domingo, 14 de setembro de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

A marca do governo do PT é essa, uma denúncia por semana, e cada uma mais grave que a outra. Nós temos que resgatar o padrão ético na Presidência da República. O governo da presidente Dilma perdeu as condições, perdeu autoridade até moral de pleitear um segundo mandato.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidência da República. O Globo, 14 de setembro de 2014.

O PT passa o trator. E Marina resiste

• Apavorados diante da perspectiva de deixar o poder, petistas adotam a tática de atacar Marina Silva a qualquer custo. O resultado é uma campanha como nunca antes se viu neste país

Daniel Pereira e Mariana Barros Revista Veja

A decisão do PT de passar o trator em Marina Silva foi tomada no dia 1º de setembro em um jantar no hotel Unique, em São Paulo, logo depois do segundo debate entre os candidatos à Presidência, no SBT. Estavam à mesa a presidente e candidata do partido, Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, o marqueteiro João Santana, o ex-¬ministro Franklin Martins, o ministro Aloizio Mercadante e o presidente do PT, Rui Falcão. Juntos, chegaram à constatação de que o fenômeno Marina era bem mais sustentável do que parecia a princípio.

Se nada fosse feito, concluíram, Marina Silva estaria sentada na cadeira de presidente da República pelos próximos quatro anos. "As pesquisas mostravam isso", disse a VEJA um ministro do governo. "Não tínhamos alternativa a não ser partir para cima com tudo." Àquela altura, a candidata do PSB aparecia empatada com Dilma no primeiro turno e 10 pontos à frente no segundo. Lula resumiu o clima reinante e deu a ordem de marcha: "Precisamos reagir e reorganizar a tropa".

Como sempre nesses casos, com uma equipe azeitada, acostumada a trabalhar em conjunto há muitas campanhas e conhecedora dos limites éticos, ou da falta deles, não foi preciso ser muito explícito sobre o que precisava ser feito. O próprio diagnóstico do problema embutia sua solução. Marina tinha virado uma entidade sagrada, uma combinação de espírito da floresta com o espírito do capitalismo, metade Chico Mendes, metade Steve Jobs. Decidiu-se que o processo de destruição da candidatura Marina seria eufemisticamente chamado de "dessacralização".

Logo a máquina de propaganda petista, comandada pelo veterano e medalhado publicitário João Santana, mostrou a que viera. Em menos de uma semana o resultado começou a aparecer no programa eleitoral de Dilma e nas inserções de televisão e rádio. Nunca se viu na história eleitoral deste país uma combinação tão violenta de mentiras, falsificações, manipulações, exageros e falsas acusações como a despejada pelo PT sobre Marina.

A campanha eleitoral de Dilma deixou de lado todos os escrúpulos, esqueceu o debate de ideias e propostas, ignorou, enfim, as decências mais básicas da convivência civilizada entre adversários. Marina foi vestida, então, com o traje da ignomínia e da vergonha que o partido já colocara antes em todos que haviam ousado se interpor entre o PT e o poder. A linguagem da campanha petista contra Marina adotou métodos de "dessacralização" com eco nas campanhas de erradicação do pensamento da Revolução Cultural de Mao Tsé-tung.

No programa de Dilma, Marina passou a ser mostrada não como uma candidata sem propostas muito claras e, portanto, difíceis de ser avaliadas e refutadas. mas como uma força aniquiladora e desumana. Não é que a proposta econômica de Marina fora descrita como inadequada para o Brasil ou até boa mas inaplicável. Isso seria elogio. Na campanha do PT. a política econômica de Marina eqüivaleria a levar os pobres a passar fome. Em um filmete, por meio de um truque de mágico do interior, os pratos de comida desapareciam da mesa diante dos olhos dos esfomeados. Em outro, caricatural, atores fazendo o papel de banqueiros e capitalistas sinistros, mostrados como amigos de Marina, combinavam maldades contra o povo. Marina foi acusada de planejar acabar com o pré-sal e, assim, tirar da educação 1,3 trilhão de reais.

Marina foi comparada a Jânio Quadros, o presidente louco que planejou invadir a Guiana e, numa tentativa tonta de obter poderes ditatoriais do Congresso, renunciou, lançando o país em crise profunda, cujos reflexos são sentidos até hoje. Os petistas insinuaram que ela era um Collor de saia, mas Lula mandou cortar essa parte. Fernando Collor, o presidente apeado do poder por corrupção pelo Congresso Nacional, é hoje totalmente identificado com o lulopetismo. São unha e carne.

Sem a estrutura nem a experiência da máquina de João Santana, que já elegeu seis presidentes no Brasil e no exterior, o campo de Marina ficou tão paralisado e perplexo diante dos ataques que até parecia que ela estava adotando a "resistência pacífica", a forma de luta de Mahatma Gandhi e de outros profetas da não violência. O sociólogo Diego Brandy, responsável pela propaganda de Marina, caiu de paraquedas na marquetagem política. A verba de que ele dispõe é tão curta que, para economizar, os vídeos que ocupam o parco 1 minuto e 49 segundos do programa da candidata na televisão nem sequer passam pelas obrigatórias pesquisas qualitativas. "Não dá para comparar com a campanha do PT. É como o River do Piauí contra o Barcelona", diz um dos responsáveis pela campanha.

Enquanto isso, ao bunker dilmista começaram a chegar os primeiros e animadores resultados da ofensiva. Com base em pesquisas com pequenos grupos, atribuiu-se ao vídeo que dizia "Ser contra o pré-sal é ser contra o futuro do Brasil" o fato de Dilma ter ultrapassado Marina no Rio de Janeiro, estado produtor de petróleo e o terceiro maior colégio eleitoral do país. Na seqüência vieram dois filmes de mesma matriz e inspiração. O primeiro dizia que a proposta de conceder autonomia ao Banco Central iria dar poder desmedido aos banqueiros, enquanto a tela mostrava uma família vendo a comida desaparecer de seus pratos. O segundo dizia que a candidata iria tirar dinheiro da educação. No vídeo, novamente, crianças viam sumir as letras das páginas de seus livros. A rusticidade da mensagem, para não falar na sua desonestidade, tem o propósito de atingir sobretudo a classe C emergente no que é um dos seus principais temores: perder o poder de consumo recém-conquistado.

A artilharia vai continuar. Um novo "cardápio de infâmias" já está sendo estudado. Para ampliar a vantagem de Dilma no Nordeste, o PT pretende dizer que Marina esvaziará os bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal — o que, dirá o PT, afetará o programa Minha Casa, Minha Vida. Outra ideia será afirmar que, se eleita, Marina vai quebrar as indústrias e derrubar os investimentos e o emprego. O pretexto para esse ataque é uma frase de Eduardo Giannetti, conselheiro de Marina para a área econômica, que, em entrevista, disse: "Acho que a indústria deve se preparar para uma operação desmame. Ela está acostumada a chorar e ser atendida". Em outras palavras, Giannetti disse a mesma coisa que Armínio Fraga — o grande nome da área econômica de Aécio Neves —, para quem a economia brasileira está na UTI "e precisa ser desentubada aos poucos". São constatações óbvias de que algo precisa ser feito pois, embora tenha sido amamentada e mantida em estado artificial de vida pelos tubos de Brasília, a indústria brasileira está em ruínas.

Marina vai tentar fazer de sua fraqueza um trunfo e continuar repetindo que é alvo de "dois partidos que se uniram" para "uma batalha de Golias contra Davi". Sim, ela se sentiu ferida também pelas críticas de Aécio Neves.

Ataques como os que vêm sendo feitos pelo PT contra Marina são um ponto fora da curva na história das eleições brasileiras. Um estudo do cientista político Felipe Borba, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que analisou a propaganda política em todas as eleições presidenciais de 1989 a 2010, constatou que o candidato que está na frente utiliza em média 3% de seu tempo na TV para bater nos adversários. Levantamento feito por VEJA, com os mesmos critérios utilizados por Borba, mostra que, desde 2 de setembro, Dilma utilizou 15% de sua propaganda para atacar Marina — cinco vezes a média histórica dos líderes da disputa.

No fim da semana passada, surgiram sinais de que Marina, "como os caules dos lírios que se dobram ao vento mas não se quebram", resistira bem à campanha de dessacralização. Diz Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha: "Foi a primeira vez que Marina foi exposta em campanha a ataques tão intensos. Mesmo assim, conseguiu manter-se no mesmo patamar, já que oscilou para baixo dentro da margem de erro".

O PT sob chantagem

• Para evitar que o partido e suas principais lideranças sejam arrastados ao epicentro do escândalo da Petrobras às vésperas da eleição, a legenda comprou o silêncio de um grupo de criminosos — e pagou em dólar

Revista Veja

Desde que estourou o escândalo da Petrobras, o PT é vítima de uma chantagem. De posse de um documento e informações que comprovam a participação dos principais líderes petistas num desfalque milionário nos cofres da estatal, chantagistas procuraram a direção do PT e ameaçaram contar o que sabiam sobre o golpe caso não fossem devidamente remunerados. Às vésperas da corrida presidencial, essas revelações levariam nomes importantes do partido para o epicentro do escândalo, entre eles o ex-presidente Lula e o ministro Gilberto Carvalho, um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff, e ressuscitariam velhos fantasmas do mensalão. No cenário menos otimista, os segredos dos criminosos, se revelados, prenunciariam uma tragédia eleitoral. Tudo o que o PT quer evitar. Dirigentes do partido avaliaram os riscos e decidiram que o melhor era ceder aos chantagistas — e assim foi feito, com uma pilha de dólares.

O PT conhece como poucos o que o dinheiro sujo é capaz de comprar. Com ele, subornou parlamentares no primeiro mandato de Lula e, quando descoberto o mensalão, tentou comprar o silêncio do operador do esquema, Marcos Valério. Ao pressentir a sua condenação à prisão, o próprio Valério deu mais detalhes dessa relação de fidelidade entre o partido e os recursos surrupiados dos contribuintes. Em depoimento ao Ministério Público, ele afirmou que o PT usou a Petrobras para levantar 6 milhões de reais e pagar um empresário que ameaçava envolver Lula, Gilberto Carvalho e o mensaleiro preso José Dirceu na teia criminosa que resultou no assassinato, em 2001, do petista Celso Daniel, então prefeito de Santo André. A denúncia de Valério não prosperou. Faltavam provas a ela. Não faltam mais. Os dólares serviram para silenciar o chantagista Enivaldo Quadrado, ele próprio participante da engenharia financeira do golpe contra os cofres da maior estatal brasileira — e agora o personagem principal de mais uma trama que envolve poder e dinheiro.

Operador ligado ao governista PP, Quadrado é um conhecido personagem do mundo político e das páginas policiais. Há dois anos, foi condenado ocorreu justamente depois de ser liberado pela polícia no âmbito da Operação Lava-Jato. Solto, ele exigiu uma ajuda financeira da cúpula do PT para não incluí-la entre os alvos da investigação sobre a Petrobras. Para garantir que o partido não lhe virasse as costas, deu um ultimato ao tesoureiro do PT, João Vacari Neto: ou era devidamente remunerado ou daria à polícia os detalhes de documento apreendido no escritório do doleiro Alberto Youssef. O documento era um contrato de empréstimo entre a 2 S Participações, de Marcos Valério, e a Expresso Nova Santo André, de Ronan Maria Pinto. O valor desse contrato é de 6 milhões de reais, exatamente a quantia que Valério dissera ao MP que o PT levantara na Petrobras para abafar o escândalo em Santo André. É esse o contrato que prova a denúncia de Valério. É esse o contrato que, em posse de Quadrado, permitia ao chantagista deitar e rolar sobre os petistas.

Não foi preciso muito esforço entre os petistas para mensurar os prejuízos que a revelação causaria ao partido e à candidatura de Dilma Rousseff — sem contar que, dependendo da abrangência da investigação, gente importante ainda poderia terminar na cadeia. Não valia a pena arriscar. O documento era um contrato de empréstimo entre a 2S Participações, de Marcos Valério, e a Expresso Nova Santo André, de Ronan Maria Pinto. O valor desse contrato é de 6 milhões de reais, exatamente a quantia que Valério dissera ao MP que o PT levantara na Petrobras para abafar o escândalo em Santo André.

É esse o contrato que prova a denúncia de Valério. É esse o contrato que, em posse de Quadrado, permitia ao chantagista deitar e rolar sobre os petistas. Assinado em 2004, o contrato elucida o trajeto final do dinheiro. Um longo trajeto. Quando depôs ao Ministério Público em 2012, pouco antes de ser condenado a quarenta anos de prisão, Valério contou que, no primeiro mandato de Lula, foi procurado pelo então secretário do PT, Silvio Pereira, com um pedido de ajuda. Na época, o governo estava sendo chantageado por Ronan Maria Pinto, que ameaçava implicar Lula, Gilberto Carvalho e José Dirceu na morte de Celso Daniel.

Ronan Maria Pinto insinuava que deporia para reforçar a tese, jamais comprovada pela polícia, de que Celso Daniel foi assassinado ao tentar acabar com um esquema de cobrança de propina comandado pelo PT em Santo André, com a bênção da direção nacional. O empresário queria vender seu silêncio. Ao PT, não restava alternativa a não ser comprá-lo. Valério e amigos poderosos do governo foram convocados para organizar a engenharia financeira da operação. Como no mensalão, simularam uma série de contratos e serviços. Tudo para levantar na Petrobras os 6 milhões de reais exigidos pelo empresário. O caminho do dinheiro obedece à lógica intrincada dos criminosos para dificultar o rastreamento: segundo Valério, o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, contraiu um empréstimo no banco Schahin e, simultaneamente, usou sua influência para conseguir que a construtora Schahin, ligada ao mesmo grupo empresarial, ampliasse seus contratos com a Petrobras. O empréstimo bancário e os contratos tinham idêntico valor: os 6 milhões exigidos por Maria Pinto.

Ao Ministério Público, Valério disse que Bumlai articulou a tramóia diretamente com a direção da Petrobras, cujos cargos-chave eram comandados por petistas. Pelo lado da estatal, segundo Valério, o principal negociador foi Guilherme Estrella, outro amigo de Lula, então diretor da área de exploração e produção. Ele nega: "Esse depoimento é absolutamente inconsistente. Não tive contato com ninguém".

Depois de a Petrobras desembolsar o dinheiro, os recursos chegaram às mãos de Marcos Valério. Ele, como deixa claro o contrato, repassou-o a Ronan Maria Pinto. Quadrado ajudou nessa transação ao contratar a empresa que serviu de intermediária, a Remar Agenciamento e Assessoria. É isso que mostra o documento. Ou seja: Quadrado foi partícipe do assalto à Petrobras e, com a prova da roubalheira em mãos, passou a também chantagear o governo, mal que foi remediado com muitas notas de dólares e o compromisso de outras tantas. Ê isso que o PT quer esconder. Até a Operação Lava-Jato, Ronan Maria Pinto, o PT, o Grupo Schahin e Bumlai não tinham problemas para negar a história. A descoberta do documento pela Polícia Federal desmontou essa estratégia de defesa.

Para os agentes, o contrato entre Valério e Maria Pinto era a garantia de uma aposentadoria tranqüila para Enivaldo Quadrado. A polícia, porém, já reuniu uma série de evidências contra ele, inclusive registros digitais. Um inquérito deve ser aberto nos próximos dias. Procurado por VEJA, o tesoureiro João Vaccari Neto negou ter realizado pagamentos a Quadrado, mesmo que através de algum emissário: "As prestações de contas do PT são apresentadas ao TSE e estão à disposição das autoridades". O empresário Ronan Maria Pinto negou ter recebido qualquer tipo de repasse de Marcos Valério. Já Quadrado, o chantagista, não quis se manifestar.

Antes uma aposta do PT para derrotar os adversários nas eleições, a Petrobras se tornou um problema para o partido. Duas CPIs no Congresso investigam os contratos firmados pela empresa. Conforme VEJA revelou na semana passada, o ex-diretor Paulo Roberto Costa, em depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público, admitiu integrar um esquema de coleta de propina na empresa cujos beneficiários finais eram políticos de ponta. VEJA apurou doze nomes citados pelo executivo como participantes no caso (veja a reportagem na pág. 72), entre eles João Vaccari Neto, o tesoureiro do PT.

A engrenagem clandestina de arrecadação teria começado no governo Lula e avançado no governo atual. A presidente Dilma alega que conteve eventuais "sangrias" na Petrobras ao trocar sua diretoria, em 2012. Ao se defender, ela só não explica por que levou mais de um ano, após tomar posse, para fazê-lo. A chantagem de Quadrado dá uma boa pista do motivo da demora. O PT ainda tinha muitas contas a acertar.

Delação garante a ex-diretor liberdade imediata e semiaberto após julgamento

• Acordo firmado por Paulo Roberto Costa com procuradores no Paraná prevê que ele deixe a prisão preventiva nos próximos dias e seja condenado a uma pena de cinco anos de detenção; ex-dirigente da Petrobrás aceita repatriar US$ 23 mi depositados na Suíça

Fausto Macedo e Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

CURITIBA - Depois de assinar um acordo para delação premiada e passar as últimas duas semanas prestando depoimentos diários sobre o esquema de desvios de dinheiro na Petrobrás e de aceitar a repatriação de dinheiro depositado no exterior, o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa pode deixar a cadeia ainda nesta semana.

Segundo fontes no Judiciário ouvidas pelo Estado, a liberdade faz parte do acordo firmado entre Costa e o Ministério Público Federal no Paraná que resultou na implicação de dezenas de políticos de partidos da base de apoio da presidente Dilma Rousseff como supostos beneficiários de um esquema de propinas na Petrobrás.

O ex-diretor foi preso pela primeira vez em março, na Operação Lava Jato da Polícia Federal - que tinha como foco um esquema suspeito de movimentar R$ 10 bilhões em lavagem de dinheiro. Libertado em maio, foi novamente preso em junho, após autoridades suíças informarem o Brasil de que Costa tinha dinheiro no país europeu.

Similar a um contrato, o acordo de delação é repleto de cláusulas. Mesmo colaborando com as investigações, Costa deverá ser condenado a uma pena aproximada de cinco anos - o que lhe garantiria, ao final do processo, o direito ao regime semiaberto, no qual o sentenciado a uma sanção menor do que oito anos de prisão pode trabalhar durante o dia fora da cadeia e é obrigado a voltar para o presídio no início da noite. Neste caso, a progressão da pena poderia lhe levar ao regime aberto em poucos meses.

Para o ex-diretor, trata-se de quase um perdão judicial, porque a expectativa entre os procuradores da República e sua própria defesa era que fosse condenado a uma pena superior a 50 anos pelos crimes de lavagem de dinheiro e ocultação e destruição de documentos.

Costa e seus familiares foram alertados pelos advogados que ele poderia receber uma pena superior à do operador do mensalão Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado a 37 anos e cinco meses por corrupção ativa, peculato, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Costa é réu em dois processos criminais e alvo de vários inquéritos da PF. A delação premiada o livrará de todos os processos e investigações. Uma cláusula do acordo prevê que Costa deverá usar tornozeleira eletrônica por um ano.

Repatriação. Pelo acordo, o ex-diretor também abre mão do dinheiro ilícito que mandou para o exterior. Pelo menos US$ 23 milhões estão bloqueados na Suíça em cinco contas atribuídas a Costa - parte desse valor sob suspeita de ser fruto de propina. No início da semana passada, em Genebra, o procurador-geral do país europeu, Michael Lauber, confirmou que contas de pessoas ligadas à Petrobrás estão sob investigação.

A repatriação de valores é normalmente um processo moroso, pode se arrastar por anos. Exige a intervenção do Ministério da Justiça, via cooperação jurídica internacional, e o consentimento das autoridades suíças. Mas quando o titular das contas confiscadas autoriza expressamente o levantamento do dinheiro, o deslocamento é célere.

Foi assim que o Ministério Público de São Paulo conseguiu repatriar há alguns anos, em curto espaço de tempo, US$ 1 milhão do ex-prefeito Celso Pitta, já morto. O dinheiro estava em uma conta no paraíso fiscal de Liechtenstein em nome da ex-mulher de Pitta, Nicea. Ela própria autorizou a transferência para o Brasil.

Foro. A decisão de liberar Costa da prisão preventiva nos próximos dias deverá ser tomada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, que também atua no caso desde que surgiram nomes de políticos que ocupam cargos eletivos e, portanto, têm direito a foro privilegiado.

O juiz da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, Sergio Moro, foi quem expediu a ordem de prisão de Costa e é o responsável pela Operação Lava Jato.

Inicialmente, o acordo de delação premiada previa, em uma cláusula, que Costa poderia deixar a prisão preventiva na sexta-feira passada. Mas como os relatos do delator se multiplicaram, sempre apontando para políticos, servidores públicos e empreiteiras, a permanência dele na custódia da PF se prolongou por mais alguns dias.

O portal estadao.com.br revelou no dia 5 que o ex-diretor citou em seus depoimentos o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). No dia seguinte, a revista Veja informou que Costa citou também os nomes da governadora Roseana Sarney (MA) e dos ex-governadores Sérgio Cabral (RJ) e Eduardo Campos (PE) - ex-candidato à Presidência pelo PSB, que morreu em um acidente aéreo no mês passado -; do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), além de parlamentares do PT e de outros partidos da base aliada. Não foram apresentados documentos ou detalhes sobre o teor dos depoimentos. Os citados já negaram envolvimento em irregularidades.

A delação de Costa levou o tema corrupção na Petrobrás para o centro da campanha presidencial deste ano.

Para lembrar: Doleiro não cumpriu acordo
Em maio deste ano, dois meses depois do início da Lava Jato pela Polícia Federal, a Justiça suspendeu o acordo de delação premiada por meio do qual o doleiro Alberto Youssef - preso na operação - havia se livrado de pesadas sanções decorrentes de processos abertos a partir de outra missão da PF, a Farol da Colina.

Em 2004, a Polícia Federal desencadeou uma megaoperação em sete Estados contra 63 doleiros, sob acusação de evasão de divisas, sonegação, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Para a Justiça, Youssef perdeu o direito ao benefício da delação premiada porque voltou a incorrer nas mesmas práticas que deram origem aos processos criminais anteriores.

Youssef é antigo conhecido da Justiça, mesmo antes da Operação Farol da Colina. Nos anos 1990 ele foi protagonista do escândalo Banestado, evasão de US$ 30 bilhões. Na ocasião, ele fez delação premiada e contou parte do que sabia.

A Lava Jato o flagrou em ação novamente. A operação desmontou organização criminosa acusada de lavagem de recursos ilícitos e a investigação mostrou relações próximas do doleiro com o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa - o doleiro teria pago propina para o ex-executivo referente a contratos da estatal.

Réu em cinco ações penais no âmbito da Operação Lava Jato, Youssef cogitou, há duas semanas, depois de Paulo Roberto Costa decidir fazer a delação premiada em troca de redução de penas, também aderir ao benefício, mas desistiu porque foi alertado de que poderia permanecer na cadeia, em regime fechado, por, no mínimo, três anos.

‘Para ser presidente é preciso ter programa’ rebate Marina sobre críticas de Dilma

• Resposta foi dada após petista dizer que 'quem não quer ser criticado não pode ser presidente’

Letícia Lins – O Globo

JOÃO PESSOA — A candidata do PSB à sucessão presidencial, Marina Silva, reagiu com ironia às críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff (PT), e as atribuiu ao “desespero com a possibilidade de perder a eleição”. A pessebista rebateu a fala de Dilma em Belo Horizonte nesta quarta-feira, em que afirmou que quem não quer ser criticado “não pode ser presidente”.

— Para ser presidente é preciso ter programa — rebateu Marina em comício realizado no início da noite deste sábado em João Pessoa. E continuou:

— É preciso ter disposição para o diálogo político, trabalhar com o respeito, com a verdade e não com o boato. É preciso que se busque a legitimidade necessária para isso, e que não se terceirize essa legitimidade. Para ser presidente da República é necessário que a gente tenha uma visão generosa do mundo, respeitosa, mesmo dos adversários. Isso a presidente Dilma tem de mim, ela é a primeira mulher eleita do Brasil. E ela pode ter certeza, não vou fazer com ela o que ela está fazendo comigo. Ela vai ter sempre o meu respeito.

A candidata voltou a falar que vai fazer campanha “oferecendo a outra face”, e que prefere ser vítima de injustiças do que praticá-la. Disse ainda que não vai jogar com as mesmas armas, mas sim com “a esperança, o compromisso e a coragem”.

Ela fez as declarações pela noite, na cidade de João Pessoa, onde visitou um hospital filantrópico e participou de comício ao lado do Governador Ricardo Coutinho (PSB), candidato à reeleição.

— Estamos oferecendo a outra face. Ninguém vai me levar para o embate, porque o que estou querendo é o debate. Não vou concorrer utilizando as mesmas armas, os mesmos métodos. Vamos continuar dialogando. Queremos unir o Brasil. Estou em paz com minha consciência, muito tranquila, e estamos felizes com a possibilidade de ganhar. O que eu vejo é que o programa da candidatura do PT e também do PSDB é o desespero, com a possibilidade de perder a eleição — discursou as pessebista.

— Para a face agressão, o respeito. Para a face da mentira, a verdade. Para a falta de um programa para debater, um programa que discute saúde, educação, segurança pública, infraestrutura, tecnologia, inovação — ironizou Marina.

Ao comentar a falta de programa dos adversários, a ex-senadora fez questão de lembrar os últimos escândalos divulgados envolvendo a Petrobras.

— Ela (Dilma) não apresentou programa, disse que não vai apresentar e que vai continuar do mesmo jeito que está fazendo. Significa que no caso da inflação é a mesma política. Do baixo crescimento, a mesma política. Do juro alto, a mesma política. E infelizmente, na nomeação de diretores de empresas importantes para a economia brasileira, manter os mesmos critérios que levaram o senhor Paulo Roberto a fazer o que fez com a Petrobras. Isso é o que precisa ser explicado — declarou Marina.

Ela prometeu que vai governar de forma “honesta e competente” para ampliar os serviços que a sociedade tanto reclama, e falou em memória de Eduardo Campos:

— As críticas que fiz foram em relação à propaganda do candidata que hoje está no governo, que usa os onze minutos de televisão para injustamente me atacar. Mas tomei uma decisão, que para mim é muito significativa, em homenagem à memória do Eduardo, em que só depois de morto é que reconheceram seu valor, e a gente se reuniu em torno do caixão para chorar sua ida. Quando a gente está vivo não é capaz de reconhecer os valores, as qualidades daqueles que por ventura possam estar em campos diferentes, com ideologias e pensamentos diferentes.

Desde a manhã deste sábado Marina cobre uma extensa agenda pelo Nordeste, iniciada em Sobral (CE), depois Campina Grande — a 120 Km de João Pessoa — e João Pessoa. Na capital paraibana, a pessebista visitou o Hospital Padre Zé, instituição filantrópica fundada há 50 anos por José da Silva Coutinho, que encontra-se em processo de beatificação. O hospital tem 60 leitos em funcionamento, 53 implantados e atende a cerca de 7 mil pacientes recrutados entre as populações mais miseráveis da Paraíba.

Apesar das últimas críticas e do clima de guerra deflagrado nos últimos dias entre o PSB e o PT, o partido integra a coligação “A Força do Trabalho”, liderada pelo governador Ricardo Coutinho (PSB), que tem como vice, a médica Lígia Feliciano (PDT). Na chapa, consta ainda Lucélio Cartaxo, candidato ao Senado pelo PT e irmão gêmeo do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT).

No hospital, foi recebida por uma pequena multidão que gritava “Brasil pra frente, Marina Presidente”. Ela percorreu a ala de convivência do hospital, destinado ao acolhimento de pessoas portadoras do HIV. Ela foi recebida pelo Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, e pelo diretor do hospital Padre Zé, e pelo Diretor da entidade, Padre Egídio de Carvalho. Ele reclamou da burocracia estatal. Disse que o Don Zé possui 60 leitos, mas que ainda não conseguiu colocar para funcionar os 53 que implantou:

— É mais fácil construir do que fazer funcionar, porque a burocracia é grande no Brasil — reclamou a candidata, que afirmou que, há uma década a tabela do SUS não sofre reajuste, e que os repasses do governo federal não pagam sequer a folha de pagamento dos servidores da entidade, que sobrevive “as custas de doações e da ajuda do governo da Paraíba”.

Adversários disseminam 'cultura do ódio'
Marina Silva acusou os adversários de disseminarem a "cultura do ódio", durante comício realizado na cidade de João Pessoa, em apoio ao Governador Ricardo Coutinho (PSB), que disputa a reeleição. A candidata afirmou ainda que a sua principal adversária usa os onze minutos do programa eleitoral gratuito para desconstruir sua imagem, diante da prática de uma política que ela considera " perversa".

— Eles estão me agredindo muito. Quando peço que parem com a calúnia e com a mentira, dizem que estou me fazendo de vítima. Olhem como a política ficou perversa. Você tem que ser apunhalado, caluniado e eles querem que você fique sorrindo.

De João Pessoa, a candidata seguiria para Teresina, em último compromisso do dia e no Nordeste. Neste domingo, a candidata cumpre agenda em Brasília.

Apesar de ter declarado anteriormente que só realizaria a campanha em voos de carreira, após a tragédia que matou o presidenciável Eduardo Campos, a candidata usou um jatinho do modelo Hawker 800, fretado à Líder. Segundo um dos seus assessores, ela dá prioridade a voos comuns, mas tem sido obrigada a apelar para o táxi aéreo diante do aperto da agenda.

Marina pede 'dia de trégua' na campanha ao lembrar um mês da morte de Campos

• Em campanha no Nordeste, presidenciável diz que vai 'falar somente das propostas para o Brasil'

Leticia Lins e Cássio Bruno – O Globo

RECIFE - A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, afirmou que quer "estabelecer um dia de trégua na campanha" ao lembrar a morte do então candidato do partido, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que completa um mês neste sábado. Marina foi criticada pela presidente Dilma Rousseff e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter chorado ao desabafar sobre as críticas que tem recebido de petistas.

- Hoje é um dia muito especial para todos nós. Neste dia, quero estabelecer um dia de trégua na campanha e quero falar somente das propostas para o Brasil. Nada de agressões - disse Marina. - Esse dia é um dia simbólico para os partidos, para os candidatos do mesmo partido e de partidos diferentes, simbolizar esse espaço em diálogo e respeito. Então, em memória de Eduardo Campos ofereço neste dia a outra face. A face do diálogo, do respeito, de que acredito nas pessoas.

Marina e viúva prestam homenagem nas redes
Nas redes sociais, a candidata publicou uma carta aberta em homenagem ao ex-governador em que afirma "o Brasil perdeu uma liderança jovem, propositiva e vigorosa em defesa do desenvolvimento econômico e social". Segundo ela, a candidatura "expressava a esperança de uma desejada renovação no quadro político brasileiro".

"Mas a força do político residia, antes de tudo, no homem amoroso, devotado à mulher e aos filhos. O jogo bruto da política não o impedia de ser gentil até com os adversários, buscando o diálogo e o debate respeitoso de ideias", escreveu Marina, que também publicou uma foto dela abraçada ao aliado. Neste sábado, haverá uma missa às 17h, no Recife, com a presença de familiares, amigos e políticos.

A viúva de Campos, Renata, também escreveu um texto lembrando a data da tragédia no Facebook. Citando versos de um poeta de Mário Quintana, a viúva perguntou: "Dudu, lembra do nosso último dia dos namorados?". Em seguida, a própria Renata mesma respondeu:

"Você me presenteou com esses versos: 'As pessoas não se precisam, elas se completam. Não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida'. Parece que Mário Quintana sabia direitinho tudo que vivemos desde que começamos nossa vida juntos, eu com 13 anos e você, 15".

Cartazes são depredados e jogados em frente à casa de Campos
Apesar do dia de homenagens, dezenas de cartazes com propaganda da Frente Popular amanheceram rasgados e atirados na frente da residência da família do ex-governador, localizada no bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte da capital. A Frente Popular é a coligação de 21 partidos, liderada por Paulo Câmara (PSB), candidato à sucessão estadual, ex-Secretário de Campos e por ele indicado para a disputa.

Segundo a assessoria de imprensa do PSB o caso ainda não havia sido denunciado à polícia nem ao TRE até as 15h deste sábado.

"Não bastasse o sofrimento pela perda de um ente querido, a viúva de Eduardo, Renata Campos, e seus cinco filhos ainda tiveram que passar por esse constrangimento", diz a nota do PSB. "Os vândalos não respeitaram a dor da família, dos amigos e correligionários de Campos".

De acordo com o PSB, houve depedração de material nas avenidas Dezessete de Agosto, Rosa e Silva e Estrada do Arraial, três das principais vias de acesso à Matriz de Casa Forte, local da missa de trigésimo dia. No bairro de Casa Forte, onde fica a paróquia, também foi observada a destruição de propaganda, que normalmente ficam em cavaletes, nas calçadas.

Na terra dos irmãos Gomes, Marina pede trégua em nome de Campos

• Candidata à Presidência da República pelo PSB lembrou a morte do ex-colega de chapa, que completa um mês neste sábado, em agenda no reduto dos irmãos Ciro e Cid Gomes, adversários de Campos

Talita Fernandes - Veja

A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, invocou a memória de Eduardo Campos, morto há um mês em um acidente de avião no litoral de São Paulo, para pedir uma trégua dos ataques adversários à campanha. "Hoje é um dia muito especial para nós porque faz exatamente um mês que nós perdemos o Eduardo Campos. Nós queremos estabelecer esse dia como um dia de trégua na campanha, queremos falar de propostas, de coisas que juntos a gente sonhou pelo Brasil", disse. O pedido foi feito durante entrevista coletiva concedida neste sábado em Sobral, cidade do interior do Ceará e reduto dos irmãos Cid e Ciro Gomes, ex-pessebistas aliados de Dilma que romperam com Campos após o partido anunciá-lo como candidato ao Planalto. Depois disso, os irmãos migraram para o novato PROS.

Marina, que vem sofrendo um verdadeiro bombardeiro de seus opositores, especialmente do PT, reforçou o discurso que vem repetindo de que é possível governar com os melhores de todos os partidos e afirmou que há qualidades em todos os setores da sociedade e também nas siglas. "Infelizmente, foi preciso que Eduardo perdesse sua vida para que todos os partidos e políticos reconhecessem seu valor", disse.

Questionada sobre as críticas feitas pelos Gomes à sua candidatura, Marina disse que "oferece a outra face". "Em nome da memória de Eduardo Campos, que foi companheiro de Ciro Gomes no mesmo partido, eu quero, nesse dia, oferecer a outra face: do diálogo e do respeito, de quem acredita na democracia", se limitou a dizer. O governador do Ceará, Cid Gomes, fez coro com o PT e disse que, se eleita, Marina não cumpriria o mandato e classificou sua candidatura como "canoa furada". O deputado Cid Gomes, ex-governador do Estado, disse que Marina representa "um vazio absoluto".

Homenagens - Neste sábado, Marina tem programada uma intensa agenda de campanha com eventos em Campina Grande (PB), João Pessoa (PB) e em Teresina, no Piauí. Coordenadores da campanha disseram que fizeram questão de manter a agenda em Sobral como uma espécie de homenagem a Campos, que ainda no começo da corrida eleitoral tinha intenção de fazer campanha na terra dos seus opositores. Em vez de voar voos comerciais, como vem fazendo, Marina optou por fretar um jato neste fim de semana para viabilizar a agenda intensa. Integrantes da campanha se emocionaram durante o voo ao lembrar de histórias de Campos, que morreu a bordo de uma aeronave.

No Recife, terra natal do ex-governador, está prevista uma missa no fim da tarde em sua memória. Em sua página no Facebook, a viúva Renata Campos e os cinco filhos - Maria Eduarda, João, Pedro, José e Miguel - assinaram um texto em homenagem a Campos. "Pode ficar tranquilo. Sua bandeira é agora a bandeira de todos os brasileiros. Seu amor e sua dedicação são nossa maior herança. Não, não vamos desistir do Brasil em hipótese alguma", dizia a mensagem, direcionada a 'Dudu', como Campos era chamado pela família e por amigos próximos.

Aécio Neves diz que Dilma não tem condições morais de pleitear segundo mandato

• Tucano comenta denúncia da revista ‘Veja’ de que o PT pagou para não vazarem documentos no caso Petrobras

Daniel Leite – O Globo

BELO HORIZONTE - O candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Aécio Neves, disse que o governo da presidente Dilma Rousseff não tem condições morais para pleitear o segundo mandato, ao comentar reportagem da “Veja” neste sábado. Segundo a revista, o PT foi chantageado para que não fossem revelados documentos comprovando a suposta participação de integrantes do partido no escândalo da Petrobras.

- A marca do governo do PT é essa, uma denúncia por semana, e cada uma mais grave que a outra. Nós temos que resgatar o padrão ético na Presidência da República - afirmou Aécio.

Aécio lembrou que essa é a reta final da campanha, e disparou mais críticas. Cobrou ética da Presidência da República.

- Nós temos que resgatar o padrão ético na Presidência da República. O governo da presidente Dilma perdeu as condições, perdeu autoridade até moral de pleitear um segundo mandato - afirmou.

De acordo com o texto, a legenda teria arrecadado R$ 6 milhões na estatal para calar denúncias envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria-Geral da Presidência e um dos coordenadores da campanha de Dilma, e outros petistas.

O tucano ainda afirmou que a presidente Dilma perdeu as condições de governar e que Marina Silva “não adquiriu essas condições”.

Aécio não comenta pesquisa do Ibope
Aécio se negou a comentar a última pesquisa Ibope, divulgada na sexta-feira, em que aparece novamente em terceiro lugar, com 15% das intenções de voto, atrás de Marina e Dilma.

- Um pouco antiga, né? - retrucou, após perguntar quando foi feito o levantamento e a reportagem responder que foi entre os dias 5 e 8 deste mês.

Aécio disse que estará no segundo turno. "Só não sei com quem", emendou.

O tucano participou de evento com jovens na Praça do Papa, região centro-sul da capital mineira.

Durante o encontro, foi assinado um pacto pela juventude e igualdade racial. O presidenciável seguiu em carreata até a Praça Sete, no Centro da cidade, acompanhado do candidato ao governo mineiro pelo PSDB, Pimenta da Veiga, e ao Senado, também pelo partido tucano, Antônio Anastasia. Neste domingo, o tucano fará campanha no Rio.

A razão contra a baixaria e a apelação: O Estado de S. Paulo – Editorial

A inacreditável baixaria e a apelação na qual o desespero de Dilma Rousseff e a empáfia de Marina Silva transformaram a campanha eleitoral em sua fase decisiva tiveram um contraponto na atuação de Aécio Neves, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, em sua participação, no último dia 10, na rodada de entrevistas com os presidenciáveis realizada pelo jornal O Globo. No momento em que o PT apela para o que sabe fazer melhor - atacar e iludir - e Marina recorre ao bom-mocismo e à manipulação de obviedades para seduzir um eleitorado ávido por mudanças, o candidato do PSDB introduziu um sopro de racionalidade no debate eleitoral.

O que se pode esperar daqui para a frente da campanha petista é a desfaçatez crescente de Dilma Rousseff diante do mar de lama que envolve seu governo, como ela demonstrou sem o menor constrangimento na entrevista ao Estado publicada no dia 9, ao responder sobre o mais recente escândalo na Petrobrás: "Se houve alguma coisa, e tudo indica que houve, eu posso garantir que todas, vamos dizer assim, as sangrias que eventualmente pudessem existir estão estancadas". "Sangrias", aliás, sobre as quais a ex-ministra de Minas e Energia e chefe do governo "não tinha a menor ideia".

Marina Silva, por sua vez, tem falado muito sobre a "nova política" que se propõe a levar ao Planalto e pouco sobre como e o que fará para transportá-la do plano das boas intenções para a realidade dura de um ambiente político que a prática dos últimos 12 anos levou a limites extremos de degradação. E fala pouco sobre os 24 anos em que, sob as asas do guru Lula, militou nas falanges petistas que, com denodo e método, se dedicaram a desmoralizar as instituições democráticas do País.

Surpreendido, como todo o Brasil, pela reviravolta provocada na campanha eleitoral com a morte trágica de Eduardo Campos, Aécio Neves, cuja candidatura até então parecia presença certa contra Dilma Rousseff no segundo turno, defronta-se agora com a necessidade de, em circunstâncias mais desfavoráveis do que até então, demonstrar que é a melhor opção para um eleitorado claramente ávido por mudanças.

Sem considerar a questão estritamente política, que é essencial, mas pouco compreendida em toda sua complexidade - ou simplesmente rejeitada pela maior parte do eleitorado -, o fator decisivo numa eleição presidencial é certamente a economia, traduzida em seus efeitos sobre o cotidiano dos cidadãos. Para reduzir a questão a sua expressão mais simples, quando a economia vai mal a produção cai, os empregos mínguam, a carestia aumenta e a insatisfação geral se instala. É exatamente o que acontece hoje no País, depois de quatro anos de incompetente e desastrado governo.

Diante desse desastre que nem a indispensável existência de programas sociais como o Bolsa Família consegue mais dissimular, está claro que o Brasil precisa, mais uma vez, de uma competente ação governamental de estabilização e desenvolvimento econômico, a exemplo do que ocorreu 20 anos atrás, quando a inflação anual atingia incríveis quatro dígitos e o então ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, comandou uma equipe de economistas que criou e implantou o Plano Real, a partir de três fundamentos básicos: metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário.

Esse é, claramente, um desafio para o qual Dilma Rousseff, até por formação ideológica, não tem a menor disposição - nem o PT dispõe de quadros habilitados - para enfrentar. Marina Silva, por sua vez, tampouco conseguiu demonstrar até agora genuína disposição, e disponibilidade do necessário apoio de quadros técnicos, para a difícil tarefa de recuperar a economia brasileira.

Além do comprometimento histórico dos tucanos com a estabilidade e o desenvolvimento econômico do País, Aécio Neves pode contar com a credibilidade de quadros técnicos comprovadamente competentes. E essa foi a ênfase de sua participação na entrevista ao jornal carioca, ao repudiar a baixaria e a apelação emocional na campanha: "Tenho feito um esforço maior e vou fazê-lo até o último dia desta eleição. Acredito que, no momento da decisão, vai prevalecer a onda da razão".

Merval Pereira: O uso do medo para ganhar voto

- O Globo

O sociólogo Manuel Castells, um dos maiores especialistas em redes sociais, diz que o medo é a emoção primária fundamental, a mais importante de nossa vida a influenciar as informações que alguém recebe.

Os recursos da moderna propaganda estão sendo usados à exaustão nesta campanha para explorar as descobertas mais recentes da neurociência, que já definiu que o eleitor vota mais com a emoção do que com a razão.

Mais uma vez o PT apela para o esquerdismo canhestro para tentar barrar a caminhada da hoje adversária Marina Silva, assim como fez com os candidatos do PSDB em pleitos anteriores.

A privatização já foi o argumento da vez, mas, como o próprio governo petista teve que privatizar portos, rodovias e aeroportos para destravar os investimentos, achou-se outro bode expiatório contra Marina, como o Banco Central autônomo ou o petróleo do pré-sal.

Sempre aparentando uma estratégia de esquerda, uma suposta defesa dos desvalidos, o que o PT faz é explorar o medo das camadas menos informadas da população criando fantasmas contra seus adversários.

O fenômeno mais interessante desta eleição é a troca de posições entre os candidatos do PSDB e do PSB, com Marina concretizando todos os projetos estratégicos previstos por Aécio Neves quando da campanha ainda participava o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.

Contando com o esquema partidário do PSDB, bem mais capilarizado que o do PSB, Aécio pretendia neutralizar a força do PT no Nordeste com boas votações em estados daquela região onde a oposição se fortalecera depois da eleição de 2010, como Bahia e Ceará, além de contar com a vitória natural de Campos em Pernambuco.

Se em 2010 Dilma elegera-se com votação espetacular no Norte e no Nordeste, onde tirara mais de 11 milhões de votos de diferença para o candidato tucano no 2º turno, este ano alterações importantes indicavam que a votação naquelas regiões poderia ser diluída entre os três principais adversários, mesmo que Dilma continuasse com vantagem.

A entrada de Marina na disputa, devido à morte trágica de Campos, fez com que se concretizasse a mudança de quadro nas votações, mas a favor dela. Dilma, que teve média de 70% dos votos do Nordeste em 2010, neste momento está com 47%, enquanto Marina tem 31%. Aécio está com a mesma votação que Serra teve em 2010: 8% dos votos nordestinos.

Em PE, Marina manteve a maioria dos votos de Campos e lidera com 45%, enquanto Dilma tem apenas 38%. Na BA, Dilma está à frente com 50%, mas em 2010 teve 67%. Em nenhum dos dois estados, com 43% do eleitorado do Nordeste, Aécio está à frente, embora a coligação DEM-PSDB esteja vencendo a eleição para o governo na Bahia.

No Sudeste, Dilma está com 28%, em contraponto aos 46% que teve na última eleição, pois venceu em Minas. Marina hoje tem 36% dos votos do Sudeste, mais que Serra em 2010, mesmo este tendo vencido em SP. Marina, no momento, vence em São Paulo e disputa o segundo lugar em Minas com Aécio.

Em SP, o governador Geraldo Alckmin pode vencer no 1º turno. O PSDB tem vencido regularmente a eleição para presidente em SP, mas desta vez quem está à frente é Marina. No Rio, onde a presidente teve vitória com 3,7 milhões (43,8%) no 1º turno, e 4,9 milhões (60,5%) no 2º , a candidata Marina Silva lidera as pesquisas, impossibilitando que a presidente Dilma repita sua performance.

O esquema partidário paralelo que Aécio montou com dissidentes da base aliada do governo do estado, que rejeitaram o apoio do PT a Lindbergh Farias, não está funcionando a seu favor. No Sul, Dilma caiu de 43% para 35%, e tem a mesma votação que Serra em 2010. Marina tem 28%, enquanto Aécio mantém 20%.

Mais um exemplo de que as alianças feitas não estão alavancando Aécio: no Rio Grande do Sul, a senadora do PP Ana Amélia vence para o governo do estado, mas Aécio está em 3º lugar. Marina atualizou seu programa de governo, em especial na parte econômica, e encontrou semelhanças com o eleitorado do PSDB, o que facilitará uma transferência de votos no segundo turno.

O PT, por seu lado, conseguiu dar à campanha o tom de confrontação radicalizada que lhe é propício. Marina terá que contar com a organização partidária dos aliados da oposição para fazer frente à máquina partidária petista no 2º turno.

Dora Kramer: Acender as velas

• No meio da guerra, Aécio espera que ‘onda de razão’ ainda o leve ao 2º turno

- O Estado de S. Paulo

Vista assim de baixo, do terceiro lugar nas pesquisas, a cena eleitoral obviamente não é agradável para o tucano Aécio Neves, há um mês tido por muita gente - do governo inclusive - como o provável próximo presidente da República.

O panorama virou, Marina Silva entrou no páreo carregando com ela para o cenário o fator emocional. Para o bem e para o mal. O debate cortou relações com a racionalidade e com isso ficou abalado o que era o principal trunfo do candidato do PSDB.

Ainda assim, Aécio nem pensa em se "reinventar" como um novo personagem. Uma espécie de santo guerreiro a fim de tentar nos próximos 20 dias recuperar a desvantagem na base da pancadaria. "Não vou apelar. Prefiro continuar explicando que o PT perdeu as condições de governar e a Marina ainda não adquiriu essas condições."

Na avaliação do comando da campanha do PSDB, não há outro caminho nessa reta final. Enquanto Dilma Rousseff e Marina brigam, o candidato do partido precisa abrir espaço no meio ressaltando as fragilidades das duas adversárias para tentar capitalizar prejuízos e benefícios da guerra de extermínio entre ambas.

Partindo do princípio de que a capacidade de destruição do PT é ilimitada, Dilma seria a sobrevivente, embora bem machucada, e Aécio contaria sair ileso do incêndio. O tucano certamente sabe que o fator tempo não o favorece, mas também leva em conta que o alto grau de agressividade dos ataques mútuos pode provocar alterações mais rápidas no cenário.

Para ele, claro, o ideal seria algo como o advento de uma "onda de razão" a tomar conta do eleitorado. De forma espontânea, difícil de acontecer. A fim de reconquistar os votos daqueles que passaram a ver Marina Silva como a possibilidade de derrotar o PT, nos próximos 20 dias põe na rua uma campanha para chamar o eleitor ao que define como "mundo real".

"Quero chamar as pessoas a prestar atenção ao seguinte: que não basta apostar numa utopia, que representamos a governabilidade de fato, que a mudança começa no dia primeiro de janeiro de 2015 com o trabalho de uma equipe qualificada e que não se esgota no dia da eleição. Há o dia seguinte e nesse, se eleita, Marina vai acabar governando com o PT", diz.

Na parte que lhe toca como presidente do PSDB, desde já Aécio afirma que ela não poderia contar com o partido em seu projeto de governar com os melhores.

"Se eu perder, é porque a maioria resolveu que o PSDB não deve governar. A decisão sobre quem é governo ou oposição está nas mãos do povo. Não cabe a nós alterar o resultado da eleição por obra de acordos com o vencedor. Seria até uma fraude. Portanto, a escolha em relação aos mais qualificados deve ser feita nas urnas."

Avalistas. Em reuniões com setores que lhes são refratários - agronegócio, mas não só -, Marina Silva tem dito que, se eleita presidente, sua equipe econômica terá feições tucanas e as políticas sociais serão conduzidas aos moldes petistas.

Outro tempo. A atmosfera na posse do ministro Ricardo Lewandowski na presidência mostrou que o Supremo Tribunal Federal não é mais o mesmo. Onde se faziam discursos convocando o Judiciário a assumir sua parcela de responsabilidade no combate à "avalanche de delitos que sacode o País", agora o que se ressalta é o esforço da Corte para preservar o ambiente ameno entre os pares.

Isso na mesa de autoridades composta, entre outros, pelos presidentes da Câmara e do Senado, ambos apontados como partícipes do esquema de corrupção da Petrobrás. Denúncia que, se comprovada, será examinada pelo STF.

Pelo rumo e pelo balanço da carruagem, o ativismo pode vir a dar lugar ao inativismo judicial.

Eliane Cantanhêde: A força de São Paulo

- Folha de S. Paulo

O foco da eleição está todo em São Paulo, onde se amontoam quase 32 milhões de eleitores, 22,4% do país. Marina tem 40% no Estado, onde compensa a vantagem de Dilma no Sul e a franca dianteira da petista no Norte e no Nordeste. Aliás, Marina já atingiu 31% nos Estados nordestinos, feudos de Dilma e Lula.

Dilma só tem 26% em São Paulo, o que puxa para baixo seu desempenho no fundamental Sudeste, onde ela perde por 28% a 36% de Marina.

Aécio patina em 16% em São Paulo, o que apavora mais o PSDB do que a própria candidatura dele. O futuro do partido, incerto, depende muito dos votos paulistas.

Todas as campanhas, portanto, quebram a cabeça e gastam sola de sapato para conquistar os paulistas, não só da capital, mas principalmente do rico e conservador interior.

A coisa é complicada. O PT mantém o favoritismo na disputa presidencial, mas seu candidato ao governo de São Paulo nunca chegou a dois dígitos nas pesquisas. Com o PSDB ocorre o contrário: em terceiro na presidencial, tem tudo para reeleger Alckmin já no primeiro turno.

Quanto a Marina: não tem a estrutura partidária nem os palanques de PT e PSDB --aliás, não só em São Paulo--, mas disparou entre os paulistas. Eles têm forte rejeição ao PT e, apesar de renovarem o crédito de Alckmin, não parecem se animar com o mineiro Aécio.

O tucano está ensanduichado não apenas entre as vantagens objetivas de Dilma e a novidade Marina, mas também entre as premências em São Paulo e Minas. Se o PSDB não pode ser um fiasco em São Paulo, Aécio não pode perder feio em Minas. E ele está sete pontos atrás de Dilma no Estado que governou. Nos dois casos, do PSDB e de Aécio, é questão de sobrevivência.

Em tempo: a diferença pró-Marina em São Paulo é de 14 pontos no primeiro turno e de 25 no segundo, e ela tem a seu favor os erros de Dilma na economia. Não é trucidando Neca Setubal que o PT vai reverter isso.

Luiz Carlos Azedo: Agora é com as ruas

• O eleitor está cada vez mais consciente de que seu desejo expresso nas urnas será respeitado. É daí que pode vir a alternância de poder — e não do bla-bla-blá nas redes sociais

Correio Braziliense

A disputa eleitoral chegou ao momento mais decisivo, a três semanas do pleito, cuja principal característica é a volatilidade das intenções de voto da maioria dos eleitores. É uma situação na qual tudo o que é sólido pode se desmanchar e todo cuidado é pouco.

No momento, a presidente Dilma Rousseff (PT) lidera a disputa no primeiro turno; Marina Silva (PSB) está em ligeira vantagem no segundo turno; e Aécio Neves (PSDB) aposta tudo numa mudança de cenário no qual possa avançar graças à “desconstrução” da candidata do PSB.

As últimas pesquisas mostram mais ou menos isso, mas nada impede que o quadro possa se modificar radicalmente até 3 de outubro. A recuperação de Dilma Rousseff nas pesquisas é atribuída à melhora de avaliação de seu governo pela população, em consequência da maciça propaganda feita na televisão.

Pesaram para configuração desse cenário os duros ataques contra Marina Silva, que deverão continuar, do pescoço pra cima, como aconteceu em relação às polêmicas sobre o pré-sal e o Banco Central. Sem falar nos desacertos iniciais do PSB em relação ao programa de governo, no confinamento de sua campanha a ambientes fechados e no pouco tempo de televisão.

A grande interrogação na disputa eleitoral entre o governo e a oposição é a capacidade de recuperação de Dilma Rousseff na reta final de campanha. A melhora dos índices de aprovação do governo é a grande aposta do marqueteiro João Santana, em razão da vantagem proporcionada pelo maior tempo de televisão.

A candidata, porém, parece que tomou gosto pela radicalização do discurso político, recidiva de seu voluntarismo juvenil, e pela pancadaria verbal, na qual sempre cresce diante dos adversários, como ficou demonstrado quando disputou a Presidência em 2010.

Rejeição
Ocorre que a campanha de Dilma tem um ponto fraco: o desgaste eleitoral do PT é muito grande, tanto que a legenda vai mal das pernas nas eleições majoritárias e proporcionais na maioria dos estados.

Além disso, é elevado o índice de rejeição de Dilma Rousseff, da ordem de 42%, segundo a pesquisa do Ibope, contra 25% de Marina e 36% de Aécio. Se persistir nos ataques, o risco da rejeição aumentar é grande.

Dilma pode perder a eleição no segundo turno. Hoje, esse é o cenário provável diante das tendências atuais do processo eleitoral. Quais seriam os demais cenários? A desidratação da candidatura de Dilma, a essa altura do campeonato, parece improvável. A presidente Dilma conseguiu manter sua coalizão unida, conta com o empenho pessoal e decisivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha e está com o PT na ofensiva contra os adversários.

O cenário alternativo seria a volatilização da candidatura de Marina Silva, sob o fogo cerrado dos adversários, inclusive Aécio Neves (PSDB). O risco desse cenário é o fortalecimento da candidatura de Dilma, para onde estariam migrando os votos perdidos por Marina Silva, provocando um desfecho já no primeiro turno.

Esse risco, porém, é limitado pela radicalização do discurso político da presidente da República, sobretudo em relação à economia, que espanta o establishment, e pelo desgaste provocado por escândalos envolvendo o PT, como o “mensalão” e as maracutaias na Petrobras, que causam ojeriza à parcela significativa da sociedade.

De qualquer maneira, a disputa eleitoral está na boca do povo, nos trens e metrôs, nos bares e restaurantes, feiras e supermercados, farmácias e padarias, barbeiros e loterias esportivas. A campanha de rua deve ganhar mais intensidade. Isso pode ser decisivo numa disputa muito emparelhada.

Ninguém vai levar o eleitor a votar puxando-o pelo nariz. Graças ao voto secreto, direto e universal, com eleições a cada dois anos — temos a maior democracia de massas do mundo —, o eleitor está cada vez mais consciente de que seu desejo expresso nas urnas será respeitado. É daí que pode vir a alternância de poder — e não do bla-bla-blá nas redes sociais.

João Bosco Rabello: A opção pela farmácia

- O Estado de S. Paulo

A pouco mais de 20 dias da eleição, as pesquisas mantêm a fotografia de um segundo turno entre as candidatas Dilma Rousseff e Marina Silva, a despeito dos maus resultados na economia e da corrupção avassaladora no governo, espremido entre o mensalão e os escândalos na Petrobrás.

Parte da resistência da candidatura de Dilma Rousseff ao ambiente negativo de seu governo é atribuída à decisão estratégica da campanha de incutir o medo na população mais carente com a perda de benefícios sociais, numa versão exitosa da linha derrotada do PSDB na primeira eleição de Lula.

Se é verdade - e tudo indica que sim -, a estratégia deu certo aplicada também a Marina Silva, o que chega a ser surpreendente se considerada sua origem petista e seu compromisso com a pobreza, respaldado pela biografia pessoal e pela recorrente profissão de fé religiosa.

Mas o pouco ou nenhum impacto, até aqui, da corrupção na estatal mais importante do País e da recessão econômica no espírito do eleitor indica que o medo de perder o pouco que tem é maior que a racionalidade.

Tem-se aí um eleitor de resultados - e de poucos resultados -, conformado com o que tem e temeroso de que mudanças sejam ainda piores. Mal comparado, comporta-se diante do quadro do País como o paciente que precisa de cirurgia, mas prefere adiá-la indo à farmácia.

É uma oportunidade para refletir também sobre a qualidade do eleitorado brasileiro em contraponto à cobrança que faz da qualidade dos candidatos. Parece estabelecido um círculo vicioso em que cobranças e promessas satisfazem as partes, excluindo o debate político com base em programas mínimos de governo.

Nesse contexto, temas que falam direto à moral e à emoção assumem o protagonismo na campanha, muito embora a maioria deles diga mais respeito ao Legislativo do que ao Executivo, casos do casamento gay, aborto e legalização das drogas, que não são cobrados aos candidatos ao primeiro.

Não há dúvida sobre a prevalência da linha populista em tal cenário, que dispensa os candidatos de programas e que orienta o eleitor pelo efeito Tiririca : "pior do que está não fica".

Marina Silva ainda apresentou programa genérico, mas, pelo fato de estar redigido, lhe permite cobrar dos adversários os seus. Aécio Neves o faz com mais racionalidade, não vende ilusões e conta com o êxito do PSDB na estabilização da economia nos anos 90.

Já Dilma Rousseff, que mais deveria dizer o que fará por ter levado o País à recessão e representar a continuidade, anuncia apenas "uma equipe nova". É a líder nas pesquisas.

Ferreira Gullar: Antes da bomba

• Tanto Dilma quanto Aécio terão de encontrar um meio de desmanchar a aura quase mística que envolve Marina

- Folha de S. Paulo / Ilustrada

Como cidadão que sou, preocupado com o rumo que tomará o Brasil, tenho procurado acompanhar a campanha eleitoral para a Presidência da República. Indiscutivelmente, é nos debates com os principais candidatos, promovidos pela televisão, que melhor se pode conhecê-los, sacar quem na verdade são, o que dizem pensar e o que fariam à frente do governo.

De fato, dos onze, só três --Dilma, Marina e Aécio-- oferecem alguma consistência no que afirmam e prometem. Os outros, se algo representam, é uma parcela insignificante da opinião pública e a representam mal, ou porque mal sabem o que dizem ou porque apenas repetem atitudes políticas e ideológicas ultrapassadas.

Devem ter alguma razão especial para se candidatarem, pois sabem muito bem que pouquíssimos votos lhes serão dados pelos eleitores. É certo que só aparecer perante o país como candidato à Presidência da República, já é, por si só, uma distinção especial (ainda que, para muita gente, seja motivo de gozação).

Os outros três candidatos, pelo contrário, representam, de uma maneira ou de outra, parte considerável do eleitorado, conforme indicam as pesquisas de opinião.

Certamente, cada um deles ganhou significação e força eleitoral por razões diversas, relacionadas com suas respectivas atuações no plano político, suas ideias e atuações que, de modo ou outro, as distinguem no contexto social.

Durante os debates, as qualidades e defeitos se revelam, muito embora os três busquem mostrar-se à altura da função governamental a que aspiram.

Até onde consigo perceber, Aécio Neves é o candidato mais consistente no que afirma e no modo como o faz. Vale-se de um discurso bem articulado e da experiência administrativa de governador, que foi, do Estado de Minas Gerais.

Por outro lado, Dilma Rousseff não se expressa bem, chegando mesmo a gaguejar quando se aventura a improvisar em vez de ler o que trouxe escrito. Não obstante, argumenta consistentemente quando cita obras realizadas por Lula e por ela.
Já quando tenta responder às críticas a seu governo, afirma qualquer coisa, mesmo que contradiga a realidade: afirmou que a inflação está próxima de zero, que o país está crescendo, muito embora os próprios dados oficiais digam o contrário. Por isso mesmo, os adversários acusam-na de inventar um Brasil em tecnicolor, que só ela conhece. Apesar disso, deu sinal de recuperação nas últimas pesquisas.

Quanto a Marina Silva, pode-se dizer que é a própria figura de brasileira que comeu mal na infância, não ganhou carnes nem força nem voz. É uma sobrevivente. Não obstante, fala fluentemente, pensa claro e parece saber o que pretende fazer para mudar o Brasil.

Sua imagem é a de uma visionária que promete um milagre. Essa imagem ganhou maior expressão com a morte trágica (e absolutamente imprevisível) de Eduardo Campos, de quem ela se tornou a herdeira política.

Tudo isso emprestou à sua candidatura tal força que a emparelhou, inicialmente, com Aécio Neves, e a colocou à frente de Dilma Rousseff no segundo turno. Penso que nem ela, Marina, imaginava que isso fosse acontecer tão cedo. E isso se mantém até o momento em que escrevo esta crônica.

Mas muita água ainda vai rolar até o dia 5 de outubro.

Sem qualquer dúvida, tanto Dilma quanto Aécio terão de encontrar um meio de desmanchar essa aura quase mística que envolve a figura de Marina e a torna uma candidata acima da realidade objetiva, ou seja, para além das condições que normalmente regem a disputa eleitoral.

Era, portanto, inevitável que Dilma e Aécio tentassem desfazer essa aura, apontando as carências de Marina. Um dos argumentos, usados por ambos, é que não será possível a ela governar o país sem um partido político importante e sem uma base parlamentar.

E que ninguém nos ouça, mas o risco seria constituir uma base semelhante à montada por Lula e herdada por Dilma, às custas de inventar ministérios para cedê-los aos aliados. Tudo o que ela promete --dizem os oponentes-- não irá além de palavras.

Não acho possível e, fora isso, não deixaria de ser uma experiência fascinante ter no governo uma mulher visionária disposta a mudar o país. Mas ninguém sabe o que vai acontecer, depois da bomba da delação premiada, cujo pavio foi aceso.

José Antonio Segatto: Greves, direitos e responsabilidades

- O Estado de S. Paulo

As greves que ora se sucedem nas universidades públicas paulistas recolocam um problema crucial, qual seja, os sentidos, as razões e as implicações dos movimentos paredistas no setor público, em particular para as instituições estatais e para a sociedade que o mantém.

Não é demais lembrar que a Constituição de 1988 - entre as muitas inovações no que se refere à expansão dos direitos de cidadania - estabeleceu no artigo 37, inciso VII, que o direito de greve dos servidores públicos "será exercido nos termos e limites definidos em lei complementar". Posteriormente, com a Emenda Constitucional n.º 19/1998, a exigência de regulamentação da greve no setor público passou de lei complementar para lei ordinária - essa alteração, se por um lado facilitou formalmente a regulamentação, por outro passou a exigir que isso fosse feito por meio de lei específica.

Entretanto, passados anos, o Legislativo não aprovou nenhuma lei estabelecendo normas específicas para o exercício do direito de greve na administração pública. Em face da incapacidade ou omissão do Congresso Nacional em regulamentar a matéria, o Supremo Tribunal Federal, em 2007, ao julgar mandados de injunção ajuizados por alguns sindicatos de servidores, decidiu aplicar à esfera do setor público, no que couber e com as devidas adaptações, a lei de greve do setor privado (Lei n.º 7.783/89). Essa determinação, obviamente, era temporária e visava a solucionar o problema enquanto permanecesse o hiato legislativo ou até que o Congresso aprovasse legislação específica.

Não obstante o caráter provisório de tal resolução da Corte Suprema, o fato é que, passados sete anos, o direito de greve dos servidores públicos continua sem regulamentação. E isso não se deve simplesmente à inércia parlamentar - tramitam no Congresso Nacional mais de uma dezena de projetos de lei (PLs) sobre essa matéria, entre eles o PL 4.497/01, proposto pela deputada Rita Camata, e o PL 710/11, pelo senador Aloysio Nunes Ferreira. A lacuna deve-se, em boa medida, ao fato de a regulamentação não interessar a muitas corporações e a alguns partidos; a esses importa a manutenção da imprecisão legal que permite toda sorte de conveniências e prerrogativas.

O problema da extensão da Lei n.º 7.783/89 ao setor público é que ela não responde às suas especificidades. A greve dos trabalhadores na empresa privada visa a compelir o empresariado a negociar a remuneração e/ou os benefícios de seus empregados; ao paralisar as atividades produtivas ou de prestação de serviços, a greve nesse setor faz cessar os lucros apropriados do sobretrabalho. Já no âmbito estatal, quem perde é a sociedade, que deixa de receber os serviços a que tem direito e para os quais contribuiu por meio de impostos. Além do mais, o estatuto e o contrato de trabalho de uns e de outros, servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada, são distintos e envolvem determinados direitos e deveres muito diferentes.

A inadequação da aplicação da lei geral de greve ao setor público é manifesta nas interpretações e nos usos que dela fazem juristas, sindicalistas e outros agentes interessados ou envolvidos. Muitos são os problemas e as implicações decorrentes de tal adaptação determinada pelo Supremo Tribunal Federal, como, por exemplo, os da não interrupção ou da paralisação do serviço público, da definição dos serviços essenciais, da eficácia e da aplicabilidade da lei, da isonomia e da legalidade, da mediação e do julgamento, da coerção e do arbítrio. O único consenso é o de que a greve constitui um direito legítimo e fundamental.

As peculiaridades do exercício do direito de greve no setor público tornam-se ainda mais evidentes quando se analisa o caso das universidades públicas, em especial no caso das estaduais paulistas, USP, Unicamp e Unesp, que são dotadas de autonomia didático-científica, administrativa e financeira - mantidas com 9,57% do ICMS arrecadado no Estado - e autogeridas: todos os cargos dirigentes são eletivos pela comunidade universitária.

Assim sendo, elas têm o poder de definir o orçamento, os salários, os benefícios, as carreiras, etc. Ou seja, têm relativa autonomia para estabelecer e prescrever normas e diretrizes.

Nessas condições, são de difícil compreensão por qualquer cidadão comum os propósitos ou os objetivos dos constantes, persistentes e prolongados movimentos paredistas nessas instituições de ensino superior. O direito de greve, historicamente um instrumento fundamental para a defesa dos interesses dos trabalhadores e recurso extremo em situações de impasse, foi banalizado, tornando-se mesmo trivial em algumas unidades universitárias.

Utilizando-se de meios e modos inapropriados, afrontosos e intimidatórios - piquetes, "trancaços", "cadeiraços", etc. -, as greves acabaram se convertendo em expedientes perversos de aviltamento da prestação de serviços públicos essenciais: ensino, pesquisa e extensão. Conduzidas por um sindicalismo de resultados agressivos e movidas por um corporativismo insaciável, têm como meta primordial e exclusiva a maximização de interesses e a potencialização de benefícios e/ou vantagens.

É desnecessário dizer que tais concepções e práticas têm acarretado a depreciação e/ou a degradação dessas universidades públicas, que estão, incontestavelmente, entre as principais instituições de ensino e pesquisa do País. Fato é que têm encontrado guarida na ausência de normas e procedimentos democráticos e no limbo jurídico determinado pela não regulamentação do direito de greve no setor público.

À vista disso, a greve no setor público, como direito constitucional legítimo e inalienável, para que seja efetivo, deve ser regulamentado com urgência a fim de que possa ser exercido de forma responsável, soberana e democrática, sem afrontas e arbitrariedades.

Professor titular do Departamento de sociologia da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp Araraquara

Miriam Leitão: Seis anos depois

- O Globo

Foi há seis anos, em uma segunda-feira, 15 de setembro. O banco Lehman Brothers não abriu as portas, e a economia internacional balançou no abismo. A resposta do Brasil à crise foi inicialmente certa e depois desandou. A indústria consumiu bilhões de reais em socorro do governo, e isso não funcionou. Ela representava 30,5% do PIB e hoje é 23,5%. O mundo está melhor que nós.

O crédito travou aqui e no mundo. O primeiro movimento do Banco Central foi impedir que esse travamento afetasse empresas saudáveis. Havia, além disso, um grupo grande de empresas apostando na queda do dólar, mas a moeda americana subiu. O Banco Central liberou compulsório, vendeu dólares, e o BNDES liderou o financiamento dos processos de fusão e de compras de empresas encrencadas, recebendo para isso empréstimos do Tesouro.

O arsenal de intervenção fazia sentido na emergência. Mas os empréstimos para o BNDES continuaram, saindo de R$ 9 bilhões, em 2008, para mais de R$ 400 bilhões, hoje. Isso era parte do que o governo definia como “política industrial”. Incluía também outras medidas equivocadas. Subsídios foram dados para a indústria, principalmente a automobilística. Foram elevadas barreiras ao comércio externo, repetindo-se o mesmo erro de fechar o país e subsidiar a indústria para que ela florescesse. Ela murchou e perdeu participação na economia. O investimento também nunca mais foi o mesmo. Perdeu cinco pontos percentuais do PIB, de 24,21%, no terceiro trimestre de 2008, para 19,29%, no segundo tri deste ano.

O gasto com subsídios ajudou a colocar as contas públicas na berlinda, e o Brasil foi rebaixado em março passado pela S&P. Agora, por esta agência, estamos apenas um ponto acima do grau especulativo.

O excesso de confiança e a subestimação do que estava acontecendo teve consequências. O diagnóstico equivocado levou a política econômica para a direção errada. Passados seis anos, o que se vê, hoje, é um país que não cresce e tem inflação elevada, enquanto várias outras economias se recuperam. Desde o início do segundo mandato do ex-presidente Lula as decisões do governo vinham se distanciando das que haviam sido adotadas no primeiro mandato. Em setembro de 2008, houve uma espécie de licença para gastar, e para errar.

O pior em uma política econômica é quando ela cria efeitos colaterais sem que aconteçam os benefícios. A indústria está encolhendo em média 1,17 ponto percentual do PIB por ano. Podem haver fatores estruturais nesse encolhimento, mas ele comprova que o remédio usado pelo governo nada reverteu. O problema está principalmente na indústria de transformação, a mais importante entre os subsetores industriais, pois é a que transforma produtos básicos, matéria-prima, em produtos finais ou intermediários, com mais alto valor agregado. Fazem parte desse grupo a indústria automotiva, de alimentos processados, têxtil, eletroeletrônicos, químicos, máquinas e equipamentos, entre muitos outros. Juntos, eles caíram de 18,69% do PIB para 12,49% desde setembro de 2008.

O crescimento de 2010 foi em parte recuperação da retração de 2009, em parte aquecimento excessivo injetado na economia para garantir a eleição da presidente Dilma. Ao assumir, ela teria então que fazer um ajuste e mudança de rumo em 2011, para evitar a inflação e corrigir as distorções que já se acumulavam.

Os EUA enfrentaram baixo crescimento e alto desemprego por vários anos e agora se recuperam. A Europa foi atingida por um tsunami que arrastou vários países para o colapso da dívida soberana que, por um tempo, colocou em questão até a sobrevivência do euro. O Brasil não fechou qualquer acordo de comércio, perdendo as oportunidades que apareceram para permanecer fiel ao Mercosul, ampliado com a Venezuela.

Todos os subsetores industriais perderam participação no PIB. A indústria extrativa, que engloba a extração de petróleo e de minério de ferro, era 3,84% do PIB e hoje é 3,69%. Mesmo com a exploração do pré-sal, a produção de petróleo da Petrobras, na verdade, está estagnada há seis anos. Em parte, reflexo do erro de parar, por anos, os leilões de novas áreas para mudar o marco regulatório. A crise foi o detonador inicial, mas a estagnação e a inflação alta não são derivadas dos problemas internacionais, mas sim dos erros cometidos na resposta a um risco que inicialmente se subestimou.