desmatamento até 2030

Isabelde Luca, Flávia Barbosa e Renato Grandelle – O Globo

RIO E NOVA YORK- Dono da maior flor esta tropical do mundo, o Brasil surpreendeu a comunidade internacional e não assinou ontem um acordo de combate ao desmatamento apresentado durante a Cúpula do Clima, em Nova York, um encontro que reuniu mais de 120 chefes de Estado. O documento propõe reduzir pela metade o corte de flor estas até 2020 e zerá-lo na década seguinte. Com esta medida, entre 4,5 bilhões e 8,8 bilhões de toneladas de CO2 deixariam de ser liberadas para a atmosfera — o equivalente à remoção de um bilhão de carros das ruas até 2030. A Declaração de Nova York, como foi batizado, foi elaborada por um grupo de países europeus e endossado por 32 Estados — entre eles EUA, Canadá, Noruega, Inglaterra e Indonésia —, além de empresas, entidades civis e comunidades indígenas. O documento segue aberto para adesões até dezembro de 2015, quando acontece a Conferência de Paris.

A exemplo do Brasil, China e Índia, que também estão entre os maiores desmatadores do mundo, rejeitaram o documento. Embora tenha considerado o acordo importante e criticado o Brasil por rejeitá-lo, o Greenpeace também não o assinou por considerá-lo vago demais. Segundo a ONG, os compromissos voluntários não substituem ações governamentais. —Precisamos de leis fortes para proteger florestas e pessoas, assim como de uma melhor aplicação das leis existentes—explicou o diretor-executivo internacional do grupo, Kumi Naidoo . — Deter a perda global de flor estas em 2030 no máximo significaria que anos de desmatamento ainda estariam à nossa frente. De acordo com uma fonte próxima à negociação, a Missão Brasileira na ONU recebeu o texto há cerca de um mês e o enviou a Brasília, que teria apontado trechos incompatíveis com o novo Código Florestal: — Entramos em contato com esse grupo de países por trás da iniciativa e pedimos algumas modificações no texto final, pois não podemos nos associara uma declaração que vá de encontro a uma lei nossa. Ponderamos essa questão e pedimos que o texto fosse ajustado, mas eles disseram que não podiam, porque já estava fechado.

E o Brasil obviamente não se associou. Em entrevista a agências internacionais, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou que o texto do acordo pode colidir com a legislação brasileira.— É diferente ter deflorestamento legal e deflorestamento ilegal. Nossa política nacional é combater o desmatamento ilegal — explicou. O Brasil quer , por exemplo , debater os pontos do texto com outras nações flor estais e ver se há compatibilidade entre a proposta europeia e tanto as negociações climáticas correntes quanto a política ambiental brasileira. O país também não quer perder as rédeas desta discussão, que compartilha com outros pares, pois, como descreveu um observador, "se tem uma coisa que em clima está dando certo é floresta , a queda de desmatamento ".

Decisão pode ser estratégica
Diretor executivo da Agência de Investigação Ambiental (EIA , na sigla em inglês), Alexander Von Bismarckdiz que na prática o país tem tido uma ação extremamente positiva, o que é mais importante do que assinar uma declaração:— A questão é: o que acontece depois? Esses documentos são úteis e importantes, mas as florestas precisam de ação. O Brasil adotou medidas importantes para combater o desmatamento ilegal, mas aqui nos EUA as pessoas ainda estão comprando madeira extraída ilegalmente do Brasil. Diretor do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Osvaldo Stella avalia que a rejeição brasileira ao acordo pode ser "estratégica" .— Talvez este não seja o melhor momento para assinar um documento —explica. — O desmatamento é uma importante fonte de emissões de CO2 do Brasil, mas irrelevante em outros grandes países. Então, o melhor, para nós,seria negociar simultaneamente todas as causas do aquecimento global. Desta forma, não perdemos peso nas conversas das próximas conferências.

O acordo novaiorquino propõe ainda a formação de um fundo global de combate ao desmatamento, no valor de pelo menos US$ 1 bilhão, destinado a países pobres que preservem as suas florestas . Também lembra que cerca de 500 milhões de pequenos fazendeiros, especialmente na África e no Sul da Ásia, estão vulneráveis a eventos extremos que afetariam a produção de alimentos, como a escassez de água e grandes tempestades. Grandes empresas também aderiram ao documento, entre elas petrolíferas, prometendo reduzir a emissão de gases-estufa na geração de energia. Em um discurso de quase oito minutos, a presidente Dilma Rousseff revelou que o desmatamento no Brasil diminuiu 79% em oito anos . Esta seria uma amostra deque o crescimento econômico não é incompatível com a adoção de medidas de preservação ambiental.

— O Brasil não anuncia promessas. Mostra resultados — ressaltou. — Ao mesmo tempo em que diminuímos a pobreza e a desigualdade social, protegemos o meio ambiente. Nos últimos 12 anos, temos tido resultados extraordinários. Já o presidente americano, Barack Obama, usou seu discurso no evento para assumir a responsabilidade de seu governo e, também, pressionar a China a tomar atitudes . Segundo ele, os países têm que "deixar de lado nossas velhas diferenças ".Já o vice-premier chinês, Zhang Gaoli, revelou que o país teria como objetivo limitar as emissões ou atingir o seu pico "o mais cedo possível". Alguns conselheiros de Pequim avaliam que isso só deve acontecer depois de 2030. Durante a Cúpula, Coreia do Sul, Dinamarca e Suíça anunciaram a doação de cerca de US$ 270 milhões para o Fundo Verde para o Clima, criado em 2010 pela ONU. França e Alemanha prometeram doar US$ 1 bilhão "nos próximos anos ". Ao lado do secretário-geral da ONU, Banki-Moon, o prefeito Eduardo Paes, presidente do C40 — o grupo das 69 maiores cidades do mundo — anunciou o Pacto Global dos Prefeitos. Com o acordo, 228 cidades, que abrigam quase meio bilhão de pessoas, assumem o compromisso de reduzir a emissão de gases-estufa em até13 milhões de toneladas até 2050.

Aécio Neves diz que governo precisa do Fundo Soberano porque país parou de crescer

• 'A responsabilidade não é só da crise internacional', afirma candidato tucano

Leticia Fernandes – O Globo

RIO - O senador Aécio Neves (PSDB), que fez campanha em Niterói nesta terça-feira, voltou a criticar a política econômica do governo federal e afirmou que a gestão petista busca recursos no fundo soberano para fechar as contas porque, segundo ele, o país parou de crescer:

— Hoje, o governo federal recalibra para baixo a expectativa de crescimento da economia, agora para 0,9%. O governo federal busca no fundo soberano recursos para fechar as suas contas porque o Brasil parou de crescer, e a responsabilidade não é só da crise internacional. No momento em que esse governo demoniza por dez anos a parceria com o setor privado, ela obviamente afasta os investimentos.

O Fundo Soberano foi criado em 2008 com recursos do superávit primário. A ideia do governo era fazer uma poupança para ser usada em momentos de crise. Agora, diante do fraco desempenho da arrecadação devido ao baixo crescimento da economia, a estimativa de receitas caiu R$ 10,541 bilhões no quarto bimestre, em relação ao período anterior. Para compensar a perda, o governo vai usar R$ 3,5 bilhões do Fundo Soberano e cortou a estimativa de despesas obrigatórias em R$ 7,041 bilhões.

Com essas manobras, o governo manteve a projeção de superávit primário (economia para o pagamento de juros) em R$ 99 bilhões ou 1,9 % do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). As informações constam do relatório de avaliação de receitas e despesas primárias do quarto bimestre, divulgado nesta segunda-feira pelo Ministério do Planejamento.

Eleitores desaprovam estratégias agressivas

• 74% dos entrevistados se declaram avessos à troca de acusações entre os candidatos; Dilma é vista como a que mais ataca

Daniel Bramatti e José Roberto de Toledo - O Estado de S. Paulo

Três em cada quatro eleitores brasileiros desaprovam o tipo de campanha em que os candidatos trocam acusações entre si. A desaprovação é maior entre os eleitores da oposição do que entre os governistas: 81% dos que votam em Marina Silva (PSB) são contra a campanha negativa, contra 66% entre os eleitores de Dilma Rousseff (PT). No eleitorado de Aécio Neves (PSDB), a desaprovação à conduta é de 77%.

Apesar da reprovação do eleitorado, há sinais de que a campanha negativa funciona. Desde que passou a ser alvo dos adversários, Marina inverteu sua tendência nas pesquisas. A subida vertiginosa virou uma sequência ininterrupta de oscilações negativas que caracterizam uma queda lenta.

A maior parte do eleitorado, 28%, identifica que a campanha de Dilma é que está fazendo mais ataques aos adversários. Mesmo entre quem vota na petista sua campanha é vista como uma das mais agressivas (24%, contra 23% de seus eleitores, que apontam a de Aécio como a que mais ataca). Mas é no eleitorado de oposição que a campanha petista é apontada como a que mais critica os rivais: 37% entre eleitores de Aécio e 34% nos de Marina.

Em segundo lugar no ranking dos mais agressivos aparece a campanha tucana, com 20% de citações. A de Marina foi apontada como a mais negativa por apenas 14% dos eleitores.

Em sua defesa, os partidários de Dilma podem argumentar que a campanha da presidente é vista também como a mais propositiva pela maior parte dos eleitores: 32% dizem que ela está fazendo a campanha com mais propostas que beneficiam a população, contra 21% que apontam a de Marina e 18% que citam a de Aécio.

Segundo turno de arrepiar

• Novas pesquisas MDA e Ibope apontam para uma disputa acirrada entre candidatas

Eduardo Miranda, Paulo Henrique de Noronha – Brasil Econômico

A presidenta Dilma Rousseff (PT),candidata à reeleição, ampliou sua vantagem sobre Marina Silva(PSB) no primeiro turno das eleições presidenciais e está tecnicamente empatada com a adversária no segundo turno, segundo duas novas pesquisas divulgadas ontem — do Ibope, encomendada pela TV Globo e pelo jornal "O Estado de S. Paulo", realizada entre20 e 22 de setembro; e da MDA,contratada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), feita nos dias 20 e 21 .Segundo o Ibope, a vantagem de Dilma sobre Marina no primeiro turno passou de 6 pontos percentuais (p.p.) para 9 pontos na nova pesquisa. Dilma agora tem 38% das intenções de voto, contra 29% de Marina. Já pela nova pesquisa da MDA, a diferença, a favor de Dilma, passou de 4,6 p.p. para 8,6 p.p. — a petista está com 36% contra 27,4% de Marina.

Aécio Neves (PSDB) cresceu na pesquisa MDA, mas ficou estacionado no Ibope. Ele passou de 14,7% para 17,6%, segundo a MDA. Mas, pelo Ibope, depois de subir 4 pontos na pesquisa anterior, agora estacionou em 19%. Nos dois institutos, o segundo turno mostra um empate técnico entre Dilma e Marina. Pelo MDA, Dilma teria 42% contra 41% de Marina; na pesquisa anterior, Marina liderava com 45,5%, contra 42,7% da petista. Já pelas contas do Ibope, as duas candidatas estão agora com 41%; na pesquisa antecedente, Marina ganhava por43%, contra 40% de Dilma. De acordo com Ricardo de Oliveira, cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), há uma tendência dos movimentos das candidaturas de Dilma e Marina: "A distância aumenta entre elas, e Marina apresenta uma visível tendência de queda.

E há também uma aceleração dessa queda. Marina sente o impacto das críticas e das erratas do programa de governo e passa a percepção de que, de fato, teve o comportamento de uma onda". Para o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, Marina deve se preocupar em segurar a vantagem que tem sobre Aécio no primeiro turno. "Abaixo de10 pontos, pode ser arriscado, porque na reta final podemos ter algum movimento inesperado do eleitor", adverte, lembrando que, em 2010, quando abriram as urnas, Marina tinha mais votos do que as pesquisas mostravam. Cristiano Noronha acredita que, no segundo turno, Dilma tem uma importante vantagem: "Ela tem uma máquina governamental trabalhando em favor de sua reeleição. Marina dependerá muito de acordos que conseguir fechar.

Resta saber se ela terá condições de atrair aliados que foram derrotados no primeiro turno, como PSDB, DEM e PV".Ricardo Oliveira lembra que Dilma tem uma campanha muito estruturada e resiste bem aos ataques da oposição. "Já Marina tem revelado fragilidade na questão partidária e na infantaria de sua campanha. Quanto mais ela fala e se posiciona, mais desagrada grupos de interesses", afirma.

Aécio diz estar 'otimista' na reta final

Ricardo Brito – O Estado de S. Paulo

A campanha do candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, divulgou nota na noite desta terça-feira, 23, para afirmar que está "otimista" na reta final da campanha.

A 12 dias do primeiro turno, o tucano está em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, mas subiu de 15% para 19%, segundo levantamento Ibope/Estadão/TV Globo divulgado no início desta noite. Outras duas sondagens - Vox Populi e MDA - foram divulgadas ao longo do dia, mostrando o tucano em ascensão ou oscilação dentro da margem de erro.

"Os resultados das três pesquisas divulgadas nos últimos dias (MDA, Vox Populi e Ibope) mostram números diferentes entre si, mas todos apontam para crescimento das intenções de voto em seu nome. A mesma tendência de crescimento é verificada nas pesquisas realizadas nos Estados", afirma a nota da campanha do candidato do PSDB. "Aécio Neves está extremamente confiante de que disputará o segundo turno das eleições como o candidato com as melhores propostas de uma mudança segura para o Brasil", completa.

Polícia tenta ouvir Lula há sete meses sobre o mensalão

• Ex-presidente não atende convite por temer que teor de depoimento vaze para imprensa durante a campanha

• Objetivo da polícia é ouvir petista sobre acusações feitas pelo empresário Marcos Valério em 2012

Natuza Nery, Andréia Sadi e Fernanda Odilla – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Polícia Federal tenta há sete meses ouvir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas investigações instauradas a partir de novos depoimentos dados em 2012 pelo operador condenado no mensalão, o empresário Marcos Valério de Souza.

Segundo a Folha apurou, Lula foi convidado a ajudar na apuração em fevereiro deste ano. Não se trata, portanto, de intimação.

Apesar de reiterado algumas vezes, o convite ainda não foi atendido por temor de que o interrogatório seja vazado à imprensa --ainda mais em um ano eleitoral.

Pessoas próximas ao ex-presidente argumentam que o petista fez chegar à PF, por meio de representantes, o recado de que está disposto a colaborar com as investigações, mas teme que um depoimento agora seja explorado politicamente por adversários.

A delegada Andrea Pinho, responsável por apurar em Brasília denúncias feitas por Valério sobre um suposto envolvimento do ex-presidente no mensalão, negocia, sem sucesso, um encontro com o petista desde fevereiro.

Nos últimos meses, a cúpula da PF mostrou-se dividida em relação ao interrogatório de Lula.

Alguns acreditavam ser inócuo o depoimento do ex-presidente, que poderia recorrer ao direito de falar somente na Justiça caso as investigações se transformem em ações penais. Outros insistiam no seu comparecimento, argumentando ser possível assegurar sigilo absoluto em relação ao conteúdo das declarações prestadas.

Lula não foi intimado pela delegada e, se depender da vontade do comando da polícia, não o será. Na avaliação interna, tal medida seria exagerada.

Em setembro de 2012, Marcos Valério foi espontaneamente à PGR (Procuradoria-Geral da República) prestar novas declarações na esperança de ser beneficiado de alguma forma. Àquela altura, ele já havia sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão, mas as penas ainda não haviam sido definidas.

Valério acabou sendo condenado a mais de 40 anos de prisão por diversos crimes, entre eles lavagem de dinheiro. No depoimento de 2012, ele acusou Lula de saber da existência do mensalão e de ter se beneficiado pessoalmente do esquema.

Entre as alegações, afirmou ter repassado cerca de R$ 100 mil por meio de uma empresa de um ex-assessor de Lula para pagar despesas pessoais do então presidente em 2003.
Afirmou, ainda, que Lula e o ex-ministro Antonio Palocci intercederam junto à companhia Portugal Telecom para que a empresa repassasse R$ 7 milhões ao PT.

As declarações de Valério se transformaram em pelo menos dois inquéritos policiais, que tramitam em Brasília e Minas Gerais. Foram instaurados outros seis procedimentos no Ministério Público Federal para apurar as acusações do operador do mensalão. Desses, pelo menos dois já foram arquivados.

A delegada Andrea Pinho foi removida do cargo que ocupava na Superintendência da PF em Brasília em fevereiro, mas continuou à frente da investigação.

Procurado, o Instituto Lula não se pronunciou.

No Rio, Pezão pela primeira vez aparece à frente de Garotinho

• Governador sobe de 25% para 29%, e candidato do PR mantém os 26%

Juliana Castro e Raphael Kapa – O Globo

Pela primeira vez desde o início da campanha eleitoral, o atual governador e candidato à reeleição, Luiz Fernando Pezão (PMDB), aparece numericamente à frente do ex-governador Anthony Garotinho (PR) na disputa pelo Palácio Guanabara, com 29% contra 26%. Como a margem de erro é de dois pontos percentuais, eles estão tecnicamente empatados na pesquisa Ibope divulgada ontem. No levantamento do dia 9, Pezão tinha 25% e Garotinho, 26%.

Marcelo Crivella (PRB) manteve os 17% dos últimos dois levantamentos, e Lindbergh Farias (PT) oscilou de 9% para 8%. O petista apostava que cresceria nas pesquisas com o início do horário eleitoral gratuito, o que não aconteceu. Tarcísio Motta (PSOL) tem 2%. Dayse Oliveira (PSTU) tem 1% e Ney Nunes (PCB) não atingiu 1%.

Cai percentual de votos em branco
Os votos em branco e nulos somam 10%. Na pesquisa anterior, esse índice era de 14%. Os indecisos são 7%; antes eram 6%.

- Comparado com os resultados das outras pesquisas, Crivella e Garotinho estacionaram, e Pezão ganhou quem antes estava votando em branco ou nulo. A tendência de crescimento do Pezão pode ser explicada por ter muito mais recursos, pela estratégia de esconder Sérgio Cabral da campanha e por ser um governador concorrendo - disse Marcus Dezemone, professor de História da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Na simulação de segundo turno, Pezão aparece com 43% e Garotinho tem 33%. Antes, o governador tinha 40% e o candidato do PR, os mesmos 33%. Desde o início da campanha, os dois trocam críticas sobre suas gestões à frente do Estado.

O Ibope também apontou a rejeição dos candidatos. A maior é a de Garotinho (39%), seguido de Lindbergh (18%), Pezão (16%) e Crivella (12%). Na pesquisa anterior, o candidato do PR aparecia com o mesmo percentual. Já Lindbergh tinha um ponto percentual a mais; o governador, 18%; e Crivella, 15%.

- O Garotinho é um candidato com um piso alto e um teto baixo. Ele tem uma rejeição forte - disse Felipe Borba, cientista político da UniRio. - O crescimento do Pezão era esperado, não vejo como surpresa. Ele tem muito tempo de televisão, é o candidato que mais arrecada e tem uma base grande, que alavanca sua candidatura.

O Ibope também ouviu os eleitores sobre a avaliação do governo Pezão. Para 4%, a gestão é ótima e, para 27%, boa. Ao todo, 38% disseram que era regular; 10%, ruim; e 9%, péssima.

Durante caminhada na noite de ontem no distrito de Goytacazes, em Campos, no Norte Fluminense, Pezão disse que vai manter a mesma tranquilidade de quando tinha 4%.

- Vamos continuar trabalhando. O povo sabe o governo que a gente fez, é um jeito de governar, estou muito satisfeito. As pessoas falavam que eu não passaria de 10%. Então, estar liderando a 13 dias da eleição é uma alegria muito grande - afirmou Pezão, na cidade que é reduto de Garotinho.

Diante do resultado, o candidato do PR afirmou que o importante é o percentual das urnas.

- Treino é treino e jogo é jogo - afirmou Garotinho. - Os números de nossa pesquisa interna continuam me colocando à frente do Pezão - completou o candidato do PR.

Lindbergh disse que uma onda de voto útil vai colocá-lo no segundo turno:

- Acredito que a eleição está em aberto. Faço um paralelo com a eleição de 2008. Crivella estava na frente, teve uma onda de voto útil, e o Eduardo Paes passou o Crivella. Quando isso aconteceu, teve uma segunda onda de voto útil que levou o Gabeira ao segundo turno. Vou trabalhar para ter uma segunda onda de voto útil que me leve ao segundo turno.

Crivella afirmou que continuará nas ruas para chegar no segundo turno:
- Eu tenho a agradecer ao povo fluminense, que tem me colocado nos primeiros lugares nas pesquisas. Acredito que nosso partido tem tudo para chegar no segundo turno.

Romário lidera disputa pelo Senado
Romário (PSB) segue na liderança da disputa ao Senado, com 44% de intenções de voto, o mesmo percentual da pesquisa anterior. Em segundo lugar, aparece Cesar Maia (DEM), com 21%, mesmo índice do levantamento divulgado dia 9. Já Carlos Lupi (PDT), Eduardo Serra (PCB) e Liliam Sá (PROS) aparecem empatados, com 2%. Brancos e nulos somam 15%, e não souberam ou não responderam, 11%.

O autorretrato de Dilma: O Estado de S. Paulo - Editorial

Por ter chorado numa entrevista ao dizer que fora "injustiçada" pelo ex-presidente Lula, a candidata Marina Silva foi alvo de impiedosos comentários de sua rival Dilma Rousseff. "Um presidente da República sofre pressão 24 horas por dia", argumentou a petista. "Se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República." E, como se ainda pudesse haver dúvida sobre a sua opinião, soltou a bordoada final: "A gente tem que aguentar a barra". Passados apenas oito dias dessa suposta lição de moral destinada a marcar a adversária perante o eleitorado como incapaz de segurar o rojão do governo do País, Dilma acabou provando do próprio veneno.

Habituada, da cadeira presidencial, a falar o que quiser, quando quiser e para quem quiser - e a cortar rudemente a palavra do infeliz do assessor que tenha cometido a temeridade de contrariá-la -, a autoritária candidata à reeleição foi incapaz de aguentar a barra de uma entrevista de meia hora a três jornalistas da Rede Globo, no "Bom dia, Brasil". A sabatina foi gravada domingo no Palácio da Alvorada e levada ao ar, na íntegra, na edição da manhã seguinte do noticioso. Os entrevistadores capricharam na contundência das perguntas e na frequência com que aparteavam as respostas. Se foram, ou não, além do chamamento jornalístico do dever, cabe aos telespectadores julgar.

Já a conduta da presidente sob estresse, em um foro público, por não ditar as regras do jogo nem, portanto, dar as cartas como de costume entre as quatro paredes de seu gabinete, é matéria de interesse legítimo da sociedade. Fornece elementos novos, a menos de duas semanas das eleições, sobre o que poderiam representar para o Brasil mais quatro anos da "gerentona" quando desprovida do conforto dos efeitos especiais que lustram a sua figura no horário de propaganda e, eventualmente, do temor servil que infundiu aos seus no desastroso primeiro mandato. Isso porque os reverentes de hoje sabem que não haverá Dilma 3.0 em 2018 nem ela será alguém na ordem das coisas a partir de então.

A presidente, que tão fielmente se autorretratou no Bom Dia, Brasil é, em essência, assim: não podendo destratar os interlocutores, maltrata os fatos; contestadas as suas versões com dados objetivos e ao alcance de todos quantos por eles se interessem, se faz de vítima como a Marina Silva a quem, por isso, desdenhou. Cobrada por não responder a uma pergunta, retruca estar "fazendo a premissa para chegar na conclusão (sic)", ensejando a réplica de ficar na premissa "muito tempo". É da natureza dessas situações com hora marcada que o entrevistado procure alongar-se nas respostas para reduzir a chance de ser atingido por novas perguntas embaraçosas. Some-se a isso o apreço da presidente pelo som da própria voz - e já estaria armado o cenário de confronto entre quem quer saber e quem quer esconder.

Mas o que ateou fogo ao embate foram menos as falsidades assacadas por Dilma do que a compulsiva insistência da candidata, já à beira de um ataque de nervos, em apresentá-las como cristalinas verdades. Quando repete que não tinha a mais remota ideia da corrupção em escala industrial na diretoria de abastecimento da Petrobrás ocupada por Paulo Roberto Costa de 2004 (quando ela chefiava o Conselho de Administração da estatal) a 2012 (quando ocupava havia mais de um ano o Planalto), não há, por ora, como desmascarar a incrível alegação. Mas quando ela afirma e reafirma - no mais desmoralizante de seus vexames - que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) não mede desemprego, mas taxa de ocupação, e não poderia, portanto, ter apurado que 13,7% dos brasileiros de 18 a 24 anos estão sem trabalho, é o fim da linha.

Depois da entrevista, o programa fez questão de convalidar os números da jornalista que a contestava. De duas, uma, afinal: ou Dilma, a economista e detalhista, desconhece o que o IBGE pesquisa numa área de gritante interesse para o governo - o que simplesmente não é crível - ou quis jogar areia na verdade, atolando de vez no fiasco. De todo modo, é de dizer dela o que ela disse de Marina: assim "não dá para ser presidente da República".

Merval Pereira: Marina resiste; Dilma cresce

- O Globo

Ao contrário do que anunciavam os blogs petistas e seus "trackings" imaginários, a candidata Marina Silva, do PSB, continua onde sempre esteve nas últimas semanas, na casa dos 30% das intenções de voto, mantendo uma razoável, e diria mesmo quase insuperável, distância do terceiro colocado, o tucano Aécio Neves, que, depois de ter dado uma crescida alentadora, estacionou nos 19% dos votos.

Chega a ser engraçada, se não patética, a tentativa de institutos de pesquisa ligados ao PT de dar uma esperança ao candidato do PSDB, anunciando um "derretimento" da candidatura de Marina que não aconteceu, segundo o Ibope. Os resultados do primeiro turno permanecem os mesmos de pesquisas anteriores, variando na margem de erro, embora a presidente Dilma esteja em fase de ascensão: depois de ter perdido 3 pontos na pesquisa anterior, recuperou 2 deles.

O importante mesmo, a esta altura da campanha, é avaliar o segundo turno, que deve acontecer entre Dilma e Marina. A presidente está em ritmo de recuperação, pois perdia por 9 pontos para a candidata do PSB há um mês (36% a 45%) e, hoje, está empatada em 41%.

Mas essa recuperação aconteceu logo na pesquisa seguinte, pois há três semanas os números estão parados no mesmo lugar, com alternância de posições entre as duas dentro da margem de erro. É claro que, mesmo nesse empate, há uma tendência de crescimento da presidente Dilma, que saiu de uma derrota por margem ampla para um empate técnico em que está 1 ponto à frente da oponente.

Faltam apenas três programas eleitorais até o primeiro turno, e nessa situação os dois debates que se realizarão, o da Record e o da Globo, terão importância maior para a definição da chegada no primeiro turno. Embora tenha se recuperado na disputa direta com Marina no segundo turno, a presidente Dilma tem motivos de preocupação: ela cresce apenas 3 pontos entre os dois turnos, enquanto Marina absorve 60% da votação do tucano Aécio Neves, nada menos que 12 pontos.

O que acontece num primeiro momento é que aumentou o número de eleitores que declaram votar em branco ou nulo, de 8% para 12%. Esses eleitores, que estavam inicialmente com Marina, recuaram da decisão, mas não trocaram a escolha por Dilma.

Como, segundo os analistas, essa taxa de negação da eleição não costuma ser de dois dígitos, é possível imaginar que cerca de 3% a 4% desses eleitores optarão por uma das candidatas, e é mais difícil um eleitor do PSDB decidir por Dilma do que por Marina.

Além do mais, a rejeição da presidente continua alta, embora ela tenha conseguido, com a propaganda eleitoral, reduzi-la de 35% para 31%, e a de Marina tenha subido para 19%. Se, como é provável, o quadro se mantiver inalterado nestes últimos dias, as duas candidatas chegarão bem próximas no segundo turno, com a presidente com a vantagem da vitória, o que sempre cria um ambiente estimulante na campanha.

A Marina, caberá organizar um acordo partidário com o PSDB para chancelar sua capacidade de negociação e governabilidade, e aproveitar o tempo de propaganda igual na televisão e no rádio para mostrar-se melhor ao eleitor e rebater a campanha negativa do PT, que deve se acelerar até o final do primeiro turno.

Mesmo que Aécio Neves continue na sua campanha direta contra a candidata do PSB, deve tomar cuidado para não inviabilizar sua presença nesse acordo, pois sairá desta eleição, ao que tudo indica, sem conseguir eleger o governador de Minas Gerais, seu território - que passará a ter um prefeito do PSB e um governador do PT.

Uma estratégia mais prudente facilitaria uma transição para apoiar a candidatura de Marina Silva, que já é a escolha de uma ampla maioria de seus eleitores. Ficando definido que Marina é a única com possibilidades reais de derrotar o petismo no segundo turno, a campanha do tucano ficará mais difícil, e o mais lógico seria que se dedicasse a combater a presidente Dilma com mais ênfase do que critica Marina.

Por uma simples lógica política, e não eleitoral.

Dora Kramer: O tempo ruge

- O Estado de S. Paulo

Os primeiros números da semana vão mostrando que o que se diz das pesquisas não é mero chavão: elas não antecipam o resultado das urnas; limitam-se a informar quais são as intenções do eleitorado em determinado momento.

Na atual campanha já houve diferentes momentos. Primeiro aquele em que a presidente Dilma Rousseff era franca favorita, cenário onde na versão de seu marqueteiro iria reinar "sobranceira" sobre os adversários reduzidos à categoria de "anões".

Depois, a queda acentuada da popularidade sinalizou as dificuldades, mas ainda se vivia a ilusão numérica de que a eleição seria ganha por ela em primeiro turno.

Lá pelo mês de julho, início de agosto as pesquisas indicavam um quadro bem adverso para a presidente. Ainda à frente, mas já com o tucano Aécio Neves apresentando um crescimento razoável para a casa dos 20%, enorme rejeição em São Paulo e situação periclitante no segundo turno. Ao ponto de Eduardo Campos com 8% das intenções de voto aparecer na simulação da etapa final com 30 pontos a mais, adquiridos obviamente no já famoso mau humor.

Em 13 de agosto deu-se a tragédia, Marina Silva assumiu a titularidade da chapa do PSB e o panorama mudou outra vez. De imediato o partido foi para o patamar dos dois dígitos, sem que Aécio perdesse nada. Em seguida Marina deslanchou, o tucano caiu de maneira drástica.

Ela chegou a abrir dianteira de 20 pontos em relação a ele no primeiro turno e a alcançar quase 10 à frente de Dilma no segundo. As forças que já se organizavam em torno do PSDB começaram a se dispersar, a fazer movimentos em direção à ex-senadora e os especialistas chegaram a tirar a seguinte fotografia daquele momento: do jeito que vai, Marina pode ganhar no primeiro turno.

Em seguida, viu-se que não foi. O próximo retrato mostrou o crescimento de Marina Silva estancado. Seja por força da artilharia de grosso (nos dois sentidos) calibre do PT ou pelo arrefecimento do entusiasmo do eleitorado com uma novidade que pode ter passado a ser visto como de pouca consistência, fato é que a onda não evoluiu para dimensões de tsunami.

Até a semana passada ainda não era possível falar em queda da candidata. Havia, antes, uma sinalização forte de resistência. Afinal de contas, com todas as condições a seu favor - inclusive o recurso à mentira contra o qual é impossível combater, dado o caráter abstrato do ataque - a campanha de Dilma Rousseff não havia conseguido derrubar a adversária como o pretendido.

As pesquisas Ibope/Estadão e CNT/MDA de ontem tiram as primeiras fotografia 12 dias antes da eleição e nelas registram o que já se pode chamar de queda de Marina Silva. Com 36% em uma e 38% na outra, Dilma ficou como estava; Aécio confirmou uma discreta recuperação e não avançou. Seu melhor índice é o mesmo: 19% no Ibope.

Mas, Marina descendo de 33% para 27%, na CNT, nem com muito boa vontade é possível ignorar o que significa. No início ganhou muito, depois estacionou e agora viu se reduzirem seus índices de intenções de votos. Se as urnas vão reproduzir esse quadro só as urnas dirão.

O retrato não lhe é favorável. Esses 27% representam exatamente o capital dela na última pesquisa, de abril, em que seu nome foi incluído quando nem candidata era. Na ocasião, já estava aliada a Eduardo Campos, o eleitorado havia sido informado que seria sua candidata a vice-presidente e vivia do patrimônio amealhado na campanha de 2010.

De lá para cá Marina esteve afastada da cena, não fez política. Absteve-se no segundo turno, preservou-se para um projeto de partido próprio que não deu certo e agora está de volta ao ponto de partida.

Sua distância de Aécio Neves caiu pela metade. Perdeu a dianteira em relação a Dilma no segundo turno. Ficou mais fácil para a presidente. E para os adversários a decisão está nas mãos do tempo. Que urge e ruge.

Fernando Rodrigues: O eleitor e a preguiça

- Folha de S. Paulo

Há um número não desprezível de eleitores desiludidos e incomodados com a forma de fazer política. Muitos votarão apenas contra alguém, mas não a favor desse ou daquele candidato. Há nesse grupo também os 100% céticos, cidadãos decididos a votar nulo.

Outro dia escrevi sobre o fato de o voto nulo não ser neutro. Quem anula reduz o número de votos válidos. Permite que o candidato a governador ou a presidente à frente nas pesquisas vença eventualmente no primeiro turno com menos apoios.

Após detalhar o efeito do voto nulo, recebi uma profusão de reclamações. Em síntese, os recados são assim: "Você está dizendo que não posso nem votar nulo? Eu não quero me comprometer com ninguém e desejo protestar contra todos os políticos".

Tal atitude embute um conceito defeituoso de cidadania. Pressupõe que exercer a democracia consista apenas em sair de casa uma vez a cada dois anos para votar.

Ocorre que o voto é como se fosse um gol, usando o futebol como alegoria. Só marca gols quem treina, aplica-se, desenvolve um estilo e joga de maneira coletiva. Na sociedade, isso requer atuar de forma constante, fiscalizando os eleitos e fazendo cobranças a respeito das promessas apresentadas durante a campanha.

A memória eleitoral do brasileiro não indica tal tipo de comportamento. Em 2010, duas semanas depois de terem escolhido a nova Câmara, 30% dos eleitores já diziam não se lembrar em quem haviam votado para deputado federal.

Essa cidadania preguiçosa é a raiz dos problemas dos quais a maioria reclama. Os mesmos que votam nulo se chateiam ao ficar sabendo de mais um caso de corrupção na política. Alguns também se irritam quando são indagados sobre como devem se comportam depois das eleições. "Vai dizer agora que tenho de ficar mandando um e-mail para os deputados todas as semanas?" Não é muita coisa, mas já ajudaria um pouco.

Luiz Carlos Azedo: Corrida de fundo

• Depois de um extenuante primeiro turno, os dois finalistas ainda terão que participar de uma corrida de velocidade, na qual a explosão muscular costuma decidir tudo

- Correio Braziliense

A presidente Dilma Rousseff (PT), a ex-senadora Marina Silva (PSB) e o senador Aécio Neves (PSDB) chegam à reta final da campanha como aqueles atletas que disputam corridas de fundo, na qual a resistência acaba sendo mais importante do que a velocidade da arrancada. A pesquisa Ibope encomendada pela Rede Globo e pelo jornal O Estado de S.Paulo divulgada ontem mostra bem isso.

A petista, candidata à reeleição, oscilou dois pontos para cima, passando de 36% para 38%. O tucano manteve os 19% de taxa de intenção de votos, e a candidata socialista caiu de 30% para 29%. Com isso, Dilma passa a ter nove pontos percentuais de vantagem sobre a principal adversária no primeiro turno. Para completar o quadro, vem o retardatário Pastor Everaldo (PSC), com 1% das menções. Os demais candidatos, somados, obtiveram 2%.Os indecisos são 5%, e pretendem votar nulo ou em branco 7%.

Com apoios políticos precários, pouco tempo de televisão, campanha confinada aos recintos fechados e falta de material de campanha, Marina Silva perdeu dois pontos percentuais e, com isso, o favoritismo na disputa de segundo turno. A candidata do PSB está agora empatada com a petista, em 41% de intenção de votos. No levantamento anterior, aparecia à frente, com 43% contra 40%.

Na outra simulação de segundo turno, Aécio ficaria 11 pontos percentuais atrás de Dilma. A petista se fortaleceu graças ao programa de tevê, responsável pela melhora da avaliação positiva do governo, que oscilou de 37% para 39%. As taxas dos que consideram a administração regular (33%) e ruim ou péssima (28%) permaneceram onde estavam.

Diante desse cenário, a chegada a 5 de outubro será dramática. A cúpula petista já sonha com uma vantagem significativa no primeiro turno, que possibilitaria mais possibilidade de reeleição para a presidente Dilma, apesar da taxa de rejeição dela ser a maior entre os candidatos: 31%, contra 19% de Aécio e 17% de Marina. O realinhamento de forças políticas no segundo turno tende a favorecer quem chega em muita vantagem no primeiro turno.

A fragilidade da campanha de Marina Silva também anima os tucanos, uma vez que Aécio Neves conseguiu se recuperar do impacto inicial sofrido com a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que o tirou de segundo para terceiro lugar na disputa. Acreditam que Marina deve cair ainda mais nas pesquisas, sob os duros ataques do PT e as críticas do PSDB.

Voltamos, assim, à imagem dos corredores. Depois de um extenuante primeiro turno, os dois finalistas terão que participar de uma corrida de velocidade, na qual a explosão muscular costuma decidir tudo. É aí que a preparação eleitoral deixa Marina em desvantagem, pois virou candidata repentinamente, em razão do desastre aéreo no qual Campos morreu.

Cúpula
O bate-boca entre Dilma e Marina chegou à Cúpula do Clima, conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) da qual a presidente da República participou ontem, em Nova York. Durante entrevistas, Dilma disse que fez mais do que Marina no combate ao desmatamento da Amazônia, “em números absolutos”. Ex-seringueira, Marina chefiou a pasta do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A candidata do PSB, que havia sido convidada para o evento, mas declinara do convite por causa da campanha, deu o troco ao classificar de “lamentável” a decisão do governo brasileiro de não assinar uma iniciativa global antidesmatamento anunciada na cúpula. Marina afirmou que o discurso de Dilma Rousseff ficou limitado às conquistas do passado em vez de assumir compromissos para o futuro.

Aroeira
Aécio Neves, ontem, em Niterói (RJ), manteve a estratégia de tratar Dilma e Marina como farinhas do mesmo saco: “O PT que está no governo fracassou, e nós não queremos um outro tipo de PT recomeçando e aprendendo na administração federal. Presidência da República não é lugar para aprendizado, e nós estamos vivendo a experiência disso com relação à candidata Dilma. Já a outra candidata (Marina Silva) busca aprender no governo. Nós queremos oferecer ao Brasil uma proposta experimentada, qualificada, competente e corajosa para melhorarmos a vida dos brasileiros”.

Rosângela Bittar: Nem juntos nem misturados

• A mais inútil das discussões da campanha

Valor Econômico

Jânio Quadros escolheu seu ministro do Trabalho, de importância capital à época, na fila de cumprimentos da posse. Chegou a vez do advogado trabalhista, o piracicabano Francisco Castro Neves, que conhecera por acaso em uma redação de jornal onde dava entrevista. Castro Neves tivera uma participação secundária na campanha, tinha ligações com o PTB mas não era um prócer partidário, humildemente seguia os mortais do beija-mão. O presidente pediu-lhe, quando se deparou com o amigo, que ficasse para depois da cerimônia porque queria falar com ele. E então convidou-o para ser ministro. Equipe é formada assim, no Brasil, vai-se constituindo com os melhores dos grupos com os quais o presidente dialoga.

Itamar Franco foi o vice que chegou à Presidência tendo ao lado a República do Pão de Queijo, quatro ou cinco amigos de Minas Gerais que ocuparam os cargos mais próximos a ele, como Henrique Hargreaves e Mauro Durante, no Palácio; Djalma Moraes e Murilo Hingel, em Minas e Energia e Educação.

Montou vários ministérios ao longo de seu período, os partidos correram a ajudá-lo na governabilidade, deu chances a amigos do Senado, indicações de políticos, professores, intelectuais, diplomatas, o mundo acadêmico do eixo Petrópolis-Juiz de Fora. O fato de não assumir com uma equipe completa e todos os postos ocupados não impediu que fizesse, na política, um plebiscito sobre sistema de governo, na economia o Plano Real, para cuja aprovação fez maioria no Parlamento.

O plano Real teve elaboração liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, de quem Itamar se aproximou no Senado, que reuniu um time de primeira, inquestionável. Se Itamar conhecesse um ou dois, era porque nasceram em Minas.

A presidente Dilma, não se pode dizer, até hoje, quatro anos depois, que seja uma líder de equipe e tenha nomes seus a distribuir pelos postos. Desde o primeiro ano de governo que faz e refaz o ministério, com indicações dos partidos de sua aliança e com nomes de quem sequer ouvira falar. Já demitiu e já nomeou vários ministros, por corrupção, principalmente. Puxa para perto de si alguns auxiliares, por simpatia ou afinidade, e mantém uma cota grande de indicações do seu antecessor, que também não primou pelas escolhas. Dilma tem as inúmeras facções do partido a contemplar, tem o aparelhamento, essa inexorável vocação petista que inclusive lhe amarra as iniciativas.

Agora mesmo, a candidata foi praticamente obrigada a admitir que trocaria, em um segundo mandato, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, com quem governou o primeiro tempo. O desempenho do seu governo na economia passava de sofrível a calamitoso, sem que indicasse intenção de mudar nada. Menos de uma semana após o registro da troca, e diante do protesto do ministro, que se sentiu humilhado, se desdisse e explicou que Mantega sairia a pedido. Ora, quem anuncia que vai sair só porque quer em qualquer dia dos próximos quatro meses, pode recuar e dizer que vai ficar. A troca de ministro da Fazenda seria uma promessa de campanha para não ser cumprida. Dilma não tem quem botar no lugar. Uma história inacreditável para conferir em janeiro, se Dilma vencer.

A presidente não tem também equipe para as demais áreas, inclusive aquelas onde foi mal, como na Saúde, na Educação, na Justiça, na Energia, nas agência reguladoras e em tantas outras.

O recente erro cometido pelo IBGE no processamento da PNAD mostrou que, mesmo com equipe estável, se o governo não der condições de estrutura, pessoal e recursos ao exercício das funções, o resultado é dramático. Na última sexta, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, esconjurou o equívoco do IBGE, unindo-se à presidente na perplexidade e decretando o governo em choque pelo "erro gravíssimo". No sábado, Dilma determinou a quatro ministros a convocação de uma entrevista com transmissão ao vivo pelos canais oficiais, para novamente reiterar a dimensão catastrófica do acontecido. Tereza Campelo, do Desenvolvimento Social, produziu a declaração que causou, essa sim, perplexidade. Criticou "aqueles que se apegam às microvariações e deixam de verificar as grandes tendências". Foi a deixa para a presidente, em 24 horas, assumir outro tom: o erro, de "gravíssimo", virou "banal".

No governo Dilma já houve erro em pesquisa do Ipea, decisão tomada com base em relatório tecnicamente falho por um conselho de notáveis da direção da maior estatal brasileira, a Petrobras. Encontraram-se erros nas avaliações e exames nacionais do ensino médio do MEC. Foram reincidentes apagões de energia com explicações claudicantes. Se tivesse equipe antes da eleição teria sido diferente?

Pode-se temer o governo Marina, caso eleita, por várias razões, mas a falta de equipe não será uma delas. Como Itamar, ela tem sua República da Floresta, integrada por amigos da Igreja e ambientalistas, inclusive já em disputa clara pelos cargos. Em entrevista à 'Folha de S.Paulo', João Paulo Capobianco falou com pose de chefe da Casa Civil. Já está em disputa óbvia com Walter Feldman. E quando passarem a considerar o PSB e os aliados, que têm nomes a oferecer, inclusive o candidato a vice-presidente, Beto Albuquerque, certamente um político que receberá missões além do posto figurativo, de falta de equipe Marina não sofrerá.

Ao contrário da República do Pão de Queijo, a República da Floresta manda muito e quer monopolizar as decisões da candidata, agora.

A partir desse núcleo, que deve com ela assumir o Palácio, a candidata emite sinais de que tem pessoas para todas as funções. Na economia, por exemplo, Eduardo Giannetti se apresenta ao debate, mas é apenas um paradigma da equipe que deve reunir, buscando políticos, integrantes da academia, intelectuais.

Aécio Neves seria capaz de colocar um time de primeira linha em todos os postos, logo de início, até já inovou na campanha, ao indicar Armínio Fraga como o ministro da Fazenda, se for eleito, para dar transparência ao seu projeto e às suas opções. Mas aí é histórico no PSDB, considerado um partido de quadros, uma vantagem comparativa do candidato.

Uma certeza pode-se encontrar nos preâmbulos de formação das equipes: como é típico do Brasil, nada há em comum entre os nomes mencionados, oferecidos ou convidados. Nem juntos nem misturados, os melhores ou piores, mais loteria que filosofia.

Roberto DaMatta: Autoritarismo

- O Globo

Talvez a palavra "autoritarismo" seja a mais adequada para caracterizar a nossa índole política. Veja bem: eu falo em caracterizar, e não em definir. Somos também anárquicos, malandros e lenientes - portanto, antiautoritários em certas situações, e tais comportamentos dependem de ideologias, partidos e pessoas. Sobretudo dos amigos, e daí vem, paradoxalmente, o problema da impunidade que impede castigar delitos flagrantes precisamente porque não julgamos os crimes, mas quem os praticou. Se o autor é um desconhecido, somos implacáveis e fascistas, mas, se é um amigo, ele tem a nossa condescendência e a nossa compaixão.

Afinal, falamos autoritariamente, mas sem perceber: "Este eu conheço! É pessoa de bem, tinha suas razões!". O crime, como disse um dia o presidente Lula, foi cometido por meros (e inocentes) "aloprados"; e o mensalão foi uma trivialidade num sistema político recheado de corruptos. O problema é que a trama dos favores que une os poderosos é muito densa para não ser descoberta por algum maldito jornalista investigativo ou revelada por alguma rede ou câmara de televisão.

No Brasil, o crime hediondo e depravado é feito por quem não conhecemos; já o crime cometido por quem faz parte do nosso círculo de relações é um erro de cálculo ou um descuido. Donde o inocente e mendaz: "Eu não sabia..." Nosso autoritarismo ainda não entendeu que, numa democracia, somos simultaneamente construtores e habitantes de um mesmo teto!

O dado novo é a desmistificação do governante como uma pessoa predestinada e superior que pode tudo. Sobretudo roubar. E a questão hoje em dia não é mais de ter sido pobre ou das competências de como resolver os problemas, mas do modo pelo qual esses problemas serão resolvidos. No Brasil atual, nem Stalin ou Hitler teriam sucesso, porque o modo de governar está intrinsecamente ligado à roubalheira amistosa, vista como normal, aceitável e inevitável. O governar como um serviço e uma entrega baseada no resgate de valores, mais do que de rotineiras receitas técnicas, é o que está faltando neste nosso Brasil prestes a eleger um novo presidente.

É preciso liquidar com o autoritarismo do "todos fazem" e nós também fizemos, mas, infelizmente, a imprensa reacionária propagou de modo exagerado e ilegítimo o nosso delitozinho, inventando um "mensalão" petista que jamais existiu. O do PSDB é real, o nosso é fantasia reacionária. Por isso, tivemos que lutar para realizar uma revisão de todo o quadro legal e praticamente reformulamos as sentenças e a tese do julgamento.

Contra isso, só um temporal de ética que comece discutindo o personalismo. Esse personalismo que atribui mais responsabilidade às pessoas do que às questões que demandam a cooperação de todos para serem resolvidas.

Quem é a autoridade? Saber quem manda (ou é o "dono da bola") é, sem sombra de dúvida, a questão que mais nos aflige. Competir com uma pessoa - usando argumentos pífios - é mais importante do que contribuir para resolver um problema crucial. Quando o mandão é obvio, não há problema. Mas, quando não existe consenso sobre quem é o mais importante, ficamos aflitos, e o conflito deflagra os bate-bocas mal-educados, visando à "desconstrução", que são a primeira consequência do nosso desconforto com a igualdade.

No fundo, sempre achamos que as pessoas são mais importantes que os problemas e é exatamente isso que tipifica o personalismo que leva ao autoritarismo. Nele, o centro é sempre a pessoa, e elas são tão poderosas que frequentemente fazem com que os problemas (bem como as normas e leis) sejam esquecidos ou ultrapassados.

O dinamismo democrático conduz a uma troca de cadeiras. Se não fosse um exagero, eu diria que essa transparência e esse embaralhamento entre o público e o íntimo têm tido um efeito revolucionário de desmistificar precisa e paradoxalmente os revolucionários de plantão. É o que o nosso pífio programa eleitoral tem o dom de revelar. Nele, os batedores de carteira usuais surgem com clareza, mas é fascinante descobrir o fascismo aberto dos candidatos revolucionários para quem todo o mal do mundo é produzido pelos banqueiros. A satanização é um reducionismo absurdo.

Como contrapeso, porém, temos a campanha dilmista falando de um futuro governo aberto às forças do empreendedorismo, do lucro e do mercado que o PT sempre rejeitou, ao lado de uma visão francamente autoritária e contraditória relativamente ao papel da mídia. Ao jornal cabe informar! - diz a presidenta. E nós, na nossa luta para desmistificar o mundo público nacional, livrando-o dos seus sofismas personalistas, familísticos e autoritários, ficamos abestalhados com a revelação da índole (do Geist, como diria um sociólogo alemão) deste governo que tem desmantelado o Banco Central, a Petrobras, os Correios e agora um impecável IBGE nesta ultima década, e que ainda quer mais tempo para prosseguir.

Roberto DaMatta é antropólogo

José Nêumanne: Deixem o Paulinho do Lula delatar em paz!

- O Estado de S. Paulo

O ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que o ex-presidente Lula chamava na intimidade de Paulinho, alimentou, durante algum tempo, a ilusão de que uma eventual delação dele abalaria a República a ponto de ameaçar a realização das eleições de outubro. Seria ele um megalomaníaco? Por mais que as informações que resolveu repassar à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público (MP) sobre a roubalheira na estatal sejam de fato relevantes e ameacem a reputação de vários figurões graduados no alto comando dos Poderes republicanos, ninguém cogitou em momento algum de adiar a disputa. E mais ainda: essa delação não alterou o cacife eleitoral dos candidatos à Presidência de forma mais significativa do que o fez a queda em Santos do avião em que viajava o presidenciável socialista Eduardo Campos.

Não que suas revelações sejam de pouca monta. O que ele já disse e ainda tem a contar é muito relevante e muito grave, como demonstra o pouco que vazou até agora. O suficiente para irritar a ainda favorita à vitória, a presidente petista Dilma Rousseff, que tem passado a impressão generalizada de que se preocupa mais em evitar vazamentos do que em tomar conhecimento dos delitos gravíssimos cometidos para punir os responsáveis por eles.

Os executivos do poder federal e parlamentares eventualmente citados nesses vazamentos também não têm sido atingidos diretamente em suas pretensões de ascensão na carreira. O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB), continua favorito na eleição para governador de seu Estado, o Rio Grande do Norte. O mesmo ocorre com o filho de Renan Calheiros (PMDB), que disputa o governo de Alagoas, e o de Edison Lobão (PMDB), que é o preferido do clã Sarney na sucessão de Roseana, no Maranhão. O próprio ministro de Minas e Energia continua fagueiro no posto, embora meio à sombra dos holofotes depois de ter dito à chefona Dilma que as acusações contra ele seriam falsas.

Mesmo tendo sido fundamental para a eleição de pregadores da moral e dos bons costumes, casos de Jânio Quadros e Fernando Collor, no passado, a corrupção como cavalo de batalha volta a ser agora, como já o fora nas duas disputas perdidas pelo brigadeiro Eduardo Gomes, lana caprina. Em artigo em que não se refere à gatunagem, talvez por achá-la irrelevante, o diretor da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joaquim Falcão, listou uma série de motivos para o eleitor apartidário votar de novo no governo. Está na cara que a economia degringola, e o autor reconhece isso, mas, como ele aduziu, decide-se o voto na vida real e no instante atual.

Falta aos opositores à candidata à reeleição autoridade moral para isolá-la na fogueira de bruxa do furto do erário. O nome do socialista Eduardo Campos certamente vai figurar entre os maganões republicanos citados pelo Paulinho de Lula. Embora nem de longe isso afete a reputação de sua sucessora na corrida presidencial, Marina Silva, é claro que qualquer "malfeito" (para adotar o educadíssimo eufemismo empregado por Dilma para evitar termos pesados como furto na definição de delitos cometidos pela "companheirada") de Eduardo poderá fragilizá-la.

O caso dos tucanos, embora não citados nos vazamentos que tiram o sono dos governistas, é diferente, mas também não é muito confortável. À medida que a quebra do silêncio pelo delator vai jogando lama na reputação dos maiorais, fica cada dia mais claro que têm relação entre si os três escândalos mais estrondosos dos últimos 12 anos: a morte de Celso Daniel, o mensalão e a roubalheira na Petrobrás. O que já era sabido se tornou comprovado quando apareceu na papelada de Meire Poza, contadora do doleiro Alberto Youssef, o documento do "empréstimo" do operador do mensalão a uma personagem na morte do ex-prefeito de Santo André.

Não foi à toa que a presidente da República cometeu o lapsus linguae de negar aos jornalistas seu direito (na verdade, dever, pois o direito de ser informado é do cidadão) de investigar. Ela até quis corrigir, mas sua frase, de uma clareza incomum em seu estilo, é injustificável. O delator do mensalão, Roberto Jefferson, contou que no Congresso o assunto era conhecido. E não foi revelado pela oposição, mas, sim, por uma entrevista dele à Folha de S.Paulo. A oposição, comprometida no caso pela origem tucana do esquema em Minas, não se empenhou em esclarecer a confissão de Marcos Valério ao MP de que teria dado R$ 6 milhões a Ronan Maria Pinto para este parar de chantagear Lula e Gilberto Carvalho pelo envolvimento de ambos não na execução de Celso Daniel, mas na garantia de impunidade para os assassinos. Revelada pelo Estado, a transação teve a prova achada pela PF.

A oposição cobra de Dilma sua omissão nos furtos na Petrobrás, pois ela foi ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil, presidente do Conselho de Administração da estatal e presidente da República enquanto o Paulinho de Lula e seus comparsas assaltavam a empresa. É estarrecedor que alguém pretenda ser uma "gerentona" eficiente sem ter percebido o óbvio. Mas o mesmo se pode dizer do Tribunal de Contas da União e dos parlamentares oposicionistas, que não tomaram conhecimento, por exemplo, de documentos em que o roubo era denunciado interna corporis na empresa.

Como um meliante enviou R$ 1 bilhão para o exterior sem que autoridades ou parlamentares ficassem sabendo? Como um subalterno (caso do delator) pôde cobrar uma propina milionária na compra da refinaria belga no Texas, denunciada pela Veja? O procurador-geral Rodrigo Janot e o juiz Sérgio Moro têm razão ao negar a Dilma (para quem o gatuno "tinha credenciais" para ser diretor da estatal) e à oposição acesso à confissão que a Nação quer que seja levada a termo. E é espantoso que isso não interfira nos votos dos lesados.

*José Nêumanne é jornalista, poeta e escritor