quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Não estou pensando partidariamente, estou pensando historicamente. Está na hora. O Brasil precisa arejar

Eu prefiro o Aécio, que tem uma estrutura maior, mais afinidade. Mas acho que Eduardo está tomando posições que são corretas e vai arejar de qualquer maneira.

É óbvio que está na hora de mudar (tirar o PT do governo). Acho que Aécio tem mais condições de ganhar. Agora, se por acaso não for assim, que seja alguém da oposição.

A população está sentindo que está na hora de mudar. Mas a mudança não virá de mão beijada. Essa eleição só será ganha pela oposição se alguém da oposição, seja quem vier a ser, tiver coragem de dizer as coisas como elas são, com simplicidade.

O Brasil está precisando de gente que fale olhando no olho das pessoas, dizendo, sem meias palavras, sem muita politiquice, as coisas como elas são.

Tanto a Marina quanto o Eduardo saem do bloco do governo e vão pro outro lado.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República. Da entrevista ao Blog de Josias de Sousa em 23 de janeiro de 2014.

Apesar da pancadaria, quadro fica inalterado

Empate técnico nos dois turnos

• Datafolha mostra diferença entre Dilma e Marina dentro da margem de erro e vê disputa consolidada

Tatiana Farah, Renato Onofre e Isabel Braga – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Em uma semana de forte munição disparada pelos candidatos à Presidência, o Datafolha mostrou ontem um acirramento da disputa entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB). De acordo com o instituto, as duas candidatas estão tecnicamente empatadas nos dois turnos. No segundo turno, caiu para quatro pontos a diferença entre elas, o que resulta em empate técnico (47% para Marina e 43% para Dilma). Na semana passada, Marina estava na frente, com 48% das intenções de voto contra 41% de Dilma.

Em relação ao primeiro turno, a presidente oscilou um ponto para cima, e Marina, um ponto para baixo, aumentando a diferença entre elas para três pontos, também dentro da margem de erro: 36% para Dilma e 33% para Marina. O senador Aécio Neves (PSDB) oscilou um ponto para cima em relação à pesquisa do dia 5 de setembro e segue em terceiro lugar, com 15%. Os outros candidatos somaram 3%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Na simulação de segundo turno, Aécio perde tanto para Marina (54% a 30%) quanto para Dilma (49% a 38%). No entanto, em relação à pesquisa anterior, a diferença entre a socialista e o tucano caiu, já que, no dia 5, Marina tinha 56%, e Aécio, 28%. O índice de confiança da pesquisa, que ouviu 10.568 eleitores em 373 municípios do país, é de 95%. As entrevistas foram feitas nos dias 8 e 9 de setembro, e a pesquisa, encomendada pela Rede Globo e pelo jornal "Folha de S. Paulo", foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-00584/2014.

Mauro Paulino acha difícil cenário mudar
Para Mauro Paulino, diretor do Datafolha, a pesquisa consolida a disputa entre Dilma e Marina.

- O empate técnico no segundo turno mostra o acirramento entre as duas candidaturas. A pesquisa aponta que o resultado tende mais para uma estabilidade (entre Dilma e Marina) do que para uma mudança no cenário - disse Paulino.

Outro ponto que merece destaque, segundo o diretor do Datafolha, é que aumentou a rejeição de Marina de 16 para 18 pontos percentuais. Marina já teve uma rejeição bem inferior, de 11%. Esse crescimento pode ser explicado por ela ter se tornado o principal alvo dos ataques de seus adversários e por ter assumido o protagonismo na disputa.

A mesma pesquisa avaliou também a opinião dos eleitores sobre o governo da presidente. Segundo o Datafolha, o governo Dilma é avaliado como ótimo/bom por 36%; como regular por 38%; e como péssimo/ruim por 24%. São os mesmos números da pesquisa anterior. Os eleitores que afirmaram não saber avaliar o governo somam 1% dos entrevistados. A nota atribuída a Dilma é de 5,9.

O Datafolha também mostrou a performance dos candidatos a presidente nos estados. Aécio cresceu quatro pontos em Minas, seu estado de origem. O tucano tinha 22% das intenções de voto na semana passada e agora subiu para 26%, em empate técnico com Marina (que oscilou de 27% para 25%). Dilma oscilou dois pontos para baixo, mas mantém a liderança, com 33%. A presidente avançou três pontos em São Paulo e está com 26%, mas seria derrotada por Marina, que oscilou dois pontos para baixo, com 40%. Aécio, que estava com 18%, oscilou para 16%.

No Rio, Marina continua na liderança, mas oscilou um ponto para baixo e tem 36% da preferência. Dilma tem 30%, oscilando um ponto para baixo, e Aécio tem 12%, oscilando um ponto para cima. No Rio Grande do Sul, Marina caiu quatro pontos (de 36% para 26%), e Dilma venceria com 40% (antes tinha 38%). Aécio se manteve com 15%. Em Pernambuco, Marina lidera com 45%, e Dilma tem 38%. É o pior cenário para Aécio, que tem 2%. Nas pesquisas estaduais, a margem de erro é de 3 pontos.

Segundo cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, a pesquisa Datafolha consolida os nomes de Dilma e Marina no segundo turno. Para eles, a estratégia de Aécio de tentar transformar os recentes escândalos da Petrobras em um novo mensalão não surtiu efeito. Contudo, são unânimes em dizer que as revelações feitas pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa podem influenciar na disputa após o fim do primeiro turno.

- O que vemos no momento é um quadro de estabilidade na disputa. Marina e Dilma se consolidaram na faixa dos 35%, o que as garante no segundo turno. A estratégia do Aécio de apostar todas as suas fichas no escândalo da Petrobras não surtiu efeito - afirmou o professor da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer.

Para o cientista político da PUC-Rio Ricardo Ismael, as revelações sobre a Petrobras não tiveram o efeito esperado pelo PSDB:

- Apesar de a pesquisa ainda não ter captado os problemas da Petrobras, dificilmente as denúncias terão impacto no resultado do primeiro turno. E (o escândalo) é a última esperança de Aécio.

O professor da FGV-SP Marco Antonio Carvalho Teixeira disse que Dilma é quem mais pode comemorar com a divulgação da pesquisa:

- Dilma conseguiu recuperar alguns pontos que tinha perdido para Marina no primeiro e no segundo turnos e, de quebra, não sentiu os efeitos das revelações sobre a Petrobras.

Campanhas repercutem resultado
Os petistas comemoram a recuperação da presidente Dilma e a estabilização no crescimento da candidatura de Marina. Os apoiadores de Marina afirmam que é preciso esperar os próximos dias e lembrar que, apesar de ela ter sido alvo de ataques das outras candidaturas, manteve-se estável, dentro da margem de erro. Para os tucanos, o escândalo envolvendo a Petrobras ainda não teve reflexos nesse levantamento e vai alterar o resultado nesta reta final da campanha.

- Fica claro que houve estancamento na perda de Dilma e no crescimento de Marina. É um quadro animador - afirmou Humberto Costa (PT).

O líder do PSB no Senado, Rodrigo Rolemberg, reafirma a competitividade da candidatura de Marina e também trabalha com o segundo turno:

- No segundo turno, Marina será beneficiada de forma significativa, terá tempo igual ao de Dilma no horário eleitoral.

Para o coordenador da campanha de Aécio, senador José Agripino (DEM), ele estará no 2º turno.

- O voto será decidido entre 20 de setembro e o dia da eleição. Aécio continua na disputa, tem todas as chances de ir para o segundo turno. Aécio se mantém e até sobe, e Marina cai.

Tática de ligar Marina a banqueiros deu certo e será repetida, diz PT

• Pesquisas internas mostram que ataques à autonomia do BC e discurso do risco de regressão de programas sociais surtem efeito

Tânia Monteiro, Vera Rosa e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O comando da campanha da presidente Dilma Rousseff vai ampliar a tática de colar na adversária do PSB, Marina Silva, o rótulo de “candidata da elite” tutelada por “banqueiros”. A estratégia foi decidida após pesquisas analisadas pelo PT indicarem que os ataques têm surtido efeito e lançam dúvidas no eleitorado sobre a viabilidade da candidata de governar o País.

Encomendadas pelo marqueteiro João Santana, as pesquisas qualitativas - que avaliam impressões dos eleitores - indicaram que banqueiros são vistos como “vilões” não apenas pelos mais pobres, mas também pela nova classe média. É com base nesse diagnóstico que o PT quer desgastar Marina. A ordem no comitê da reeleição é associar a ex-ministra do governo Lula a uma mulher que fala uma coisa e faz outra.

“Eu não criei ‘bolsa banqueiro’ e também nunca recebi ‘bolsa banqueiro’. Não recebi e não paguei”, disse Dilma, nesta quarta-feira, 10, no Palácio da Alvorada, em resposta a Marina. No dia anterior, a candidata do PSB disse que o governo petista criou a “bolsa empresário”, a “bolsa banqueiro” e a “bolsa juros altos”.

Marina fez a declaração ao reagir a um comercial da campanha de Dilma, que atacou a proposta de autonomia do Banco Central. O vídeo sugere que a candidata do PSB é e será submissa aos banqueiros, se for eleita. A socióloga Neca Setubal, herdeira do Banco Itaú, é coordenadora do programa de governo de Marina.

A campanha de Dilma bate na tecla de que, com a autonomia do BC e a redução do papel dos bancos públicos - sugeridas pela plataforma do PSB -, programas sociais como o Minha Casa Minha Vida serão atingidos. O argumento é o de que, com a fórmula sugerida por Marina, o governo não subsidiaria mais esses programas e a prestação da casa própria ficaria mais alta.

“Esse povo da autonomia do BC quer o modelo anterior: um baita superávit, aumentar os juros pra danar, reduzir emprego e reduzir salário. Porque emprego e salário não garantem a produtividade, segundo eles. Eu sou contra isso”, disse Dilma.

Após dizer que quer ouvir todos os setores na campanha, “incluindo os bancos”, a presidente voltou ao ataque. “Agora, entre isso e eu achar que os bancos podem ser aqueles que garantem a política monetária, fiscal, cambial, vai uma diferença”, disse. “Quando a gente tem o mandato do povo, a gente tem de respeitar as relações de poder expressas na Constituição.”

Consequências. Em conversas reservadas, coordenadores da campanha de Dilma dizem que a estratégia de ataque a Marina também pode amenizar os efeitos do escândalo envolvendo as denúncias do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa.

Entretanto, a blitz contra a ex-ministra não é consenso no PT. “Não se pode tratar a Marina assim”, afirmou o ex-deputado petista Paulo Delgado. “A Dilma se esquece de que a Carta ao Povo Brasileiro foi escrita a pedido do (Olavo) Setubal, do Itaú”, emendou, em referência ao documento divulgado em 2002, na vitoriosa campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, para acalmar o mercado. “Devemos falar de nossas propostas, e não atacar Marina”, disse o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), um dos “bons políticos” que a candidata do PSB quer ter como aliado em um eventual governo.

‘Quero crescer’. Na entrevista de ontem, Dilma admitiu que é “ruim” a indicação da agência de classificação de risco Moody’s de que pode rebaixar a nota de crédito do Brasil. “Eu queria estar crescendo a 10%, meu querido”, respondeu a presidente ao repórter do Estado. “Em matéria de crescimento, vocês podem ter certeza: serei eu a pessoa que mais vai querer crescer. Eu sei que há problemas porque nós tivemos uma transmissão da crise por inúmeros mecanismos. Inúmeros.”

PT segue 'visão autoritária de parte da esquerda', diz Marina

• Candidata afirma que Neca Setubal não era atacada quando ajudou Haddad (PT)

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, saiu em defesa ontem de Neca Setubal, uma das coordenadoras do seu programa de governo, em razão dos ataques feitos na véspera pela presidente Dilma Rousseff (PT). Para a presidenciável do PSB, o PT segue uma "visão autoritária de parte da esquerda" ao se referir ao papel de Neca, sócia do Banco Itaú, na sua campanha. Ela afirmou que Neca foi tratada de forma diferente quando colaborou, na área de educação, com o programa de governo de Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo pelo PT, em 2012.

- Há uma visão autoritária de um setor da esquerda que, se você estiver a serviço deles, você está ungido pelo manto da proteção. Se você tem uma outra escolha, aí você passa a ser satanizado. É só verificar que a Neca ajudou também no programa do Haddad, e, naquele momento, ela era tratada como educadora. Agora ela está sendo tratada como banqueira.

O coordenador do programa de governo de Haddad, o cientista político Aldo Fornazieri, afirmou que Neca não teve uma participação "direta" na elaboração de proposta:

- Ela opinou ao participar de um debate.

Marina também acrescentou ontem que o Itaú colaborou com mais doações para a campanha de Dilma em 2010.

- Em 2010, quem mais recebeu doação do Banco Itaú foi a presidente Dilma - disse a candidata do PSB, após visitar uma entidade que atende vítimas de violência doméstica em São Paulo.

De acordo com a prestação de contas apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dilma recebeu R$ 4 milhões do banco na campanha de 2010, contra R$ 3,5 milhões do então candidato do PSDB, José Serra. Marina, que concorria pelo PV, foi beneficiada com R$ 1 milhão do Itaú.

Na terça-feira, Dilma acusou Marina de ser sustentada por banqueiros.

- Os nossos advogados estão tomando as providências sobre as calúnias que estão sendo feitas a mim e ao nosso programa de governo - respondeu Marina, ao ser questionada sobre a acusação.

A coligação liderada por Marina protocolou ontem dois pedidos de direito de resposta junto ao TSE contra a coligação de Dilma. Os pedidos contestam as inserções veiculadas na propaganda petista na última terça-feira sobre as posições da candidata do PSB em relação ao pré-sal e à autonomia do Banco Central. A propaganda dizia que Marina ameaça abandonar a exploração do pré-sal e que a independência do BC, defendida por ela, dá poder aos banqueiros.

Ontem, Marina retificou sua declaração de patrimônio entregue à Justiça Eleitoral, ampliando em R$ 45.612,94 o valor declarado, que passou de R$ 135.401,38 para R$ 181.018,82. Ela acrescentou uma aplicação em renda fixa de R$ 30 mil e um saldo em poupança de R$ 15.612,94. O pedido de retificação foi feito no dia 5 de setembro. Na véspera, a coligação da presidente Dilma havia pedido à Procuradoria Geral da República para investigar rendimentos de Marina com palestras, solicitando apuração de eventual omissão no patrimônio de bens da candidata. De acordo com reportagem do jornal "Folha de S. Paulo" de 31 de agosto, Marina teve um faturamento bruto de R$ 1,6 milhão com palestras entre 2011 e 2014.

Base aliada age para esfriar denúncias sobre a Petrobrás

Governo e base aliada na CPI mista agem para reduzir danos da delação premiada

• Líderes governistas tentaram dissuadir Vital do Rêgo de solicitar ao Supremo cópia das declarações de Paulo Roberto Costa

Andreza Matais e Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A amplitude e ramificações políticas contidas nos depoimentos do ex-diretor Paulo Roberto Costa no âmbito da delação premiada desencadearam no governo e entre integrantes da CPI mista da Petrobrás uma operação de “contenção de danos”. Parte da base aliada ao governo tentou dissuadir ontem o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), de pedir ao Supremo Tribunal Federal cópia das declarações de Costa - que cumpre prisão preventiva no Paraná - no acordo firmado com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal em troca de uma eventual redução de pena ou até mesmo do perdão judicial.

Nos depoimentos que já prestou, Costa citou três dezenas de parlamentares - entre deputados e senadores -, além de governadores, ex-governadores e um ministro como beneficiários de um suposto esquema de propinas em contratos da Petrobrás. Os detalhes das oitivas, porém, ainda não são conhecidos.

Em reunião da comissão a portas fechadas, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), argumentou que a lei do crime organizado impede a divulgação dos depoimentos de delação. O líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), também reforçou essa posição contrária, segundo relatos de presentes, acompanhado do relator da CPI, Marco Maia (PT-RS).

Esse grupo também tentou adiar o novo depoimento do ex-diretor, que foi agendado ontem para a próxima quarta-feira. O argumento é que Costa poderia se recusar a responder às perguntas por causa da delação premiada. A oposição não aceitou acordo e o senador Vital do Rêgo manteve o depoimento marcado e seu pedido ao Supremo. Sem o apoio do PT para sua campanha ao governo da Paraíba, Vital tem sido um braço da oposição quando o assunto é incômodo ao Planalto.

Na reunião, fechada à imprensa, o senador Gim Argello (PTB-DF) teria afirmado que o ex-diretor delatou aos policiais corrupção em contratos da Petrobrás na África. O senador, contudo, não deu mais detalhes. No seu mandato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou a empresa a investir em países africanos.

Lula tinha canal direto com Costa quando era presidente. Ele se referia ao executivo como “Paulinho” e, segundo ex-dirigentes da Petrobrás, tratava diretamente com o ex-diretor sobre investimentos da estatal.

Segundo fontes, na Costa Global, empresa do ex-diretor, há um macacão emoldurado na parede com uma dedicatória de Lula no lado esquerdo do uniforme dos funcionários da empresa. Conforme a revista Veja, na delação premiada, Costa citou o ex-presidente Lula, mas não se sabe em que contexto.

Foram citados, segundo a revista, também o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN); o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e a atual governadora do Maranhão, Roseana Sarney; o ex-governador de Pernambuco e ex-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo no dia 13 de agosto; o ex-ministro da Cidades Mário Negromonte (PP-BA) e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, além de outros parlamentares do PT e aliados. O portal estadao.com.br já havia revelado na sexta-feira passada que o ex-diretor fez referência ainda ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

'Refundar a República'. Na reunião reservada, o presidente da CPI afirmou que será necessário “refundar a República” ao se referir à delação de Costa.

Humberto Costa, em seguida, sugeriu o clima de apreensão entre empresas citadas por envolvimento com o esquema ao dizer que vários diretores estariam a caminho do aeroporto. O petista confirmou ao Estado que fez o comentário. Sobre sua posição em relação ao novo depoimento do ex-diretor, disse: “Eu não fui contra. Só ponderei que acho que não vai acontecer é nada”.

Acesso. Na linha de frente do governo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que pediria pessoalmente ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acesso à delação premiada feita por Costa.

Cardozo disse que ainda não sabe quando poderá ter acesso às informações prestadas pelo ex-diretor da Petrobrás. “Não posso pressionar o procurador da República. Ele tem todo o tempo que achar necessário, mas ele disse que responderá de forma célere”, ressaltou, ao deixar a posse de Ricardo Lewandowski como presidente do Supremo.

Segundo ele, os documentos poderão possibilitar que sejam tomadas “medidas corretivas” pelo Executivo. “É tudo muito novo. É a primeira vez que nós temos uma delação premiada nessas características de foro privilegiado, que sai para vir para o Supremo”, afirmou. / Colaboraram Beatriz Bulla e Mariângela Gallucci

Dilma desmoralizou a releição, acusa Aécio

• Candidato, em sabatina O GLOBO, insinua que nova política é 'governar com um terceiro time do PSDB e PT'

Carina Bacelar – O Globo

RIO — Aécio Neves (PSDB) participou nesta quarta-feira da série de sabatinas promovidas pelo GLOBO com os quatro principais candidatos à Presidência da República. A entrevista foi marcada por várias críticas do tucano à candidata Marina Silva, que aparece 20 pontos à frente de Aécio nas pesquisas. O ex-governador de Minas falou que essa "não é uma eleição para homenagens" e se apresentou como "um caminho de mudança segura". Em um momento, ele insinuou que Marina vai governar "com um terceiro time do PSDB e do PT".

- Tenho propostas para o Brasil, é isso que me anima. O que é a nova política? Governar com um terceiro time do PSDB e o PT?

Mesmo criticando Marina, o senador "lamentou" que a rival não tivesse apoiado José Serra no segundo turno em 2010, ele afirmou que não é hora de acenar possíveis apoios em uma eventual disputa entre Dilma e Marina. Na ocasião, ele declarou ter "uma seleção brasileira de pessoas" ao seu lado em um possível mandato.

- Lamentei muito ela não ter apoiado no segundo turno o ex-candidato José Serra, na última eleição. Talvez hoje não estivéssemos nessa situação. Eu sei que tenho a seleção brasileira de pessoas para compor o governo. As pessoas precisam saber que não é uma eleição para homenagem, é para virada consistente sem riscos.

Aécio afirma que começou uma "segunda eleição" desde a morte de Campos. Ele declarou que, nas urnas, vai prevalecer "a onda da razão", em menção velada a Marina.

- Nós estamos tendo uma segunda eleição. Tivemos uma eleição até o acidente que vitimou Eduardo Campos. Temos uma eleição nova e precisamos nos adaptar a essa nova realidade. Tenho feito um esforço maior e vou fazer até o útlimo dia dessa eleição - disse Aécio - Acredito que, no momento da decisão, vai prevalecer a onda da razão.

Comentando ataques da presidente Dilma à política econômica de Fernando Henrique Cardoso, ele afirmou que "não teria havido governo do PT se não tivesse o governo do PSDB". E tentou ligar o nome de Marina aos petistas, ao lembrar a oposição "quase física" que, segundo ele, o partido realizava na época do Plano Real.

- O PT de Dilma, o PT de Marina se opunha de forma vigorosa àquilo que era construído - disse Aécio, afirmando que "não vê em momento nenhum" a ex-senadora "chamar atenção" para sua militância de 24 anos para o PT.

O ex-governador de Minas criticou ainda a "nova política" de Marina. Ele disse que pretende arrancar votos de Dilma e Marina "mostrando as contradições das candidatas".

- Eu vejo Marina falar muito dessa nova política. Sou de uma terra que sempre ensinou que existe é a boa e a má política.

Petrobras
Aécio se comprometeu a não privatizar a Petrobras e saiu em defesa da exploração da camada pré-sal.

- Tenho compromisso com a não privatização, mas com a reestatização da Petrobras: vou devolver a Petrobras aos brasileiros. Eu vou tirar a Petrobras da Política. O pré-sal é o tesouro que nós temos. O Brasil perdeu um tempo enorme, cinco anos, em que US$ 300 bilhões foram investidos no mercado de petróleo e nada aqui. O que está hoje sendo produzindo do pré-sal foi aquilo que começou a produzir no governo Fernando Henrique, lá atrás. No meu governo, o pré-sal será uma prioridade, com recursos indo 75% para a Educação e 25% para a Saúde.

Reeleição
Ao dizer que Dilma "desmoralizou" a reeleição, o candidato fez críticas à emenda que permitiu novos mandatos, votada com apoio do PSDB no primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O presidenciável afirma que vai tentar acabar com a possibilidade de reeleição, que ele chamou de "covardia". Para ele, o governo petista faz uso da máquina nas campanhas.

- Foi uma experiência. A reeleição não foi votada para o Fernando Henrique. Foi para os prefeitos, foi para os governadores. Eu acho que a reeleição faz mal para o Brasil. É uma covardia. Não há limite entre o público e o privado. A atual presidente acabou por desmoralizar a reeleição. Os atos de reeleição da presidente Dilma são atos de governo.

Aécio declarou ainda que "não morreria de amores" por um novo mandato e que não seria candidato novamente, se eleito, caso disso dependesse a aprovação do fim da reeleição.

- Nós temos que ver aquilo que deu errado e modificar. Houve uma decisão tomada pela maioria do Congresso Nacional. Eu temo muito pelos próximos quatro anos que nós vamos ter pela frente - disse.

Reforma política
Perguntado se dá para "governar sem ir à casa de Paulo Maluf", em referência a um gesto do ex-presidente Lula, Aécio disse ser possível "governar com outra relação com o Congresso". Ele aproveitou para criticar a proposta de Marina de "governar com os melhores".

- É totalmente possível governar com outra relação com o Congresso, com projetos que sejam prioridade para o governo. É fundamental que você fortaleça os partidos. Esse ideal de governar com todos os partidos me preocupa. Essa ideia da Marina de governar com os melhores... Quem é que vai governar com os ruins? Não é assim que funciona. Por isso defendo a reforma política no primeiro dia do meu governo.

Aécio afirmou não defender um plebiscito sobre a reforma política, como fez Dilma em 2013, após as manifestações. Ele argumentou que a discussão deve ser feita no Congresso e, depois disso, virar um referendo.

- Será que esse é um tema para ser discutido num plebiscito? Não acho? Não quero que seja mais um momento para dicursos, para manifestações políticas - declarou o candidato, que defende o voto distrital misto, o fim da coligação proporcional e o fim da possibilidade de reeleição para cargos executivos.

Aécio prometeu, se vencer as eleições, procurar os partidos no dia seguinte para "estabelecer uma agenda". E aproveitou o assunto de política partidária para fazer críticas ao PT.

- Todos os governos tiveram e terão problemas, mas vamos fazer justiça ao PT: no descompromisso com a ética eles são imbatíveis. [Sobre a Petrobras] não são denúncias eleitoreiras. O principal diretor, nomeado por eles, é que está dizendo que houve contaminação de 3% das obras.

Mensalão mineiro
Aécio foi questionado ainda sobre o Mensalão Mineiro. O candidato afirmou que o tucano Eduardo Azeredo, que já participou de alguns eventos da campanha de Aécio em 2014, tem que ter chance de defesa.

- Eduardo Azeredo responde por isso. Tem que dar chance de defesa a ele. Se alguém for comprovadamente responsabilizado, não será tratado pelo PSDB como fez o PT, como herói nacional. Porque isso, acima de tudo, deseduca.

FH
Sobre FH, Aécio afirmou que não se pode comparar as taxas atuais de inflação com as registradas ao longo do período em que o tucano estava no poder.

- Quando o presidente Fernando Henrique assumiu, a inflação anual era de 1600%. Era um momento de absoluto desequilíbrio econômico interno. Tínhamos um quadro inflacionário que não permitia o investimento. O governo FH não fez tudo, mas cuidou da prioridade que tinha naquele instante.

Aécio afirmou que os governos petistas acham que o país foi descoberto em 2003.

- O Brasil é uma construção de vários governos - disse - Ele [Lula] acertou ao unificar programas de transferência de renda e câmbio flutuante e metas para o controle da inflação.

Esporte
Questionado sobre projetos na área do esporte, Aécio voltou a mencionar seu mandato em Minas.

- [O Esporte] tem que ser visto em duas dimensões, uma como inclusão social. Nós, em Minas Gerais, fizemos programas, competições, olimpíadas estaduais. Sempre vou compreender o esporte com inclusão social. O Otávio Leite [tucano e um dos principais interlocutores de Aécio] apresentou um projeto de lei que institui a responsabilidade fiscal no esporte. A proposta cria uma nova cultura de gestão na área.

Segurança
Aécio defende o projeto de seu vice, o senador Aloysio Nunes (PSDB), que reduz a maioridade penal para 16 anos. Aécio afirmou que a mudança no código penal só valeria para os que cometem crimes hediondos e, consultados o Ministério Público e a Justiça, o infrator cumpriria pena em um presídio especial.

- Nós fizemos as contas: menos de 1% dos jovens que estão hoje em instituições de ressocialização. Os criminosos levam um menor de idade para cometer crimes. Morreu alguém, o menor de idade assume o crime mais grave e o outro pega o mais leve.

Aborto e drogas
Aécio, que é contra a legalização do aborto, afirmou que tem o "mesmo sentimento da maioria da população brasileira".

- Meu sentimento hoje é o da imensa maiora do população brasileira, que se sente protegida pela legislatura atual. É uma questão que tem que ser amadurecida e eu não cercearei essa discussão.

Questionado sobre a militância do ex-presidente Fernando Henrique em favor da liberação da maconha, Aécio declarou não querer "que o Brasil seja uma cobaia".

- Eu disse o seguinte: vamos observar experiências do Uruguai, de Portugal e dos estados americanos e vamos ver o resultado disso. Eu não quero que o Brasil seja uma cobaia.

Aeroporto de Cláudio
O tucano afirmou que a construção do aeroporto de Cláudio, em propriedade de sua própria família durante seu mandato como governador de Minas, foi "uma obra de governo extremamente respeitável"

- Foi uma obra como milhares de obras feitas em Minas, liberada pelo Ministério Público. Minas tinha 226 estradas sem ligação asfáltica. Eu liguei todas - justificou.

Economia
Na área econômica, o tucano defendeu uma política com "previsibilidade" e acredita que, se eleito, terá um 2015 "difícil pela frente":

- Eu diria que temos um ano muito difícil pela frente. 2015 vai ser difícil. Temos que ter uma política econômica de longo prazo. Com previsibilidade. A nossa eleição vai sinalizar a baixa dos juros em longo prazo. E o resgate dos investimentos'. Fiz uma meta ousada: investimento de 24% do PIB até o fim do meu mandato.

Aécio comentou ainda uma possível demissão do ministro da Fazenda de Dilma, Guido Mantega.

- Dilma, ao antecipar uma decisão como essa [demissão do Mantega], ela antecipa a fragilidade da equipe econômica. Esse governo acabou antes da hora. Encerrou. Fechou as portas.

Datafolha, presidente: PR, RS, PE, RJ, DF, S.P

Datafolha: no PR, Dilma tem 32%, Marina, 28%, Aécio 22%
A presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), e a candidata do PSB, Marina Silva, aparecem tecnicamente empatadas na preferência dos votos no Estado do Paraná. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada há pouco, Dilma tem 32% das intenções de voto e Marina aparece com 28%. Já o candidato tucano Aécio Neves tem 22%.

O levantamento, encomendado pela TV Globo e pelos jornal Folha de São Paulo, tem margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Datafolha: No RS, Dilma tem 40%, Marina, 26%, Aécio 15%
A presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, está na frente no Rio Grande do Sul, com 40% das intenções de voto, de acordo com pesquisa do Instituto Datafolha divulgada na noite desta quarta-feira pela Rede Globo. Na semana anterior, Dilma tinha 38%.

A candidata Marina Silva (PSB), que estava com 30% no levantamento da semana passada, aparece com 26% na pesquisa divulgada hoje. Já o candidato do PSDB, Aécio Neves, permaneceu com 15%.

Na simulação de segundo turno no Estado, Dilma venceria com 50% ante 38% de Marina. Na semana passada, a vantagem da atual presidente sobre a candidata do PSB era de quatro pontos (46% a 42%). A margem de erro no Rio Grande do Sul é de três pontos porcentuais, para mais ou para menos.

A pesquisa foi realizada nos dias 8 e 9 de setembro. Foram entrevistados 1.258 eleitores em 48 municípios do Estado. O nível de confiança é de 95% - se forem realizados 100 levantamentos, em 95 deles os resultados estariam dentro da margem de erro de três pontos prevista. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral com o número RS-00015/2014 e no Tribunal Superior Eleitoral sob o protocolo BR-00584/2014.

Datafolha: Em PE, Marina tem 45%, Dilma, 38%, Aécio, 2%
A candidata do PSB, Marina Silva, que passou a ser cabeça de chapa após a morte de Eduardo Campos, lidera a pesquisa de intenções de voto em Pernambuco, reduto político do ex-governador. De acordo com pesquisa Datafolha, divulgada nesta quarta-feira, Marina tem 45% das intenções de voto no Estado.

A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) aparece com 38%. Já Aécio Neves (PSDB) tem apenas 2% das intenções de voto. Eduardo Jorge (PV) e Pastor Everaldo (PSC) têm 1%. Brancos e nulos somam 6%, e outros 7% não sabem ou não responderam. Zé Maria (PSTU), Eymael (PSDC ), Levy Fidelix (PRTB), Luciana Genro (PSOL), Mauro Iasi (PCB) e Rui Costa Pimenta (PCO) não alcançaram o porcentual mínimo.

O levantamento, encomendado pela TV Globo e pelo jornal Folha de São Paulo, fez uma simulação de segundo turno entre Marina e Dilma. Na simulação, Marina tem 50% dos votos e Dilma aparece com 40%. Brancos e nulos somam 5% e indecisos, 5%.

A pesquisa contou com 1.211 entrevistas em 43 municípios e foi realizada entre os dias 8 e 9 de setembro. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sob o protocolo número PE-00023/2014 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob protocolo número BR-00584/2014.

Datafolha: No Rio Marina tem 36%, Dilma, 30%, Aécio 12%
A candidata do PSB à Presidência Marina Silva registrou o melhor desempenho nas intenções de voto no Rio de Janeiro, com 36%, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada na noite desta quarta-feira. No levantamento anterior, Marina tinha 37%.

A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) também oscilou um ponto porcentual para baixo e agora aparece com 30% das intenções de voto ante 31% da semana passada. O tucano Aécio Neves subiu um ponto porcentual, e está com 12%.

Pastor Everaldo (PSC), Luciana Genro (PSOL), Eduardo Jorge (PV) e Zé Maria (PSTU) aparecem com 1% das intenções de votos cada. Brancos e nulos chegam a 9% e os indecisos somam 7%. Os candidatos Eymael (PSDC), Levy Fidelix (PRTB), Mauro Iasi (PCB) e Rui Costa Pimenta (PCO) não atingiram individualmente 1%.
O levantamento, contratado pela TV Globo e pelo jornal Folha de São Paulo, mostra ainda que em um eventual segundo turno entre Marina e Dilma, a candidata do PSB venceria com 54%, ante 35% da petista.

A pesquisa ouviu 1.348 eleitores em 32 cidades do Estado do Rio, entre os dias 8 e 9 de setembro. A margem de erro é de três pontos porcentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral com os números RJ-00034/2014 e BR-00584/2014.

Datafolha: no DF, Marina tem 43%, Dilma, 22%, Aécio, 17%
A candidata do PSB à Presidência Marina Silva registrou o melhor desempenho nas intenções de voto no Distrito Federal (DF). De acordo com pesquisa Datafolha, divulgada na noite desta quarta-feira, Marina agora tem 43% na capital federal ante os 33% do levantamento anterior. A pesquisa foi contratada pela TV Globo e pelo jornal Folha de São Paulo.

A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) aparece com 22% das intenções de voto (ante 23%) e o tucano Aécio Neves caiu de 20% para 17%. Os dois candidatos apenas oscilaram na margem de erro em relação à semana passada, que é de quatro pontos porcentuais para mais ou para menos.

Pastor Everaldo (PSC), Zé Maria (PSTU) e Luciana Genro (PSOL) aparecem com 1% dos votos cada. Eduardo Jorge (PV), Rui Costa Pimenta (PCO), Eymael (PSDC), Mauro Iasi (PCB) e Levy Fidélix não pontuaram. Brancos e nulos somam 6% e não sabem ou não opinaram 9%

Segundo turno
O levantamento mostrou ainda que em uma simulação de segundo turno entre Marina e Dilma, a candidata do PSB teria 63% dos votos, já a petista aparece com 27% das intenções de voto. Brancos e nulos somam 5% e não souberam ou não opinaram, 5%.

A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sob o protocolo número DF-00040/2014 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob protocolo número BR-000584/2014.

Datafolha: SP Marina tem 40%, Dilma, 26%, Aécio, 16%
Pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta-feira, 10, mostrou que a candidata do PSB Marina Silva tem 40% das intenções de voto em São Paulo, contra 42% do levantamento anterior. Dilma Rousseff (PT) avançou de 23% para 26%. Aécio Neves (PSDB) passou de 18% para 16%.

Em um eventual segundo turno, Marina venceria Dilma por 57% a 32%. Na semana passada, os porcentuais eram de 61% a 29% respectivamente. A diferença portanto caiu de 32 para 25 pontos.
Com relação à taxa de rejeição, a de Dilma oscilou de 44% para 42%. Aécio tem 22% e Marina passou de 13% para 17%.

A pesquisa foi realizada com 2.046 eleitores em 56 cidades do Estado entre os dias 8 e 9 de setembro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos e o índice de confiança, de 95%. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo Nº SP-00029/2014 e Nº BR-00584/2014.

Propaganda enganosa – Opinião /O Globo

O VAZAMENTO das primeiras revelações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, em depoimentos prestados sob acordo de delação premiada, injetaram adrenalina na campanha eleitoral.

COMPREENSÍVEL, POIS a líder nas pesquisas, candidata à reeleição Dilma Rousseff, tem longo tempo de ligação, direta e indireta, com a estatal nesses 12 anos de PT no poder.

O REPROVÁVEL, e que prejudica a democracia brasileira, são as manipulações e distorções, condimentadas com alto grau de agressividade, que passaram a contaminar a propaganda eleitoral.

PRESSIONADA PELO crescimento de Marina Silva nas pesquisas, a campanha da candidata petista, por exemplo, veicula um desinformado panfleto eletrônico - como todo panfleto - em que traduz autonomia formal do Banco Central, proposta de Marina, como entregar a vida das pessoas "aos banqueiros". Ora, deixa de considerar que as principais economias do mundo dão algum tipo de liberdade operacional aos seus bancos centrais, por meio de leis.

O PRÓPRIO patrono político da candidata, ex-presidente Lula, concedeu autonomia, mesmo informal, ao BC, quando deu expediente no Planalto.

DILMA RADICALIZA e apresenta Marina como alguém "sustentada por banqueiro" - referência nada elegante ao relacionamento pessoal, e também político, da candidata com Neca Setúbal, herdeira do maior banco privado do país. Mas finge esquecer que sua campanha recebe mais doações de banqueiros que a da adversária.

UMA COISA é combater com argumentos concretos propostas do adversário. Outra, partir para a tal "desconstrução" da pessoa, com golpes vis, mentiras e omissões.

O MESMO vale para todos. Para Aécio Neves e sua tentativa de tratar Marina como neófita, sem considerar a experiência política da ex-petista no Acre e no Congresso. E também para a própria candidata do PSB, esquecida de votações das quais participou no Legislativo, nos tempos de parlamentar do PT, e responsável pelo lançamento de um programa de governo em que as contas de promessas de ações e políticas não fecham.

A PROPAGANDA eleitoral seria contestada no Conar e na Justiça comum por enganosa. O pior é que a mercadoria que vende tem graves implicações para o futuro do país. Inclusive o imediato.

Um candidato em defesa da política

• Aécio alerta que negação dos partidos pode gerar insegurança no futuro do país e reforça que não há saída fora deles

Ivo Gonzalez – O Globo

Nas duas horas em que respondeu a perguntas de colunistas do GLOBO, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, buscou apresentar a imagem de um político realista. Ele evitou imagens de efeito num discurso pragmático, mas, sobretudo, reivindicou a condição de um agente da política. O tucano abusou do gestual, como se tentasse convencer os colunistas e a plateia de que, mesmo com a desilusão dos brasileiros com os partidos, não vê saída fora deles. E, sempre nesse ponto, marcava o que considera sua diferença em relação a Marina Silva (PSB), objeto de suas argumentações tanto quanto a presidente Dilma Rousseff (PT).

Mesmo quando a sabatina acabou, Aécio seguiu sua defesa da política. Numa rápida entrevista, alertou que a "negação dos partidos" pode gerar insegurança no futuro do país. E foi taxativo sobre sua disposição de seguir a campanha até o fim, mesmo com terceiro lugar nas pesquisas.

- O PSDB tem duas alternativas: ganhar e virar governo ou perder e virar oposição - afirmou, deixando no ar dúvidas sobre como agirá no segundo turno, apesar de ter frisado na sabatina que líder político "tem que ter posição".

Na saída apressada para embarcar, no Aeroporto Santos Dumont, em um helicóptero que o levaria a um compromisso de campanha em Campo Grande, na Zona Oeste da cidade, Aécio disse ao GLOBO que tenta combater a tendência de voto útil que identifica por trás de sua queda nas pesquisas.

- Tem o voto da comoção (pela morte de Eduardo Campos) e o da derrota. Ela (Marina) aparece como quem pode derrotar a Dilma. O nosso voto que migrou para a Marina foi porque ela apareceu como quem pode derrotar o PT. Qual é o meu papel? Mostrar a consistência do nosso projeto.

Tão apressado como saiu, Aécio chegou ao Museu de Arte do Rio (MAR) em cima da hora marcada para o início do evento, que começou atrasado alguns minutos. O exército de profissionais de comunicação que o acompanha chegou mais cedo. Havia fotógrafo, cinegrafista, repórteres de texto e de rádio e até uma pessoa só para alimentar as redes sociais. Na companhia do candidato, ainda outros três jornalistas que o assessoram mais de perto. Eles contaram que Aécio engatara uma conversa em casa, em Ipanema, com o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), que o acompanhava na sabatina, e acabou surpreendido por um engarrafamento no Centro. Mesmo atrasado, Aécio saiu do elevador sem acelerar o passo, acompanhando o ritmo mais lento do senador. Na sala reservada aos candidatos, passou direto pelo café e pela mesa de doces e frutas. Dornelles, não. Foi direito a uma bandeja de bolo, que elogiou para a copeira.

Apesar de presidir o diretório fluminense do PP, partido da coligação de Dilma Rousseff (PT) cujo presidente, senador Ciro Nogueira, é um dos citados no escândalo da Petrobras, Dornelles faz campanha no Rio para Aécio, de quem é primo. Durante a sabatina, o senador, vice na chapa de reeleição de Luiz Fernando Pezão (PMDB), parecia concordar com os ataques do tucano ao PT com leves movimentos afirmativos de cabeça. Aécio mencionou Dornelles pelo menos duas vezes, assim como o deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ), também na plateia. Várias vezes o tucano sustentou propostas citando projetos de aliados no Congresso, em mais um dos vários sinais que buscou emitir em favor da mediação política.

Herdeiro da tradição política
Não poderia ser diferente para o neto de Tancredo Neves. Aécio experimentou a política como secretário do avô, artífice da redemocratização negociada na década de 80. Aos 54 anos, sustenta um personagem político construído na arena do Congresso. Foi eleito deputado constituinte em 1986 e, em 2001, presidente da Câmara. Governador de Minas por duas vezes, voltou a Brasília como senador para, de lá, lançar seu projeto presidencial. No entanto, citou o "doutor Tancredo" apenas uma vez na sabatina, como um "retrato na parede" da família e da História.

Antes de entrar no auditório, Aécio demonstrou quase nenhuma vaidade. Vestido entre a descontração de uma calça de brim e sapato marrom e a formalidade de um blazer azul marinho sobre a camisa branca de punhos fechados por abotoaduras prateadas, ele só deu uma paradinha atrás da cortina para ajeitar o cabelo antes de entrar em cena. Instalado na cadeira principal do auditório, fazia pequenos acenos com as mãos ao reconhecer aliados na plateia no início da transmissão pela internet. No entanto, olhou pouco para o público no decorrer da sabatina. Também parecia evitar os interlocutores na hora de responder às perguntas. Em muitas vezes, procurou falar para as câmeras. Em outras, falava olhando para baixo, como se mirasse um ponto fixo imaginário no chão, o que seus assessores na plateia também notaram com alguma aflição.

Aécio passou todo o tempo alternando as pernas cruzadas, balançando a que estava suspensa quando parecia mais tenso. Muitas vezes, erguia a ponta do único pé no chão, equilibrando-se apenas no calcanhar. Recorrentemente, deslisava uma das mãos na perna e apertava o joelho. Nas respostas, fazia desenhos no ar para explicar propostas, muitas vezes com o dedo indicador em riste como se ensinasse, didático, algo que gostaria de marcar na memória de quem o ouve. Foi assim quando frisou que o acordo com o FMI no final do governo FH teve o aval de Lula e quando repetiu ver oposição entre boa e má política, não entre nova e velha. Antes de enumerar dados, olhava para cima, como se acessasse um disco rígido na cabeça, e começava sempre levantando o polegar.

Essa tentativa de explicar muito tudo o que quer dizer fez com que o tucano esticasse as respostas. Como um político clássico, Aécio gosta de falar. Quando dava voltas, avisava ao autor da pergunta que logo chegaria à essência ou então se desculpava pela "introdução". Ao perceber que seria interrompido, apressava a fala, já naturalmente acelerada, para tentar completar. Advertido de que deveria ser mais objetivo, não gostou muito, mas respirou fundo, abriu um sorriso e prometeu tentar.

A pergunta sobre seu desempenho em Minas, onde está em terceiro lugar nas pesquisas, pareceu ser a que mais mexeu emocionalmente com ele. Como se quisesse contagiar os presentes, repetiu várias vezes que estava "muito animado" para ir até o final da campanha.

- Respondi tudo. Houve indagações duras, mas feitas de forma respeitosa - avaliou, após a sabatina, comprometendo-se com a liberdade de imprensa. - Temos que conviver com a crítica.

Fragmentação na Câmara deve crescer

Raphael Di Cunto – Valor Econômico

SÃO PAULO - A fragmentação partidária na Câmara dos Deputados se intensificará nesta eleição. O número de agremiações com representação no Legislativo deve saltar de 22 para 28 e pela primeira vez na atual configuração apenas dois partidos poderão ser considerados grandes, aponta projeção do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) a que o Valor PRO, serviço de tempo real do Valor, teve acesso com exclusividade.

Desde 1994, quando a Câmara passou a ter 513 deputados, o número de partidos grandes - que elegeram mais de 50 parlamentares - diminui a cada eleição. Eram cinco naquele ano, passaram a quatro em 2002, a três em 2010 e agora podem chegar a apenas PT e PMDB, segundo o levantamento. A força deles também caiu: representavam 70% da Câmara há 20 anos e hoje são 42,5% dos deputados.

Com o peso das maiores bancadas reduzido, as siglas médias e pequenas ganharão mais força para negociar espaços e projetos com o Executivo. "O próximo presidente, seja quem for, precisará de muito mais disposição para negociar com vários partidos e terá que fazer isso projeto a projeto", afirma Antônio Augusto de Queiroz, analista político e diretor do Diap.

O governo que assumir ficará na mão dos partidos médios, avalia, porque nove legendas devem eleger bancadas entre 20 e 49 deputados e ter influência ativa no processo legislativo. "Em um cenário desses, as chances de reformas estruturais são praticamente nulas. Ou haverá pressão popular ou o toma-lá-dá-cá tende a aumentar", pontua.

Além da criação de cinco partidos novos (PPL, PSD, PEN, Pros e SD) desde 2011, Queiroz diz que o maior número de coligações favoreceu para tornar o quadro mais fragmentado. Nos Estados menores, com apenas oito deputados, é praticamente certo que nenhum partido elegerá mais de um representante. "No Rio Grande do Norte há nove partidos disputando para valer. É quase uma vaga por legenda", pondera. O cenário se repete em Roraima e no Maranhão.

A projeção do Diap aponta o PT novamente com a maior bancada da Câmara, com no mínimo 70 e no máximo 95 deputados. O PMDB, hoje o segundo maior agrupamento e no comando da Casa, terá entre 48 e 73 representantes. Na média, a perspectiva é de que os petistas terão cerca de 20 deputados a mais que os pemedebistas, o que, em tese, poderia garantir a presidência da Casa se a presidente Dilma Rousseff for reeleita.

Para Queiroz, o acordo de rodízio da presidência da Câmara entre PT e PMDB, vigente desde 2007, não deve se repetir devido à redução na diferença de senadores petistas e pemedebistas. "O PT vai condicionar o apoio ao PMDB no Senado a ficar com o comando da Câmara. Do contrário, ambos vão brigar pelo controle das duas Casas", diz.

O PSDB, que elegeu 53 deputados em 2010, pode no máximo repetir a bancada daquele ano. Contudo, a perspectiva é de redução, afirma o levantamento, porque o partido perdeu nove parlamentares para outras legendas. Mesmo assim, é provável que a sigla retome o terceiro lugar do PSD - que foi uma das siglas que nasceu nesta legislatura.

O PSB, que sustenta a candidatura de Marina Silva, também perdeu deputados nos últimos quatro anos e deve ficar com bancada entre 23 e 34 deputados. "O máximo que a Marina puxará é voto de legenda, mas vai para todos os partidos da coligação, não necessariamente o PSB", pontua.

Diante deste cenário, Queiroz projeta que Dilma manterá a maioria que tem hoje no Congresso caso seja reeleita. Aécio Neves (PSDB) teria uma base "consistente", de 150 a 200 deputados, mas a oposição do PT, o que dificultaria a votação de reformas estruturantes - é preciso o apoio de 308 parlamentares para aprovar uma proposta de emenda constitucional (PEC).

Já Marina precisaria negociar caso a caso. "O programa dela tem propostas que vão da extrema direita à extrema esquerda, por isso seria necessário negociar maiorias pontuais. Em casos de direitos humanos, ela conseguiria apoio quase integral da esquerda, mas dificilmente contaria com ajuda da direita. Mas para os projetos que envolvem o sistema financeiro o apoio do PT seria zero", afirma. "O que fica evidente é que os candidatos que mais prometem reformas são os com menor possibilidade de aprová-las."

O Diap projeta ainda um crescimento dos nanicos, com seis partidos que atualmente não tem nenhum deputado federal elegendo representante: PTC, PHS, PRTB, PSDC, PTN e PSL. A fatia os nanicos saltaria dos atuais 12 deputados para no mínimo 16 e no máximo 30, mas esses partidos costumam ter pouca influência no Congresso. Com apenas um deputado não é possível sequer indicar integrantes para as comissões.

O número de legendas deve aumentar ainda mais em 2015 com a criação do Rede Sustentabilidade, da ex-senadora e presidenciável Marina Silva (hoje no PSB), e o pedido de registro na Justiça Eleitoral de outras legendas, como o Partido Novo.

O estudo do Diap foi feito com base no que Queiroz chama de informações qualificadas: serviços prestados pelo candidato, vinculação a grupos políticos, econômicos e sociais, influência regional, estrutura partidária e apoio financeiro, além de dar mais peso para os candidatos à reeleição e ex-prefeitos.

Merval Pereira: Disputa acirrada

- O Globo

Depois de passar os últimos dias sob bombardeio permanente não apenas da presidente Dilma, mas também do candidato do PSDB Aécio Neves, a candidata do PSB Marina Silva mostrou a consistência de sua candidatura. Ao manter estabilizada sua situação na disputa, mesmo com um viés de alta para a presidente, Marina demonstra que continua sendo a opção dos que pretendem tirar o PT do governo.

Já a presidente Dilma deve intensificar a agressividade de sua propaganda, que tem demonstrado capacidade de pelo menos frear a subida de Marina, obrigando-a a um esforço redobrado para se manter competitiva até a chegada do segundo turno.

A má notícia para a presidente Dilma é que os desdobramentos do escândalo da Petrobras prometem marcar esses últimos dias da campanha, cujas contradições internas no PT podem abrir espaço para a recuperação de Marina.

Até mesmo a questão da independência do Banco Central, que tem dado motivos de críticas acirradas do governo, fica fragilizada com as notícias de que o próprio ex-presidente Lula está trabalhando para que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles seja anunciado como o responsável pela política econômica do governo Dilma em caso de reeleição.

Meirelles é o exemplo típico do banqueiro internacional que o PT trouxe para o governo Lula, tirando-o do PSDB, partido pelo qual havia sido eleito deputado federal, para dar credibilidade à política econômica petista. Como acusar a adversária Marina de querer dar poder a banqueiros quando um ex-presidente do Bank Boston é a figura central da mudança econômica que ela pretenderia anunciar para tranquilizar os investidores?

E como ser contrário à autonomia do Banco Central se Meirelles foi intocável durante os dois governos Lula, gozando de uma autonomia que irritava os setores mais radicais do petismo?

O candidato do PSDB, Aécio Neves, por mais que se mostre preparado para o cargo e tenha projetos de longo prazo para o país que fazem sentido e, mais que isso, são necessários, perdeu a capacidade de encarnar a indignação da maioria dos eleitores, que encontraram em Marina Silva essa representante.

Aécio tem sido instado por seus aliados a arrefecer os ataques a Marina, para permitir a organização de uma aliança para o segundo turno. A declaração de ontem, depois da sabatina do GLOBO, de que se não ganhar a eleição o PSDB irá para a oposição, certamente não é consensual no partido e nem entre seus aliados da oposição.

Ele tem razões para estar amargurado, pois a entrada em cena de Marina colocou emoção na disputa, o que retirou do primeiro plano a análise da real capacidade de governar dos que estão na disputa. O candidato do PSDB contava com a máquina partidária para se impor ao adversário Eduardo Campos, mas a entrada de Marina misturou as pedras no tabuleiro político, deslocando Aécio para a terceira colocação mesmo nos estados em que o PSDB ou seus aliados estão vencendo as eleições para os governos estaduais.

Em São Paulo, Marina está em primeiro lugar, embora o governador Geraldo Alckmin tenha condições de vencer no primeiro turno. A composição com o PSB local, que deu o vice na chapa de Alckmin, está se mostrando mais eficaz para Marina do que a máquina partidária do PSDB favorável a Aécio.

O caso mais emblemático é o de Minas, em que o PSDB perde no momento o governo estadual e Aécio disputa o terceiro lugar com Marina Silva. Ele está certo de que manterá seu território político intacto, mas terá que gastar mais energia do que imaginava, enquanto no resto do país a polarização entre a presidente Dilma e a candidata Marina Silva se impõe.

Dora Kramer: Desfaçatez ilimitada

- O Estado de S. Paulo

Reza a história política dos últimos 12 anos que Luiz Inácio da Silva é o mais competente dos personagens que habitaram e transitaram pelo cenário do poder nesse período.

Trata-se de uma avaliação que leva em conta resultados como parâmetro. Se nessa régua forem colocados quesitos relativos a limites éticos Lula ocuparia o pódio na categoria dos políticos ardilosos. São qualidades diferentes e, portanto, implicam condições competitivas distintas.

O habilidoso dotado de princípios sempre estará em desvantagem diante do esperto cujos objetivos não conhecem regras nem observam valores. São aqueles que se pautam pelo dístico segundo o qual os fins justificam os meios. Atuam à margem, atropelam e em geral chegam na frente.

Transposto para o ambiente eleitoral, o conceito de "fim" é a vitória não importa quais sejam os métodos. Vale tudo. A mentira, a manipulação, a traição, a destruição de reputações à qual agora se chama pelo sofisma de "desconstrução de imagem".

Nesse quesito o PT não tem limite. Já mostrou isso em diversas ocasiões. Na maioria, senão da totalidade delas, foi bem-sucedido do ponto de vista que interessa ao partido: o resultado imediato. Mostra-se surpreso agora com o tamanho do desgaste acumulado. Mas chega uma hora que as pessoas cansam de tanta insolência, menosprezo a regras e valores.

Decorre também daí - da economia e dos fracassos do governo - o cenário de dificuldade eleitoral para os petistas. Na economia e na administração promete "mudar mais". Já no terreno da derrubada dos obstáculos ao alcance do objetivo principal aplica os métodos de sempre.

Desta vez com um grau de desfaçatez e falta de compromisso com a verossimilhança que dá a medida do medo que assola a tropa de vir a ser desalojada do aparelho de Estado.

A alternância de poder não lhes parece algo palatável. Só isso explica o nível da ofensiva contra a candidata do PSB, Marina Silva, desde que seu nome se firmou nas pesquisas como ameaça mais que real à reeleição de Dilma Rousseff.

O ataque começou em campo legítimo, na exploração das contradições do discurso e das posições defendidas por Marina Silva. Enveredou por comparações esdrúxulas, aludindo à dificuldades que ela poderia enfrentar por falta de apoio no Congresso e daí ter o mandato interrompido como Jânio Quadros e Fernando Collor. Uma distorção, mas só um pouco ridículo.

Em seguida entrou no campo das invencionices dizendo que a adversária venderia a Petrobrás, acabaria com o Banco do Brasil, suspenderia benefícios sociais e por aí afora. Nesta semana a coisa se agravou e chegou ao ponto da afronta pessoal. A uma bobagem de Marina sobre "bolsa banqueiro", a presidente Dilma respondeu com uma ofensa: "Eu não tenho banqueiro me sustentando". Em que sentido, quis dizer a presidente?

Deixou o entendimento de maneira desrespeitosa ao juízo do freguês. O ex-presidente Lula, o capitão do contra-ataque, divulgara que respeita Marina e por isso não bateria nela. Ardiloso, assiste em silêncio à pancadaria para a remoção do obstáculo.

Jogo de cena. A CPI marcou depoimento de Paulo Roberto Costa para semana que vem, mas depende de autorização do juiz Sérgio Moro que até agora não mostrou a menor disposição de deixar o ex-diretor da Petrobrás pôr os pés fora da cadeia antes de entregar nomes e provas sobre o esquema de superfaturamento de contratos e distribuição de propinas dentro da empresa.

Também são solicitados os depoimentos da delação premiada que a Polícia Federal já negou e o procurador-geral da República reiterou que continuam por enquanto sob sigilo. Quando teve oportunidade o Congresso não fez a sua parte. Agora dá a impressão de que simula providências.

Eliane Cantanhêde: Trampolins para Dilma

- Folha de S. Paulo

Marina Silva empurrou Aécio Neves para o terceiro lugar, fora do segundo turno, e Aécio faz tudo para derrubar Marina. Na prática, os dois armam um trampolim para a reeleição de Dilma Rousseff e a eternização do aparelhamento do Estado pelo PT. A oposição, desunida, certamente será vencida.

Marina, claro, não tinha alternativa depois da morte de Eduardo Campos. Era concorrer ou concorrer. Arrastou os quase 20% de votos de 2010, agregou a comoção nacional com o acidente e se beneficiou da forte rejeição tanto ao PT quanto a Dilma. Mas, ao entrar, pode ter apenas garantido a vitória de Dilma.

Aécio também ficou sem alternativa diante da novidade. Era bater ou bater em Marina. Com isso, ele tenta conter a sangria e dar ao PSDB um mínimo de capacidade de negociação no segundo turno, sem ter de aderir de graça a Marina. Mas o efeito favorece diretamente Dilma.

A questão de Aécio também é de calibragem --o quanto bater para garantir um patamar minimamente seguro de votos sem inviabilizar um acordo do PSDB com o PSB no segundo turno e num eventual governo Marina. A derrota já no primeiro turno será arrasadora para o PSDB, mas o partido tem quadros reconhecidos e eles podem se tornar indispensáveis para Marina governar.

Marina parou de crescer, mas mantém boas condições de ganhar. A situação de Aécio é que continua não sendo nada animadora. Ele está numa posição que candidato nenhum deseja: já que vai perder, tentar perder o mais honrosamente possível.

Do outro lado, a campanha de Dilma usa seu imenso tempo de TV para massificar mentiras e mistificações. Os bancos nunca lucraram tanto quanto com Lula e Dilma. Acusar Marina de aliada de banqueiros por causa da educadora Neca Setúbal é indigno. Tanto como compará-la a Jânio e Collor. Depois de anos desconstruindo o legado tucano, o PT tenta destruir a imagem de Marina, ex-companheira de tantos anos.

Ricardo Noblat - FH: Aécio deve poupar ex-ministra

- O Globo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez chegar sua opinião a Aécio Neves, candidato do PSDB à vaga de Lula: bater em Marina Silva, como Aécio está batendo, é fazer o jogo do PT, do governo e de Dilma.

Com 12 minutos de propaganda eleitoral no rádio e na televisão dia sim, dia não, contra dois minutos de Marina, Dilma tem batido duro na candidata do PSB.

O marqueteiro de Dilma, João Santana, dispara há 10 dias contra Marina munição antes estocada para uso no segundo turno.

O objetivo de Dilma é chegar lá com uma vantagem de pelo menos 10 pontos percentuais sobre Marina. Assim ela terá gordura para perder, se necessário.

A opinião de Fernando Henrique é compartilhada pelos partidos que apoiam Aécio. Se dependesse deles, o DEM à frente, Aécio renunciaria à candidatura para apoiar Marina desde já.

Aécio e o chamado núcleo duro da campanha dele acreditam - ou dizem acreditar - que o candidato ainda poderá disputar o segundo turno com Dilma. Daí as fortes críticas que faz à Marina.

Na manhã de ontem, durante sabatina promovida pelo jornal O GLOBO, Aécio criticou Marina dizendo que ela precisa escolher quem é - a Marina que durante 16 anos foi filiada ao PT ou a outra que mais recentemente passou a combater o PT e a falar em "nova política"?

Marqueteiros em geral, e analistas de pesquisas em particular, concordam que Aécio já está fora do segundo turno. Só voltará a ficar dentro se Marina cometer um grave erro de campanha. Improvável.

Luiz Carlos Azedo: Lado sinistro da força

• A presidente Dilma Rousseff voltou a acusar a oposição de pretender elevar a taxa de juros, provocar uma recessão e jogar milhões de trabalhadores no desemprego

- Correio Braziliense

Por mais que os truques de marketing e a retórica falseiem o debate, a radicalização do discurso da presidente Dilma Rousseff (PT) contra seus adversários, tanto Marina Silva (PSB) quanto Aécio Neves (PSDB), começa a lançar luzes sobre as reais intenções da petista em relação a um eventual segundo mandato.

Desnuda um projeto de poder que se aproxima muito mais das experiências em curso na Argentina e na Venezuela do que da tradição das democracias europeias, uma vez que o modelo norte-americano de bipartidarismo nunca emplacou no Brasil, nem no regime militar.

O eixo dessa orientação não está nas políticas de transferência de renda, como se deduziria da propaganda eleitoral de Dilma. A “focalização “ dos gastos sociais nos mais pobres — em detrimento de políticas “universalistas” na educação, na saúde, nos transportes e na segurança pública — é uma solução “social-liberal” muito conhecida dos economistas.

O eventual segundo mandato de Dilma aponta para a escalada do experimentalismo econômico e político e do dirigismo estatal, com ampliação do “capitalismo de Estado”, cujos principais antecedentes históricos foram os modelos desenvolvimentistas de Vargas e Geisel.

Para que esse tipo de política seja viável, porém, é preciso mecanismos como o chamado “controle social” dos meios de comunicação e os “conselhos populares”, que, respectivamente, implicam em limitações óbvias para a liberdade de imprensa e na subordinação do Legislativo. Historicamente, esses mecanismos têm viés autoritário.

O busílis
O debate sobre a autonomia do Banco Central, a pretexto de carimbar os candidatos de oposição como futuros prepostos dos banqueiros, serve para elucidar atitudes e intenções da presidente Dilma até agora nunca assumidas tão claramente. Dilma confunde, deliberadamente, a independência ou autonomia do Banco Central, que em si já são coisas diferentes, com o controle dos banqueiros sobre a instituição, o que não é fato, pois trata-se de um centro de excelência da alta burocracia estatal.

Ou seja, Dilma pretende controlar ainda mais o Banco Central e subordinar a política monetária aos objetivos políticos e eleitorais do governo, o que nunca deu certo. Seu atual presidente, Alexandre Tombini, cumpriu à risca o desejo presidencial de reduzir a fórceps os juros e até foi leniente com a inflação, na expectativa de obter elevados índices de crescimento. A consequência, porém, veio a cavalo: o atual cenário de estagflação (crescimento zero com inflação alta), que em parte explica as dificuldades para própria reeleição de Dilma.

Outro indicador da estratégia do governo é a elevação da dívida pública para financiar setores escolhidos a dedo pelo governo, com juros subsidiados, numa estratégia inédita para um partido de esquerda: a formação de grandes monopólios privados de capital nacional, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e dos fundos de pensão. Como se sabe, essa é uma característica do “capitalismo de Estado”

Pressupõe-se que isso possibilitaria mais investimentos e mais crescimento, porém, não é o que acontece. A mesma lógica é adotada em relação à inflação, mantida longe do centro da meta de 4,5% a pretexto de garantir o crescimento. Também vão nessa direção a maquiagem do superavit fiscal, com manobras de toda sorte, desde o atraso na compra de medicamentos do SUS ao não recolhimento do FGTS à Caixa Econômica Federal (CEF).

Ontem, a presidente Dilma Rousseff voltou a acusar a oposição de pretender elevar a taxa de juros, provocar uma recessão e jogar milhões de trabalhadores no desemprego. O discurso alarmista da presidente da República recorre à liturgia do cargo para dar veracidade às acusações.

Em qualquer país com poupança baixa e dívidas bruta e líquida em expansão, como é o caso do Brasil, a taxa de juros será elevada e provocará recessão. É o que está acontecendo agora.

Como um viciado em roleta de cassino, o governo insiste no aumento do crédito subsidiado, financiamento de fundos de pensão de estatais e aportes do FGTS em troca de preços e tarifas menores. Investidores e consumidores, entretanto, estão com as barbas de molho.

Dilma apregoa que os recursos do pré-sal financiarão os gastos com educação e com outros serviços do governo, como pó de pirlimpimpim, mas isso significa o financiamento em dólar de gastos de custeio em real, o que aumenta a desindustrialização do país. Seguimos, assim, a trilha da Argentina e da Venezuela, que sucatearam sua base produtiva.

Jarbas de Holanda: Petrobras sem efeito ainda nas pesquisas. E mantido o tiroteio contra Marina Silva

O megaescândalo envolvendo a Petrobras – desencadeado pela delação do ex-diretor Paulo Roberto Costa sobre os desvios de vultosos recursos em negociatas e como comissão para políticos da base governista federal – começou a chegar à mídia no sábado e a ter peso nas manchetes (dos jornais, televisão e rádio) após a edição, histórica, da Veja do começo desta semana. Mas, para a campanha presidencial do tucano Aécio Neves, que poderá ser o grande beneficiário, o dividendo inicial foi apenas político, de reaglutinação de apoiadores para possível retomada de competitividade da candidatura. Com efeitos eleitorais, maiores ou menores, que só se manifestarão nas próximas pesquisas (não nas que estão sendo divulgadas). Efeitos cujas dimensões dependerão de uma verdadeira batalha que se trava entre dois interesses básicos e decisivos (além dos da oposição). De um lado, o do governo (da candidata à reeleição e do ex-presidente Lula) todo mobilizado para bloquear a divulgação de novos dados dos depoimentos do delator, para desqualificar os já re-velados com um “eu não sabia de nada”, e continuar entravando a atuação da CPI Mista do Congresso.

De outro lado, o empenho da imprensa para acesso a novos dados específicos da delação e sobre o conjunto da operação Lava-Jato. O resultado dessa batalha garantirá as informações ao conjunto do eleitorado sobre a amplitude do megaescândalo de corrupção desencadeado a partir de 2004. Cuja parcela destinada ao pagamento de propinas a políticos da base governista (inclusive dos ministros, um em exercício) foi estimada, pelo jornal Valor, em R$ 3,4 bilhões. Ou impedirá isso, caso a campanha reeleitoral consiga atropelar as investigações, retardando-as e esvaziando-as, por meio de tal bloqueio. Cabendo destacar o papel que tem sido desempenhado pela Polícia Federal – de um órgão do Estado, não do governo de plantão.

Na expectativa de vitória nessa batalha, o comitê reeleitoral de Dilma Rousseff e a direção do PT seguem, estes dias, centrados na polarização com a candidata do PSB, Marina Silva, e priorizando os ataques a ela. O que é feito por meio de um trabalho de cúpula junto a áreas empresariais, para vendê-la como radical antimercado, em combinação com o uso do horário “gratuito” e a mobilização das bases petistas e do sindicalismo da CUT, sobretudo das estatais, contra uma nova Marina ultraliberal, traidora do passado petista. Cujo governo se colocaria a ser-viço dos bancos privados, interromperia o pré-sal e sacrificaria ou esvaziaria os vários programas assistencialistas. Marina substituindo Aécio Neves na confrontação ideológica “nós (o povo) e eles” (a elite inimiga dos pobres).

A persistência – nas pesquisas anunciadas anteontem à noite – de pequena vantagem de Dilma (sobre Marina), no 1º turno, e de redução da desvantagem dela no turno final, estará sob ameaça não apenas de provável insucesso na batalha contra a imprensa pelo acobertamento do megaescândalo da Petrobras mas também pela piora, semana a semana, dos indicadores da economia. Dias atrás, a ultrapassagem pela inflação anualizada do limite máximo de tolerância, 6,5%, da meta oficial. Na segunda-feira, após afirmar-se o predomínio das projeções de analistas para um PIB abaixo de 0,5%, o ministério da Fazenda – com o titular já a praticamente demitido – teve de rebaixar a sua de 1,8%, feita um mês atrás, para 1%. Tão destituída de credibilidade quanto as anteriores. Por outro lado, acentua-se o desequilíbrio das contas públicas com a queda das receitas (da União, dos estados e dos municípios) decorrente da estagnação. O que vai tornando inviável a realização do superávit primário de 1,9%, mesmo com o uso “criativo” de recursos não fiscais. E ontem a agência de classificação de risco Moody’s revisou para “negativa” (depois de queda de “positiva” para “estável”) a perspectiva da nota da dívida pública do Brasil. O que passa a ameaçar uma perda do grau de investimento do país.

Jarbas de Holanda é jornalista

César Felício: A máquina de moer governadores

• Crise fiscal permanente destrói vocações no RS

- Valor Econômico

Virtual cemitério de vocações políticas, o Rio Grande do Sul, domicílio eleitoral da presidente Dilma Rousseff, pode começar a devorar este ano a senadora Ana Amélia Lemos (PP). Líder nas pesquisas de opinião para o governo estadual, Ana Amélia se tornará, caso ganhe, a algoz de Tarso Genro (PT), que tenta a reeleição. O petista se tornaria assim o sétimo governador gaúcho a perder as eleições estaduais, em uma sequência ininterrupta inaugurada por Jair Soares em 1986 e sem precedentes no país.

Ana Amélia é a única mulher que lidera sondagens para governos estaduais e a única aposta competitiva no País de sua sigla, herdeira da Arena e do PDS. Se de fato vencer, o polêmico presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), que ameaçou esta semana renunciar caso fique comprovado seu envolvimento com o escândalo da Petrobras, pode não continuar no cargo.

Cabelos pintados de loiro, sempre com roupas sóbrias, 69 anos, a senadora faz campanha prometendo enxugar a máquina pública, com a desenvoltura que treinou em seus quarenta anos de jornalismo, como uma Margaret Thatcher dos campos de cima da serra.

Para os professores, por exemplo a senadora manda um recado de forma direta e ríspida. Admite que os salários do magistério são "historicamente baixos", mas ressalva: "nunca se pode prometer o que não se pode cumprir. O meu compromisso é com a redução da despesa do Estado".

A crise fiscal gaúcha tornou-se crônica e, segundo o economista Luiz Augusto Estrella, da Fundação de Economia e Estatística, órgão que foi presidido por Dilma Rousseff no início dos anos 90, teve origem há mais de um século. Tudo começou na constituição republicana engendrada por Júlio de Castilhos, prócer morto em 1903 e que, à bala, desenhou um estado de inspiração positivista, com presença em todos os segmentos da vida econômica e social.

A expansão do serviço público ganhou impulso nos governos estaduais de Getúlio Vargas e Leonel Brizola e a máquina começou a se tornar insustentável nos anos 80, quando o estado lançou mão de títulos públicos para cobrir despesas correntes. "Hoje 53% da folha de pagamento é composta por inativos", reconhece a senadora.

Várias medidas de contenção de gastos e manobras de criatividade contábil já foram experimentadas no Estado de origem do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.

No governo de Alceu Collares (1991-1994), foi criado o sistema de caixa único do Estado, por meio do qual o governo pode lançar mão de recursos destinados até para precatórios para pagar despesas de diversas natureza. É uma medida que continua em vigor. Antonio Britto (1995-1998) fez a renegociação da dívida com o governo federal, se comprometendo com privatizações e isenções fiscais, suspensas no governo de Olívio Dutra (1999-2002). Rigotto (2003-2006) batalhou inutilmente pela renegociação da dívida e Yeda Crusius (2007-2010) prometeu choque de gestão e déficit zero. Sequer foi para o segundo turno.

Genro se beneficiou do aumento da arrecadação e aumentou a contribuição de inativos, mas nem assim desmontou a armadilha das restrições fiscais, apesar de ter administrado o Estado em uma fase de crescimento econômico. O PIB gaúcho aumentou em média 4,1% na gestão do petista. A arrecadação corrente gaúcha cresceu 23,5% durante o governo do petista, mas os gastos correntes aumentaram 37,1% entre 2010 e 2013.

O problema gaúcho é com a reeleição de seus governadores, e não com o PT. O eleitor médio de Ana Amélia é interiorano, com predominância feminina e de faixa etária mais alta. O de Dilma Rousseff no Estado também. Ana Amélia estava com 38% na pesquisa local Ibope de ontem e Dilma com o mesmo percentual na do Datafolha de seis dias atrás, oito a mais que Tarso Genro e acima também de sua média nacional. O eleitor gaúcho estabelece uma dobradinha que ignora o arranjo político de ambas, pelo qual Ana Amélia votará em Aécio Neves (PSDB) e Dilma em Genro.

A cientista política Silvana Krause, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pensa que de uma maneira ou outra Ana Amélia e Dilma conseguem se apropriar de um espólio brizolista que ainda não teve liquidação no interior do Estado, o que não é o caso do governador.

"O trabalhismo não é uma herança da esquerda. No Rio Grande do Sul é um legado compartilhado por uma elite agrária. A Dilma sensibiliza este eleitor no interior, pelo seu passado brizolista e a Ana Amélia é a voz do agronegócio", diz Silvana. A senadora surpreende com elogios a Dilma para explicar o fenômeno.

"Dilma conseguiu mostrar as coisas que fez para o Rio Grande do Sul. Ela apoiou o pólo naval, a duplicação de rodovias federais e teve posição clara em relação à reforma do estádio Beira Rio. Nada disso foi associado ao governador. Além de tudo, ela fez uma ofensiva muito forte para ter o apoio dos prefeitos", disse.

Na hipótese de conviver com Dilma na presidência caso seja eleita governadora, Ana Amélia não demonstra fervor oposicionista. "Não acredito, pelo comportamento dela em relação ao Rio Grande do Sul, que vá haver problemas. Ela sempre agiu comigo de forma republicana, liberou as emendas parlamentares que fiz", diz.

A senadora também aposta em boa convivência com Marina Silva (PSB), caso ambas ganham as eleições que disputam. Desta vez, o fio condutor é o deputado Beto Albuquerque, candidato a vice na chapa da ex-ministra. O antigo titular da candidatura presidencial, Eduardo Campos, queria apoiar Ana Amélia. A aliança foi vetada por Marina, mas Ana Amélia não passa recibo. "A vida não pode ter condicionantes desta natureza. Vamos ter que trabalhar juntas para resolver os problemas nacionais", afirma. Marina obteve no Rio Grande do Sul 30% de intenção de voto, mesmo percentual atingido por Tarso Genro.