sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

"Já vivi isso com o Ciro Gomes (2002). Ele não reagiu da melhor forma quando a pressão veio . A Marina (Silva) está muito segura para enfrentar a desconstrução "

Roberto Freire, presidente do PPS e deputado federal (SP), sobre os ataques da presidente Dilma e de Aécio Neves, O Globo (Panorama político), 5 de setembro de 2014

Ministros tiram férias para reforçar campanha de Dilma

• Na reta final da campanha, ministros deixam cargos para ajudar a campanha de Dilma

Do gabinete para as ruas

Fernanda Krakovics e Luiza Damé - O Globo

BRASÍLIA - No momento em que a corrida para a reeleição da presidente Dilma Rousseff mostra-se mais acirrada, a campanha contará com reforço de ministros petistas em sua reta final. O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) vai entrar de férias a partir de segunda-feira com esse objetivo. Há expectativa que os ministros Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) tirem licença a partir da próxima semana. Já o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) saiu de férias anteontem, por dez dias, e disse que vai "ajudar um pouco" na campanha presidencial e na de sua mulher, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que disputa o governo do Paraná e está em terceiro lugar nas pesquisas.

Apesar de Berzoini e Rossetto ainda não terem batido o martelo a respeito da saída temporária do governo, já há salas preparadas para eles no comitê eleitoral de Dilma em Brasília. A eventual licença dos dois deve ser escalonada. O governo e a campanha não querem que eles e Carvalho saiam ao mesmo tempo para não parecer desespero diante do desempenho da candidata do PSB, Marina Silva, que ameaça a reeleição de Dilma, segundo as pesquisas.

Contatos com a Igreja Católica
A assessoria de imprensa da Secretaria de Relações Institucionais disse não estar "nos planos do ministro se afastar" da pasta. Já o Ministério do Desenvolvimento Agrário não confirmou a informação de que Rossetto vá deixar a pasta para cuidar da eleição de Dilma. A decisão, segundo interlocutores do ministro, deverá ser tomada na próxima semana.

Gilberto Carvalho vai reforçar os contatos com a Igreja Católica e com os movimentos sociais, tarefa que desempenha no governo. Petista hitórico, ele também vai se engajar na mobilização dos militantes do PT. Ontem, o ministro participou de reunião com os movimentos sociais em Cuiabá. Hoje, Gilberto estará em Campo Grande, com agenda semelhante.

O comando da campanha pressionava Gilberto a deixar o ministério e se dedicar exclusivamente à campanha desde maio. Petistas davam como certo que ele deixaria o governo logo após a Copa do Mundo, mas ele preferiu permanecer no cargo. Seu argumento foi que poderia ajudar na campanha depois do expediente e nos finais de semana.

Berzoini e Rossetto, mesmo ainda no cargo, já estão empenhados na campanha. Berzoini costuma participar das reuniões de coordenação que acontecem à noite, geralmente uma vez por semana, no Palácio da Alvorada. Já Rossetto tem participado de reuniões de estratégia política e avaliação do cenário eleitoral no comitê central. Outros ministros também têm participado de encontros no comitê de Brasília, como fez na noite de ontem Tereza Campello (Desenvolvimento Social).

Eles também vêm participando das agendas casadas de Dilma, que viaja pelo país dividindo-se entre eventos de campanha e de governo. O ministro do Desenvolvimento Agrário é um Habitué. Ontem, Rossetto acompanhou a presidente nos compromissos em Fortaleza, onde ela visitou unidades do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Hoje, o ministro deve ir com Dilma à Expointer (exposição de animais e equipamentos agropecuários), em Esteio (RS).

Na semana passada, Rossetto estava com Dilma no ato organizado pela Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), para apresentação de 13 propostas da entidade para a agricultura familiar e a reforma agrária. O ministro ficou no palco, juntamente com a presidente e outros integrantes do governo.

Berzoini organizará agendas
Ex-presidente do PT e responsável pela articulação política do governo, Berzoini é esperado no comitê de Dilma para organizar a agenda da presidente e articular a campanha nos estados. Os compromissos eleitorais de Dilma têm sido definidos em cima da hora e são alterados com frequência. Mas, segundo funcionários do Planalto, ele ainda não teria sacramentado se irá se licenciar para dedicar-se exclusivamente à reeleição de Dilma.

No Palácio do Planalto minimiza-se as evetnuais saídas. A versão corrente é que antes mesmo do crescimento de Marina nas pesquisas já se discutia a possibilidade de quadros experientes do governo reforçarem, na reta final, a campanha. Mas é nítido o aumento da mobilização. Depois que a candidata do PSB disparou nas pesquisas de intenção de voto, a coordenação da campanha de Dilma convocou uma reunião com o segundo escalão dos ministérios - secretários-executivos e secretários nacionais - para pedir empenho na disputa por uma segundo mandato.

Segundo participantes, o tom do encontro, na semana passada, foi o de que quem está dentro da máquina administrativa tem mais condições de fazer o enfrentamento político, porque teria mais argumentos. A orientação, de acordo com pessoas presentes, foi manter o debate propositivo, defender o governo, ocupar espaço e rebater críticas.

Surpreendida com a disparada de Marina, a campanha de Dilma recebeu com alívio as pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas na noite de anteontem. O temor era que a candidata do PSB ultrapassasse a presidente já no primeiro turno. Integrantes da campanha petista também ficaram satisfeitos com a redução da vantagem da ex-senadora no segundo turno.

No Rio, PT quer adversários unidos para conter crescimento de Marina

• Partido prepara encontro com quatro candidatos e Dilma, em prol do pré-sal

Simone Iglesias e Marcelo Remigio – O Globo

BRASÍLIA E RIO - Apesar do alívio momentâneo com o resultado das pesquisas Ibope e Datafolha em que a presidente Dilma Rousseff (PT) amplia levemente as intenções de voto e a ex-senadora Marina Silva (PSB) para de crescer, a coordenação da campanha à reeleição está preocupada com o desempenho de Dilma no Rio, São Paulo e Minas Gerais. O quadro nos estados do Sudeste é considerado "desesperador" pelos dirigentes. No Rio, a ordem é conter o crescimento de Marina e reverter as perdas, retomando os 43% que a presidente fez em 2010. Agora, a petista aparece com 32% das intenções de voto, segundo levantamento do Ibope, contra 38% de Marina. Para subir ao menos 11 pontos percentuais, a campanha tenta um movimento ousado: reunir num único evento com Dilma os quatro candidatos primeiro colocados na disputa ao governo.

Anteontem, no Rio, dirigentes nacionais do PT se reuniram com os coordenadores das campanhas de Anthony Garotinho (PR), Luiz Fernando Pezão (PMDB), Marcelo Crivella (PRB) e Lindbergh Farias (PT). A presidente prepara uma força-tarefa nos dias 14 e 15 de setembro. A ideia é promover um ato em defesa da exploração do pré-sal, que ganhará contornos políticos e no qual ela pretende reunir os quatro adversários regionais. Os prefeitos do Rio, Eduardo Paes (PMDB), de Niterói, Rodrigo Neves (PT) e de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso (sem partido), estão à frente da organização do ato, que deverá acontecer no Rio ou na Baixada Fluminense.

- Não se pode jogar fora os investimentos no pré-sal. Isso não é uma briga só do Rio, mas de todo o país - disse Cardoso.

- Vamos ter que tentar fazer algo que unifique as quatro candidaturas. Uma eleição que parecia fácil foi desestabilizada com a entrada de Marina - disse o presidente do PT do Rio, Washington Quaquá.

Durante a reunião, houve críticas quanto à falta de material de Dilma pelas ruas e sobre o fato de a coordenação de Dilma ter apostado na TV como principal eixo da campanha.

O diagnóstico foi o de que a situação está difícil, mas que há chance de reversão. Para isso, Dilma precisa fazer mais campanha no Rio.

- Vamos turbinar a campanha, com mais agendas dela com os candidatos e também vamos ver se fechamos essa ideia de um evento que reúna os quatro com Dilma - disse o vice-prefeito do Rio Adilson Pires, que coordena a campanha à reeleição na capital.

Os coordenadores das campanhas de Garotinho, Pezão, Crivella e Lindbergh ficaram de responder hoje se aceitam realizar o evento conjunto.

Em São Paulo, o quadro é considerado "desesperador" por dirigentes petistas. O candidato do PT ao governo, Alexandre Padilha, não consegue se viabilizar, desempenho que afeta diretamente a campanha de Dilma. Na avaliação de integrantes da coordenação, o grande desafio é conseguir mudar o voto do eleitorado paulista, que dá sinais de que reelegerá o tucano Geraldo Alckmin e que saturou do PT.

- Estamos à procura dos 30% que o partido historicamente tem. Onde estão esses votos, se Padilha patina em 7% e Dilma está bem abaixo desse patamar? - disse um dirigente.

Segundo pesquisa Ibope divulgada segunda-feira, Marina tem 39% das intenções de voto, contra 23% de Dilma, uma diferença de 16%. No maior colégio eleitoral do Brasil, com 32 milhões de eleitores (22,4% do total nacional), essa diferença, se mantida, e vista pelos petistas como "aterradora". Em 2010, Dilma fez 37,31% dos votos em São Paulo e Marina, 20,77%. Naquele ano, o tucano José Serra venceu no estado, com 40,66% dos votos.

Em Minas Gerais, a coordenação da campanha de Dilma esperava que ela crescesse com a queda de Aécio Neves (PSDB). No entanto, Marina foi a maior beneficiada. Petistas reclamam da atuação do candidato ao governo local, Fernando Pimentel, que lidera as pesquisas, mas que não estaria se empenhando na eleição de Dilma. No começo de agosto, o presidente nacional o PT, Rui Falcão, reclamou da dobradinha entre Pimentel e Aécio, na última reunião da executiva do partido, chamada em Minas de "Pimentécio". Apesar de o candidato mineiro negar estar escondendo a presidente, petistas dizem que a situação ainda não foi corrigida.

Tanto Garotinho, que lidera as pesquisas, quanto o governador Pezão já fizeram agenda no Rio ao lado de Dilma.

Correligionário de Dilma, Lindbergh, que estagnou nas pesquisas e ainda aguarda a vinda da presidente ao Rio para apoiá-lo, se mostrou irritado ao ser questionado sobre o encontro com Dilma e três adversários:

- Não sei nada sobre isso - desconversou.

Garotinho, do PR, que costumava cobrar reciprocidade do PT,disse não ver "nenhum problema" no fato de posar ao lado dos outros candidatos ao Palácio Guanabara:

- Não tenho conhecimento ainda. Mas quem vai deixar de defender os royalties? Ninguém. Em defesa dos royalties eu fui ao Palácio Guanabara. Não tem nenhum problema (estarem os quatro juntos).

Pezão, por sua vez, foi sóbrio ao comentar a possibilidade de aparecer no mesmo lado de seus adversários, e afirmou que pretende levar Dilma no Complexo da Maré.

- Não sei, nem pensei nisso ainda.

Crivella, disse que aceitará:

- Aceito. Pelo Rio.

(Colaboraram: Letícia Fernandes, Igor Mello, Cássio Bruno e Leandra Lima)

PT monta força trefa para enfrentar alta de Marina

• Ex-presidente reclama de comparação de Marina a Collor; estratégia é reformulada e auxiliares de Dilma deixam cargos para buscar mais apoios

Ricardo Galhardo, Vera Rosa e Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo

A um mês da eleição, a campanha de Dilma Rousseff passa por um rearranjo. Luiz Inácio Lula da Silva condenou as recentes propagandas de TV que comparavam a adversária Marina Silva a Jânio Quadro e Fernando Collor e pediu o fim da “adjetivação” da ex-ministra do Meio Ambiente. Ontem, os ataques não estavam no programa de TV. Ao mesmo tempo, o PT busca mobilizar o comitê atrás de apoio de setores da sociedade. Para isso, a partir da semana que vem, os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) devem se afastar de seus cargos para integrar a coordenação da campanha.

A participação dos ministros do PT na campanha foi discutida na noite de terça-feira em duas reuniões realizadas em Brasília. Os petistas querem uma aproximação com a Igreja Católica e com movimentos sociais. O trabalho ficará nas mãos de Gilberto Carvalho.

O ministro cumpriu o mesmo papel no fim do 1.º turno da disputa de 2010, quando era chefe de gabinete do então presidente Lula e Dilma enfrentava dificuldades no confronto com José Serra (PSDB) por causa da polêmica em torno do aborto. Marina é evangélica e a campanha do PT também está fazendo "pontes" com as igrejas pentecostais.

Gaúcho e amigo da presidente, o ministro Miguel Rossetto, por sua vez, terá a missão de atrair o apoio de pequenos agricultores. Já Berzoini ajudará a campanha na difícil interlocução com o PT e com partidos da base aliada. Ele tentará, ainda, obter o apoio de possíveis dissidentes do comitê tucano.

Não é. A questão do tom a ser usado nos programas de TV também está em discussão. Depois de ver a propaganda que comparava a candidata do PSB aos presidentes que não terminaram seus mandatos, Lula comentou com integrantes do comitê que "Marina não é Collor" e disse que a estratégia de "adjetivar" a adversária é ineficaz.

Para o ex-presidente, a campanha de Dilma deve explorar fragilidades "concretas" da ex-ministra, principalmente supostas incongruências no programa de governo do PSB. Análises internas mostraram que o recuo de Marina em relação aos direitos homossexuais foram mais prejudiciais à candidata do que os ataques petistas.

O PT e o Instituto Lula esquadrinharam o documento e encontraram diversos pontos a serem explorados. O objetivo, de acordo com um dirigente petista, é "espremer Marina para ver se sai caldo". Ainda ontem, o site Muda Mais, criado pelo PT para defender a reeleição de Dilma, postou um texto no qual acusa o programa de Marina para a área de energia de ser um "plágio" de artigo publicado em 2011 pela Revista USP. Aécio já havia criticado Marina por ter copiado, em seu programa, trechos do Plano Nacional de Direitos Humanos lançado no governo Fernando Henrique Cardoso.

"Agora entende-se porque houve tantas erratas desde o lançamento de seu programa de governo: o CtrlC + CtrlV foi tamanho que alguns detalhes passaram despercebidos", ironizou o site que dá sustentação à campanha de Dilma.

Lula disse aos aliados que mais do que comparações com políticos do passado, o eleitorado está interessado em saber as propostas dos candidatos para resolver os problemas do dia a dia e, portanto, o campo de disputa não é o da política institucional, mas o dos projetos.

O ex-presidente defende a estratégia de mostrar que os problemas do Brasil são muito complexos para serem resolvidos apenas com teses acadêmicas ou discursos conceituais.

O alvo central do PT é a área econômica do projeto do PSB, exaustivamente estudado e cotejado com dados oficiais. A ideia dos petistas é repetir a estratégia usada no início da campanha, quando a polarização era com o tucano Aécio Neves, e o PT explorou entrevistas do próprio tucano e de seu conselheiro econômico, Arminio Fraga, para dizer que o modelo proposto pelo adversário acarretaria aumento do desemprego. / Colaboraram Ricardo Brito, Rafael Moraes Moura e Tânia Monteiro

Ministros tiram férias para reforçar campanha de Dilma

Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura – O Estado de S. Paulo

O ministro-chefe da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, estará, a partir de segunda-feira, à disposição da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. A informação da saída temporária de Gilberto foi antecipada ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada nesta quinta-feira pela sua assessoria. Gilberto vem ajudando a presidente no diálogo com movimentos sociais e com a Igreja e, inicialmente, resistia em deixar o governo. Mas, com o acirramento da campanha e a queda da presidente Dilma nas pesquisas de intenção de voto, preferiu sair para ficar mais liberado.

O ministro do Desenvolvimento Social, Miguel Rossetto, também deverá ir para a campanha. A decisão definitiva, no entanto, segundo a sua assessoria, só acontecerá na próxima semana. O ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, negou, de acordo com sua assessoria, que vá sair do governo para trabalhar apenas na campanha. Berzoini já participa de reuniões de campanha com a presidente Dilma. Na noite de quarta-feira, Berzoini e Rossetto participaram de reuniões no comitê de campanha do PT.

Já o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, está em férias desde ontem (3) até 12 de setembro, conforme publicação no Diário Oficial da União. Com a licença, o ministro fica liberado para atuar nas campanhas da sua mulher Gleisi Hoffmann, ao governo do Paraná, e da presidente Dilma.

Tesouro abre os cofres às vésperas da eleição

Ribamar Oliveira – Valor Econômico

BRASÍLIA - A menos de dois meses da eleição, o governo abriu as torneiras do gasto público. Os pagamentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) bateram recorde no mês passado, atingindo R$ 8,45 bilhões. O valor supera o gasto de julho em R$ 3,45 bilhões e também o de janeiro (R$ 7,3 bilhões), que até agora havia sido o maior do ano.

Os pagamentos do programa Minha Casa Minha Vida - R$ 2,62 bilhões - também foram os mais altos deste ano. Os desembolsos para o Ministério dos Transportes, igualmente elevados, atingiram R$ 1,7 bilhão. Só o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes fez pagamentos de R$ 1,497 bilhão.

Também foram elevados os repasses feitos pelo Tesouro à Caixa Econômica Federal para o pagamento do Seguro Desemprego e do Abono Salarial (R$ 9,3 bilhões), conforme levantamento realizado pela Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados no Siafi, o sistema eletrônico de registro de receitas e despesas do governo federal.

Os repasses do Tesouro para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) também aumentaram em agosto. Até o dia 29, o Tesouro tinha emitido ordens bancárias no montante de R$ 3,698 bilhões. Foi o maior repasse mensal para a CDE neste ano, o que eleva o total de janeiro a agosto a R$ 9 bilhões.

Os recursos da CDE pagam as indenizações às hidrelétricas que aderiram à nova regulamentação do setor, os subsídios para a baixa renda, combustíveis para as termelétricas e o socorro às distribuidoras pelo acionamento das térmicas. O Tesouro reservou R$ 13 bilhões para essa despesa em 2014.

Os pagamentos elevados do PAC em agosto podem ter sido uma resposta a queixas de empresários por atrasos nos desembolsos dos recursos. A abertura das torneiras, no entanto, coloca em xeque a possibilidade do governo alcançar a meta fiscal de 1,9% do PIB fixada para este ano.

Marina atribui discussão sobre renda com palestras a 'desespero' do PT

• Candidata do PSB afirma que faturamento foi declarado e lamenta 'vale tudo' por parte da campanha adversária

Elder Ogliari - O Estado de S. Paulo

PORTO ALEGRE - A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, atribuiu ao "desespero" do PT a discussão sobre os rendimentos que obteve como palestrante nos últimos três anos e meio durante entrevista a emissoras da RBS nesta quinta-feira, 4, em Porto Alegre.

Questionada por um dos entrevistadores a comentar a informação de que o comitê de campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) pedirá ao Ministério Público Eleitoral uma investigação sobre eventual omissão de ganhos, Marina qualificou a iniciativa de "acusação injusta, factoide".

Segundo a candidata, desde 2011, quando deixou o Senado, vive de seu trabalho e, sem entrar no circuito comercial de palestras, se limita a aceitar convites. Os contratantes pagam à empresa que Marina criou em 2011 e que faturou R$ 1,6 milhão desde então. "Pagamos todos os encargos, ficou R$ 1,016 milhão", revelou Marina, ressalvando que o faturamento bruto da empresa não pode ser confundido com rendimento líquido pessoal. "Minha média salarial é de R$ 22 mil, R$ 24 mil, é só verificar".

Marina reiterou que toda a movimentação financeira da empresa e dela está informada à Receita Federal e passou ao ataque. "O desespero está fazendo com que eles façam esse tipo de coisa", afirmou. "Lamento que a presidente Dilma se submeta a esse tipo de lógica do poder pelo poder, de que vale tudo para ganhar uma eleição", prosseguiu, prometendo vai fazer disputa limpa, sem acusações ou tentativas de criar factoides contra concorrentes.

Marina admitiu ainda a possibilidade de levar ao caso ao Ministério Público. Lembrou que ela e o marido já sofreram acusação infundada de participação em tráfico de madeira e levaram o caso ao Ministério Público, que concluiu que tratava-se de inverdade.

Causa gay. Marina reiterou que nem tomou conhecimento das mensagens escritas pelo pastor Silas Malafaia em seu perfil no Twitter no caso do recuo no apoio ao casamento gay e à lei contra a homofobia. A candidata explicou que foi a própria equipe que cuida do programa e faz a mediação das sugestões que mudou o texto. "No nosso programa, as direitos da comunidade LGBT estão melhor contemplados que nos de Dilma e Aécio", comparou.

Petrobrás e preço da gasolina. Em outro momento da entrevista, Marina criticou a política de preços controlados do governo, dando a entender que, se vencer a eleição, o combustível seguirá as oscilações do mercado internacional.

"A atual política não tem sustentação", afirmou, ao responder a uma pergunta sobre equiparação dos preços ao mercado internacional ou manutenção do controle feito pelo governo federal. "A Dilma está assumindo que depois das eleições terá de fazer mudanças", reiterou. "Se não tivesse demorado a fazer o dever de casa não estaríamos na situação em que estamos", citando a desvalorização da Petrobrás, suspeitas de corrupção na estatal e prejuízos à imagem da empresa como exemplos do que não vai bem.

Energia, reformas e índios. Ao abordar a questão da energia, Marina repetiu a disposição de manter as atuais fontes de geração e, ao mesmo tempo, investir em novas, "Vamos investir para que, no longo prazo, tenhamos essas fontes (eólica, solar, biomassa), mas hoje não temos como abrir mão das atuais".

A candidata do PSB também voltou a se comprometer com o envio de um projeto de reforma tributária ao Congresso no primeiro mês de governo, mas admitiu que ela terá de ser "fatiada", com negociações entre União, Estados e municípios para que ninguém se sinta perdedor de recursos.

As ideias centrais, segundo Marina, são garantir justiça, para que os que ganham mais paguem mais, transparência, para a população saber o que paga e para onde vão os recursos, e simplificação, que pode poupar recursos que as empresas gastam atualmente em suas áreas burocráticas.

Para a reforma política, Marina disse que não foi apresentado projeto, mas alguns pontos para iniciar o debate. "Defendemos o financiamento público de campanha, mas há um debate que pode ser misto, combinando as duas coisas", disse a candidata.

Lembrada pelos jornalistas de que disputa de terras entre agricultores e índios geram um clima de tensão no noroeste do Rio Grande do Sul e em outras regiões do País, Marina defendeu a legislação atual, que atribui ao Executivo a demarcação de terras indígenas, posição que contraria movimento de produtores rurais que querem transferir a decisão para o Congresso. Ao mesmo tempo, ressaltou que tem o compromisso de respeitar direitos. "Existem terras que são posse de assentados pelo próprio Estado e não podemos tratar (esses agricultores) como invasores", destacou. "Nesse caso a discussão deve ser criteriosa para os dois lados não sofrerem prejuízos".

Marina passa o dia no Rio Grande do Sul. À tarde visita a Expointer, feira agropecuária na cidade de Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre, e á noite tem encontro com o candidato do PMDB ao governo do Estado, José Ivo Sartori, em Caxias do Sul, na serra.

Economistas divergem sobre Banco Central

• Analistas ligados a PSDB e PSB apoiam independência, criticada por petista

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA - Economistas representantes dos três candidatos mais bem colocados na disputa pela Presidência deram ontem suas receitas para o país voltar a crescer e controlar a inflação. Também discutiram se o Banco Central (BC) deve ter autonomia para impor a política de controle de preços.

Para os economistas responsáveis pelos programas do PSB, de Marina Silva, e do PSDB, de Aécio Neves, o BC deveria ser autônomo e livre de pressões políticas para definir a taxa básica de juros (Selic). Alexandre Rands (da campanha de Marina) contou inclusive que foi colega do presidente do BC, Alexandre Tombini, e o classificou como um ótimo economista, mas que não tomou as decisões corretas.
- É um cara muito competente, mas ele não faz aquilo que sei que ele defenderia, porque tem intervenção do governo federal, da presidente Dilma. Ela grita lá uma coisa, o Tombini tem de responder aqui, tem de se ajustar - atacou Rands.

Petista reage a críticas
Já Márcio Pochmann, da campanha da presidente Dilma, foi em sentido contrário. Disse que o país não tem condições de dar autonomia ao BC.

- O Brasil não tem maturidade democrática. É um retrocesso democrático - afirmou: - É retirar do povo a decisão de como deve atuar o Banco Central.

Pochmann disse ainda que não se pode deixar essas decisões na mão de "tecnocráticos" com "cabeças de planilha". E ainda defendeu a criação de mais bancos públicos. E afirmou que há uma "forte névoa que aliena os analistas". Também culpou a imprensa por não retratar fielmente a situação da economia brasileira.

O economista listou conquistas do governo do PT. Disse que o Brasil é um dos poucos países que conseguiram diminuir pobreza e desigualdade simultaneamente. E que construiu uma base política que negou o neoliberalismo. E, em um recado sobre o risco de Marina ser eleita, alertou que, sem base política, não há como governar a nação.

- Fazer proposta de reformas sem base no Congresso é ventania - disse.

Pochmann afirmou que a definição da equipe econômica será tomada depois das eleições, e não para agradar ao mercado financeiro.

Mansueto Almeida, economista do PSDB, criticou a falta de transparência, a qualidade dos gastos públicos e o atraso do repasse do Tesouro Nacional para Caixa Econômica Federal, com objetivo de maquiar as contas públicas. Disse que o país não tem como ampliar as despesas sociais sem voltar a crescer:

- A gente não tem dinheiro para ter a mesma saúde da Finlândia ou a mesma educação da Inglaterra. Para isso, a gente tem de crescer. Sem crescimento, não dá para gastar com o social - disse Almeida.

Ele ainda atacou a atual política econômica:

- Esse excesso de intervenção não foi feito por maldade, mas a série de incentivos setoriais não trouxe mais crescimento. Não tem mágica.

Já Alexandre Rands criticou a opção do governo federal pelo aumento do consumo interno e disse que a solução para a economia é educação. Ao contrário de Pochmann, Rands fez uma enfática defesa da autonomia do Banco Central:

- A primeira coisa que você tem de fazer para que haja uma intermediação política dos conflitos sociais é uma inflação estritamente controlada. E não resta dúvida de que a autonomia do BC é essencial. Todos os países em que há autonomia do BC têm menos inflação.

Inflação sobe e fica acima do teto da meta do governo

• Inflação oficial registra variação 6,51% no acumulado, segundo o IBGE. Limite oficial é de 6,5%

Marcello Corrêa – O Globo

RIO - A inflação oficial brasileira, medida pelo IPCA, registrou alta de 0,25% em agosto, informou o IBGE nesta sexta-feira. No acumulado em 12 meses, o indicador avança 6,51%. As porcentagens foram as mesmas indicada pela mediana das projeções de analistas compiladas pela Bloomberg. No acumulado do ano, o indicador tem alta de 4,02%.

Em julho, a alta de preços tinha avançado apenas 0,01%, a menor taxa desde 2010, mas permaneceu no teto da meta em 12 meses, a 6,5%. A desaceleração daquele mês foi impactada pelo alívio nos preços dos alimentos e pela reversão da pressão exercida em alguns serviços durante a Copa do Mundo, em junho.

Já em agosto o grupo que mais acelerou foi o de transportes, que saiu de deflação de 0,98% em julho para alta de 0,33% agosto. Parte da aceleração é atribuída às passagens aéreas, que tiveram alta de 10,16% em agosto, após terem caído 26,86% do mês anterior, ainda causada pelo chamado efeito Copa.

— Transportes foram as despesas principais responsáveis pela alta do índice do mês. Em julho, o impacto do grupo havia ficado em -0,18%, por causa da queda da gasolina, etanol e das passagens aéreas. Agora, a gente vê uma distância de um mês para o outro de 0,25 ponto percentual — afirmou Eulina Nunes, coordenadora de índice de preços do IBGE. — Em julho, provavelmente, foram muitos voos ofertados a preços mais acessíveis, até em função de o Brasil ter saído da competição. Isso, em comparação com um mês de normalidade, pode ter impactado o resultado de agosto.

Custo de empregado doméstico subiu 1,26%
Outro impacto importante foi do custo com empregado doméstico, que subiu 1,26% e respondeu por 0,05 ponto percentual do índice. Outra influência veio do aumento da energia elétrica, de 1,76%.

Em relação aos grupos pesquisados, o que registrou a taxa mais alta foi o de habitação, por causa da alta de 1,46% da taxa de água e esgoto. Os principais aumentos do serviço ocorreram no Rio (6,1%) e Vitória (5,25%). O grupo subiu 0,94%, após ter registrado aumento de 1,2% no mês anterior.

Com a aceleração do grupo transportes, que havia sido o principal impacto negativo em julho, o grupo que mais contribuiu para aliviar a inflação em agosto foi o de alimentação e bebidas, que repetiu a queda de 0,15%, a quinta deflação consecutiva. Com isso, teve peso de -0,04 ponto percentual sobre o índice geral.

— Os alimentos vêm caindo. A maioria das regiões pesquisadas apresentou queda de preços nos alimentos. Uma queda de 0,15% no índice dos alimentos não é muita coisa, mas isso nem sempre é percebido pelas pessoas, já que os preços estão em um preço relativamente alto, porque já subiram antes — explicou Eulina.

Na quarta-feira, o Banco Central manteve em 11% ao ano a taxa básica de juros, uma das principais armas da autoridade monetária para lidar com a inflação. No ano passado, a Selic sofreu nove elevações seguidas, na expectativa de frear o consumo e aliviar os preços.

Só duas cidades tiveram taxas negativas
O efeito negativo das medidas sobre a atividade econômica, no entanto, começou a preocupar, fazendo com que o ciclo de altas fosse encerrado em maio, com a perspectiva de que os preços cedam mais nos próximos meses.

A mais recente pesquisa Focus, elaborada semanalmente pelo BC, prevê que a inflação feche o ano em 6,27%. A trégua nos preços dos alimentos ajudou a melhorar a perspectivas do mercado, que chegou a prever o estouro da meta de 6,5% neste ano. Para 2015, a expectativa é que o índice fique em 6,29%.

A maior taxa de agosto foi registrada em Belém (0,98%), influenciada pela alta de 24,28% da energia elétrica, causada pelo reajuste da tarifa autorizado no início do mês. A região de Vitória também foi impactada pelo aumento nas contas de luz e registrou a segunda maior taxa, de 0,91%.

Diferentemente do que ocorreu no mês anterior, quando oito das 13 regiões pesquisadas pelo IBGE tiveram deflação, apenas duas cidades registraram taxas negativas em agosto: Campo Grande (-0,07%) e Belo Horizonte, (-0,02%).

No Rio, o IPCA passou de queda de 0,08% para alta de 0,42%. Em São Paulo, a taxa de 0,18% registrada em julho se repetiu em agosto.

Aécio: ‘De Minas, nós iniciamos uma grande arrancada’

- O Tempo (MG)

Cercado por mais de mil líderes políticos de Minas Gerais, nesta quinta-feira (04/09), em Belo Horizonte (MG), o candidato à Presidência da República pela Coligação Muda Brasil, Aécio Neves, definiu o encontro como um marco na sua campanha. Ao som de palavras de apoio, Aécio afirmou que hoje é a grande arrancada da sua candidatura, que representa a mudança que o Brasil deseja.

“De Minas, nós iniciamos uma grande arrancada porque a minha candidatura representa um sentimento da sociedade brasileira cansada do desgoverno do PT, mas também assustada com a possibilidade de um novo improviso”, disse. “A nossa candidatura é a candidatura da responsabilidade, da travessia segura. O Brasil não merece um novo quadro de insegurança.”

O encontro reuniu mais de 450 prefeitos, 200 ex-prefeitos e 300 vice-prefeitos, além de deputados federais e estaduais, assim como centenas de vereadores. Também participaram o candidato ao governo de Minas Gerais Pimenta da Veiga e o candidato ao Senado Antonio Anastasia.

Travessia segura
Aécio alertou sobre as semelhanças no perfil das adversárias na disputa presidencial Dilma Rousseff, que disputa a reeleição, e Marina Silva (PSB). “A candidatura do governo vai perder as eleições porque fracassou. Prometeu controlar a inflação, fazer o Brasil crescer e melhorar os nossos indicadores sociais, mas falhou em tudo isso”, afirmou.

De acordo com Aécio, é preciso observar com atenção as opções apresentadas aos eleitores. “No campo oposicionista, existe uma candidatura que promete o conjunto de bondades sem dizer como e com quem vai viabilizar essas bondades. Boas intenções, todos temos. A nossa candidatura é a candidatura da responsabilidade. É a candidatura da travessia segura. O Brasil não merece um novo quadro de insegurança.”

Ao ser questionado sobre a candidatura de Marina Silva, Aécio elogiou suas intenções positivas, mas ressaltou que apenas isso não basta. “É uma candidatura que traz boas intenções e que eu respeito, mas que vem do mesmo núcleo que vem governando o Brasil, vem do PT, que lá atrás se posicionou contra tudo isso que agora defende”, destacou. “Basta fazer as contas. Apenas no próximo ano teria R$ 150 bilhões a mais de gastos.”

O candidato à Presidência destacou que cenário eleitoral deve ser interpretado como um novo momento a partir do acidente que matou o ex-governador Eduardo Campos, que disputava a Presidência da República pelo PSB.

“Até 30 dias atrás tínhamos uma outra eleição, inclusive com um outro candidato, que lamentavelmente foi vítima de um grave acidente e faleceu. Agora é uma nova campanha. O que nós temos que fazer é mostrar que aquilo que nós defendemos a vida inteira é coerente com aquilo que nós optamos lá atrás. Eu tenho absoluta convicção de que a nossa vitória é fundamental para que o Brasil não viva um novo risco, uma nova aventura.”

Coerência
Aécio reafirmou que os brasileiros não querem amadorismo e improviso na condução política do país, especialmente em razão do quadro econômico atual, de alta inflacionária, pior crescimento econômico entre os países vizinhos e quadro de recessão já instalado.

“O Brasil não é para amadores. O país não pode viver mais um ciclo de improviso. A nossa proposta traz uma enorme coerência em relação àquilo que pregamos, mas também em relação àquilo que praticamos ao longo de toda a nossa história política.”

O candidato à Presidência lembrou o fato de ser coerente com tudo o que defendeu e praticou em 30 anos de vida pública, exemplificando com o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

“O Brasil não está preparado para novas aventuras. O quadro que nós vamos enfrentar no ano que vem, é um quadro de absoluta complexidade, de dificuldades. E não dá para jogarmos com times da segunda ou terceira divisão se temos uma seleção à disposição desse projeto. Essa seleção sai exatamente daqui do PSDB”, ressaltou Aécio.

Para os prefeitos, ex-prefeitos, vices e vereadores, Aécio conclamou: “Vamos dar um basta à fraude, à mentira e ao engodo”. Ele lembrou que “a inflação volta a perturbar a vida dos brasileiros” e que “a experiência do PT no governo já provocou um custo muito alto” para o país. “Serenidade e trabalho, apenas essas duas armas nos levarão à vitória”, disse Aécio.

'Dilma prometeu muito a Minas, mas não fez nada'

• Entrevista – Domingos Sávio (Deputado federal do PSDB de Minas Gerais)

"Quem que diz que Aécio deve renunciar já ao cargo, para concorrer ao governo do estado, ou é petista ou é um parlamentar despreparado para a política". Essa é a reação do deputado federal Domingos Sávio (PSDB-MG), um dos fundadores de seu partido em Minas e amigo do presidenciável Aécio Neves, diante da informação de que parlamentares mineiros haviam aconselhado o candidato tucano a desistir da corrida presidencial. Ele garante que a campanha não acabou: "Está apenas começando, e até o dia 5 de outubro tudo pode mudar". Adotando a estratégia tucana de "desconstruir" a imagem de Marina Silva, Sávio diz acreditar que basta ao eleitor perguntar-se qual a proposta política dela para perceber que a candidata "não apresenta conteúdo ou consistência".

Edla Lula – Brasil Econômico

Minas tem sido o alvo dos candidatos. Ontem houve evento com Aécio. No dia anterior, Dilma esteve lá e a campanha de Marina programa, para a próxima semana, a presença da candidata no estado. Qual o peso do voto mineiro?

Minas Gerais tem uma responsabilidade histórica com o Brasil, desde a independência até a redemocratização, com Tancredo Neves. Mas é importante dizer que ir a Minas de maneira oportunista, como estão fazendo alguns candidatos, não vai convencer os mineiros. A própria presidente Dilma, que é nascida em Minas, teve um comportamento nesses quatro anos que nenhum presidente nos tempos recentes teve. Ninguém teve um comportamento repleto de descuidos e desprezos por Minas como Dilma.

Mas algumas pesquisas mostram que ela é mais bem aceita no estado do que Aécio...

Ela está usando o que já usou em vários momentos, que é a promessa sem consistência. Assim como Dilma está caindo entre o eleitorado de vários estados brasileiros, cairá também em Minas. O povo está caindo na real. Não dá para um governante que, há quatro anos, prometeu tantas coisas sem cumprir nada, manter a confiança do eleitorado. Foi o que Dilma fez. Prometeu fazer o metrô, o Rodoanel, duplicar a BR 381 e uma série de obras estruturantes. Não fez coisa nenhuma.

Aécio consegue recuperar o apoio dos conterrâneos?

Não tenho dúvida nenhuma. Minas conhece bem Aécio. Ele fala a língua do mineiro e eu tenho absoluta convicção de que Minas dará a vitória a Aécio, o que será fundamental para ele ter uma vitória nacional. O cenário está em franca mudança.

Como o sr. acha que deve ser o tom da campanha de Aécio neste novo cenário? Mais agressivo?

O que cabe neste momento é a campanha dele imprimir mais firmeza e mais clareza nas propostas. O povo brasileiro está se manifestando pela emoção. Mas também ainda aguarda um sinal de quem pode ser confiável e ter clareza nas propostas, com capacidade de materializar essas propostas. Neste sentido, cabe uma agressividade, contra o problema e não contra pessoas ou candidatos. Tem que ser contundente nas suas propostas.

O líder do PT no senado, Humberto Costa (PE) disse que a Marina é um "FHC de saias". A comparação é boa ou ruim?

Estou surpreso com a infelicidade da comparação. Fernando Henrique Cardoso nunca foi uma figura que tenta pegar as pessoas pelo emocional. Não tenho a intenção de cometer agressão contra a Marina. É evidente que Marina faz um jogo emocional para buscar ampliar o seu apoio, mas o conteúdo é absolutamente desconhecido. Não digo que ela é vazia de conteúdo, mas ela não responde nada ou não apresenta conteúdo com consistência. É muito grave entregar o país para alguém que não diz com clareza aquilo que vai fazer. Pior do que isso, Marina pela manhã diz uma coisa, e à tarde muda de ideia.

O senhor se refere ao programa político voltado para a comunidade LGBT, anunciado num dia e refeito no outro?

Isto também, mas há outros pontos. Marina vai acabar desagradando tanto a comunidade LGBT quanto a igreja. Porque nem um nem outro tem motivos para confiar no que ela diz. Marina não está dizendo a ninguém que tipo de governo vai fazer. Porque quer agradar a todos. Quer agradar aos ambientalistas dizendo que vai endurecer para evitar desmatamento. Mas quer agradar ao agronegócio, com quem já se reuniu para dizer que ele vai poder fazer pastagem. Ela critica o sistema financeiro e se reúne com banqueiros.

Qual a estratégia para Aécio reconquistar o eleitor que migrou para Marina?

Este eleitor que mudou de voto respondeu de maneira impulsiva. Agora, já começa a se perguntar porque votará nela e o que esperar dela. O eleitor se pergunta que tipo de projeto espera para o país. O candidato que conseguir dar a essa pergunta uma resposta mais adequada, de maneira fundamentada e não maquiada, conseguirá reverter este quadro.

Como ficará o Congresso a partir de 2015?

O Congresso caminha para se tornar uma instituição mais forte. Toda essa movimentação mostra um fechamento do ciclo PT. Há uma rejeição muito alta a Dilma e uma tendência do voto anti-PT. A coalizão PT-PMDB construiu uma maioria esmagadora que anulou o Congresso. O Parlamento hoje é refém do Executivo. Não existe diálogo. O Executivo manda, não dialoga nem mesmo com a sua base.

Marina vê 'situação de quase desespero' de adversários

• Candidata do PSB critica ataques feitos por Dilma e Aécio

Ana Fernandes - Agência Estado

SÃO PAULO - A candidata à Presidência Marina Silva (PSB) disse que está sendo perseguida pelo PT e pelo PSDB por causa do seu crescimento nas pesquisas de intenção de voto. Em entrevista à rádio CBN na manhã desta sexta-feira, 5, Marina disse que seus adversários vivem "situação de quase desespero" e que a atitude da campanha da presidente Dilma Rousseff, de abrir investigação sobre a renda que obteve com palestras nos últimos anos, é uma tentativa de criar "factoides". "É um factoide criado pela campanha da presidente Dilma", afirmou Marina.

"Sempre foi uma demanda espontânea, nunca tive tabela (de preços) para as minhas palestras", disse a candidata ao alegar que já fez palestras por R$ 1 mil. Segundo Marina, depois de ter deixado o cargo de ministra do Meio Ambiente no governo Lula, ela passou a trabalhar com o que sabe, que é a "defesa do desenvolvimento sustentável".

"Está acontecendo uma atitude lamentável, uma verdadeira perseguição. Estão vasculhando a minha vida em todos os lugares", disse a candidata, que defendeu seu direito a ter uma atividade profissional. A candidata disse que eventuais diferenças de valores se devem ao registro de receita bruta e líquida que ela obteve com os eventos e que não é correta a afirmação de que sua atividade como palestrante tenha sido usada indevidamente em relação à campanha presidencial.

Marina também lamentou a crítica do candidato tucano Aécio Neves, de que ela muda de opinião ao sabor do momento. Citou o exemplo da temática de soja transgênica, que tem sido colocada por adversários. Segundo a candidata, ela sempre defendeu um modelo de coexistência entre o plantio da soja transgênica e da soja convencional. "Lamentavelmente, (no passado, quando ministra) eu não tinha tanta audiência como tenho agora."

A candidata do PSB repetiu que defende o debate, não o embate, e que respeita seus adversários, apesar das acusações colocadas por eles. "Aécio e Dilma fazem uma frente contra mim", afirmou. Mas disse que os brasileiros são inteligentes e sabem interpretar os discursos colocados.

Merval Pereira: Polarizações regionais

- O Globo

Pesquisas do Datafolha em seis estados e no Distrito Federal ajudam a entender melhor as razões por que os três principais candidatos à Presidência da República se encontram na situação atual de empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff e a candidata do PSB, Marina Silva, deslocando para o terceiro lugar o candidato tucano, Aécio Neves.

Marina está à frente em dois dos três principais colégios eleitorais do país (São Paulo e Rio), enquanto Dilma lidera em Minas Gerais. Em Pernambuco e no Ceará, dois dos principais estados nordestinos, Dilma tem uma votação expressiva no Ceará, atingindo 57% das intenções de votos, como nos melhores momentos de sua votação em 2010, e Marina tem quase metade dos votos de Pernambuco, terra de Eduardo Campos.

Como se vê, o candidato do PSDB perde terrenos nos redutos que deveriam ser suas principais fontes de votos. Em Minas, está em terceiro lugar com apenas 22%, acima de sua média nacional de 14% mas bem abaixo de seu potencial. Em São Paulo, outro território do PSDB, Aécio Neves está com apenas 18% das intenções de voto, enquanto no Rio, onde montou um esquema paralelo de apoio com os partidos da base do governo, o Aezão (apoio a Aécio e Pezão) não funcionou até o momento. Aécio tem apenas 11% de votos no estado.

A disputa entre Dilma e Marina está bem expressa nos números estaduais. Onde uma vence com votação forte, como é o caso de Marina em São Paulo com 42%, Dilma vem bem votada com 23%, mesmo que seja uma votação abaixo de sua média nacional de 35%. Em Minas, dá-se o contrário: Dilma, que é mineira e venceu lá a eleição de 2010, está com 35% dos votos e Marina tem 27%.

A estratégia básica de Aécio Neves, que determinava toda a sua campanha, era tirar em Minas e em São Paulo uma votação suficiente para neutralizar a grande votação de Dilma Rousseff na região, que lhe deu em 2010 cerca de 10 milhões de votos de dianteira contra o PSDB. Na verdade, porém, até o momento quem está conseguindo neutralizar a influência da presidente no Nordeste é a candidata do PSB Marina Silva, que tem uma votação média de 30% nos estados nordestinos, baixando a média da presidente para 45% dos votos, e coloca uma dianteira em dois dos três maiores colégios eleitorais do país.

No Rio Grande do Sul, onde a senadora Ana Amélia lidera a corrida pelo governo do estado contra o candidato petista Tarso Genro, quem lidera a disputa presidencial é a presidente Dilma, apesar de a candidata do PP apoiar o tucano Aécio Neves. Dilma tem 38% das preferências e Marina, 30%, enquanto Aécio Neves fica em 15%. De maneira geral, as melhores taxas de intenção de votos da presidente Dilma correspondem aos estados onde a aprovação de seu governo é maior.

No Ceará, por exemplo, Dilma obtém seu melhor desempenho, tanto na simulação de 1º turno quanto na de 2º turno. Chega no 2º turno, contra Marina, a ter 60% dos votos. A aprovação ao governo Dilma no Ceará e em Fortaleza chega a 57% e 45%, ante 36% nacional. O Datafolha destaca que Dilma apresenta intenção de voto semelhante a sua média nacional em Minas Gerias (estado onde nasceu) no Rio Grande do Sul (onde exerceu parte da sua carreira profissional) e em Pernambuco (terra do seu padrinho político Lula).

Por outro lado, obtém taxas de intenção de voto menores nos estados onde a aprovação ao seu governo é mais baixa: em São Paulo e no Distrito Federal, o governo Dilma é reprovado, respectivamente, por 36% e 40% dos eleitores. A candidata Marina Silva recolhe seus melhores índices nas capitais, especialmente no Rio (41%) e no Recife (52%). A presidente Dilma vence em Porto Alegre (37%) e em Fortaleza (42%).

Também no Distrito Federal, onde Aécio Neves chegou a liderar a corrida presidencial quando competia com Eduardo Campos pelo PSB, Marina retomou a dianteira que já tivera em 2010, quando venceu a eleição na capital do país. Aécio hoje está empatado tecnicamente com a presidente Dilma em Brasília.

Dora Kramer: Alívio relativo

• Com toda desigualdade de condições, Dilma ainda perde para Marina

- O Estado de S. Paulo

Não resta dúvida de que as duas pesquisas divulgadas nesta semana trouxeram boas notícias para a presidente Dilma Rousseff e que levaram ao adversário tradicional, o tucano Aécio Neves, informações desanimadoras.

Ocorre, porém, que os institutos Datafolha e Ibope deram à candidata Marina Silva ótimas informações.

Disseram a ela o seguinte: não obstante seus parcos minutos no horário eleitoral, sua frágil estrutura partidária, as divergências internas, as cobranças por objetividade nas propostas, os ataques, os recuos nas questões programáticas e a enorme diferença entre o arsenal publicitário do governo e o alcance da propaganda do PSB, ela continua praticamente empatada com a presidente da República na disputa do primeiro turno.

Mais: mantida essa tendência, vence Dilma na etapa final. Consta que o resultado das pesquisas provocou um alívio nas hostes petistas. Refresco este decorrente da expectativa presente em todas as campanhas que a candidata do PSB nessas pesquisas já aparecesse à frente da presidente.
Não aconteceu assim. Os números frios e a realidade quente, contudo, não autorizam grandes comemorações. Dilma mostra que tem um eleitorado sólido, notadamente no Norte e Nordeste.

Conta com a estrutura do governo, com 11 minutos de propaganda eleitoral, com o "recall" de toda a exposição nos últimos quatro anos e a sustentação dos programas sociais. Não é pouco.
Ainda assim, Marina encosta no primeiro turno e ganha no segundo. É de se perguntar: numa disputa em igualdade de condições, como seria? Na etapa final, ao menos o tempo de televisão será o mesmo.

Note-se o detalhe: do primeiro para o segundo turno Dilma sobe dois pontos porcentuais no Ibope e seis no Datafolha. Marina registra sete no Ibope e 14 no Datafolha. Se for para usar imagem bíblica ao gosto de Marina, é situação comparável à disputa entre Davi e Golias.

Se o PSDB realmente ficar de fora da etapa final pela primeira vez em 20 anos, confirmadas as tendências das pesquisas, os tucanos não se omitirão como Marina em 2010. Aquele pode ter sido por parte dela um lance esperto na ocasião, mas com duração de mais longo prazo não foi um gesto adequado a quem agora reconhece méritos no candidato à época, José Serra.

Cobranças que vão requerer revisões de posições. Com mais força para Marina, mostrando que não é só uma terceira força bamba, mas uma alternativa forte de oposição.

Multiúso. Não é a primeira vez que o PT recorre à comparação de adversários com Fernando Collor. O próprio Lula o fez várias vezes, sendo a última em março, ao insinuar que a candidatura de Eduardo Campos poderia representar uma aventura.

"A minha grande preocupação é repetir o que aconteceu em 1989: que venha um desconhecido, que se presente muito bem, jovem e nós vimos no que deu", disse ele, numa reunião com empresários.
Collor serve como arma de ataque e ao mesmo tempo tem serventia como aliado. O mesmo se pode dizer de Fernando Henrique Cardoso, cujo governo é usado para comparações negativas, mas cuja política econômica sustentou o sucesso da economia no governo primeiro Lula.

Na real. O temor da direção atual do PMDB não é só que a derrota de Dilma resulte da perda do poder para o PT, mas que repercuta na correlação interna nas forças do partido.

Ao ponto, por exemplo, de ameaçar as eleições de Renan Calheiros e Eduardo Cunha para as eleições das presidências da Câmara e do Senado em 2015.

Eliane Cantanhêde: Dilma e Marina não decantam

- Folha de S. Paulo

Numa eleição tão destrambelhada, um dado tem grande significado: a desconexão entre a eleição presidencial e as eleições estaduais. A presidencial parece definitivamente embicada para o PT e o PSB, mas os dois não estão surfando nessa onda nos Estados.

O PT atolou nas pesquisas de intenção de voto em São Paulo e no Rio, dois dos três maiores colégios eleitorais. E, se está na dianteira em Minas, o candidato tucano está crescendo, e o segundo turno será pauleira, com resultado imprevisível.

Ainda sobre o PT de Dilma: não consegue liderar nem mesmo onde já tem a máquina e disputa a reeleição ou a manutenção nos palácios. Os governadores petistas ou seus candidatos na Bahia, no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul estão levando um suadouro dos adversários.

E o PSB? Fora do jogo em São Paulo, Rio e Minas, só tem praticamente a comemorar a disparada do seu candidato em Pernambuco. Também, só faltava essa. Trata-se do Estado de Eduardo Campos, que foi não apenas campeão de votos, mas o governador mais aprovado e vive seu momento mito após a morte recente.

Já o PSDB vive uma situação inversa à dos dois partidos hoje favoritos para subir a rampa do Planalto. Apesar de empurrados para o terceiro lugar das eleições presidenciais, os tucanos têm boa chance de vencer no principal Estado da Federação, que é São Paulo, já no primeiro turno.

Mesmo estando em segundo lugar, não podem ser menosprezados em Minas, onde a polarização PT-PSDB insiste, apesar de não estar sobrevivendo para a eleição presidencial. E, no Paraná e em Goiás, por exemplo, uma boa aposta é a reeleição dos governadores tucanos.

Nessa barafunda, só não há uma surpresa: vem PSDB, vai PSDB; vem PT, ameaça ir-se o PT; e lá está o velho PMDB de guerra. Devagar e sempre, caminha para a vitória no Rio e não está fazendo feio em São Paulo. Ganhar a eleição é improvável, mas já venceu o PT. É um bom troféu.

Luiz Carlos Azedo: Recuo estratégico

• Quem erra de "inimigo principal" não tem a menor chance de ganhar a guerra. A estratégia tucana de bater duro na candidata do PSB, Marina Silva, não surtiu o efeito desejado no plano nacional. Aécio Neves (PSDB) continuou caindo nas pesquisas

O candidato do PSB a presidente da República, Aécio Neves, opera um recuo estratégico para que a legenda não perca o governo de Minas para o PT. Entrou com tudo na campanha do tucano Pimenta da Veiga, que corre o risco de perder as eleições para o petista Fernando Pimentel. Ontem, em Belo Horizonte, um dia depois da passagem de Dilma Rousseff pela capital mineira, começou a reorganizar a contraofensiva tucana no estado.

"Minas não merece ter o PT governando seus destinos", ressaltou ele. "Há uma percepção no Brasil inteiro hoje de que o PT, onde governa, está perdendo as eleições. Espero que Minas Gerais demonstre de forma muita clara que não temos como vocação ser, amanhã, depósito de petistas derrotados em outras partes do Brasil", afirmou. "Não há nenhuma ação estruturante do PT em Minas Gerais."

Aécio acrescentou que o PT impediu a votação do marco regulatório do minério, que traria benefícios para Minas, e não permitiu a renegociação das dívidas dos Estados.Para ele, o candidato do PT a governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, representa um partido que governou nos últimos 12 anos "de costas" para o Estado.

"O que vejo é o candidato de um partido que levou para fora de Minas Gerais investimentos que deveriam estar no Estado, na indústria automobilística, na área de acrílico e tantas outras, agora falar em desenvolvimento em Minas. É o candidato de um partido político que governou durante 12 anos de costas para os interesses de Minas Gerais. A grande verdade é essa", ressaltou.

O candidato à Presidência manifestou confiança na sua vitória e na eleição de Pimenta da Veiga para governador do Estado e na de Antonio Anastasia para senador. "Estou muito animado. Acho que vamos vencer em Minas Gerais, vamos fazer barba, cabelo e bigode."

Aécio fez essas afirmações em entrevista após se reunir com deputados estaduais e federais que o apoiam. "Nós temos um projeto para Minas Gerais, é um projeto qualificadíssimo. E nós temos que dizer a verdade para combater a mentira que é a tônica da propaganda do PT", comentou. "Vocês viram o número de parlamentares aqui presentes, federais e estaduais. E agora é pé na estrada, força total."

Pesquisas
Na pesquisa Datafolha encomendada pela TV Globo e pelo jornal "Folha de S. Paulo", divulgada dia 04 de setembro, Fernando Pimentel lidera a disputa pelo Governo, mas com a possibilidade de um segundo turno com Pimenta da Veiga, enquanto Antonio Anastasia é o primeiro colocado para o Senado.

Pimentel tem 2% da preferência dos entrevistados, Pimenta da Veiga vem na sequência com 24%, Tarcísio Delgado aparece com 3%, Eduardo Ferreira, Professor Túlio Lopes, Fidélis e Cleide Donária receberam 1% cada. Os votos em branco ou nulo somaram 11% e os que não sabem 26%.

Num provável segundo turno entre os dois primeiros colocados, Pimentel seria eleito com 41% das intenções de voto, contra os 28% alcançados por Pimenta da Veiga. 9% optaram pelo voto em branco ou nulo e 33% não sabem em quem votar.

Pra que tascar o balão?
Quem erra de "inimigo principal"não tem a menor chance de ganhar a guerra. A estratégia tucana de bater duro na candidata do PSB, Marina Silva, não surtiu o efeito desejado no plano nacional. Aécio Neves (PSDB) continuou caindo nas pesquisas, ajudou a aumentar a rejeição da senadora oposicionista e perdeu votos para Dilma Rousseff (PT). Pode ser que isso seja uma tática do PSDB para não perder a hegemonia da oposição, como aquele menino que grita "tasca" para os demais colegas porque não será ele a pegar o balão que está caindo.

Maria Cristina Fernandes: Sem o voto de Bergoglio

• O papa Francisco é mais ousado que as candidatas

- Valor Econômico

Com o joelho no assento e o braço apoiado no encosto da poltrona do voo que o levou de volta a Roma, o papa Francisco falou aos jornalistas que embarcaram com ele no Rio e se sentaram ao fundo da cabine do avião: "Se alguém é gay, busca Deus e tem boa vontade quem sou eu para julgá-lo?"

A declaração correu o mundo. O papa pop que recusara as pompas do Vaticano tinha escolhido a viagem a um país cujo avanço evangélico ameaça a condição de maior população católica do mundo para mostrar que entrara na cruzada com outras armas.

Não poderia haver contraste maior com seu antecessor, Bento XVI, que, além de nunca se permitir o coloquial 'gay', considerava a homossexualidade coisa do diabo.

Jorge Bergoglio voltaria ao tema outras vezes. O problema, insistia, não eram os homossexuais, mas os lobbies. Parecia querer dizer que a igreja estava acima deles. Daí a abertura. No início deste ano, falaria a eclesiásticos de escolas católicas: "O educador deve se perguntar como anunciar Jesus Cristo a uma geração que muda".

O bispo de Guarulhos, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, morreu em 2012, mas foi o furacão Bergoglio que levava a crer numa sucessão presidencial menos pautada pelo discurso religioso.

Em 2010 o bispo da segunda maior diocese do Estado de São Paulo, pregava no púlpito e em seu blog contra a 'ditadura gay', levantava dúvida sobre estupros sem consentimento para atacar o aborto legal e dizia que 'os verdadeiros cristãos' não podiam votar no PT.

Parecia acolhido por um papa que, às vésperas do segundo turno, pediu a bispos brasileiros que orientassem os fiéis a votar contra projetos políticos favoráveis a descriminalização do aborto. Naquela eleição, a campanha tucana tinha pregado em Dilma Rousseff a pecha de abortista.

Quatro anos depois, por razões opostas às de Joseph Ratzinger, Bergoglio deve ter pouca influência no segundo turno nas eleições brasileiras. As prováveis finalistas não estão a salvo dos lobbies nem parecem talhadas para falar a 'uma geração que muda'.

Marina Silva se apresenta como portadora dos dois predicados mas não precisou de um confessionário para se mostrar aquém de ambos. Tivesse se omitido no tema, como seus dois principais adversários, poderia ter mantido a postura ecumênica com a qual estreou este ano.

A predestinação de sua candidatura parecia tão eloquente que já não carecia de evocações bíblicas. É o recuo em seu programa de governo que ameaça encarcerá-la no nicho religioso.
Os marinistas acusam o PSB de prender sua candidata à 'velha política' mas o partido que a abrigou foi um dos mais engajados na tramitação do projeto da deputada Iara Bernardi (PT-SP) que equipara a discriminação contra gays ao preconceito racial.

Além de voltar atrás no projeto que criminaliza a homofobia, Marina negou apoio ao casamento gay dizendo-se favorável apenas à união civil entre pessoas do mesmo sexo. Respaldou-se no Supremo, que já garantiu a união civil, e disse acatar a Constituição no veto ao casamento. Deixou um grande número de eleitores na dúvida: se é para se deixar governar pelo Supremo, por que é preciso eleger uma presidente?

Marina não perdeu apenas a oportunidade de defender um Estado que protege direitos e condena a intolerância em troca do apoio de Marco Feliciano. Perdeu também a chance de se mostrar mais sintonizada com a mudança do que sua principal adversária.

Depois de atravessar uma campanha acuada pelo fundamentalismo religioso em 2010, Dilma não se arvorou a desafiá-lo. Em reação a Marina, agora diz apoiar a criminalização da homofobia, mas o projeto, depois de 13 anos de tramitação, foi arquivado no Senado graças a atuação de suas lideranças que chegaram a falar do risco de padres e pastores serem presos por suas pregações.

No afã de se contrapor a Marina, Dilma chegou a acenar com a urgência na tramitação na Lei Geral das Religiões, que é antes uma demanda das cúpulas religiosas que dos fiéis. Ou, para ficar no linguajar mais moderno de Bergoglio, atende aos lobbies.

O projeto faz uma faxina nos templos sem expulsar os vendilhões. Estende a todas as religiões os termos do acordo do Brasil com a Santa Sé, firmado no pontificado de Ratzinger com o governo Luiz Inácio Lula da Silva e ratificado pelo Congresso em 2009.

Relatado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o projeto da lei geral das religiões prevê reconhecimento imediato pelo Estado de igrejas; ensino religioso, como matéria facultativa, em escolas públicas; tempos religiosos isentos de tributos e mantidos pelo Estado; e igrejas imunes a obrigações trabalhistas.

O projeto é fortemente apoiado pelo lobby evangélico que se vê direito de reivindicar para outras denominações religiosas as regalias estabelecidas para a igreja católica. A reivindicação é legítima, o que não significa que deva ser acatada. A remediar o acordo com a Santa Sé, a candidata presidente prefere ampliá-lo.

Além de dar abrigo ao projeto, o governo Dilma, a exemplo do que foi feito como kit gay nas escolas, desbaratou uma campanha de combate a doenças sexualmente transmissíveis planejada pelo Ministério da Saúde.

O desempenho de Dilma no tema mostra que não é preciso eleger alguém de convicções religiosas como Marina para que o fundamentalismo encontre abrigo. Os quatro anos do governo Dilma e a estreia de Marina na campanha propagandeiem o atendimento de lobbies religiosos como defesa da cidadania.

É possível que ambas se guiem nessa estrada menos por suas convicções religiosas e mais por pesquisas como o último Ibope que mostram 53% de rejeição ao casamento gay. O apoio está em 40%. Não é uma maioria tão expressiva assim que não possa ser cativada pela política e pela ideia de que, sem um Estado laico, não é possível garantir liberdade religiosa.

Se o vento, de fato, é de mudança, diria um maldito comunista italiano, o velho está morrendo, mas ainda pode demorar um bocado para o novo aparecer. Talvez ainda não seja desta vez que os brasileiros vão poder usufruir de uma campanha eleitoral livre do que o papa um dia chamou de 'obsessões' do discurso religioso.

Francisco Bergoglio ousou na política na tentativa de recuperar terreno para sua religião. Os candidatos se deixam aparelhar pela obsessão religiosa para se apequenar na política.

Nelson Motta: O conto do horário premiado

• A essas alturas, talvez os estrategistas dilmistas estejam questionando o tempo, dinheiro e cargos que gastaram para conseguir 12 minutos no horário eleitoral

- O Globo

Cerca de 30 milhões de pessoas estão vendo o horário eleitoral na TV aberta, informa o Ibope. Mas quase metade diz que vê "sem nenhum interesse", um terço diz que tem "um pouco" de interesse, e só 20%, cerca de seis milhões de eleitores, entre uma garfada e outra, estão prestando alguma atenção às pirotecnias e armadilhas publicitárias dos filmes que custam fortunas e são os maiores gastos das campanhas.

Mas, além das maiores despesas, os filmes para TV são sempre as maiores esperanças das campanhas, "vocês vão ver quando entrar o horário eleitoral, vamos poder mostrar o que fizemos" ou "com o horário eleitoral vão me conhecer melhor e saber minhas propostas de mudanças".

A essas alturas, talvez os estrategistas dilmistas estejam questionando o tempo, dinheiro e cargos que gastaram para conseguir 12 minutos no horário eleitoral. Sem falar no que custa produzir esses 12 minutos por dia, embora dinheiro não seja o problema da campanha. Tudo isso só para reiterar a esses seis milhões, nas faixas de menor escolaridade e renda, que o Bolsa Família vai continuar, que Dilma é sua pastora e nada lhes faltará?

Não é muito caro para chover no molhado? Não estão pagando cada vez mais e fazendo maiores bandalhas por um tempo que vale cada vez menos?

Será que só os spots de 30 segundos, que são vistos por todos os segmentos sociais durante a programação, serão capazes de decidir o jogo e justificar seu preço? Há controvérsias. Além dos 60 milhões que assistem à TV por assinatura, todo mundo está ligado na internet, as redes sociais são incontroláveis. Será que vale a pena pagar tropas digitais para virarem dia e noite trolando ofensas, difamações e slogans nas redes e pregando para convertidos? Todos já sabem: nem tudo que cai na rede é pixel.

Se Marina for ao segundo turno com dois minutos de TV, produzidos com alguns trocados, ou se vencer a eleição, esse formato do horário eleitoral gratuito, que virou moeda de troca dos partidos ao custo de 700 milhões de reais ao contribuinte, estará com os minutos contados na reforma eleitoral que a sociedade está exigindo.

Eduardo Giannetti: Ciência e fé

- Folha de S. Paulo

"A fama", escreveu o poeta alemão Rilke, "é a quintessência dos mal-entendidos que se juntam a um nome". A versão brasileira, devidamente aclimatada ao nosso ambiente intelectual, ficou a cargo de Nelson Rodrigues: "A nossa reputação é a soma dos palavrões que inspiramos nas esquinas, salas e botecos".

"Fundamentalismo" e "criacionismo" são alguns dos palavrões, em sentido lato, que o desconhecimento de uns e desespero eleitoral de outros vêm tentando colar ao nome de Marina Silva. O difícil, nestes casos, é saber onde termina a ignorância e tem início a má-fé.

Enquanto ela estava fora do páreo, prevalecia a indiferença condescendente. Agora que lidera as pesquisas, são todos especialistas em Marina: uma brigada de colunistas, blogueiros e franco atiradores sente-se autorizada a despejar na mídia e na cracolândia da internet uma pavorosa barragem de desinformação e preconceito saturado de rancor sobre a candidata.

Que sua ascensão a torne alvo preferencial é natural e salutar. É hora de explicitar acordos e divergências. O que espanta, contudo, é ver pretensos guardiões da ciência e racionalidade embarcarem em grosseiras inverdades factuais.

O filósofo Hélio Schwartsman, por exemplo, renuncia à costumeira acuidade e não hesita em incluir Marina na seita dos "criacionistas da Terra Jovem" ("Opinião", 2/9). Já o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite medicaliza o seu "fundamentalismo cristão" e atribui a "perversão intelectual" a uma "desordem do desenvolvimento neural" (Tendências/Debates, 31/8). O Simão Bacamarte de "O alienista" não faria melhor.

Marina nunca endossou o criacionismo ou defendeu que fosse ensinado nas escolas. Ao contrário das lideranças petistas e tucanas, Dilma e Aécio à frente, que foram beijar a mão do bispo na inauguração do Templo de Salomão, ela sempre rejeitou qualquer ação visando instrumentalizar sua fé cristã com fins políticos. O seu respeito pelo Estado laico é irretocável.

Marina acredita em Deus, mas ela compreende perfeitamente que ciência e fé, bem compreendidas, habitam espaços conceituais distintos e respondem a diferentes anseios humanos, como aliás atestam a religiosidade e o teísmo de Newton, Darwin e Einstein. A fé cristã não implica o criacionismo, assim como o apreço pela ciência não implica o cientificismo.

A ciência ilumina, mas não sacia. "Mesmo que todas as questões científicas possíveis sejam respondidas", argumenta o filósofo austríaco Wittgenstein, "os problemas da vida ainda não terão sido sequer tocados". Ignorar os limites da ciência diante das questões éticas e existenciais que nos movem revela uma grave falha de formação intelectual --é a ciência como superstição.

José Roberto de Toledo: Onda Marina bate em Dilma e não avança

- O Estado de S. Paulo

A onda de opinião pública que empurrou Marina Silva morro cima começa a encontrar resistências pelo caminho e tem dificuldade para continuar avançando. Após dizimar o eleitorado indeciso e insatisfeito, a candidata do PSB tem que tirar votos de concorrentes diretos para continuar crescendo. Tirou de Aécio Neves (PSDB), mas parou de tirar de Dilma Rousseff (PT).

A pesquisa Ibope mostra que Dilma recuperou 3 dos 4 pontos que havia perdido para Marina na semana passada. É um indicativo de que a presidente quicou no seu piso, abaixo do qual nunca desceu. Os 37% encontrados agora pelo Ibope estão pouco acima dos 34% que a que a presidente tinha descido nas pesquisas do Ibope, Datafolha e MDA da semana passada.

Já os 33% de Marina neste Ibope estão no mesmo patamar a que a candidata do PSB havia chegado no Datafolha de sexta passada.

A resistência de Dilma se deve a uma melhora lenta mas contínua da avaliação de seu governo que coincidiu com o início da propaganda eleitoral na TV e no rádio. A petista ocupa quase metade desse horário. Em julho, sua taxa de ruim/péssimo caiu de 33% para 26%. Já a de ótimo/bom era de 31% e agora é de 36%. Três de cada quatro desses eleitores votam em Dilma.

Outro sinal de que Marina terá dificuldade para subtrair mais votos de Dilma é que o eleitor da petista é mais firme do que o da candidata do PSB. Segundo o Ibope, 61% de quem declara voto em Dilma diz que é uma decisão definitiva e que “não mudará de jeito nenhum”. Entre os de Marina essa convicção é 11 pontos menor: 50% dizem que não mudam mais de candidata.

Por essa resposta e pelo histórico recente, Marina tem mais chances de tirar votos de Aécio: com diferentes graus de incerteza, 46% dos eleitores do tucano admitem mudar seu voto. Desde que Marina entrou na disputa, Aécio já perdeu oito pontos.

Para complicar, enquanto Marina aparece no Ibope ganhando de Dilma na simulação de segundo turno, Aécio está mais distante da vitória hoje do que estava na semana passada. Aos olhos do eleitor mudancista, Marina é, cada vez mais, a única alternativa viável para, como diz Aécio, tirar o PT do governo.

Há cada vez menos eleitores disponíveis para serem capturados pelos candidatos. Os indecisos regrediram a taxas de véspera de eleição. E os brancos e nulos estão se aproximando do que costuma aparecer na urna.

Na prática, a eleição está caminhando para um segundo turno antecipado. Os votos que saem de um candidato vão diretamente para o outro, sem escalas, e, assim, acabam contando dobrado. Assim, as diferenças se encurtam ou se ampliam mais rapidamente. A eleição segue aberta. Marina venceria no segundo turno, mas a maior parte dos eleitores ainda acha Dilma favorita.

João Bosco Rabello: A “nova política” é forma

- O Estado de S. Paulo

O contato com observadores externos, vivamente interessados no desenrolar do processo eleitoral no país, impõe a interlocutores nacionais o ônus de traduzir o processo político brasileiro e testar a consistência das explicações a que se acostumaram sem maiores aprofundamentos.

Algumas dessas explicações para o que ocorre na disputa eleitoral deste ano são dadas por certas no contexto interno, mas são desafiadoras para quem olha de fora. A empolgação do eleitorado com a proposta da “nova política” soa estranho para o público externo quando não vem respaldada por um programa com metas objetivas.

Para situá-los, e até certo ponto, conformá-los, é preciso restringir a “nova política” à forma e não ao conteúdo, que é o que se pode extrair do discurso de Marina Silva.

O relacionamento com o Congresso, o fim do toma lá dá cá, a ruptura com o sistema de maioria parlamentar cooptada, que com o mensalão teve seu auge, são uma síntese da reforma de costumes no exercício da política – crítica e proposta que o eleitorado identifica na candidata do PSB.

Embora essa forma reducionista da “nova política” seja, por si só, de duvidosa consecução, ela é possível mesmo ao custo de uma gestão mais lenta do que as circunstâncias do país recomendam, e é o ponto substantivo a mover o eleitorado.

É certo que a capacidade de Marina concretizar essa mudança é o grande questionamento a se fazer, por exigir uma liderança política que há muito o país não tem e de que sua biografia não é garantia, apesar da elogiável trajetória de superação que marca seu perfil.

Nesse contexto, a nebulosidade que ainda caracteriza o compromisso programático de Marina, está em segundo plano para o eleitor, o que facilita seu avanço na preferência popular, pois a dispensa, por ora, de detalhar seu programa, permitindo-se ficar em tópicos específicos em torno de temas mais polêmicos.

Ainda que nas poucas vezes em que instada a abordar questões delicadas de forma mais assertiva tenha demonstrado vulnerabilidade – casos do aborto e dos direitos dos gays – a candidata parece blindada para essas fragilidades que nesse momento ficam no plano da temática moral.

Prevalece o sentimento maior do eleitor, que é pela mudança na forma de fazer política, o que explica também o esgotamento da polarização entre PT e PSDB, que não conseguem, por razões diversas e consideráveis, se afirmarem como possíveis condutores dessa mudança.

O PSDB e o governo se esforçam, com maior ou menor desespero, em dar nitidez ao perfil real de Marina – a ambientalista radical, a evangélica fervorosa, a gestora inexperiente -, em uma tentativa de trazer o eleitor para a racionalidade e reduzir o tom emocional que a campanha ganhou após a tragédia que abateu Eduardo Campos em pleno voo – no ar e na campanha.

Dilma Rousseff o faz, desde o último debate entre os presidenciáveis, de forma mais agressiva e de menor retorno, em busca do tempo perdido. Conspira contra a presidente o que se poderia chamar de “efeito espelho” – o que faz dela o alvo das críticas disparadas contra a rival.

Isso ocorre porque o recurso à inexperiência de Marina como gestora, o medo que isso deveria incutir no eleitor, a aposta no desconhecido, são anulados pelos resultados do seu governo.

A economia em recessão, o estrangulamento dos grandes centros urbanos, em razão da negligência do PT com a infraestrutura por uma década, a inflação e o endividamento das famílias com a excessiva política de consumo, retiram de Dilma a autoridade crítica.

Da mesma forma, anula o discurso propositivo da presidente, pois o eleitor se pergunta porque deve acreditar em promessas de realização e melhoras por parte de quem, no caso o governo do PT, não fez em 12 anos o que anuncia para o próximo mandato.

O candidato do PSDB, Aécio Neves, sofre o efeito da saturação com a polarização, embora esta se deva à estratégia do PT de fazer da comparação com os governos tucanos sua arma eleitoral, em bases distorcidas, de que é exemplo mais forte a tradução envenenada de privatização por venda do patrimônio nacional.

O desgaste do PT, que registrou uma perda de capital político expressiva com o processo e o desfecho condenatório do mensalão, indicava ao candidato tucano que, pela primeira vez, a polarização poderia favorecer o PSDB, diante dos resultados da gestão do PT ao final de 12 anos.

E assim parecia acontecer, com o crescimento gradual da candidatura do senador mineiro, favorecido pelo grau de desconhecimento de seu rival na oposição, Eduardo Campos, cuja vinculação com Marina ainda era um processo em curso quando sua morte prematura ocorreu.

Em segundo plano no processo eleitoral, Marina passou a protagonista, resgatando para a candidatura do PSB seu patrimônio eleitoral anterior, anabolizado pelo efeito emocional da tragédia política.

Mas aquilo que interessa a gregos e troianos, ou seja, a brasileiros e estrangeiros que acompanham o processo político do Brasil, Marina ainda não ofereceu: o que vai ser o seu governo.

De seus adversários já se conhece pensamento e ação. Afinal, PSDB e PT já governaram o país e deles o eleitor faz seu juízo a partir de resultados conhecidos.

Marina é incógnita que avança para a liderança da disputa apoiada no discurso simbólico do novo, cujo efeito propulsor revela o quanto os partidos negligenciaram a rejeição crescente da população com o chamado presidencialismo de coalizão – eufemismo para o sistema fisiológico que se sustenta na corrupção.

Tudo indica que parcela expressiva do eleitorado já associou a ineficiência do Estado à corrupção política. Da pequena corrupção instalada na rotina dos Três Poderes, até os grandes escândalos que levaram dirigentes partidários para o presídio e os que desmoralizaram a aura sagrada da Petrobrás, um dos orgulhos nacionais.

Em tal cenário, importa mudar com quem parece confiável, menos pelo que dela se conhece e mais pela dissociação que dela se faz com o universo político posto em xeque.